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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas

versão On-line ISSN 1806-6976

SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.16 no.1 Ribeirão Preto jan./mar. 2020

https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2020.157317 

ARTIGO ORIGINAL

 

Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: abordagem epidemiológica sobre vulnerabilidades

 

Transtornos mentales comunes en estudiantes universitários: abordaje epidemiologico acerca de las vulnerabilidades

 

 

Carlos Fabiano Munir Gomes; Ronaldo José Pereira Junior; Josiane Viana Cardoso; Daniel Augusto da Silva

Fundação Educacional do Município de Assis, Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis, Assis, SP, Brasil

Autor correspondente

 

 


RESUMO

OBJETIVO: identificar a ocorrência de transtornos mentais comuns em estudantes de uma instituição de Ensino Superior e associar com as características sociodemográficas e acadêmicas.
MÉTODO: trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e de abordagem quantitativa, de levantamento, realizada com 378 estudantes universitários de uma instituição do interior paulista, com a aplicação de questionário semiestruturado e do Self-Reporting Questionnaire. Os dados foram analisados com o uso de análise estatística descritiva e instruções respectivas para a análise do instrumento utilizado.
RESULTADOS: 151 (39,9%) dos estudantes universitários entrevistados apresentaram escore de classificação para caso suspeito de transtornos de humor, de ansiedade e de somatização. Das variáveis sociodemográficas, os maiores índices foram para mulheres (43,7%), homossexuais (50,0%), cor de pele preta (42,9%) e em união estável (50,0%). Das variáveis acadêmicas, destacam-se maiores índices entre estudantes do curso de Administração (57,5%) e estudantes no período matutino (44,0%).
CONCLUSÃO: a necessidade de planejamento de estratégias de prevenção e recuperação relacionadas à ocorrência de transtornos mentais comuns nessa população é clara, tendo em vista a vulnerabilidade a qual está exposta.

Descritores: Transtornos Mentais; Estudantes; Educação Superior; Epidemiologia.


RESUMEN

OBJETIVO: identificar la aparición de transtornos mentales comunes en estudiantes de uma institución de enseñanza superior y asociarla con las características sociodemograficos y académicos.
MÉTODO: es uma investigación de levantamiento, exploratório, descriptivo, de abordaje cuantitativo, hecha con 378 estudiantes universitários de una institución del interior de San Pablo, con aplicación de cuestionário semiestructurado y Cuestionario de Autoinforme. Los datos fueron analizados con el análisis estadísticos descriptivos y instruciones respectivos para el análisis del instrumento utilizado.
RESULTADOS: 151 (39,9%) de los estudiantes universitários entrevistados presentaron puntuación de clasificación para caso sospechoso de transtorno de humor, de ansiedad y de somatización. De los variables sociodemograficos, los mayores índices fueron para las mujeres (43,7%), homosexuales (50,0%), color de piel negra (42,9%), en unión estable (50,0%). De los variables académicos, los que más se distinguen con índices mayores están los estudiantes de la carrera de Administración (57,5%), y estudiantes del período matutino (44,0%).
CONCLUSIÓN: la necesidad de planificación de estratégias de prevención y recuperación relacionadas a la aparición de transtornos mentales comunes en esta población es clara, teniendo en vista la vulnerabilidad en la que están expuestos.

Descriptores: Trastornos Mentales; Estudiantes; Educación Superior; Epidemiología.


 

 

Introdução

Este estudo abordou a ocorrência de transtornos mentais comuns em estudantes universitários de uma instituição de educação superior no interior paulista, em uma amostra representativa incluindo estudantes em diferentes cursos, bem como os fatores associados a essas ocorrências.

O bem-estar dos indivíduos, sociedades e países está relacionado com a ocorrência da saúde mental nestes, contudo, das sobrecargas de doenças, 12% estão associadas aos transtornos da mente(1).

Um transtorno mental é um padrão psicológico de significação clínica que costuma estar associado a um mal-estar ou a uma incapacidade. Neste sentido, convém destacar que uma doença mental é uma alteração dos processos cognitivos e afetivos do desenvolvimento que se traduz em perturbações no nível do raciocínio, do comportamento, da compreensão da realidade e da adaptação às condições da vida(2).

É uma condição que apresenta diferentes sintomas associados com a respectiva relação de pensamentos atípica, emoção e comportamento relacionados ao impacto nos âmbitos pessoal, familiar e social. Estes transtornos são objetivamente delimitados pela instabilidade das manifestações dos sintomas que apresentam momentos de se remitir e exasperar. No momento de exasperação, podem ser manifestados delírio, alucinação e agitação como alguns dos seus principais sintomas(2).

Em situações de saúde onde o indivíduo apresenta sintomas de depressão e/ou ansiedade em intensidade suficiente para que as atividades diárias sofram interferências, porém, sem que ocorra diagnóstico formal, dá-se o nome de transtorno mental comum(3-5).

A prevalência dos transtornos mentais comuns refere-se à manutenção destes na população, sendo eles caracterizados por alterações do modo de pensar e do humor ou por alterações do comportamento associadas à ansiedade, angústia e deterioração dos funcionamentos psíquicos e somáticos. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos mentais comuns acometem cerca de 30% dos trabalhadores e os transtornos graves, cerca de 5% a 10%(4,6).

Em estudantes universitários, o maior índice de ansiedade é proeminente, relevando a vida cotidiana acadêmica em seguimentos de atividades realizadas em sua instituição tais como provas, seminários, trabalhos e estágios. Essa situação de ansiedade pode ocasionar a falta de interesse nos estudos e o mau desempenho nessas atividades acadêmicas. Desse modo, a ansiedade é um sintoma psicológico onde os alunos se sentem impotentes(4,7).

Os transtornos mentais comuns, compreendendo a depressão, a ansiedade e o estresse, correlacionam-se e acabam por prejudicar as atividades diárias, podendo ainda gerar prejuízos ao desempenho acadêmico(8).

A probabilidade de uma pessoa desenvolver transtornos mentais normalmente está relacionada com a interação entre a vivência de fatores de risco e os fatores de proteção. De forma geral, medidas de promoção em saúde visam a ampliar as condições para uma vida saudável, considerando a pessoa como um ser integral ao contemplar o campo da doença, da terapia e da saúde como um todo, seja de forma individual ou social, proporcionando condições mais humanas, melhor assistência, possibilidade de cura e diminuição do sofrimento(2).

Com os dados obtidos por meio da avaliação dos estudantes universitários, haverá a possibilidade de contribuição na compreensão e planejamento de estratégias de prevenção e recuperação relacionadas à ocorrência de transtornos mentais comuns nessa população, tendo em vista a vulnerabilidade a qual está exposta.

O estudo justifica-se pela importância da relação entre corpo e mente que pode influenciar o aprendizado do estudante. Uma pessoa não conseguirá evoluir, em seu aprendizado, vivenciando fatores somáticos(1).

Parte-se do princípio de que os transtornos mentais comuns em estudantes universitários se baseiam, muitas vezes, na sobrecarga, vida dupla e pressão acadêmica, tendo como fatores principais a fadiga, o esquecimento, a insônia, a irritabilidade e a dificuldade na concentração.

Este estudo teve o objetivo de identificar a ocorrência de transtornos mentais comuns em estudantes de uma instituição de Ensino Superior e, em uma perspectiva epidemiológica, correlacionar as vulnerabilidades sociodemográficas e acadêmicas que podem influenciar e ser determinantes para a ocorrência de transtornos mentais comuns.

 

Método

Trata-se de estudo transversal, exploratório, de natureza quantitativa, realizado com estudantes universitários em uma instituição de Ensino Superior de cidade do centro-oeste do Estado de São Paulo.

Optou-se por um modelo de amostragem probabilística aleatória estratificada proporcional para que houvesse representantes de todos os cursos de graduação oferecidos pela instituição. A população de estudantes universitários regularmente matriculados na instituição de ensino era de 2.164, sendo que a amostra calculada com grau de confiança de 95% e margem de erro de 5% foi de 326 participantes. Participaram 378 estudantes universitários, que compuseram a amostra final.

A coleta de dados deu-se no decorrer do 3º trimestre de 2017, em salas de aula ou espaços internos da instituição que proporcionassem privacidade para o desenvolvimento da mesma.

Houve a aplicação de questionário semiestruturado para a identificação de dados sociodemográficos e do Self-Report Questionnaire, um instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde e validado no Brasil(9-10).

O Self-Report Questionnaire é um instrumento que possui 20 questões com respostas binárias desenvolvido como instrumento de rastreamento para transtornos mentais comuns. Contudo, é importante ressaltar que esse instrumento não implica diagnóstico psiquiátrico formal, mas indica sofrimento psíquico relevante e que merece a atenção de profissionais de saúde mental(9-10). Os dados foram analisados com o uso de análise estatística descritiva simples.

Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com a participação e, após, responderam aos instrumentos respectivos a este estudo de acordo com a legislação específica para pesquisas com seres humanos(11).

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Amaral Carvalho e aprovado sob o Parecer número 2.105.047, de 07 de junho de 2017, atendendo à resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde(11).

 

Resultados

Dos 378 alunos universitários entrevistados, 151 (39,9%) apresentaram escore de classificação para caso suspeito de transtornos de humor, de ansiedade e de somatização. Observa-se, considerando que, ao aplicar o Self-Report Questionnaire, a variação de pontuação para casos suspeitos é de oito a 20 pontos, que, dos estudantes universitários que apresentaram pontuação para casos suspeitos de transtornos de humor, de ansiedade e de somatização, a variação de pontuação neste estudo também foi de oito a 20 pontos, com média geral das pontuações em 5,9, e média entre os casos suspeitos de 10,5.

A associação entre as características sociodemográficas e os transtornos mentais comuns está apresentada na Tabela 1, que demonstra as variáveis sociodemográficas e o rastreamento de transtornos mentais comuns por meio da aplicação do instrumento específico, incluindo os resultados de casos não suspeitos, casos suspeitos e teste de qui-quadrado de Pearson.

 

 

Dos 378 estudantes avaliados, 222 (58,7%) eram do sexo feminino e apresentaram maior índice de casos suspeitos de transtornos mentais comuns (43,7%), quando comparados aos estudantes do sexo masculino, 156 (41,3%), com 34,6% de casos suspeitos. Contudo, a média de pontuação dos casos suspeitos entre mulheres e homens foi de 10,8 e 10,1, respectivamente, o que demonstra um resultado semelhante de intensidade.

Na associação entre casos suspeitos de transtornos mentais comuns e a orientação sexual, é observado que os estudantes universitários que se declararam homossexuais apresentaram maior índice para casos suspeitos (52,9%), com média de 10,7.

A cor da pele revelou que estudantes que se declaram de cores de pele preta (42,9%), branca (41,2%) e parda (36,2%) compõem os maiores índices de casos suspeitos de transtornos mentais comuns. Não houve casos suspeitos em estudantes com cor de pele amarela e indígenas.

Em relação ao estado civil, o maior índice de casos suspeitos para transtornos mentais comuns foi presente em estudantes universitários em união estável (50,0%), com média de 12,0.

A associação entre as características acadêmicas e os transtornos mentais comuns está apresentada na Tabela 2, que demonstra as variáveis acadêmicas e o rastreamento de transtornos mentais comuns por meio da aplicação do instrumento específico, incluindo os resultados de casos não suspeitos, casos suspeitos e teste de qui-quadrado de Pearson.

 

 

Sobre os cursos oferecidos pela instituição escolhida para o estudo, nota-se, entre estudantes do curso de Administração, um elevado índice de casos suspeitos para transtornos mentais comuns (57,5%), com média de 10,8, seguidos por estudantes do curso de Enfermagem (43,8%), com média de 10,4, e estudantes do curso de Análise de Sistemas (40,0%), com média de 9,3.

O turno de estudo também revelou importante desequilíbrio nos índices de casos suspeitos de transtornos mentais comuns em estudantes universitários, com maior índice em estudantes do período matutino (44,0%), seguidos por estudantes do período noturno (39,8%) e estudantes em período integral (27,3%).

 

Discussão

Dentre os estudantes entrevistados, o índice dos casos suspeitos para transtornos mentais comuns foi de 39,9%, índice semelhante ao da pesquisa realizada em Recife (PE), onde 35% dos estudantes universitários apresentaram a mesma situação(12). Em Jequié (BA), a prevalência de transtornos mentais comuns foi de 32,2%(13). Todavia, pesquisa realizada nos municípios de Campo Grande (MS) e Dourados (MS) apresentou menor índice de casos suspeitos de transtornos mentais comuns em estudantes universitários de 25%(14).

Este cenário permite afirmar que os estudantes universitários participantes deste estudo apresentaram maior índice para casos suspeitos de transtornos mentais comuns em comparação aos índices de casos suspeitos em outros Estados do Brasil.

Uma justificativa para os altos índices de transtornos mentais comuns refere-se ao estilo de vida dos estudantes universitários, composto por grande quantidade de atividades obrigatórias a serem desempenhadas na universidade, além da sobrecarga, produto de uma vida dupla constituída pela pressão acadêmica e pela carga horária de trabalho(15).

Ainda, a mudança ambiental, característica da transição de Ensino Médio para o nível superior, apresenta-se como importante fator para o desenvolvimento do estresse(1).

Em outras palavras, a rotina estudantil universitária pode levar ao adoecimento devido a uma série de fatores ligados à grande quantidade de tempo que é necessário disponibilizar às atividades acadêmicas e às cobranças referentes a essas atividades. Ainda, a indisponibilidade de tempo dedicado ao lazer, que perfaz fator de proteção, reflete prejuízos de ordem emocional, fadiga e distúrbio do sono(16).

O alto índice de transtornos mentais comuns em estudantes universitários pode ser afirmado quando comparado esse índice com outros extratos da população, como trabalhadores da saúde (21%)(17).

É importante compreender as vulnerabilidades respectivas ao estudante universitário, entretanto, essas questões não justificariam o fato da apresentação de maior índice para casos suspeitos nessa região, pois são vivências características em universitários como um todo. Assim, existe a necessidade de estudos que aprofundem essa lacuna de diferenciação regional.

Quanto à identificação do sexo, em 43,7% das estudantes universitárias participantes deste estudo, observou-se a suspeita para transtornos mentais comuns, índice maior frente a 34,6% dos homens. Quanto à análise estatística, o resultado encontrado, mesmo que não deduza comportamento estatisticamente diferente entre os sexos, é próximo a essa realidade (p=0,076).

Fato semelhante foi encontrado em estudo realizado em Botucatu (SP) onde mulheres apresentaram maior índice para transtornos mentais comuns (46,8%) frente ao índice para homens (42,4%). Contudo, esta diferença não se mostrou significativa(18).

Esse cenário também pode ser observado em estudo realizado com estudantes do Ensino Médio onde o maior índice de transtornos mentais comuns se deu em mulheres (38,4%), sendo observado, ainda, que os índices de suspeitas aumentaram conforme a idade para ambos os sexos(19).

Na associação entre casos suspeitos de transtornos mentais comuns e a orientação sexual, é observado que os estudantes universitários que se declararam homossexuais apresentaram maior índice para casos suspeitos (52,9%). Não houve investigação específica com o objetivo de compreender esse fato nessa população. Desse modo, torna-se necessária a realização de outros estudos para a abordagem dessa diferenciação de intensidade de transtornos mentais comuns.

Há diferente resultados em estudos publicados acerca da associação entre transtornos mentais e a cor de pele. Neste estudo, o maior índice para transtornos mentais comuns foi para estudantes universitários que se declararam de cor de pele preta (42,9%), seguidos pelos estudantes de cores de pele branca (41,2%) e parda (36,2%).

Estudos nacionais demonstram maiores índices, com diferença significativa, em pessoas de cores de pele preta e parda e menor índice de pessoa de cor de pele branca(20-22).

Apontar os fatores para essa mudança de cenário é importante no sentido de compreender os fatores relacionados às diferenças regionais ou, até mesmo, à implementação de ações de saúde específicas a cada indivíduo.

Diferente de revisão sistemática acerca dos fatores de adoecimento de estudantes na área da saúde, onde o fato de ter filhos se apresenta como fator de proteção frente aos transtornos mentais, neste estudo, estudantes que afirmaram possuir filhos apresentaram maior índice de suspeita de transtornos mentais comuns quando comparados aos estudantes sem filhos(16).

Neste estudo, fatores relacionados à religião não apresentaram diferença significativa quanto à suspeita de transtornos mentais, resultado semelhante ao de estudo realizado na cidade de São Paulo onde não foram encontradas diferenças significativas entre a religiosidade e transtornos mentais comuns(23). Contudo, a ausência de religião é fator de risco importante para o desenvolvimento de transtornos mentais(16).

Na análise da diferença de comportamento para casos suspeitos de transtornos mentais comuns, na ausência ou presença de patologias físicas, observou-se estatisticamente tendência à igualdade (p=0,995).

Sobre as variáveis acadêmicas, foi observado que estudantes do curso de graduação em Administração apresentaram maior índice de transtornos mentais comuns, seguidos de estudantes dos cursos de Enfermagem e Análise de Sistemas.

É importante destacar que 57,5% dos participantes matriculados no curso de Administração apresentaram resultado suspeito de transtornos mentais comuns, fato que evidencia o imediatismo de intervenção nesta população.

Universitários do curso de Enfermagem apresentaram variação quanto aos índices de transtornos mentais comuns conforme a região onde residem. Este fato pode ser afirmado quando comparados os resultados deste estudo com os de estudo realizado no Rio Grande (RS), que apresentou índice de 25% dos estudantes com transtornos mentais comuns, e outro estudo em Araçatuba (SP), com 55%(1,24).

O menor índice neste estudo deu-se em estudantes do curso de Medicina, pois 27,3% dos estudantes apresentaram resultado para suspeita de transtornos mentais comuns. Situação inferior quando comparada aos resultados de estudos em Jequié (BA), com 32,3%, e em Botucatu (SP), com 44,9%(13,18).

Observa-se escassez significativa na literatura em relação à publicação de estudos que tenham por objeto de investigação os estudantes universitários que estejam em área diferente da saúde, fato que suscita esta necessidade, fortalecida quando se verificam altos índices de suspeição de transtornos mentais comuns nessa população.

Além da necessidade dos estudos, não menos importante é o desenvolvimento de políticas públicas educacionais que abordem todos os estudantes universitários.

No geral, os fatores de risco mais proeminentes são o abuso de drogas, a depressão, a herança genética, doenças físicas, traumas, traços de personalidade, distúrbios do sono e estresse. Percebe-se que a maioria dos transtornos mentais tem início antes dos 24 anos, atingindo um a cada cinco pessoas. Por isso, é de absoluta importância que se estabeleçam hábitos e relações saudáveis(25-26).

Sobre hábitos saudáveis, incluindo a prática de atividade física, estudo realizado com estudantes de uma universidade federal apontou que os estudantes inativos apresentaram três vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais comuns quando comparados aos estudantes ativos. Ainda afirmam que a ausência de hábitos saudáveis, de prática de atividade física e a convivência com diversos estressores no Ensino Superior constituem a graduação como uma fase de risco aos transtornos mentais comuns(15).

Além disso, o ambiente de ensino saudável, composto por estratégias de ensino centradas no aluno, favorece e encoraja a maior participação do mesmo no processo de aprendizagem, situação que pode colaborar junto à saúde psicológica dos estudantes(18).

 

Conclusão

Em estudantes universitários, grande parcela da população apresenta escore de classificação para caso suspeito de transtornos de humor, de ansiedade e de somatização, os transtornos mentais comuns, que, neste estudo, no geral, foram presentes em 39,9% dos participantes.

A necessidade de planejamento de estratégias de prevenção e recuperação relacionadas à ocorrência de transtornos mentais comuns na população universitária brasileira é clara, tendo em vista a vulnerabilidade a qual está exposta.

Enfatiza-se, considerando o alto índice de casos suspeitos de transtornos mentais comuns apresentados, que se coadunam com outros estudos realizados, e que essa ocorrência pode estar relacionada a situações específicas dessa fase de vida, a necessidade de implantação de políticas locais de atendimento ao estudante que incluam a abordagem das questões relacionadas à saúde mental, além da consideração dessas informações no planejamento de estudo dos mesmos.

As limitações deste estudo incluem o fato de a coleta de dados ter sido realizada em uma única instituição de Ensino Superior, de um determinado município brasileiro, situação que não permite estender os achados a toda a população universitária. Entretanto, deve-se considerar que o conhecimento exposto é promissor no auxílio ao entendimento do desenvolvimento de transtornos mentais comuns na população universitária e no planejamento de intervenções e futuras investigações sobre a temática que abordem as lacunas identificadas neste estudo.

 

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Autor correspondente:
Daniel Augusto da Silva
E-mail: daniel.augustoo@live.com

Recebido: 23.04.2019
Aceito: 12.08.2019

 

 

Contribuição dos autores: Concepção e planejamento do estudo: Carlos Fabiano Munir Gomes, Ronaldo José Pereira Junior, Josiane Viana Cardoso, Daniel Augusto da Silva. Obtenção dos dados: Carlos Fabiano Munir Gomes, Ronaldo José Pereira Junior, Josiane Viana Cardoso, Daniel Augusto da Silva. Análise e interpretação dos dados: Carlos Fabiano Munir Gomes, Ronaldo José Pereira Junior, Josiane Viana Cardoso, Daniel Augusto da Silva. Redação do manuscrito: Carlos Fabiano Munir Gomes, Daniel Augusto da Silva. Revisão crítica do manuscrito: Carlos Fabiano Munir Gomes, Ronaldo José Pereira Junior, Josiane Viana Cardoso, Daniel Augusto da Silva.
Todos os autores aprovaram a versão final do texto.
Conflito de interesse: os autores declaram não haver conflito de interesse.

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