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Psicologia para América Latina

versão On-line ISSN 1870-350X

Psicol. Am. Lat.  no.24 México jun. 2013

 

ARTIGOS

 

Sentidos e significados do trabalho entre pessoas em situação de rua

 

 

Regis Albuquerque Henrique1,I; Clara Miranda Santos2,II; João Jackson Bezerra Vianna3,III

IUniversidade Federal do Acre, Rio Branco-AC, Brasil
IIUniversidade Federal de Rondônia, Sena Madureira-AC, Brasil
IIIUniversidade Federal do Amazonas, Manaus-AM, Brasil

 

 


RESUMO

Este artigo pretende apresentar aspectos relacionados aos sentidos e significados dados ao trabalho por pessoas em situação de rua. Esta problemática é crescente não apenas em grandes conglomerados urbanos, mas também nas cidades amazônicas em desenvolvimento. Verificou-se entre esse segmento a existência de sentidos e significados positivos com respeito ao trabalho, apesar das condições extremas de insalubridade e exclusão. Os entrevistados apresentavam-se e se reconheciam por algum ofício ou habilidade que marcava até então suas identidades, atribuíam ao trabalho sentidos e significados de realização, entretenimento, dignidade e saúde. A categoria trabalho pode ser considerada como fator propulsor para a inclusão social e a promoção de saúde. Destaca-se ainda que a observação de aspectos como esses são imprescindíveis para a implementação de políticas públicas mais eficazes e sensíveis à realidade desta população.

Palavras-chave: trabalho, pessoas em situação de rua, sentidos, significados.


RESUMEN

Se presentan los aspectos relacionados con los sentidos y significados otorgados al trabajo de la gente en situación de calle. Este problema está creciendo no sólo en los grandes centros urbanos sino también en los pueblos amazónicos en desarrollo. Se ha encontrado entre ese segmento la existencia de sentidos y significados positivos con respecto al trabajo, a pesar de las condiciones extremas de insalubridad y exclusión social. Los encuestados fueron identificados por algún tipo de oficio o habilidad que haya marcado su identidad hasta el momento, atribuían al trabajo sentidos y significados de realización, entretenimiento, dignidad y salud. La categoría trabajo se puede considerar como una fuerza motriz para la inclusión social y la promoción de la salud. Cabe destacar también que estos aspectos son esenciales para la implementación de políticas públicas más eficaces y sensibles a la realidad de esta población.

Palabras clave: trabajo, personas en situación de calle, sentidos, significados.


ABSTRACT

This article intends to present aspects related to the senses and meanings given to work by people living on the streets. This problem is growing not only in large urban conglomerates, but also in Amazonian cities in developing countries. It was observed between this segment of the existence of positive meanings and senses with respect to work, despite the extreme conditions of poor health and exclusion. The interviewees showed up and were recognized by some trade or skill that marked their identities so far, attributed sense and meaning to the work of achievement, entertainment, health and dignity. The class job can be considered as a driving force for social inclusion and health promotion. Note also that the observations of how these aspects are essential to the implementation of public policies more effective and sensitive to the reality of this population.

Keywords: job, people living on the streets, meanings, senses.


 

 

Introdução

O presente trabalho pretende estabelecer um paralelo entre algumas teorias e os sentidos e significados dados ao trabalho por pessoas em situação de rua da cidade de Porto Velho, Rondônia, localizada na região Norte do país que compõe a Amazônia Sul Ocidental. Esta problemática tem sido crescente não apenas em grandes conglomerados urbanos, mas também nas cidades amazônicas em desenvolvimento.

Cotidianamente encontramos pelas ruas pessoas que nelas vivem e acabamos involuntariamente estabelecendo contato com representantes desse segmento populacional, dos quais, de modo geral, não conhecemos sua história. Para a maioria das pessoas esse contato não ultrapassa o limite visual, no entanto, são capazes de emitir uma série de opiniões e conceitos a respeito dessa categoria social. Com o tempo, essa relação marcada pelo o espanto e estranhamento transforma-se em indiferença. As pessoas passam a negligenciar inclusive o contato visual e os moradores de rua deixam de "existir".

Considerando que a maioria das pessoas em situação de rua possui histórico de vínculos com o mundo do trabalho, buscou-se analisar a relevância do trabalho na vida dos participantes, observar a existência de representações do trabalho em suas vivências e descrever um panorama entre o mundo do trabalho e a vida na rua. Por algum motivo esses vínculos com as atividades laborais foram fragilizados, em alguns casos excluindo-os completamente do sistema econômico e até mesmo de seus direitos. As razões para isso perpassam diversos fatores, exigindo-se abordagens multidisciplinares.

Provavelmente, devido à conturbada relação com o mundo do trabalho, os moradores de rua comumente sejam considerados como sujos, loucos, vagabundos e sem qualificações morais, profissionais, entre outras (Mattos & Ferreira, 2004) ou mesmo que fogem do trabalho porque são preguiçosos (Snow & Anderson, 1998).

Destacamos que os conceitos de sentidos e significados vêm sendo utilizados em várias áreas de conhecimento e apresentam grande dispersão semântica entre diversos autores, no entanto, neste trabalho nos restringimos aos conceitos básicos sem tal aprofundamento da discussão. Consideramos "sentidos" como processo de percepção e sentimentos, e "significados" como atribuição de valores relacionados ao trabalho.

 

O trabalho na história

Para melhor contextualização será apresentado um breve panorama sobre o trabalho e sua história. Sabe-se que o termo trabalho origina-se do latim tripalium e designa uma espécie de instrumento de tortura utilizado também na agricultura. Não por acaso, durante muito tempo na Antiga Grécia, as atividades profissionais eram mal vistas e desprezadas pelos cidadãos livres. De acordo com Albornoz (2008), até o início da era cristã persistia uma conotação negativa acerca trabalho, sendo constantemente relacionado a castigo e penalidade, pensamento fundamentado no texto bíblico que relata o pecado de Adão e Eva.

O sentido e o significado do trabalho para o homem sofreram diversas modificações ao longo dos tempos. De forma sintética, pode-se dizer que passamos por um período onde o trabalho possuía uma conotação negativa, como uma atividade inferior destinada somente aos servos e escravos. Posteriormente, no início da idade moderna, surge um movimento de modificação desse pensamento, a burguesia oriunda dos antigos servos passa a se dedicar ao comércio e a prática do trabalho é consolidada trazendo grandes mudanças que refletem em nossa contemporaneidade.

No período renascentista são inauguradas novas concepções de trabalho ligadas à identidade e autorrealização do sujeito. Para Albornoz (2008) o trabalho passa a representar o desenvolvimento do ser humano e a enriquecer significativamente a existência dos homens, constituindo-se como condição necessária para sua liberdade. Observa-se que o labor deixa a figuração de martírio para ser o fomentador do desenvolvimento humano no caminho de realizações.

Segundo Alvim (2006), a consolidação da virtuosidade do trabalho se dá a partir dos avanços científicos e o estabelecimento da sociedade capitalista. Em virtude da polêmica e marcante Revolução Industrial, o ato de trabalhar torna-se mecanizado em decorrência da separação entre concepção e execução do trabalho, tornando as ações desprovidas de afeto devido à falta de sentido no todo da produção. As políticas neoliberais e as grandes mudanças na gestão do trabalho somadas ao fato de não mais ser possível o controle explícito do trabalhador, obrigaram as organizações a se apoiarem nas pessoas, aderindo a modelos de produção mais participativos. Essa nova concepção do trabalho permite que o trabalhador pense aquilo que faz e resgate características de investimento afetivo ao mundo do trabalho, gerando o fortalecimento da desvalorização do ócio.

De acordo com Weber e sua Ética protestante (1905/1999), o fortalecimento do enlace entre negócios possui crescimento diretamente proporcional à valorização do trabalho. Defende ainda que a profissão que se exerce e o posicionamento social por ela proporcionado podem ser considerados pelas pessoas como dons divinos, o que denota uma ideologia bastante difundida por religiões cristãs até os dias atuais.

 

Trabalho e subjetividade

Atualmente o trabalho configura-se como um relevante ponto de partida para a compreensão da subjetividade humana (Lima, 2007), segundo Chasin (1993, citado por Lima, 2007) a partir do seu esmiuçamento é possível articular dois pólos do ser: o humano e o animal (orgânico), constituindo-se então o trabalho, como fundamental mediador desses níveis.

Ressalta-se que há tempos, existe um forte enlace entre subjetividade humana e trabalho, sendo ele um dos organizadores fundamentais da sociabilidade com sentidos múltiplos e individuais na vida dos sujeitos (Jacques, 1996). Ainda segundo Jacques (2007), o homem ao transformar a natureza por meio do trabalho, transformou também suas condições de ser e estar no mundo, bem como suas condições de adoecer e morrer.

Os estudos sobre "população em situação de rua" no Brasil são considerados relativamente escassos e em nosso país o conhecimento a respeito dessa população ainda é modesto (Ferreira, 2005). Na realidade amazônica não é diferente, em Porto Velho-RO o fenômeno da população de rua tem se mostrado crescente, especialmente nos últimos anos, em virtude da capital vivenciar mais um ciclo migratório devido à construção de usinas hidroelétricas. Além disso, merece destaque o fato de que a mão de obra não qualificada termina sendo excluída do mercado de trabalho, o que se reflete nas condições de vida da população.

A ciência, por vezes, comporta-se como o cidadão comum que ao se deparar com um mendigo e/ou morador de rua tende a desviar seu olhar ou mesmo seu caminho, fato comprovado pela escassez de trabalhos que abordam essa temática. O comportamento científico tem grande relevância, ao poder contribuir para uma melhor compreensão da problemática e consequentemente para o desvelamento de novos olhares a partir de estudos multidisciplinares. A carência de conhecimentos específicos torna o trabalho com essas populações limitado, baseando-se apenas na boa vontade de quem se dedica à caridade, atividade geralmente de cunho assistencialista deixando um déficit de discussões mais aprofundadas acerca do tema (Mendonça, 2006).

Estudos que relacionam pessoas em situação de rua e o mundo do trabalho são igualmente escassos, dessa maneira o estudo da relação entre sociedade e ordem econômica vigente mostra-se imprescindível, porque pode iluminar questões que tendem a ser nebulosas como a discussão de problemáticas peculiares a essa população, a execução de políticas públicas específicas e não específicas para este segmento e a influência de modelos produtivos e sistemas econômicos na gênese da questão (Mendonça, 2006).

Mattos e Ferreira (2004) realizaram uma pesquisa sobre moradores de rua identificando representações sociais que a sociedade tem sobre eles e descobriram a existência de representações pejorativas como, por exemplo: vagabundas, sujas, loucas, perigosas e coitadas. Esses pesquisadores salientam que essas representações, por sua vez, são determinantes na formação da identidade dos moradores de rua, pois se sabe que a construção desta está vinculada à totalidade das relações sociais, recortada pelo conhecimento socialmente compartilhado e mediado por outrem.

Dessa forma, a identidade é entendida como uma construção ininterrupta a partir das relações sociais em um contexto histórico determinado, manipulado pelas representações sociais, que funcionam como tipificações externas à pessoa, que no caso dos moradores de rua, acabam por atrofiar suas possibilidades de autonomia (Mattos & Ferreira, 2004). Segundo Guareschi (2001), estes conteúdos projetados são simbólicos e de cunho ideológico, pois favorecem a cristalização de relações de exploração e dominação.

Não temos o intento de negar a fragilidade dos vínculos sociais que essa população possui, entretanto salientamos que mesmo entre este grupo social onde representações depreciativas e estigmatizantes imperam, os sujeitos demonstram alguma ligação com o mundo do trabalho, perceptível através de seus discursos, de forma manifesta ou latente.

Considerando o caráter mediador do trabalho enquanto organizador da sociabilidade (Jaques, 1996), não raro, observa-se em representantes de populações de rua dificuldades de socialização relacionadas ao labor. A falta de uma atividade ou a fragilidade de vínculos com atividades dessa natureza, por quaisquer motivos, faz parte do conjunto de fatores que os levam e/ou os mantém em situação de rua.

Para Tittoni (1994, citado por Borges, 2007), ao produzir, o trabalhador se reconhece, realiza-se e apresenta-se à sociedade efetivando uma condição particular, dada a carga de significado que o trabalho possui, atravessando várias dimensões como a estrutura socioeconômica, a cultura, as necessidades e a subjetividade do ser humano. Segundo Bastos, Pinho e Costa (1995) a significância do trabalho dá base a percepções particularizadas advindas de experiências individuais e outras socialmente construídas: "Tal construção, embora de base individual, é um processo eminentemente social, por se dar no interior de um conjunto partilhado de crenças, valores e significados que definem o contexto cultural no qual interações entre indivíduos e grupos ocorrem" (p. 22).

A consequência dessa construção na vida do indivíduo também apresenta duas dimensões: um reconhecimento do sujeito no mundo externo a ele e a mobilização da vida psíquica individual para a vida em sociedade. Partindo do pressuposto que a identidade do sujeito é construída, sobretudo com base em sua inserção no mundo do trabalho, pode-se presumir ainda que autoestima e autoconceito estejam fortemente arraigados aos papéis e funções profissionais. França e Rodrigues (1997) postulam que a ausência desses elementos, comumente em razão do desemprego ou aposentadoria, pode ser interpretada pelos mesmos sujeitos como necessidade de reestruturação da sua identidade, perda de lugar no sistema produtivo e necessidade de reorganização espaço-temporal da sua vida.

 

Metodologia

O estudo é resultado do trabalho de conclusão de curso da especialização em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional da Faculdade Católica de Rondônia, produzido a partir das práticas de estágio em Psicologia Social como requisito para a formação de psicólogo no curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia. O local escolhido para a sua realização foi um campo de futebol localizado em um bairro de classe média da cidade de Porto Velho.

No logradouro se reuniam e dormia um grupo de pessoas em situação de rua, algumas delas em zona de transição, característica incomum em relação a outras cidades, como por exemplo, São Paulo, que de acordo com estudos (Varanda & Adorno, 2004; Mendonça, 2006) apresenta um perfil mais cronificado, com uma grande quantidade de pessoas que está nas ruas há muito tempo.

No local, se aglomeravam em média 15 pessoas, número que variava de acordo com os meses do ano. Essa variação populacional sazonal ocorre devido ao fato de nos meses de chuva, durante o inverno amazônico, existir uma oferta menor de trabalho nas áreas rurais o que leva muitas pessoas a saírem da zona rural em direção à zona urbana, e durante o verão, na seca, ocorre o movimento inverso. Essas pessoas dormiam nas arquibancadas, no chão ou embaixo de marquises cedidas por comerciantes do entorno. A maioria dos entrevistados foram homens entre 30 e 50 anos, usuários de álcool, podendo ter ou não dependência, a maioria desempregados ou trabalhadores informais e em situação de rua.

A fim de atingir os objetivos do estudo, empregou-se a abordagem qualitativa, pois nesta há uma preocupação com o sentido que as pessoas dão às suas vivências e à vida, buscando compreender como elas percebem as questões que estão sendo focalizadas e como são organizadas as experiências no cotidiano, possibilitando a produção de um conhecimento sobre o assunto estudado (Gonzáles Rey, 2002). De acordo com Minayo (2008), o método qualitativo é aplicado "ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões" (p. 57), produzidas a partir da compreensão que os humanos fazem a respeito de si mesmos e da realidade em que estão inseridos.

Os dados foram levantados a partir da revisão de transcrições dos diários de campo e de entrevistas não estruturadas, obtidas através do contato com um grupo de pessoas que vivem em situação de rua na cidade de Porto Velho.

 

Resultados

Os motivos que levaram esses sujeitos à exclusão do mercado de trabalho se apresentaram como variados em suas falas: escassez de mercado para determinada atividade, idade avançada, aposentadoria precoce, problemas de saúde física ou mental, baixa qualificação, entre outros. No entanto, sentidos e significados variados para o trabalho ou para alguma habilidade que possa lhe gerar renda e prestígio social recebem ênfase e permanecem fortemente marcando suas subjetividades. Snow e Anderson (1998) já destacavam em seus estudos que a falta de disponibilidade de trabalho e também de acesso constitui o trabalho como um dilema central na vida das pessoas não domiciliadas.

No bojo da relação íntima entre o homem e o trabalho observa-se a importância deste para sua vida como possibilidade de satisfação de desejos e suprimento de necessidades, bem como sua função enquanto instrumento de realização pessoal (Coda & Fonseca, 2004). Entre os participantes deste estudo essa prerrogativa não se fez ausente, alguns entrevistados se identificavam pelo que sabiam fazer, por algum ofício que exerciam ou já haviam exercido, atividades que executavam com pouca ou nenhuma regularidade, entretanto que marcava até aquele momento suas identidades, nos remetendo à idéia de existência de uma sociedade contemporânea que pode ser chamada de "sociedade do trabalho", na qual seus integrantes se reconhecem pelas funções que exercem (Arendt, 1999).

Apesar da exclusão do mercado de trabalho ser um ponto marcante na vida dessas pessoas, diversos participantes deste estudo declararam executar alguma atividade de onde lhe provêm renda. Alguns declararam viver da mendicância, de "bicos" (serviços temporários em áreas rurais ou na construção civil) ou de trabalhos informais como coleta de materiais recicláveis e sucata.

Chamamos atenção para alguns casos em que o vínculo de trabalho encontrava-se sob risco devido a problemas de saúde física e/ou mental, abuso de álcool, e outras drogas bem como problemas familiares. Merece destaque a ênfase que alguns deram ao trabalho como meio de auto-realização, entretenimento, meio de se obter dignidade e até mesmo saúde (física e mental). França e Rodrigues (1997) destacam a importância do trabalho como fator para o desenvolvimento emocional saudável, moral e cognitivo além do reconhecimento social.

 

Discussões

O sentido do trabalho se mostra extremamente arraigado ao discurso de pessoas em situação de rua, mesmo sendo elas constantemente estigmatizadas como "pessoas vagabundas, que não quiseram nada com a vida, com estudo e/ou trabalho". Nesse contexto, se faz importante ressaltar a afirmação de Jacques (2007), inspirado em Dejours, quanto à inexistência de um substituto do trabalho como mediador do ego no campo social, daí destacando sua imensa relevância que abarca a dimensão humana.

No tocante aos aspectos psicossociais, encontramos pessoas que através do processo de exclusão social, têm introjetadas uma série de representações sociais pejorativas, como: vagabundas, sujas, loucas, perigosas, coitadas e irrecuperáveis, além disso, deparam-se com uma estrutura de mercado de trabalho inflexível e insensível à situação dos moradores de rua (Snow & Anderson, 1998), fatores determinantes na constituição da identidade desses sujeitos, que por vezes, perdem a capacidade de planejar, não conseguindo criar sentidos subjetivos que os orientem para um futuro melhor, capaz de resgatar seu status e condição de dignidade.

Observamos que a maioria das pessoas em situação de rua que participaram desse estudo encontra-se em um grupo de zona de transição, ou seja, não apresentam uma condição cronificada, característica marcante daqueles que moram nas ruas há muito tempo. Esse contexto demonstra-se favorável, uma vez que a intervenção psicológica tem, nessa situação, um prognóstico positivo e com maiores possibilidades de intervenção e transformação social.

Ressaltamos a existência de sujeitos em situação de rua com dificuldades de socialização relacionadas ao trabalho, desemprego ou de vínculos frágeis com atividades dessa natureza, os motivos são diversos e compõe o conjunto de fatores que os levam e os mantém em situação de rua.

Por fim, a categoria trabalho pode ser considerada como um fator propulsor à inclusão social e à promoção de saúde para este segmento populacional vulnerável. A observação de aspectos como esses são essenciais para a implementação de políticas públicas mais eficazes e sensíveis à realidade desta população.

 

Referencias

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