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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.13 n.2 Belo Horizonte dez. 2007

 

SEÇÃO ABERTA

 

O processo grupal na orientação profissional: um estudo com adolescentes na escola pública

 

The group process in the vocational guidance: a study with adolescents in the public school

 

 

Flávia Lemos Abade*

 

 

O objetivo da dissertação foi investigar a influência do processo grupal na orientação profissional, a partir da metodologia de oficinas em dinâmica de grupo, cuja proposta é de uma intervenção psicossocial e nas quais a linguagem e o significado, as ações e a subjetividade são questões essenciais, assim como o reconhecimento do contexto sócio-histórico, cultural e político do grupo. Embora essas questões sejam apresentadas separadamente, o esforço nas oficinas é de superação dessa dicotomia a partir de uma representação dialética da relação entre cidadania, cultura e subjetividade. A proposta de intervenção tem uma base teórica e metodológica interdisciplinar, sustentada em princípios e conceitos da psicologia social, da psicanálise e da educação, e fornece subsídios para a compreensão do grupo, sua estrutura e dinâmica. Desse modo, o participante da oficina em orientação profissional é um sujeito que pensa e sente, um sujeito que produz no contexto único de uma história de vida. A posição que se assume é de que a escolha profissional não é apenas “descoberta” de uma profissão que se encaixa no perfil da pessoa. É um ato contínuo que envolve formas de pensar, sentir e agir no contexto social. Ao escolher, o sujeito repete suas determinações sociais, mas também é capaz de questioná-las e de criar novos sentidos, construindo um projeto pessoal e profissional que introduz uma mudança, mínima que seja, em si mesmo e em seu cotidiano. Considera-se ainda que a escolha profissional está relacionada à construção da identidade do adolescente, processo psicossocial que envolve não apenas as questões relacionadas à identidade profissional, mas também à identidade de gênero, raça, classe social, entre outras. A concepção de orientação profissional é referenciada sobretudo na estratégia clínica e na sua reformulação, propostas por Rodolfo Bohoslavsky.

O estudo foi realizado com um grupo de adolescentes que cursava o terceiro ano do ensino médio numa escola pública de Contagem, em 12 encontros com uma hora de duração, duas vezes por semana. Além das observações e análise dos registros dos encontros, ao final do processo, foi realizada uma entrevista com o grupo, a fim de avaliar a oficina em orientação profissional sob o ponto de vista dos próprios participantes.

A análise dos dados revelou que o processo do grupo não ocorre naturalmente e que o papel do coordenador é fundamental na oficina, pois é ele quem, a partir da compreensão psicossocial da escolha profissional, dinamiza a comunicação no grupo e os processos associados que facilitam a elaboração de um projeto profissional. Dentre os elementos do processo grupal relevantes para a orientação profissional foram destacadas, além da formação psicossocial do coordenador, a interação entre os participantes e a formação de um esquema conceitual referencial operativo grupal (Ecro).

A avaliação da oficina revelou que, mais do que o uso de técnicas de dinâmica de grupo, o fortalecimento do vínculo entre os participantes, a comunicação e a possibilidade de desconstruir representações estereotipadas e reconstruir ou construir novas representações foram fundamentais para a apreensão da informação profissional e para a elaboração da identidade psicossocial e dos projetos profissionais.

O planejamento da oficina foi descrito de maneira pormenorizada na pesquisa e se distingue por tomar como referência as teorias e concepções citadas anteriormente e, sobretudo, por correlacionar as fases do processo grupal (formação da identidade grupal, aparecimento das diferenças e formação de normas, fechamento e avaliação) às temáticas psicossociais da orientação profissional (expectativas e concepções de futuro e escolha profissional, expressão da identidade psicossocial, conflitos familiares, informação profissional, representações sociais enraizadas no contexto sociocultural etc.).

Por fim, a pesquisa revela ainda que a dificuldade de acesso à informação e aos bens da cultura, assim como o reduzido número de atividades escolares que oferecem espaço à expressão da subjetividade dos jovens evidenciam a necessidade de propostas de trabalho no âmbito educativo que não sejam meramente pedagógicas, psicologizantes ou assistencialistas, mas que, numa perspectiva psicossocial, incluam o debate entre cidadania e subjetividade.

 

 

*Psicóloga e mestre em Psicologia, UFMG. Orientadora: Profª Drª Lúcia Afonso. E-mail: flavia.abade@gmail.com

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