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Pesquisas e Práticas Psicossociais

versão On-line ISSN 1809-8908

Pesqui. prát. psicossociais vol.14 no.4 São João del-Rei out./dez. 2019

 

O processo de individuação dos estudantes universitários como manejo do comportamento suicida

 

The individuation process of university students as management of suicidal behavior

 

El proceso de individuación de los estudiantes universitarios como manejo del comportamiento suicida

 

 

Raphael do Amaral VazI; Wagner de Menezes VazII

IGraduado em Psicologia pela Universidade Veiga de Almeida (2008), em Filosofia pela Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II - RJ. (1997), em Teologia pelo Instituto Superior de Teologia - convênio com a PUC-RJ. (2001). Especialização em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida (2009). Mestrado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2011). Atualmente, em formação a ser terapeuta de Sandplay pelo IBTSANDPLAY-SP (2017 em andamento). Professor do curso de Psicologia da Multivix - Faculdade Brasileira, ministra aulas de Psicologia da Personalidade, Teoria da Personalidade, Epistemologia da Psicologia e Psicologia junguiana. Professor da Faculdade Europeia de Vitória (Faev), na qual ministra aula de Psicologia da Personalidade, Psicologia e Saúde, Ética profissional
IIDoutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pós-graduado em Teoria e Terapia Junguiana pela Universidade Estácio de Sá. Graduado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com extensão em Análise de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Supervisor clínico. Associado-fundador da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps). Gestor do site Diálogos e Ideias. Psicólogo voluntário da Cruz Vermelha Brasileira - RJ

 

 


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo articular a potência do conceito junguiano de individuação com o manejo do comportamento suicida do estudante universitário. Apresenta a universidade em seus desafios e possibilidades, e a contextualização do estudante em seus aspectos existenciais nesse cenário. Mostra os conceitos de persona e sombra e sua conexão com o processo de individuação. Propõe a construção de dispositivos de acolhimento visando à prevenção e a posvenção do comportamento suicida. Descreve os fatores de risco e de proteção que balizam as estratégias de intervenção. Elucida a desliteralização do suicídio como estratégia de leitura endógena da alma. Conclui que o processo de individuação do estudante universitário é um potente aliado na compreensão, superação e prevenção do comportamento suicida.

Palavras-chave: Jung. Psicologia Analítica. Estudante universitário. Comportamento suicida. Individuação.


ABSTRACT

This article aims to articulate the power of the Jungian concept of individuation with the management of the suicidal behavior of the university student. It presents the university in its challenges and possibilities, and contextualizes the student in its existential aspects within this scenario. It shows the concepts of persona and shadow and their connection to the process of individuation. It proposes the organization of suicide support services for the prevention and postvention of suicidal behavior. It describes the risk and protection factors that guide intervention strategies. It elicits the de-literalization of suicide as an endogenous reading strategy of the soul. It concludes that the individuation process of university students is a powerful ally in understanding, overcoming and preventing suicidal behavior.

Keywords: Jung. Analytical Psychology. University student. Suicidal behavior. Individuation.


RESUMEN

El presente artículo tiene como objetivo articular la potencia del concepto junguiano de individuación con el manejo del comportamiento suicida del estudiante universitario. Presenta la universidad en sus desafíos y posibilidades, y la contextualización del estudiante en sus aspectos existenciales dentro de este escenario. Muestra los conceptos de persona y sombra y su conexión con el proceso de individuación. Propone la construcción de dispositivos de acogida con vistas a la prevención y la posesión del comportamiento suicida. Describe los factores de riesgo y de protección que balizan las estrategias de intervención. Elucida la desliteralización del suicidio como estrategia de lectura endógena del alma. Concluye que el proceso de individuación del estudiante universitario es un potente aliado en la comprensión, superación y prevención del comportamiento suicida.

Palabras claves: Jung. Psicología Analítica. Estudiante universitario. Comportamiento suicida. Individuación.


 

 

Introdução

Criar espaços de diálogo e de reflexão sobre a temática do suicídio tem se tornando mandatório, tendo em vista os números preocupantes que esse fenômeno tem apresentado nos diversos cenários humanos.

O documento Suicídio: informando para prevenir, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em 2014, traz o seguinte conceito: "O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal".1 O suicídio não escolhe lugar, crença, cor, faixa etária, etnia, gênero ou classe social. É um fenômeno humano complexo e que exige estudo e ações preventivas.

No cenário global, a World Health Organization3 (WHO, 2000) informa que, a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no planeta e que o problema é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade, considerada, portanto, uma questão de saúde pública.2 No Brasil, uma pesquisa sobre a saúde mental dos estudantes universitários realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), no biênio 2014-2016, apontou que 80% dos entrevistados já tiveram algum tipo de problema emocional. Dentre os sintomas detectados pela pesquisa estão a ansiedade, a insônia, a tristeza permanente, além do medo e do pânico. A pesquisa igualmente revela que, do total de alunos pesquisados, 6% tiveram ideia de morte e 4% tiveram ideação suicida.

De modo geral, a tentativa de suicídio ou a sua consumação trazem um impacto emocional significativo no local de sua ocorrência, porém, não fica somente restrito a ele; em outras palavras, a dimensão de um fenômeno como esse não passa despercebida. Em particular, quando se considera o meio universitário como um universo representado por uma maioria jovem e recém-saída da adolescência, a perplexidade é inevitável, haja vista o imaginário coletivo sobre a juventude, que está associado à descoberta do mundo, à irreverência e à vontade de viver.

A partir do cenário descrito, temos como proposta trazer o conceito de individuação desenvolvido pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) de forma a subsidiar o manejo clínico do comportamento suicida do estudante universitário. Vale dizer que Jung não se debruçou especificamente sobre o tema do suicídio a ponto de produzir alguma formalização teórica a respeito, mas, indo além do viés psicopatológico, procurou olhar o suicídio como uma representação simbólica da psique vis-à-vis a um sujeito que sofre. A implicação dessa proposta é a passagem de uma perspectiva que tende a negar a morte para uma outra que desliteraliza o suicídio e o considera um símbolo potente de afirmação da alma.

Quando pensamos sobre o desenvolvimento humano, fazemo-lo em função de uma trajetória percorrida ao longo do tempo, caracterizada pelas estratégias que cada um lançou mão para transpor os vários desafios propostos pela vida. Estar diante de desafios e problemas é um privilégio da condição humana que tem a seu dispor um "instrumento" que se chama consciência, ainda que pese sua sobrevalorização nos tempos atuais. A partir dela, a existência do indivíduo no mundo tem um sentido e uma localização no tempo e no espaço, o que o torna herdeiro de uma historicidade que o perpassa.

Uma nova perspectiva de mundo se abre quando a criança começa a engatinhar. A exploração do ambiente representa para ela a expressão primeira de um movimento de conquista de autonomia pessoal. Representa de igual modo um incipiente processo de individuação, pois, à medida que a criança se desenvolve fisicamente, o ego infantil gradativamente habilita-se a "distinguir o corpo individual dos objetos no mundo circundante [tornando-o] mais real e concreto, deixando de ser simplesmente o recipiente de projeções rudimentares" (Stein, 2006, p. 155). Esse movimento de distinção, de diferenciação da personalidade em relação ao ambiente e ao coletivo é, de modo geral, a primeira etapa do desenvolvimento da consciência representada pela gradual desidentificação dos indivíduos com os objetos.

O termo "individuação" aparece pela primeira vez em 1916 numa conferência proferida no Zürcher Schule für Analytische Psychologie e que foi publicada, no mesmo ano, no Eu e o Inconsciente, figurando no apêndice com o título "A estrutura do inconsciente". Samuels et al. (1986), no Dicionário Crítico de Análise Junguiana, porém, vão dizer que sua aparição nas Obras Completas acontece no Tipos Psicológicos e que, mesmo sendo publicado em ano posterior, 1921, o termo já figurava na referida obra desde 1913 quando Jung começou a sua composição.

O processo de individuação, como uma perspectiva de desenvolvimento da personalidade, trabalha com as tensões provenientes dos diferentes modos de funcionamento da psique em seus aspectos conscientes e inconscientes. A partir desse tensionamento, a psique é capaz de construir um modelo de leitura não apenas do próprio indivíduo como também daquilo que é exterior a ele. A relação com o mundo e consigo mesmo será mediada, portanto, por meio desse modelo composto por conteúdos imagéticos considerados realidades psíquicas, na medida em que são atuantes, têm energia psíquica e são dotados de valor psicológico (Jung, 1985).

A contemporaneidade hipervaloriza a consciência e o lado objetivo, extrovertido e concreto, em detrimento do irracional, do pathos, do mundo subjetivo mais profundo e introvertido. O quantum de energia psíquica aplicada à dinâmica consciente acaba por recalcar as produções e os conteúdos do inconsciente, tornando-os sombrios. A unilateralidade proporcional na distribuição da energia entre consciente e inconsciente convoca o sistema de compensação da psique visando sua autorregulação (Borges, 2002). Se, por um lado, a relação do indivíduo com a coletividade exige esforços adaptativos aos seus ditames, por outro, existe uma necessidade natural de desenvolvimento do indivíduo distinto da psique coletiva; por esse enfoque, "uma coibição dela por meio de regulamentos, preponderante ou até exclusivamente de ordem coletiva, traria prejuízos para a atividade vital do indivíduo" (Jung, 1991, pp. 426-427).

 

A universidade e o seu contexto

O cenário universitário é o locus da construção do conhecimento acadêmico-profissional e também o cenário da transição entre dois mundos: o do lar e o do trabalho. No imaginário do estudante, a universidade aparece como um representante do saber magno, onde muitas oportunidades de crescimento estão disponíveis. Ser aluno de um professor que é referência na profissão é um potencial de abertura e acesso às pesquisas e atividades conduzidas por ele, que, por conseguinte, abre outras tantas portas de acesso a outros professores e equipes de pesquisa, mobilizando a libido e gerando muita ansiedade e expectativa. Por isso mesmo, "o maior anseio de muitos que entram na universidade é aprender uma profissão. E o maior receio dos que saem é não se sentir preparado para encarar o mundo do trabalho" (François & Barradas, 2015, p. 117).

O ingresso do estudante na universidade convoca o seu repertório psicoemocional, trazendo questões que mobilizam sua individualidade e sua relação com o meio. Isso porque o estudante universitário, de modo geral, é aquele que se encontra num momento crítico em seu desenvolvimento não somente físico, mas também psicológico. Em outras palavras, o estudante universitário é um ser em transição no qual se encontram presentes ingredientes que poderíamos chamar de desestabilizadores. A instabilidade emocional, a busca por identidade e do sentimento de pertença, o questionamento de valores e a experimentação do mundo, a distância dos familiares e locais de origem são alguns desses ingredientes que podem surgir, às vezes, ao mesmo tempo. Esse contexto costuma trazer muitas dúvidas acerca da própria suficiência em lidar, pois são fatores potencialmente estressores e que afetam de modo distinto o estudante. Essa configuração poderia ser chamada de contexto íntimo do universitário, o qual traz consigo uma bagagem existencial representada por suas idiossincrasias, pelo contexto familiar e pela realidade cultural e social de seu local de origem.

A perspectiva de uma universidade produtora de tensões e adoecimentos psíquicos enseja uma reflexão crítica em função da ocorrência de episódios relatados de suicídio nas universidades brasileiras, demandando estudos que possibilitem correlacionar os prováveis fatores contributivos para o fenômeno. Ao contexto universitário se associam expectativas por desempenho e resultados, tendo em vista sua proposta de formar profissionais para o mercado de trabalho, o que potencialmente traz em seu bojo o medo do fracasso e a frustração. A necessidade de fazer escolhas, a preocupação com o futuro, sentimentos de insuficiência e inadequação, além do tempo exíguo para o cumprimento das demandas, tornam o ambiente universitário propício a tensões de diversas ordens, deixando o indivíduo vulnerável e predisposto ao adoecimento psíquico. A vivência desses fatores estressores sem a devida problematização e a ausência de dispositivos para lidar com a dor acabam por naturalizar o sofrimento no ambiente universitário, trazendo para o indivíduo que sofre a percepção da impessoalidade e do desamparo. Em alguns casos, é possível que a sensação de vulnerabilidade chegue a tal intensidade que o indivíduo a perceba como autoaniquilação e desintegração, podendo literalizar esse sentimento e, no limite, cometer suicídio.

A vulnerabilidade emocional do estudante universitário não deve ser negligenciada e a universidade deve estar atenta para a construção de dispositivos e iniciativas que favoreçam a integração no novo ambiente. A conscientização da importância desses dispositivos e que a própria universidade se torne um ambiente acolhedor e faça parte da rede de apoio do aluno podem favorecer a prevenção do suicídio. O estudante deve se sentir confortável o suficiente para buscar ajuda sem o risco de se sentir estigmatizado por fazê-lo. Não é uma tarefa fácil ou trivial expor as próprias insuficiências a outras pessoas, mas, se a universidade como um todo estiver envolvida nesse projeto de prevenção e aumento da qualidade de vida do ambiente universitário, possivelmente a redução dos casos de tentativas de suicídio seja viável.

As expectativas geradas em torno do mundo universitário podem criar no estudante perspectivas irreais e trazer o sentimento de precariedade. É comum, depois da árdua tarefa de ingressar numa universidade, o estudante construir a percepção da obrigatoriedade de ser eficiente em tudo, que não pode decepcionar os pais, que deram o máximo para ele estar ali, aliado ao medo de ser julgado, ameaçado e criticado. Todos esses fatores geram tensões e condicionam a existência a conceitos de sucesso, adequação e performance, não havendo espaço para a dor, o insucesso e a precariedade, sentimentos esses da ordem do humano e que têm sido desconsiderados e discriminados nos diversos ambientes sociais, em particular no trabalho, nas escolas e nas universidades.

O que questionamos é o quanto essas pressões contribuem para a formação acadêmica e para a construção do conhecimento. As universidades têm debatido o tema. Um dos desafios é identificar o aluno em situação de vulnerabilidade, isto é, quais os sintomas e comportamentos que apontam para uma intervenção preventiva e não somente quando o quadro clínico já se encontra instalado; a percepção da vulnerabilidade possibilita que a universidade crie mecanismos que envolvam professores e funcionários na consecução de um ambiente favorável à construção de habilidades emocionais e sociais para lidar com as tensões e exigências pertinentes ao percurso universitário. O estresse, infelizmente, faz parte do desenho contemporâneo. Quando, porém, os estudantes se encontram amparados pelos dispositivos que a universidade dispõe para o enfrentamento desses desafios, os riscos diminuem. Cabe, portanto, às instituições universitárias a construção de políticas e modelos para a prevenção de comportamentos de risco e a identificação dos fatores de proteção.

 

Suicídio: prevenção e posvenção

Os fatores de risco mais apontados pela literatura internacional (WHO, 2001, 2002; De Leo, Bertolote & Lester, 2003; Botega, 2015), citados por Condé e Vaz (2019), para o suicídio são: culturais e sociodemográficos, familiares, estilo cognitivo e personalidade, perdas, conflitos interpessoais e problemas de relacionamento, transtornos psiquiátricos, tentativa prévia de suicídio ou história de comportamento suicida, suicídio de um amigo ou conhecido. Por outro lado, os fatores protetores estão relacionados ao apoio familiar e à confiança; esses fatores são: as boas habilidades sociais, a busca por ajuda e aconselhamento, o senso de valor pessoal, a abertura para novas experiências e aprendizados, a habilidade em comunicar-se, a receptividade com a ajuda dos outros e projetos de vida, entre outros.

De fato, os jovens em geral estão, segundo Mota, Sian e Monecchi (2019), cada vez mais se afastando dos fatores de proteção e se aproximando dos fatores de risco. Os estudantes universitários, em particular, podem se aproximar desses fatores de risco com uma velocidade maior, pois estão frequentemente lidando com motivos que prejudicam sua autoestima, terminando por criar poucas redes de apoio, aumentando muito o nível de preocupação, desenvolvendo transtornos mentais, consumindo drogas e perdendo a esperança por conta de razões associadas ao ambiente acadêmico.

Segundo Venturini e Goulart (2016) citado por Mota, Sian e Monecchi (2019), muitos fatores podem influenciar a saúde mental dos universitários. A pesquisa desses autores utiliza dados tabelados pela OMS (2012) que fazem referências às modificações sociais e individuais em cada sujeito. Nas características individuais, é possível destacar, por exemplo, a baixa autoestima, a imaturidade cognitiva/emocional e dificuldades de comunicação. Em relação aos fatores sociais, a pesquisa enumera a solidão, o luto, a negligência, o conflito familiar, a exposição à violência e o abuso, pobreza e o desemprego. Por fim, nas modificações relacionadas ao ambiente, temos como características a falta de serviços básicos, a injustiça e a discriminação, a desigualdade de gênero, as desigualdades sociais, os desastres e as guerras. Esses fatores intercalados podem influenciar as formas de ver o mundo, assim como os diferentes setores de sua vida.

Para que o estudante possa superar seus desafios e, quem sabe, vivenciar o processo de individuação, é importante que a universidade providencie dispositivos de apoio com a presença de um psicólogo, com o qual possa o estudante ser confrontado com as imagens relacionadas ao plano ou à tentativa de morrer. A existência de um espaço de escuta e de diálogo favorece o estudante na construção do seu processo de individuação viabilizado pela intervenção terapêutica.

Segundo Hillman (2009a, 2009b) e Oliveira (2012), citado por Condé e Vaz (2019), o suicídio é uma realidade psíquica, na qual os pensamentos suicidas representam as atitudes psicológicas do paciente. O trabalho analítico empreendido no setting traz a morte em seu aspecto psicológico, possibilitando a compreensão simbólica das imagens. Consequentemente, o psicólogo conceberá o encontro analítico como um espaço para reimaginar a morte e o corpo em relação aos aspectos sombrios do suicídio, de maneira que o paciente possa trazer livremente suas fantasias e ideias sobre o tema.

A partir do momento em que o estudante encontra no ambiente universitário não somente um lugar do saber científico, mas também um espaço propício ao atendimento psicológico, o estudante poderá se tornar apto à realização de ações de prevenção ao suicídio no próprio campus. É importante que a universidade faça jus ao significado do seu nome, ou seja, etimologicamente, a palavra vem do vocábulo latino unus (uno, ideia de unidade) e verto (voltar, torcer, tornar). Portanto, o ambiente universitário deve proporcionar ao estudante não somente um lugar de união de saberes e produção de conhecimento, mas também o de incentivar que todo o conhecimento científico que esteja sendo produzido possa ser revertido em prol da pessoa do estudante e não apenas do seu intelecto. Tão logo ele compreenda que o conhecimento científico adquirido durante a sua formação profissional não se distancie de sua subjetividade, então, sua trajetória como estudante e, principalmente, a construção de sua identidade profissional começarão a fazer sentido. A falta de perspectiva durante a formação acadêmica se deve à desconexão entre o que o estudante aprende em sala de aula e a prática profissional. Esse aspecto, aliado àqueles já elencados anteriormente, vem acarretando um vazio existencial nos jovens estudantes ao ponto de se constituírem fatores predisponentes à ideação suicida.

Da mesma forma que as ações de prevenção se fazem necessárias, a posvenção não pode ser negligenciada. Quando ocorre na universidade um ato suicida, não somente os estudantes ficam abalados emocionalmente, mas também os que nela trabalham e colaboram. O termo posvenção foi criado pelo psicólogo e suicidólogo americano Edwin Schneidman, que o define como a possibilidade da interpretação do suicídio, a minimização das sequelas e do sofrimento, denominando de sobrevivente o enlutado que sofre com o impacto do suicídio. Igualmente, pode ser definido como toda e qualquer atividade que ocorre depois do suicídio (Fukumitsu et al., 2015).

Segundo Botega (2015) citado por Mota, Sian e Monecchi (2019), a ideação suicida é caracterizada por pensamentos corriqueiros de que a vida do sujeito não vale mais a pena, como também por fortes preocupações em relação ao porquê de continuar vivendo, culminando com inclinações para o aparecimento de pensamentos de morte. Segundo Fukumitsu e Scavacini (2013), a psychache, conceito igualmente desenvolvido por Edwin Schneidman, é a questão central na ideação ou tentativa de suicídio. O indivíduo busca evitar ou cessar uma dor psíquica muito grande, advinda da sensação de estar sem saída devido a suas problemáticas e ao sofrimento emocional. A tentativa de suicídio aparece como uma solução de alívio rápido para o desespero e a desesperança provocados pela psychache, mostrando, dessa forma, a necessidade de uma solução urgente para o sofrimento do indivíduo.

O comportamento suicida, segundo Bertolote (2012), diz respeito, por sua vez, a todos os aspectos que envolvem o ato suicida, tais como: a ideação suicida, o plano suicida, o suicídio e as tentativas de suicídio. Nesse conceito, o pensamento também se enquadra no espectro do comportamento suicida, podendo evoluir para um plano, para uma ou mais tentativas e, por fim, para a consumação. A presença do transtorno mental e o histórico de suicídio fortalecem a probabilidade de tentativas. Pensando no contexto universitário, o suicídio de um colega abala sensivelmente toda a instituição, devendo esta ficar alerta para o efeito Werther4 ou o caráter contagioso do fenômeno, dada a pré-disponibilidade de sua repetição.

No entanto, localizar uma única e exclusiva causa para o fenômeno do suicídio na universidade é reducionista e minimiza a sua complexidade. Segundo Fukumitsu e Scavacini (2013, p. 198 "o suicídio é multicausal, não pode ser compreendido somente por uma faceta e, na maioria dos casos, existe uma interação entre fatores psicológicos, psiquiátricos, econômicos, culturais, religiosos que deve ser levada em consideração". Além dos aspectos que apontamos, contributivamente fatores como problemas financeiros, perdas e lutos, tensões familiares e assuntos afetivos podem favorecer a ideação e o comportamento suicida.

Estudar numa universidade, grosso modo, coincide com uma das fases do desenvolvimento humano, representado pelo término da adolescência e início da juventude, situando-se numa faixa etária compreendida entre os 17 e 24 anos, aproximadamente. Já se faz presente no âmago desses jovens a busca pelo próprio caminho e também pela realização individual, não só porque faz parte do script coletivo, mas também porque se apresenta como uma demanda íntima. E, naquilo que se relaciona ao nosso objeto de estudo, a vivência universitária e o comportamento suicida apontam para uma experiência da ambivalência humana, isto é, o desejo de viver e o desejo de morrer.

As tensões promovidas pela vivência intensa dos opostos em cada um traz à psique do indivíduo a questão do sentido da vida. Isso acontece porque seus fundamentos ficam relativizados, na medida em que se instalam as contradições, ou seja, o ego por sua natureza tenderá a permanecer em territórios seguros e fará o possível para debelar as ambivalências interiores. No entanto, o máximo que ele consegue é o adiamento do confronto à custa do sofrimento psíquico (Guggenbühl-Craig, 1978).

 

Individuação e manejo do comportamento suicida

Este é o cenário que se apresenta ao estudante universitário quando ele se vê às voltas com a ideação e/ou o comportamento suicida. A juventude é uma fase do desenvolvimento em que as tensões ocorrem de maneira muito intensa. O jovem tende a inibir e a ocultar de si e dos outros as dificuldades que está vivendo. Com medo de críticas e julgamentos, o jovem se retrai buscando sozinho a superação da dor que lhe acomete. Muitas vezes, sua rede de afetos não é potente ou é insuficiente para lidar. O sentimento de insuficiência cresce e o jovem cada vez mais traz para si a única e exclusiva responsabilidade pelo que ocorre com ele. Refugiado em seu próprio mundo e em sua própria escuridão, seu sentimento de nulidade é crescente, assim como sua vontade de se livrar da dor; a dor e a precariedade se misturam com a existência do jovem, que acaba por configurar a autoaniquilação como proposta de resolução de seus conflitos. A estratégia inicial pode vir com a presença de comportamentos autolesivos como reflexo da dor da alma, mas também como mecanismo para superá-la. Infelizmente, os pais, professores e mesmo colegas mais próximos só conseguem perceber a gravidade da situação quando sobrevém a tentativa de suicídio, pegando a todos de surpresa.

Quando consideramos o processo de individuação como um movimento em direção à alma, o suicídio deve ser visto em seu simbolismo para aquele indivíduo que passa pela situação. A percepção do suicídio como um fenômeno pertencente exclusivamente à patologia enubla a compreensão de sua potência afirmadora da vida. Ao trazermos o fenômeno para os quadros nosológicos, emerge a perspectiva normativa de saúde e doença, deixando de lado os aspectos subjetivos que permeiam o tema e traçamos uma intervenção generalista, sem considerar as especificidades de cada sujeito (Hillman, 2009a).

O suicídio é um fenômeno da vida, que acontece a partir de um sujeito que se encontra em relação consigo mesmo e com o coletivo, a partir de tensões internas de grande mobilização energética que causam dor e sofrimento. Diante disso, relacionar o fenômeno com o processo de individuação proposto por Jung configura-se como potente para pensarmos uma clínica junguiana do suicídio que nos auxilie no manejo clínico dos estudantes universitários.

O estudante universitário, como já o dissemos, encontra-se numa faixa etária predominantemente jovem e, como tal, busca um território que lhe dê uma base afetiva representada pelo pertencimento. Para isso, códigos e formas de comportamento são assimilados e incorporados, de modo que o jovem esteja apto a se integrar ao grupo. Jung vai denominar de persona essa face adaptativa ao coletivo. Persona é o arquétipo da adaptação social que prepara o indivíduo para a atuação no coletivo em relação ao qual leva em conta os valores socialmente aceitos. E, justamente por razões adaptativas, o que o indivíduo é de fato momentaneamente se enubla face às exigências da cultura, "transformando-o naquilo que ele parece ser".

Por outro lado, exatamente pela forte exigência adaptativa da cultura, o indivíduo tentará ocultar, de si e dos outros, seu lado mais precário ou não desenvolvido. Via de regra, o que não conhecemos a nosso respeito tende a ser projetado, isto é, aqueles conteúdos que do ego estão ocultos e, portanto, inconscientes e carregados de afetos transfiguram o real a partir das imagens internas, provocando um desencontro entre o sujeito e o mundo (Borges, 2002). Jung vai denominar de sombra a personificação desses aspectos negligenciados da psique. O seu não reconhecimento pelo ego, dada a sua incompatibilidade, forjará o "surgimento" de uma personalidade relativamente autônoma e compensatoriamente de tendência oposta à consciência, perpassando-o, causando embaraços de natureza moral face a esses traços inferiores de caráter. A sombra enquanto arquétipo é referenciada no inconsciente coletivo como "o eterno antagonista", que justamente por representar a parte faltante da personalidade irá impor-se ao sujeito, solicitando-o a uma mudança de atitude (Humbert, 1985).

O processo de constituição do sujeito impõe muitos sacrifícios e conflitos. Em particular, destacamos o conflito entre a sombra e a persona, representativos de uma tensão entre opostos, na medida em que a sombra se constitui daqueles conteúdos que não são apresentáveis e a persona daqueles conteúdos que são apresentáveis, posto que identificados com os valores coletivos e da cultura (Humbert, 1985; Oliveira, 2010). Dessa tensão, a emergência do crescimento psicológico do sujeito só é possível com o confronto com a sombra, isto é, a partir do seu reconhecimento e da sua possibilidade de integração por meio da recolha das projeções. Enquanto o sujeito estiver identificado com a persona, o acesso ao lado obscuro da personalidade estará impedido. Com essa obstrução, a psique ensejará compensatoriamente uma acentuação dos conteúdos sombrios. Tal movimento em direção ao eu indiviso a partir das dinâmicas compensatórias patrocinadas pelo Self, é o processo de individuação. De maneira conceitual, porém não dogmática, Jung afirma em muitas passagens que a individuação é um processo que acontece na segunda metade da vida, quando as necessidades exteriores estariam idealmente satisfeitas, podendo a libido ser direcionada a partir de então para as necessidades interiores. Em tese, isso aconteceria por volta da meia idade. De acordo com Guggenbühl-Craig (1978, p. 141), "um jovem de 16 anos poderá ter avançado bastante no caminho da individuação, enquanto um adulto de 60 anos talvez tenha abandonado por completo a busca". Essa percepção do autor permite considerar a individuação como um processo que não se encontra necessariamente vinculado a Cronos e sim ao Káiros, ao tempo da alma e, portanto, a um outro tempo.

A clínica do estudante universitário com ideação ou comportamento suicida encontra, na clínica junguiana da individuação, um aliado importante. Como vimos, o processo de individuação é um movimento natural da alma, que pode ser estimulado pela escuta clínica acolhedora do psicólogo, aliás, fator básico de toda intervenção. A individuação relaciona-se com a desidentificação progressiva com a persona, visando ao contato com a sombra, compreendendo o conflito como parte do próprio crescimento e amadurecimento da personalidade.

O manejo do comportamento suicida visa não somente restituir certo ordenamento a uma psique em desequilíbrio, mas principalmente compreender as condições que fazem com que ele surja muitas vezes de forma inesperada. Poder predizer a sua irrupção é compreender seu modo de funcionamento; relacionar a ideação e o comportamento suicida como parte do processo de individuação é perceber que a psique é criativa, é um devir, é um constante alternar-se entre vida e morte, na medida em que a psique está em constante transformação, produzindo novos símbolos e significados. Na perspectiva construtivista de Jung, a psique é estudada em termos do que ela está se tornando vis-à-vis a sua atuação consciente e inconsciente. E, mais do que isto: aprender sobre o suicídio está além das estatísticas que são produzidas sobre ele. O ponto de vista junguiano se baseia numa leitura endógena do fenômeno alicerçada na metáfora da alma que se define, segundo Bastos (2006, p. 50), "como um estudo das significações do sujeito, do conjunto de suas produções simbólicas, as quais se encontram envolvidas no suicídio".

 

Considerações finais

O olhar sobre o suicídio na perspectiva da alma favorece a intervenção clínica em benefício do estudante universitário quando esclarecemos que o processo de individuação é um preparo constante para a morte em seu sentido simbólico. Quando o estudante toma para si o próprio processo, quando compreende que as contradições internas são inerentes ao existir humano e que estes devem ser resolvidos pelo enfrentamento íntimo, é possível resistir à literalização e trabalhar na perspectiva de "reverter a sua tendência autodestrutiva" (Bastos, 2006, p. 70). A simbolização, ou seja, a melhor forma que o inconsciente encontrará para expressar de forma não literal a perspectiva do morrer será a de suportar as tensões internas para que surja a sua solução por meio da função transcendente, ou seja, a função psicológica que articula os conteúdos conscientes e inconscientes em prol de uma mudança de atitude (Jung, 1984). O psicólogo, atuando como psicopompo, favorecerá ao estudante a construção do seu próprio processo de individuação pelo desvelamento simbólico da imagem do suicídio. A sombra arquetípica torna-se, então, uma grande aliada do processo quando o estudante empreende o máximo de seus esforços na elucidação da "fantasia inconsciente que subscreveu o ato suicida" (Bastos, 2006, p. 51).

 

Referências

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Recebido em: 16/6/2019
Aprovado em: 10/10/2019

 

 

1 Recuperado em 19 maio, 2019, de http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14#page/6.
2 Organização Mundial de Saúde.
3 Recuperado em 19 maio, 2019, de https://nacoesunidas.org/oms-suicidio-e-responsavel-por-uma-morte-a-cada-40-segundos-no-mundo/.
4 O efeito Werther é uma expressão usada para referenciar o fenômeno ocorrido pela publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, em que jovens repetem a conduta suicida do personagem, como um contágio.

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