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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.8 no.2 Ribeirão Preto ago. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Uso do tabaco entre estudantes de enfermagem de uma faculdade privada

 

Uso del tabaco entre estudiantes de enfermería de una facultad privada

 

 

Bruno Pereira da SilvaI; Carolina Maia Martins SalesII; Marilene Gonçalves FrançaIII; Marluce Miguel de SiqueiraIV

IMestrando, Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil. Professor Auxiliar, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil
IIMSc, Professor Assistente, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil
IIIMSc, Enfermeira, Prefeitura Municipal de Vitória, Vitória, ES, Brasil
IVPhD, Professor Associado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil

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RESUMO

O objetivo deste estudo foi conhecer a prevalência do tabagismo entre universitários do curso de graduação em enfermagem, das Faculdades Unificadas Doctum, Guarapari, Espírito Santo. Trata-se de estudo exploratório, descritivo e quantitativo, desenvolvido com 68 universitários de enfermagem. A coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2009, utilizando-se um questionário autoaplicável. Os achados mostram que a maioria dos estudantes é do sexo feminino, na faixa etária de 20 a 25 anos, moram com os pais; sem renda própria. Dentre eles, 50% experimentaram fumar alguma vez na vida; sendo a experiência com o tabaco referida com familiares (53%), amigos (32,4%) e através da convivência com fumantes (58,5%). O estudo possibilitou reflexões sobre o uso/abuso de tabaco, alertando sobre os prejuízos causados por essa substância entre os adultos jovens.

Descritores: Tabagismo; Universitários; Prevenção.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fue conocer la superioridad del tabaquismo entre universitarios del curso de graduación en Enfermería de las Facultades Unificadas Doctum, Guarapari-ES. Se trata de un estudio exploratorio, descriptivo y cuantitativo, desarrollado con 68 universitarios de Enfermería. La recogida de datos ocurrió en los meses de febrero y marzo de 2009, utilizándose un cuestionario auto-aplicable. Nuestros hallazgos muestran que la mayoría de los estudiantes es del sexo femenino, en la banda etaria de 20 a 25 años, viven con los padres; sin renta propia. Entre ellos, 50% experimentaron fumar nunca en la vida; siendo la experiencia con el tabaco referida en familiares 53%, amigos 32,4% y a través de la convivencia con fumadores 58,5%. El estudio posibilitó ponderaciones sobre el uso/abuso de tabaco, alertando sobre los perjuicios causados por esta substancia entre los adultos jóvenes.

Descriptores: Tabaquismo; Universidad; Prevención.


 

 

Introdução

O tabaco, antes usado em rituais religiosos, como medicamento e objeto de inserção social, hoje, as substâncias presentes em seu invólucro são prejudiciais à saúde, com destaque para a nicotina, a causadora da tabaco-dependência. O uso dos produtos derivados do tabaco é reconhecido mundialmente como prejudicial à saúde, assim como são de conhecimento público os efeitos danosos que o tabagismo causa em seus usuários e nas pessoas com as quais convivem - fumantes passivos(1).

Embora venham ocorrendo, nos últimos anos, várias tentativas para redução da prevalência dos fumantes, o tabagismo continua sendo grave problema de saúde pública, comprometendo a saúde física e mental da população, a economia do país, a qualidade do meio ambiente, através da destruição de árvores e diminuição da fertilidade do solo(2-3).

Estima-se que 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, ou seja, 1/3 da população mundial adulta seja fumante, e que, dentre a população masculina, 47% seja tabagista, enquanto na população feminina esse índice é de 12%(4). Cerca de 100.000 jovens começam a fumar a cada dia, desses, 80% são de países em desenvolvimento. A idade média para o uso do tabaco é de 15 anos, o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerá-lo uma doença pediátrica(5-6).

Deve citar o ano do Censo para o número de pessoas no mundo. Hoje chega a quase 8 bilhões.

A mortalidade mundial por doenças tabaco-associadas está em torno de 4,9 milhões por ano, o que representa 10 mil mortes por dia. Caso a atual progressão epidemiológica se mantenha, acredita-se que, em 2030, haverá 10 milhões de mortes por ano, sendo metade delas de indivíduos em idade produtiva(4). O fumo é fator de risco para as quatro principais causas de morte em todo o mundo - doença cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer e acidente vascular cerebral. Ainda, é fator de risco independente para doença arterial coronariana, no Brasil, após a hipertensão, o tabagismo é o segundo mais importante fator de risco para óbito(3).

Quando comparados aos indivíduos de 15 a 24 anos, a população adulta (com 25 anos ou mais) apresentou maior consumo de cigarros(7). Todavia, essa diferença tende a diminuir nas cidades mais urbanizadas, indicando maior participação do grupo jovem nas prevalências globais, sendo essa população aquela que mais apresenta alterações do comportamento e problemas que surgem, decorrentes do uso de Substâncias Psicoativas (SPA)(8).

Em estudo realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)(9), foi observado que o uso na vida das SPAs apresentou elevada prevalência para o álcool (82,1%), tabaco (22,3%), seguido de ansiolíticos, anfetamínicos, solventes, maconha e, por fim, barbitúricos, anticolinérgicos, alucinógenos e cocaína. O tabaco apareceu como a segunda substância mais usada entre os alunos de graduação em enfermagem da Ufes.

O uso do tabaco atinge todas as camadas da sociedade e vem ocorrendo cada vez mais precocemente, sendo a segunda droga mais consumida entre os universitários, o que leva à preocupação sobre esse uso entre os universitários(9).

Face ao exposto, este trabalho objetivou conhecer a prevalência do tabagismo entre universitários do curso de graduação em enfermagem das Faculdades Unificadas Doctum, Campus Guarapari, ES, como medida auxiliar para o desenvolvimento de estratégias educativas a serem dirigidas a essa população.

 

Material e métodos

Trata-se de estudo exploratório, descritivo e quantitativo, desenvolvido com universitários do curso de graduação em enfermagem das Faculdades Unificadas Doctum, Campus Guarapari, ES. Foi utilizado um questionário autoaplicável, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), adaptado para a realidade da Instituição.

O estudo-piloto ocorreu em novembro de 2008, envolvendo 10% do total de universitários matriculados na Faculdade, no segundo semestre desse ano. A seleção dos sujeitos foi através de sorteio pelo número de ordem correspondente na lista de chamada. Após a avaliação dos resultados, o instrumento de coleta de dados sofreu as adequações necessárias como, por exemplo, os períodos ofertados, o turno do curso, ano de ingresso, estado/município de funcionamento da instituição e residência dos acadêmicos.

A coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2009, sendo a população composta por 82 alunos, e, desses, 69 alunos estavam presentes no momento da aplicação do questionário, abrangendo todas as turmas de enfermagem da Instituição (1º ao 8º período). Entretanto, um aluno não aceitou participar do estudo, portanto, 68 sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar da pesquisa.

Para a análise dos dados, foi criado um banco de dados no programa Microsoft Excel, sendo realizada a análise descritiva com emprego da frequência absoluta e percentual para análise das informações, utilizando-se o pacote estatístico SPSS, versão 11(10).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (CEP-CCS-Ufes), sob nº088/08, sendo desenvolvido observando-se os dispositivos da Resolução nº196/96, do Conselho Nacional de Saúde(11).

 

Resultados

O perfil sociodemográfico (Tabela 1) mostra que a maioria dos universitários é do sexo feminino (85,3%), na faixa etária de 20 a 25 anos (53%); desses, 77,9% são solteiros, 82,2% moram em Guarapari, ES, e 42,7% moram com os pais, além de 22% com cônjuge. Havia predomínio de estudantes que não possuíam renda (48,5%).

 

 

Em relação à experiência dos universitários, familiares, amigos e como lidam com a situação, a Tabela 2 mostra que, dentre os universitários, 53% não experimentaram fumar e 32,4% já experimentaram e não continuam fazendo uso do tabaco, 53% afirmam ter familiares e 32,4% amigos próximos que fumam.

 

 

Com relação ao uso atual do tabaco, dentre os estudantes que já fizeram uso alguma vez, 32,3% não estão utilizando, 14,7% continuam fumando, e esses referem como principais motivos para o hábito de fumar: a curiosidade e desejo de fumar, ajuda aliviar tensões e estudos e a influência do grupo extrafamiliar, como pode ser observado na Tabela 3.

 

 

Analisando-se a continuidade do hábito de fumar nos graduandos, segundo a idade de iniciação, observa-se, na Tabela 4, que 60% iniciaram na faixa etária dos 16 aos 20 anos, 30% entre 10 e 15 anos e 10% entre 21 e 26 anos.

 

 

A análise das tentativas dos alunos que conseguiram cessar de fumar estão apresentadas na Figura 1, demonstrando que 90% tentaram alguma vez, desses, 60% pararam de fumar e 50% utilizou como método a "força de vontade".

 

 

Discussão

Na variável sexo, foi encontrada predominância maior de sujeitos do sexo feminino (85,3%), corroborando o resultado de estudo realizado com estudantes da área de ciências biológicas de uma universidade pública do município de São Paulo(12), no qual a maioria dos estudantes era do sexo feminino (60,7%), refletindo, assim, a cultura da profissão de enfermagem que, desde quando surgiu, é caracterizada pela predominância do sexo feminino. A maioria era solteira (95,2%) e morava com os pais ou familiares (79,8%).

De modo contrário a este estudo, os alunos investigados apresentavam renda mensal superior a 20 salários-míninos, o que mostrou influência significativa para o uso de drogas ilícitas(12). Apesar de o presente estudo estar investigando entre os universitários o uso de tabaco, uma droga lícita, a influência econômica e cultural dos universitários pode contribuir para hábitos de vida pouco saudáveis, sendo o álcool e tabaco, drogas de fácil acesso - seja pelo valor e legalização - muitas vezes a primeira droga de abuso.

Em relação à experiência dos universitários com o tabaco alguma vez na vida, 53% relataram que não experimentaram fumar, assim, os resultados deste estudo assemelham-se ao estudo desenvolvido com graduandos de Enfermagem na Uerj(13), onde 58% dos universitários também não usaram tabaco alguma vez na vida.

Com relação à experiência dos graduandos com o tabaco, 32,3% dos estudantes já fizeram uso alguma vez na vida. Na literatura nacional(9), essa experiência também foi encontrada em 22,3% de alunos de enfermagem, 28,4% em alunos de farmácia(14), 27%(15) em alunos da odontologia, 22%(16) em alunos da medicina e 24,9%(17) em estudantes da área de ciências da saúde da Ufes, que fizeram uso do tabaco alguma vez na vida. Assim, o uso do tabaco alguma vez na vida, entre os universitários de enfermagem das Faculdades Unificadas Doctum, foi maior em relação aos estudos desenvolvidos na Ufes. Ressalta-se, ainda, que o uso de tabaco pelos acadêmicos deste estudo encontra-se inferior ao consumo da população em geral, em que o uso na vida é de 44,0%, o uso no ano de 19,2% e o uso no mês de 18,4%(18).

Quando questionados sobre os principais motivos do hábito de fumar, 33,3% dos sujeitos responderam ser por curiosidade e desejo de fumar e 19% por influência do grupo extrafamiliar. O resultado mencionado acima se assemelha ao resultado do estudo desenvolvido com universitários na Universidade de Brasília (UnB)(19), onde a maioria (57,6%) teve como principal motivo a curiosidade e desejo de fumar, seguido de 23,2% que afirmou ser por causa extrafamiliar.

Dos estudantes que já fizeram uso alguma vez (50%), 14,7% continuam fumando e 32,3% não usam, corroborando os achados nacionais(2), onde apenas pequena parcela continuou usando o tabaco (8,2%).

Considera-se jovem o seguimento composto pelos indivíduos de 15 a 24 anos de idade(20), seguimento que tem sido muito visado como público-alvo de indústrias de consumo e de lazer, que os veem como potenciais consumidores de substâncias psicoativas.

Em relação à idade de iniciação do hábito de fumar, observou-se, no estudo, prevalência da faixa etária de 16 a 20 anos (60%). Resultado semelhante ao encontrado no estudo desenvolvido na Uerj(14), onde a maioria dos alunos investigados começou a fumar na faixa etária dos 16 aos 20 anos. E, nos estudos com acadêmicos de medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)(21), e com universitários da UnB, detectaram-se prevalência de idade de início de 15 a 19 anos(19).

A análise das tentativas dos alunos que conseguiram cessar de fumar demonstra que 9 (90%) tentaram alguma vez, 6 (60%) pararam de fumar e 5 (50%) usaram o método "força de vontade". No estudo desenvolvido na Uerj(13), na análise das tentativas dos alunos que conseguiram cessar de fumar, a maioria tentou alguma vez e parou.

 

Considerações finais

Os resultados encontrados mostram que os universitários de Instituição de Ensino Superior (IES), privada, estão tão expostos quanto os alunos das IES públicas (Federal e Estadual).

Os resultados encontrados preocupam, no que diz respeito à saúde dessa população, visto que as substâncias que compõem o tabaco são danosas à saúde tanto para os fumantes ativos como para os passivos. O uso do tabaco é bastante preocupante, uma vez que a maioria iniciou o uso do tabaco na faixa etária dos 16 aos 20 anos (60%), portanto, ainda na adolescência, e esse hábito foi adquirido antes mesmo do ingresso na universidade, merecendo, nesse caso, atenção de toda a sociedade.

Sendo os sujeitos da pesquisa graduandos de enfermagem, alguns, em breve, profissionais de saúde, torna-se necessário a melhoria do conhecimento sobre a temática substâncias psicoativas lícitas, através da sua inserção de forma transversal na proposta curricular, como também a realização de seminários com a participação de diversas áreas do conhecimento para abordar a temática. De modo especial, nos cursos da área de saúde, o tema poderia ser abordado de forma interdisciplinar, nas áreas de saúde mental, psiquiatria, pediatria e de atenção ao adolescente e ao jovem, com ênfase nos aspectos preventivos.

O estudo deve ser continuado junto aos demais cursos das Faculdades Unificadas Doctum, Campus Guarapari, ES, de forma a permitir propostas de intervenção para essa população específica, bem como a adoção de medidas para a promoção da saúde e prevenção de doenças tabaco-relacionadas na Instituição.

Enfim, o estudo propiciou várias reflexões sobre o tema uso/abuso de tabaco e seus impactos tanto para a vida pessoal como profissional, alertando precocemente sobre os prejuízos causados por essa substância entre os adultos jovens, que servirão de modelo para a população, na tomada de decisão sobre hábitos facilitadores de qualidade de vida saudável.

 

Agradecimentos

Ao Núcleo de Estudos sobre Alcool e outras Drogas (Nead), pela oportunidade de realizar a pesquisa. À Fundação de Apoio à Ciência & Tecnologia do Espírito Santo (Fapes), pelo suporte financeiro.

 

Referências

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Recebido em: 1/3/2010
Aprovado em: 15/1/2013