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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.1 no.1 São Leopoldo jun. 2008

 

ARTIGOS

 

Avaliação dos efeitos de uma intervenção com mães/cuidadoras: contribuições do treinamento em habilidades sociais

 

Evaluation of the results of an intervention with mothers/caretakers: contributions of the training in social skills

 

 

Alessandra Turini Bolsoni-Silva; Fabiane Ferraz Silveira; Denize Campos Ribeiro

Universidade Estadual Paulista - UNESP - Bauru. Faculdade de Ciências, UNESP, Campus de Bauru Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, s/n, Vargem Limpa, CEP 17033-360, Bauru, SP, Brasil. Homepage: http://www.fc.unesp.br. bolsoni@fc.unesp.br, fabianeferrazsilveira@yahoo.com.br, denizeribeiro2005@hotmail.com

 

 


RESUMO

Estudos têm apontado como os problemas de comportamento estão cada vez mais relacionados a déficits em habilidades sociais educativas parentais (HSE-P). A presente pesquisa tem por objetivo a avaliação, a partir de três instrumentos, dos efeitos de um programa de intervenção que visou à promoção de habilidades educativas e à conseqüente prevenção de problemas de comportamento. Foram realizadas avaliações controle, pré-teste e pósteste através dos instrumentos: Roteiro de Entrevista que investiga as HSE-P, Inventário de Habilidades Sociais (IHS -Del Prette) e CBCL -Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência (Bordin et al., 1995). Participaram duas mães e uma avó, esta última responsável legal pela neta. A análise dos dados teve por objetivo comparar os resultados nas três avalia dos demonstraram alterações em habilidades sociais educativas parentais nas três categorias abordadas para a intervenção: comunicação, expressividade e enfrentamento, estabelecimento de limites para as três participantes. A aquisição de novas habilidades parentais possibilitou uma redução de problemas de comportamento e um aumento de respostas socialmente habilidosas por parte das crianças. Uma limitação sugerida foi a utilização restrita de medidas de relato; entretanto, duas contribuições podem ser citadas, a utilização de vários instrumentos e a realização de diferentes avaliações, cujo delineamento é escasso na literatura.

Palavras-chave: medicina do comportamento, psicologia infantil, educação.


ABSTRACT

Studies have demonstrated how behavior problems are increasingly related to deficits in the parents' social educative skills (PSES). The present study evaluates the effects of an intervention program which aimed at the promotion of educational skills and the consequent prevention of behavioral problems. Control evaluations, pre-test, and post-test were carried out using three different instruments: the HSE-P checklist questionnaire, Inventory of Social Skills (Inventário de Habilidades Sociais, IHS - Del Prette) and CBCL - Children Behavior Checklist (Bordin et al., 1995). Two mothers and a grandmother, who is the legal responsible for her grandchild, participated in this study. The data analysis was performed in order to compare the results from the three different evaluations. The results showed changes in the parents' socio-educative skills for all three participants following the intervention within three categories: communication, expressiveness and confrontation, limit setting. The new parental skills resulted in a reduction of behavioral problems and an increase of socially adequate responses from the children. A suggested limitation was the restricted use of disclosure measures, although two contributions can be pointed, viz. the utilization of a variety of tools and the realization of different evaluations, whose delineation is still scarce in the literature.

Key words: behavioral medicine, child psychology, education.


 

 

Introdução

Considera-se que a infância é um período decisivo para o aprendizado de habilidades sociais (Del Prette e Del Prette, 1999), da mesma forma que o desempenho interpessoal dos pais contribui para o desenvolvimento de tais habilidades. No entanto, os pais que apresentam dificuldades interpessoais certamente podem comprometer a qualidade da interação com os filhos (Del Prette e Del Prette, 1999; Silva et al., 2000).

Dessa forma, segundo a literatura, problemas de comportamento estão direta e/ou indiretamente relacionados às habilidades sociais dos pais (Bolsoni-Silva e Del Prette, 2002; Bolsoni-Silva et al., 2003). Problemas de comportamento podem prejudicar o acesso da criança a novas contingências de reforçamento, as quais, por sua vez, podem favorecer o surgimento de repertórios relevantes de aprendizagem (Bolsoni-Silva, 2003), tais como o desenvolvimento de relações sociais com colegas e adultos. Conseqüentemente, o campo teórico-prático do Treinamento de Habilidades Sociais (THS) identifica diversas habilidades sociais (HS) que podem ajudar na intervenção com grupos de pais cujos filhos apresentam problemas de comportamento. Por habilidades sociais entende-se um conjunto de repertórios comportamentais aprendidos que maximizam a obtenção de reforçadores nas interações sociais, e o THS tem sido utilizado tanto para avaliar o repertório social quanto para promovê-lo (Del Prette e Del Prette, 2001a). Habilidades Sociais Educativas (HSE) são conceituadas por Del Prette e Del Prette (2001a) como habilidades intencionalmente voltadas para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em situação formal ou informal. Bolsoni-Silva (2003) define o conjunto de habilidades sociais educativas dos pais, aplicáveis à prática educativa dos filhos, por Habilidades Sociais Educativas Parentais (HSE-P) e apresenta as seguintes habilidades por ela investigadas: expressar sentimento positivo, expressar sentimento negativo, elogiar, negociar, estabelecer limites, solicitar mudança de comportamento, dentre outras.

Programas de intervenções junto a cuidadores têm sido promovidos a fim de reduzir problemas de comportamento das crianças, tais como agressividade e retraimento, considerados comportamentos externalizantes e internalizantes, respectivamente (Webster-Stratton e Hammond, 1997).

Os pais também devem garantir afeto e atenção e ainda evitar formas agressivas de estabelecer limites, já que o uso de práticas coercitivas gera ansiedade e baixa auto-estima, além de fornecer modelos agressivos de lidar com conflitos e a tendência a contracontrolar (desobediência e agressividade) (Skinner, 1993 [1953]; Sidman, 1995).

Nesse sentido, é crucial a necessidade de desenvolver outras habilidades parentais, tais como a expressão de sentimentos, consistência nas práticas parentais e concordância parental quanto à forma de educar. Portanto, acredita-se que programas de intervenção poderiam considerar tais habilidades (Bolsoni-Silva, 2003).

Grande parte dos programas de intervenção apresenta-se efetiva promovendo um relacionamento positivo entre pais e filhos e mostrando melhoras significativas nas habilidades parentais de lidar com conflitos, comunicação e cooperação, maior redução de problemas de comportamento com as crianças e também melhor compreensão e generalização dos conceitos aprendidos (McMahon, 1996; Ruma et al., 1996; Webster-Stratton, 1994).

Deve-se ressaltar que os treinamentos para pais decresceram, em número, nas últimas décadas e também se deve alertar para a necessidade de intervenções precoces, pois se acredita que problemas de comportamento podem aumentar em freqüência e intensidade com o passar do tempo (Webster-Stratton e Hammond, 1997).

No Brasil, há demanda nacional que possibilite pesquisadores a realizarem intervenções que visem à prevenção e/ou à redução de problemas de comportamento, tendo a família como foco de atuação (Bolsoni-Silva et al., 2003; Bolsoni-Silva e Del Prette, 2002; Silva et al., 2000; Marinho, 1999).

Dessa forma, o objetivo central desse projeto foi descrever efeitos, através de comparações controle, pré e pós-teste, de um procedimento de intervenção, considerado piloto, que visou melhorar as interações estabelecidas entre pais e filhos.

 

Método

Participantes

Serão apresentados os dados de um grupo com duas mães e uma avó, que finalizaram todas as etapas previstas. Este trabalho constitui-se de resultados parciais de um projeto maior intitulado "Avaliação dos efeitos de um programa de intervenção com pais e com mães que apresentam dificuldades de interação social com seus filhos", que permitiu análises de grupo com 18 participantes. As análises individualizadas que serão apresentadas ofereceram dados adicionais às análises grupais. A participante P1 procurou o atendimento para melhorar a interação com o filho de seis anos. Ela contava com 31 anos, 1º grau incompleto, casada, do lar, com renda familiar na faixa de R$ 600,00 a R$ 1.000,00. A participante P2 interessou-se pelo programa para atender ao seu filho de cinco anos. Ela estava com 39 anos, 1º grau incompleto, casada, do lar, com renda familiar na faixa de R$ 600,00 a R$ 1.000,00. P3 interessou-se pelo programa para ajudar sua neta de cinco anos. Possuía 51 anos, 1º grau incompleto, divorciada, do lar, com renda familiar na faixa de R$ 100,00 a R$ 500,00.

Instrumentos

Para as três medidas de avaliação foram utilizados os instrumentos: (a) Roteiro de Entrevista de Habilidades Sociais Educativas Parentais (RE-HSE-P, Bolsoni-Silva, 2008), que avalia, através de 14 perguntas abertas, a freqüência e as variáveis antecedentes e conseqüentes de diferentes habilidades sociais educativas parentais; (b) Inventário de Habilidades Sociais (IHS, Del Prette e Del Prette, 2001b), composto por uma lista de situações de interações sociais, investiga 38 habilidades sociais; (c) Child Behavior Checklist (CBCL) -Inventário de Comportamentos da Infância e da Adolescência (Bordin et al., 1995), que investiga a freqüência de 113 respostas indicativas de problemas de comportamento externalizante e internalizante.

Procedimentos de coleta de dados

Para a avaliação dos procedimentos de intervenção foi utilizado um delineamento que utilizou o participante como seu próprio controle, através de comparações entre avaliações controle, pré-teste e pós-teste. A avaliação controle foi incluída, pois controlaria a variável história, que se refere a qualquer evento (diferente da intervenção) que ocorra ao mesmo tempo em que ela e que possa influenciar os resultados; e maturação, variável esta que se refere às mudanças ao longo do tempo devidas aos processos internos do próprio indivíduo, tais como envelhecer, o fortalecer, o tornar-se mais sadio, mais esperto ou mais entediado ou cansado (Kazdin, 1993), permitindo assim maiores conclusões sobre a eficácia do procedimento. A avaliação controle foi realizada dois meses antes do pré-teste (tempo exato do procedimento de intervenção), com aplicação dos mesmos instrumentos.

Foram realizadas 14 sessões em grupo, duas vezes por semana, com duração entre uma hora e meia e duas horas cada. Diferentes habilidades sociais educativas parentais foram abordadas como tema das sessões, entre elas, como iniciar e manter conversas, expressar sentimentos positivos e pedir mudança de comportamento, descritas com detalhamento em Bolsoni-Silva et al., (2008), assim como a forma de estruturação das sessões.

Os participantes assinaram um Termo de Consentimento Pós-Informado na avaliação controle. Esta pesquisa contou com a colaboração de psicólogos recém-graduados e de uma Bolsista de Treinamento Técnico da Fapesp, que também assinaram um Termo de Consentimento Pós-Informado.

O projeto contou com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Unesp-Bauru.

Análise dos dados

Para os dados do CBCL, os resultados brutos foram convertidos em T-Escores através da utilização do software ADM desenvolvido para coleta e análise dos dados deste instrumento. Os T-Escores podem ser classificados em Clínico (escores a partir de 64), Borderline ou limítrofe (escores de 60 a 63) ou Normal (escores abaixo de 60). Com o IHS- Del-Prette, os resultados brutos também foram convertidos em percentis, permitindo assim a identificação e diferenciação dos escores. Percentis acima de 70 representam um repertório bastante elaborado, de 20 a 60 correspondem a um repertório médio e, abaixo de 20, representam baixo repertório indicativo para tratamento. Para as perguntas abertas do RE-HSE-P que investigam especificidades, como situações/reações dos filhos, foi realizada uma análise de conteúdo comparando os resultados nas três medidas de avaliação.

 

Resultados

Primeiramente são apresentados os resultados do RE-HSE-P que correspondem aos dados de aquisições e manutenção das habilidades sociais educativas parentais (Tabela 1). Em seguida são apresentados os dados do CBCL-Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência (Tabela 2) e, por fim, os resultados das aplicações do IHS-Del Prette (Tabela 3).

Na Tabela 1, encontram-se os resultados referentes às aquisições e/ou à manutenção de repertórios do pré-teste para o pós-teste, bem como da avaliação-controle para a de pré-teste.

A categoria "Comunicação" compreende as habilidades: conversar e fazer perguntas. Para P1, as mudanças na habilidade conversar ocorreram em relação a assuntos (concepções de certo/errado para assuntos de interesse da criança); situações (diante de comportamentos errados, para quando está com crianças ou brincadeiras) e reações do filho (de só ouve e demonstra interesse para somente demonstrar interesse). Para P3, em relação a conversar, as mudanças ocorreram quanto à reação do filho (de conversar com desinteresse para conversar com interesse).

Fazem parte da categoria "Expressão de sentimentos e enfrentamento" as habilidades: expressar sentimentos positivos, expressar sentimentos negativos, dar opiniões e brincar. Para a habilidade de expressão de sentimentos negativos, as mudanças para P1 referem-se à reação do filho (de obedecer para pedir desculpas). De acordo com o relato de P2, a mesma habilidade não ocorreu na avaliação de pré-teste, mas foi citada no pós-teste no que diz respeito à forma (expressa através de conversas e ameaças), situações (quando o filho faz algo que coloque sua vida em risco) e a reação (obedece e sente medo). Para P3, as mudanças em expressar sentimentos negativos foram na forma (de grita, ameaça para fala, conversa) e reação do filho (de chorar para ficar bem).

Na habilidade de expressar opinião, verificou-se que a mesma não era apresentada por P2 na avaliação de pré-teste, entretanto, no pós-teste foi verificada a freqüência da mesma e nas especificidades situação (passeio) e reação (continua o assunto). Para a habilidade de brincar com o filho, as alterações nas avaliações de P2 dizem respeito ao tocar e conversar (de não tocar e não conversar para tocar e conversar) e sobre os assuntos das conversas (não conversava no pré-teste para conversar sobre família e atividades da criança no pós-teste).

Quanto a expressar opinião, pôde-se observar, nas avaliações de P3, alterações na reação do filho (de não aceitar opinião para aceitar) e a ocorrência da habilidade de "brincar com o filho (a)" que não ocorria no pré-teste e foi verificada no pós-teste.

Compõem a categoria "Estabelecer limites" as seguintes habilidades: concordância entre cônjuges sobre a educação do filho, identificar os erros na interação com o filho, cumprir promessas, identificar comportamentos desejáveis do filho, identificar comportamentos indesejáveis e estabelecer limites. Houve mudanças do pré para o pós-teste para a participante P1 nas habilidades de identificar os erros, quanto ao que a mãe fazia (pedir desculpas para ora retirar o castigo ora não); identificar comportamentos indesejáveis, quanto à forma (ameaçar, retirar privilégios e conversar para conversar e pedir mudança de comportamento), e estabelecimento de limites em relação à forma (conversa/negocia, diz não com explicação, bate, coloca de castigo, para conversa/negocia, retira privilégios).

Para P2, as mudanças nessa categoria correspondem às habilidades de identificar os erros, o que não ocorreu no pré-teste e foi citado no pós-teste para situações (quando bate), o que faz (convida a filha para fazer algo) e a reação do filho (entende, chora); cumprir promessas, o que também não ocorreu no pré-teste, pois a participante afirmou que não fazia promessas, mas foi verificado no pós-teste na forma (promete o que não vai cumprir, não faz nada e o filho cobra a promessa); identifica comportamentos desejáveis, na reação do filho (não respondeu para demonstrar contentamento) e no estabelecimento de limites, na especificidade da forma (bate, retira a criança da situação de perigo para conversa/negocia, diz não com explicação, ameaça e falar sobre as conseqüências).

Para a participante P3, as mudanças ocorreram nas seguintes habilidades: identificar erros, nas especificidades reações dos filhos (não ocorria no pré-teste para chora, fica triste); identifica comportamentos indesejáveis, também na reação do filho (faz birras/responde/cara feia para pedir desculpas), e estabelecimento de limites, na especificidade de ações (bate e sentese mal, culpado para conversa/pede/negocia, oferece premiações e sente-se bem).

Pode-se verificar também a manutenção de algumas habilidades para todas as participantes; entretanto, considera-se que já na avaliação controle tais habilidades e reações dos filhos ocorreram no sentido proposto para a intervenção e, portanto, não necessitariam ser alterados, mas sim fortalecidos.

Houve alterações em algumas habilidades sociais educativas parentais ao comparar as avaliações de controle e pré-teste para as três participantes. Para P1, puderam-se notar alterações somente nas avaliações de controle para pré-teste nas seguintes habilidades: expressar opinião, concordância entre cônjuges e dificuldade em cumprir promessas. Para P2 e P3, quanto às alterações da primeira para a segunda avaliação, observa-se que se referem somente a habilidade de fazer perguntas.

Como se observa na Tabela 1, as habilidades concordância entre cônjuges e dificuldades em cumprir promessas não foram citadas por P3, pois a mesma relatou que não tinha cônjuge e que não fazia promessas à neta.

Conforme a Tabela 2, o filho de P1 apresenta a classificação normal para as Escalas Internalizante e Total de Problemas nas três avaliações. Na Escala Externalizante, passou de uma classificação para clínica no pré-teste para limítrofe no pós-teste. A classificação do filho de P2 passou de limítrofe na Escala Internalizante para normal. Nas escalas Externalizante e Total de problema, suas classificações mostram uma alteração da classificação clínica para limítrofe e clínica para normal, respectivamente. Para a neta de P3, os resultados apontam para alterações na Escala Externalizante, de clínico para limítrofe e na escala Total de Problemas de limítrofe no pré-teste para normal no pós-teste.

De acordo com os dados do IHS-Del Prette apresentados na Tabela 3, observa-se que P3 passou de uma classificação de baixo repertório em habilidades sociais para um repertório dentro da média no pós-teste. Para P1, as comparações entre as avaliações demonstram que permaneceu na condição de repertório médio; já para P2, apesar da ampliação do repertório em habilidades sociais, da avaliação controle para o pré-teste, a mesma se manteve na condição de indicação para intervenção no pósteste.

 

Discussão

Nesta seção são retomados os resultados obtidos com as participantes, tentando uma leitura em conjunto a partir dos diferentes instrumentos de coleta de dados. Após o término da intervenção, os relatos de todas as participantes, ao responderem ao CBCL, demonstraram melhoras nas classificações. Pode-se observar, a partir da Tabela 2, que o resultado mais expressivo do CBCL se refere ao filho de P2, pois as avaliações que antecederam a intervenção apontam para critérios clínicos ou limítrofes em todas as escalas; já os dados de pósteste apontam para classificação normal em duas delas, internalizantes e total de problemas e limítrofe na externalizante. Achenbach e Edelbrock (1979) consideram como problemas de comportamento também os internalizantes por entenderem que são igualmente prejudiciais ao desenvolvimento da criança. Os dados de P2 quanto às habilidades sociais educativas parentais merecem também destaque, pois se verifica que desenvolveu algumas habilidades que não eram apresentadas anteriormente à sua participação na intervenção, o que é particularidade deste caso, pois nas avaliações das outras participantes houve alterações em algumas das especificidades (forma, situação ou reação do filho) de habilidades sociais educativas já apresentadas. Os resultados obtidos com o IHS-Del Prette no pós-teste apontam para alterações importantes, mas ainda permanência na indicação para atendimento, sinalizando que os déficits acentuados nas habilidades sociais podem ter contribuído para o desenvolvimento dos problemas de comportamento (Silva et al., 2000), ao passo que a aquisição de algumas habilidades sociais educativas pode ter contribuído para a redução dos mesmos, apesar da manutenção da resposta de ameaçar ao estabelecer limites.

Em relação aos resultados obtidos com P1, observa-se que a mesma, nas avaliações anteriores à intervenção, já possuía um repertório médio em habilidades sociais, importantes HSE-P desenvolvidas e classificações clínicas no CBCL somente na Escala Externalizante, classificação esta alterada como verificado na avaliação de pós-teste.

De acordo com os resultados coletados a partir dos instrumentos HSE-P e IHS-Del Prette, foi observada uma queda nos resultados que se referem à aquisição de habilidades sociais entre a avaliação controle e avaliação pré-teste. Esta queda pode estar relacionada ao autoconhecimento que as participantes adquiriram a partir de perguntas realizadas após a aplicação dos instrumentos da avaliação controle. Segundo Skinner (1993 [1953]), o autoconhecimento permite ao indivíduo que se comporte discriminadamente; dessa forma, ao discriminarem seus comportamentos e os dos filhos, as cuidadoras podem ter passado a observar melhor essa relação e, então, terem sido mais exigentes consigo mesmas ao responder as perguntas na avaliação pré-teste (Tourinho, 1995).

Os dados sinalizam que, embora um bom repertório em habilidades sociais possa contribuir para o desenvolvimento de repertórios sociais nos filhos, outras habilidades sociais aplicáveis às práticas educativas são igualmente necessárias (Bolsoni-Silva, 2003), tais como as habilidades sociais educativas parentais abordadas neste estudo.

Verifica-se, nas avaliações de P3 quanto às HSE-Ps, que a maior parte das alterações produzidas dizem respeito ao aumento na freqüência de respostas socialmente habilidosas de sua neta, tal como se pode observar nos resultados da Tabela 1 e redução nos indicativos de problema de comportamento (Tabela 2). Identificar as mudanças comportamentais dos filhos pode ser considerada uma habilidade que foi planejada e desenvolvida pela intervenção, habilidade esta considerada necessária para o desenvolvimento do autoconhecimento, ou seja, um comportamento discriminativo, por parte dos pais, dos efeitos de seus comportamentos sobre o comportamento dos filhos.

Com as intervenções em grupo, P3 e as demais participantes puderam aprender novas habilidades e, possivelmente, passaram a apresentar conseqüências com provável efeito reforçador contingente às respostas socialmente habilidosas das crianças, as quais, ao aumentarem de freqüência, podem ter ajudadoa reduzir problemas de comportamento, uma vez que estes podem ter perdido sua função (Goldiamond, 2002 [1974]).

De uma forma geral, os resultados apontam para aumento de repertório de habilidades sociais educativas das participantes, especialmente em habilidades de comunicação, expressividade e estabelecimento de limites. Os resultados concordam com Patterson et al., (2002), que apontam que problemas de comportamento ocorrem pela falta de monitoria, limites, consistência e conseqüências efetivas para comportamentos socialmente habilidosos e para respostas indicativas de problema. Agindo de forma socialmente habilidosa, as mães/cuidadoras podem ter oferecido modelos de conversação e de expressividade para as crianças, além de modelar novas respostas que podem ajudá-las a obter atenção e a resolver problemas interpessoais.

 

Considerações finais

Podem ser citados como pontos fortes da pesquisa: (a) a avaliação através de diferentes instrumentos de avaliação; (b) o uso de avaliações controle, pré-teste e pós-teste, cujo delineamento permitiu excluir variáveis que ameaçassem a validade interna do estudo; (c) a preocupação maior com a promoção de comportamentos socialmente habilidosos que a eliminação de problemas, sendo também um procedimento pouco citado na literatura (Webster-Stratton, 1994).

Por outro lado, algumas limitações também devem ser consideradas: (a) o estudo valeu-se de relato nas medidas de comparação, o qual pode não corresponder com o que as participantes e suas crianças realmente fazem; estudos futuros que incluam observação como métodos podem minimizar tal falha; (b) foram controladas apenas algumas variáveis referentes a problemas de comportamento, tais como nível socioeconômico, dificuldade das crianças, idade das crianças; entretanto, estudos futuros poderiam tentar controlar um número maior de variáveis. Pesquisas futuras podem considerar mais instrumentos de avaliação além do relato, como a observação. No que tange ao método, é imprescindível o aumento do número de participantes, bem como realizar avaliações de seguimento, de forma a checar a permanência ou não dos ganhos obtidos com o programa.

 

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Submetido em: 10/04/2008
Aceito em: 06/05/2008

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