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Revista Subjetividades
versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777
Rev. Subj. vol.19 no.2 Fortaleza maio/ago. 2019
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i2.e9253
RELATOS DE PESQUISA
Narrativas fora do armário: a identidade sexual de homens gays na cidade
Narratives out of the closet: the sexual identity of gay men in the city
Narrativas fuera del armario: la identidad sexual de hombres gays en la ciudad
Récits hors du placard: l'identité sexuelle des hommes homosexuels chez les villes
Rafael Zanata Albertini (OrcID)I; Márcio Luís Costa (OrcID)II; Rodrigo Lopes Miranda (OrcID)III
ILicenciado em Filosofia (UCDB) e Bacharel em Teologia (UNISAL). Pós-graduado em Counseling/Aconselhamento (IATES) e em Gestão Escolar (UCDB). Experiência na Educação Básica (direção escolar e docência em Filosofia e Sociologia). Mestre em Psicologia (UCDB)
IIMestrado e Doutorado em Psicologia (UCDB). Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia da UCDB. Coordenador do Grupo de Pesquisa Modelos Histórico-epistemológicos e Produção de Saúde
IIIProfessor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia (GEPeHP) e do corpo diretor do Núcleo de Análise do Comportamento e Neurociências da UCDB (NACNeuro). Coordenador do Grupo de Trabalho em História da Psicologia da ANPEPP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de História da Psicologia (SBHP)
RESUMO
Este estudo visa a investigar os processos de reconhecimento da identidade gay em uma capital brasileira a partir de entrevistas narrativas com quatro participantes entre 21 e 42 anos. As entrevistas foram analisadas de acordo com a teoria de interpretação e narratividade de Ricoeur. Em comum com outros estudos, as histórias desses participantes colocam processos de identificação de uma orientação sexual "diferente" na infância, sua elaboração como identidade sexual e pessoal na adolescência e, ao final, a "saída do armário" como autorrevelação para outras pessoas. Além das semelhanças, esta pesquisa mostra as singularidades do "sair do armário": cada trajetória implica processos de reconhecimento subjetivo e intersubjetivo em diferentes matizes, que interagem com fatores contextuais para produzir bem-estar ou sofrimento psíquico.
Palavras-chave: homossexualidade masculina; minorias sexuais e de gênero; homofobia.
ABSTRACT
This study aims to investigate the processes of recognition of gay identity in a Brazilian capital through narrative interviews with four participants between 21 and 42 years old. The interviews were analyzed according to Ricoeur's theory of interpretation and narration. In common with other studies, the stories of these participants place processes of identifying a "different" sexual orientation in childhood, their elaboration as sexual and personal identity in adolescence, and ultimately "out of the closet" as self-disclosure to others. In addition to the similarities, this research shows the singularities of "coming out of the closet": each trajectory implies processes of subjective and inter-subjective recognition in different shades, which interact with contextual factors to produce well-being or psychological distress.
Keywords: male homosexuality; sexual and gender minorities; homophobia.
RESUMEN
Este trabajo tiene el objetivo de investigar los procesos de reconocimiento de la identidad gay en una capital brasileña a partir de entrevistas narrativas con cuatro participantes entre 21 y 42 años. Las entrevistas fueron analizadas de acuerdo con la teoría de interpretación y narrativa de Ricoeur. En común con otros estudios, las historias de estos participantes ponen procesos de identificación de una orientación sexual "diferente" en la infancia, su elaboración como identidad sexual y personal en la adolescencia y, al final, la "salida del armario" como autorrevelación para otras personas. Además de las similitudes, esta investigación muestra las singularidades del "salir del armario": cada trayectoria implica procesos de reconocimiento subjetivo e intersubjetivo en distintos matices, que interactúan con factores contextuales para producir bien-estar o sufrimiento psíquico.
Palabras clave: homosexualidad masculina; minorías sexuales y de género; homofobia.
RÉSUMÉ
Cette étude a pour objectif d'étudier les processus de reconnaissance de l'identité homosexuelle dans une capitale brésilienne à travers des entretiens narratifs avec quatre participants âgés de 21 à 42 ans. Les entretiens ont été analysés selon la théorie de l'interprétation et de la narrativité de Ricoeur. À l'instar d'autres études, les récits de ces participants décrivent des processus d'identification d'une orientation sexuelle «différente» dans l'enfance, leur élaboration en tant qu'identité sexuelle et personnelle à l'adolescence et, finalement, la «sortie du placard» comme une révélation personnelle aux autres. Cette recherche montre aussi les singularités de la «sortie du placard»: chaque trajectoire implique des processus de reconnaissance subjective et inter-subjective dans différentes nuances, qui interagissent avec des facteurs contextuels pour produire du bien-être ou une détresse psychologique.
Mots-clés: homosexualité masculine; minorités sexuelles et de genre; homophobie.
Para evitar um uso indiscriminado que não raro assola o campo complexo da sexualidade, a American Psychological Association - APA (2009) frisa a distinção entre dois construtos: a orientação sexual e a identidade sexual, entendendo esta como autoidentificação e internalização daquela (que, por sua vez, refere-se a padrões de desejo e afeto ligados a impulsos fisiológicos à revelia de escolhas conscientes). Noutras palavras, a identidade sexual implica um processo consciente de reconhecimento das predisposições da orientação sexual (Worthington & Reynolds, 2009).
A despeito de relações íntimas entre pessoas do mesmo sexo terem sido reportadas em várias épocas e culturas com diferentes apreciações (Naphy, 2006) - que o Ocidente, a partir da era cristã, tornou negativas nas formas de pecado, crime e loucura nos discursos institucionais religiosos, jurídicos e médicos (Szasz, 1977) - foi a partir do século XIX que houve um deslocamento dos atos externos em direção à designação de uma nova espécie de indivíduo: o homossexual (Foucault, 1978). A partir de 1948, os relatórios Kinsey revelaram uma difusão de práticas homossexuais muito maior do que o senso comum supunha nos Estados Unidos da América (EUA), mas a persistência da sua criminalização somente permitiu a emergência de uma identidade gay depois de 1969, quando se deu a invasão policial à boate nova-iorquina Stonewall (Gagnon, 1990; Worthington & Reynolds, 2009). Esse acontecimento e a consequente manifestação popular possibilitaram a passagem da homossexualidade vivida mais ou menos na clandestinidade para a luta sociopolítica por direitos civis de gays e lésbicas, promovendo um salto das comunidades em direção à multiplicação de movimentos dessas minorias inspirados nas ações afirmativas de movimentos feministas e negros (Murray, 2007).
Stonewall não é o zero absoluto da história gay contemporânea, mas se tornou o mito fundador de uma nova era para identidades sexuais, as quais passaram a ser instadas a se revelar publicamente (Gagnon, 1990), vindo a influenciar outros contextos, como o Brasil. Dessa emergência do movimento de liberação gay nasceu um novo gênero narrativo: os relatos de "saída do armário" (Plummer, 1995). Em termos gerais, esses relatos se diferenciaram ao longo das décadas: das "velhas histórias" que enfatizavam o caráter culturalmente subversivo em relação ao predomínio heterossexual, a década de 1990 daria início a "novas histórias", com tom mais integrativo (Richardson, 2004).
A metáfora da saída do armário (coming out of the closet ou simplesmente coming out) se difundiu tanto na linguagem cotidiana como na científica, não sem sofrer inflação e equívocos (Orne, 2011), mas mantendo uma ligação original com as minorias sexuais, que sofrem um tipo de dominação simbólica que condena à invisibilidade pública um estigma que, diferente da cor de pele ou da feminilidade, pode ou não ser exibido pelos sujeitos (Bourdieu, 2012), de modo que a imagem do armário representa a homofobia como não o faz em relação ao racismo e à misoginia (Sedgwick, 2007). Fundamentalmente, a saída do armário indica um processo significativo nas minorias sexuais de reconhecimento da orientação sexual ou identidade de gênero (VandenBos, 2015), processo em que a saída para si precede a saída para os outros (Reynolds & Hanjorgiris, 2000), e que essa, via de regra, ocorre alguns anos após a puberdade (Savin-Williams, 2001). Segundo a narrativa padrão (McQueen, 2015), a vida dentro do armário é descrita como insuportável, e sua saída se daria com a percepção de si mesmo e dos próprios desejos como diferentes e não condizentes em relação aos demais, até chegar ao momento de revelar isso para outra pessoa, culminando na sensação de alívio e completude quando o autorreconhecimento se alinha ao reconhecimento social.
Modelos de coming out surgiram com Cass (1979) e se multiplicaram desde então, num esforço de entender o fenômeno na perspectiva do desenvolvimento, e já não da patologia, bem como de ajudar na luta política das minorias sexuais. Apesar de representar um avanço, esses modelos têm recebido críticas recentemente, que apontam limites à universalidade e/ou linearidade das narrativas, sobretudo pela rotulação traumática (Ali & Barden, 2015) ou romântica (McQueen, 2015) do processo.
Também são perceptíveis tensões entre paradigmas científicos sobre a identidade sexual, como a que opõe a perspectiva essencialista (tornar-se consciente de uma orientação sexual já estabelecida biologicamente) à do construcionismo social (processo de formação identitária ao mesmo tempo individual e social) (Birke, 2007). Outra polarização ocorre entre pesquisas que põem o acento no fenômeno de sair do armário como mormente íntimo - tendência das teorias do desenvolvimento sexual (Cass, 1979) -, ou como eminentemente social - polo em que Seidman (1993) situa os estudos de gênero, em razão da filiação a abordagens marxistas e pós-estruturalistas, que dão ênfase à dominação das estruturas sociais.
O alerta que Savin-Williams (2001) fizera há quase duas décadas permanece atual: toda vez que uma pesquisa trata os sujeitos das minorias sexuais como uma classe, os processos pessoais de desenvolvimento são esquecidos. Por isso, reflexões recentes têm deixado de se concentrar unicamente em modelos e generalizações, e têm passado a enfocar trajetórias (Savin-Williams, 2006), de modo a compreender a formação da identidade sexual de maneira mais fluida e complexa, em consideração à autorreflexão dos sujeitos (Richardson, 2004), às relações interpessoais (Ali & Barden, 2015) e aos contextos histórico-culturais em que aparecem e se transformam (Plummer, 1995). Nesse sentido, as pesquisas de abordagem narrativa (Hammack, Thompson, & Pilecki, 2009; Read, 2009) ganharam espaço no estudo da sexualidade para mostrar que a identidade sexual tem uma história (por estar contextualizada no tempo e no espaço), cujos sentidos são subjetivos, intersubjetivos e sociais, escapando à polarização entre o essencialismo e o construcionismo social (Coleman-Fountain, 2014).
O presente estudo tem por objetivo investigar o reconhecimento da identidade sexual tanto em nível subjetivo como intersubjetivo, tal como é expresso nas narrativas daqueles que já realizaram, em maior ou menor grau, o processo de saída do armário.
Método
Este estudo é de natureza qualitativa. O processo de reconhecimento da identidade sexual é investigado por meio de uma abordagem narrativa, que está mais interessada na história de vida como unidade analítica, preferindo a descrição e a interpretação ao teste de hipóteses (Hammack, Thompson, & Pilecki, 2009; Read, 2009). Adota-se a perspectiva fenomenológico-hermenêutica de Paul Ricoeur, (2006, 1984/2010, 2000/2013), devidamente adaptada como método de pesquisa (Lindseth & Norberg, 2004), a fim de compreender o sentido das experiências (inter)subjetivas dos participantes configuradas nos relatos.
Participantes
Foram critérios de inclusão dos participantes: (a) homens; (b) adultos; (c) que realizaram, em algum grau, o processo de saída do armário como gays. Foram escolhidos quatro participantes por conveniência, todos conhecidos do pesquisador e residentes na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS), Brasil, quando da realização das entrevistas. A idade variou entre 21 e 42 anos. Três estão trabalhando regularmente e um é estudante.
Procedimentos éticos
O Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) desta pesquisa é registrado sob o número 74460317.2.0000.5162. O estudo foi aprovado conforme a Resolução n.º 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e tiveram sua identidade preservada.
Instrumentos e procedimentos de coleta de dados
As entrevistas narrativas duraram de 45 a 80 minutos e foram realizadas em local de comum acordo entre participante e pesquisador, primando-se pela reserva. Após a explicação dos objetivos da pesquisa e esclarecimento de eventuais dúvidas, o participante era convidado a assinar o TCLE e a expressar seu relato, em cujo início era acionada a gravação. Em todos os casos, foi pedido que contassem, do modo como desejassem, o processo de saída do armário. O pesquisador fazia perguntas apenas quando sentia a necessidade.
Procedimentos de análise de dados
Após a gravação da entrevista narrativa de cada participante, as falas foram transcritas ipsis litteris. Cada narrativa pessoal constituiu o texto-base a partir do qual, seguindo a teoria da interpretação de Ricoeur (2000/2013), apropriou-se de seus sentidos diversos e passou-se da leitura superficial (atitude natural) à profunda (atitude fenomenológica), a partir de sucessivos círculos hermenêuticos, que consideram a relação parte-todo dos relatos (Lindseth & Norberg, 2004).
O processo interpretativo produziu relatos sintetizados, que compõem a seção dos resultados e contêm muitas expressões originais entre aspas e nas citações longas - como de praxe nas pesquisas narrativas (Hammack, Thompson, & Pilecki, 2009). O itinerário hermenêutico também destacou os principais aspectos do reconhecimento da identidade sexual dos participantes, os quais foram submetidos à discussão interna (inter-relatos) e externa (com outros estudos). A teoria da identidade narrativa de Ricoeur (2006, 1984/2010) contribuiu para enfocar a dinâmica de integração de afetos, desejos, comportamentos e relações intersubjetivas na configuração da identidade pessoal dos participantes.
Resultados
Participante 1 - "Vou vivendo normal. Como se tudo tivesse normal, mesmo que talvez não esteja"
A narrativa do participante 1 apresenta a infância como o momento em que se vê como alguém diferente de outros meninos em uma aldeia indígena no Mato Grosso (MT). Aos 13 anos, por intermédio da irmã mais próxima, conhece e se aproxima de um rapaz mais velho e assumidamente gay. A relação de amizade permite o desenrolar de um forte movimento de identificação, no qual ele começa a se "descobrir".
Eu tava muito confuso ainda, nem eu sabia o que eu era. A partir daquele momento eu comecei a conversar com ele, eu fui vendo que eu era e ele era, eu me identifiquei um pouco com o que ele era e comecei a me entender mais. Foi bem complicado no começo, porque minha mãe era bem religiosa e ela não aceitava.
Na mesma idade, "meio que inocente", tem a primeira experiência sexual com outro adolescente um pouco mais velho. Não considerou muito boa a experiência, mas tal acontecimento ganhou muita importância ao ser descoberto pela sua mãe, dando origem a uma série de brigas, agressões e expulsões de casa. Por mais que algum motivo de discordância entre eles não envolvesse a sexualidade, sua mãe "colocava a homossexualidade no meio e dizia 'você é viado1'!", mas sem conseguir conversar francamente a respeito do tema, cujo conhecimento não foi, nem é, acompanhado de reconhecimento: "ela sabe que eu sou, mas não sei se ela me aceita. Mas ela me respeita". Ainda hoje, o participante resiste em tentar maiores avanços: "prefiro do jeito que tá para que não aconteça nada pior. Tenho medo de, sei lá, minha mãe reagir mal, passar mal".
A visão negativa da homossexualidade é compartilhada pela maioria das pessoas da aldeia, que veem no fenômeno algo que não seria indígena, como que uma herança da colonização. Por isso, a mudança do participante para Campo Grande representou não apenas uma mudança no território, mas, na mentalidade em que está inserido, o que criou condições favoráveis para se reconhecer em sua sexualidade de maneira mais ativa e profunda.
Eu comecei a me afirmar mais. Mudou muita coisa depois que eu vim pra cá. (...) Eu acho que foi essa relação com outras pessoas que têm outro pensamento daquelas de lá. Por exemplo, meus professores, todos eles têm a mente bem aberta; eles me entendem como indígena, como sendo homossexual, e eles nunca ficaram colocando uma ideia que na aldeia iriam, então eles foram fortalecendo ainda mais a me assumir e me identificar com quem eu sou e sem me importar com o que os outros falam. Hoje eu não me importo mais. Antes eu tinha medo.
O participante dá pouca relevância em seu relato à primeira vez em que se assumiu gay para uma pessoa desconhecida, por ocasião de uma viagem a estudos. Ele tampouco sente a necessidade de falar sobre sua sexualidade para todo mundo, já que considera "bem difícil não perceber", e toma uma postura de cautela a respeito: "eu não converso; eu conheço bem a pessoa pra poder conversar sobre isso". Dentre as pessoas de sua família, foi libertadora a experiência de se abrir para outra irmã, que lhe apresentava resistência outrora: "Foi este ano, ela falou que gostava de mim do jeito que eu era, que não era pra me preocupar mais com isso. (...) Ah, foi tão bom, ainda mais vindo dela! . (...) Fiquei tão feliz. Parece que posso ter mais liberdade". Mas o armário permanece para pessoas a quem ele considera homofóbicas, e não faz questão de tocar no assunto com mais familiares.
Em termos de reconhecimento no plano cultural, sente que as novas gerações da aldeia têm uma postura mais acolhedora do que a geração de sua mãe, e evoca um elemento que seu primeiro grande amigo lhe contara: "Antes da colonização já existiam homossexuais (...) pelo menos na nossa etnia. (...) Essa pessoa poderia cantar o canto das mulheres e, ao mesmo tempo, podia ver a parte que as mulheres não podiam, só os homens. Isto era normal". Hoje, sente-se mais otimista com mais pessoas que assumem sua homossexualidade e sente que isso pode influenciar a maneira como gays são vistos em sua etnia.
Participante 2 - "Perdi muito tempo (...) pra construir minha história, minha vida"
Natural de uma cidade do interior paulista, o participante 2 narra uma "infância castradora", marcada pelo isolamento já desde a pré-escola - quando se percebe "diferente" - e pela percepção negativa com relação às figuras masculinas da família, como o tio, o avô e, sobretudo, o pai, o qual preferia "um filho viado" a drogado. Mais tarde, seu comportamento foi explicado por um desequilíbrio hormonal, de modo que sua diferença foi interpretada como anormalidade e doença, "uma coisa que eles iam consertar". Atribuiu pouco peso a uma tentativa de abuso sexual quando tinha 12 anos, já que a violência verbal e física em sua casa, empreendida pelo seu pai, compõe o cenário mais difícil com o qual teve que lidar. Sua estratégia consistiu em negar seus sentimentos para si mesmo - "eu achava que não era nada". Ele continua:
Mas eu fui descobrindo mesmo (...) na adolescência, que a coisa vai ficando mais apertada, mais visceral, e você não tem como correr daquilo. Daí você se engana, você tenta, tenta, mas eu sempre fui muito impetuoso. (...) Chegou uma hora que eu falei "não, não dá mais isso pra mim". Foi quando, né, veio a sexualidade ali gritando. Eu falei "não posso, não vou me enganar!"
A vontade de maior autenticidade a respeito da sexualidade durante a adolescência não reverberou, porém, em sinais exteriores, que seguiram outra direção, como se vestisse um personagem: "Eu vivia uma história que não era minha. Eu vivia pra satisfazer o meu pai, ficava com meninas, com 16, 17 anos, pra mostrar pra ele que eu não era gay. Mas não gostava, não tinha tesão, não tinha vontade. Até transei com uma menina". A dificuldade de se aceitar levou a uma sucessão de eventos negativos: tomou remédios, foi internado, ficou um mês de castigo na fazenda, ficou deprimido, foi encaminhado para psicólogo e psiquiatra. Não viu outra saída senão mentir quando seu pai descobrira uma carta de amor de outro rapaz que lhe beijara tempos antes.
Finalmente, conseguiu reverter o antagonismo do pai a seu favor: a vontade de ver o filho fazendo Medicina tornou-se um pretexto para que ele se mudasse para São Paulo aos 17 anos: "foi uma questão de sobrevivência: ou eu sumia ou eu acabava comigo". O dia em que "estava saindo (...) das correntes" foi experienciado, ao mesmo tempo, como mais triste e mais feliz de sua vida, e representou um ponto de virada no reconhecimento de sua identidade.
Tive que sair do meio que eu vivia pra poder me assumir. Me assumir pra mim, né. Perante a família, eu fui me assumindo pra minha mãe, meus irmãos, depois sobrinhos. Mas pro pai (...) pra parte masculina da família foi muito difícil. Até hoje fica na incógnita, se sou ou não sou, é ou não é, mas também não faço muita questão de esconder ou não.
A experiência de "ser mais um" em São Paulo e o amor de "conto de fadas" com "uma pessoa totalmente do bem" o ajudou muito no processo de autoaceitação, sem que, porém, chegasse a falar abertamente de sua sexualidade aos conhecidos. Ele diz: "eu acho que a coisa era tão enraizada dentro de mim, de que eu tinha que esconder. Mesmo em São Paulo, mesmo morando com um cara, mesmo ninguém estando nem aí pra minha vida, eu não assumia pra eles". A estratégia de se esconder era ainda mais forte quando voltava para sua cidade.
Além do companheiro, outra pessoa que o ajudou muito foi sua mãe, a quem sentiu como que uma necessidade de contar e de desfazer a "farsa": "chorei muito, muito, muito (...); eu queria que ela entendesse que não era uma opção, que eu era assim - eu sempre fui assim". Ela não entendeu muito no começo, mas sempre o apoiou, diferente do outro irmão, que "fez um pai número dois". Ao retornar a São Paulo, adoeceu, sentindo-se culpado por deixar a casa; a terapia o ajudou e conseguiu lidar melhor com as questões por volta de 19 ou 20 anos. Mas, diante do pai, o armário ainda continua entreaberto, sem pretensão de ser escancarado tão em breve. Existe a vontade de conversar sobre, mas o não-resolvido permanece porque a revelação parece não compensar os riscos.
Na hora que eu acho, que eu tô ali, que ele está sabendo, ele regride, assim, até umas brincadeiras que eu vou falar, assim, relacionado a sexo ou gay, ele não aceita que eu fale, ele nem dá chance. Então, assim, claro que ele está cheio de problemas, Alzheimer, todo ferrado, não vejo por que... Passei todo esse tempo aí, né, sei lá, ele se enganando, eu enganando ele... Por que eu vou falar isso agora? Eu acho que não vai mudar nada, pelo contrário, vai fazer sofrer mais ainda, porque ele não dá abertura, ele não quer saber. Ele me cutuca, mas, na hora que eu vou falar, ele não quer ouvir, então, assim, já fiz isso, já fiz esses testes. (...) Ele não quer ter certeza. (...) Hoje não tenho, nem penso mais, nem penso em afrontá-lo dessa maneira, porque eu acho que ele não quer. Acho não, tenho certeza: ele não quer saber da minha boca.
De alguma forma, o que ele vivencia com o pai se replica ainda hoje no modo de se relacionar com outras pessoas: "apesar de não ser tão discreto, mas eu sou aquele gay assumido, mas discreto, entendeu? (...) Às vezes, eu deixo uma incógnita". Exceto para as pessoas que estão próximas, não sente necessidade de "colocar um luminoso" nem "gritar para o mundo" sobre sua sexualidade. Também a esfera dos primeiros relacionamentos íntimos - sempre com homens mais velhos - repercutia a dificuldade com o pai: "era um pai que eu procurava na verdade. E foi assim um bom tempo. (...) Eu saí, me abri pro mundo, mas já caí numa história, num relacionamento, fui ver a história do outro".
Participante 3 - "Eu criei grades, eu me coloquei nessa jaula, tranquei e joguei a chave fora"
O participante 3 percebia "coisas diferentes" desde criança. Sem uma referência masculina dentro de casa em virtude da separação dos pais, sentia vergonha pelo corpo magro e tinha curiosidade pelo corpo de outros garotos na pré-adolescência, passando a espiá-los em algumas ocasiões e a ouvir xingamentos, como "viado", por isso. Por questões religiosas, temia tanto frustrar sua família como receber uma punição divina, e passou a negar seus sentimentos como algo pecaminoso. Aos 12 anos sofreu um abuso sexual sistemático por parte do padrasto ao longo de quatro anos: "uma figura masculina que me violenta; então, parece que eu fiquei contando comigo". O abuso complicou um processo já difícil de lidar com seus sentimentos, de modo que tudo foi vivenciado de maneira solitária e secreta: acostumou-se a viver "dentro do armário", num "enjaulamento consigo mesmo" para se proteger. Ele continua:
Quando você se percebe, que está numa jaula, você se percebe como anormal, como alguém que pode causar risco para os outros. Você é o viado, você que está ali dentro, e todo mundo é normal e você não; por isso que está ali dentro da jaula. E eu vejo (...) você acaba criando essa jaula pra você ficar, porque até certa forma, você dentro da jaula, você percebe que, na verdade, também está sendo protegido dos que estão lá fora. Apesar de todo mundo de fora o olhar que você é a ameaça, também você cria uma limitação aí pra ninguém invadir o seu espaço. Afinal, você causa riscos, você causa medo nos outros, então, quando você causa medo, desconforto nos outros, ninguém chega tão perto de você.
O namoro com uma menina desejada por outros pares durante o ensino médio fez bem para seu "ego", mas só veio a ter a primeira experiência sexual com um rapaz que conheceu pela internet assim que iniciou a faculdade. De fato, a ida à faculdade representou um "momento libertador", que proporcionou o primeiro movimento de saída de casa, vindo a iniciar a terapia, que o ajudou a se aceitar e enfrentar seus medos, e a encontrar pessoas com quem se identifica por ter uma história de vida semelhante. Com os novos amigos, veio a liberdade de se expressar livremente e o "sentimento de 'não estou sozinho'": "É como (...) se eu tivesse percebido que eu não era o único para estar em extinção; perceber-se em uma manada; então, na manada eu me sentia mais forte".
O ponto de virada se deu com a saída efetiva de casa, aos 25 anos, a pretexto de ir morar com um "amigo" (seu companheiro). Mudou-se enquanto a mãe dormia - "parece que eu fugi de casa" - para não sofrer represálias.
Preferia me anular, anular, anular aquilo que estava sentindo ou quem eu sou para que os outros pudessem ficar felizes. Então, sair de casa é até um pouco não ficar agredido com isso, porque não estou vendo a reação deles. Eu já estou fora de casa - não tem como eles me expulsaram de casa.
Porém, a saída de casa não significou libertação da jaula que, junto à violência sexual sofrida, são colocados como causas de um relacionamento amoroso abusivo: "A gente acaba aceitando, porque a gente cresce durante muito tempo aí deixando os outros comandarem nossa vida também, falando que a gente tem que ficar nesse armário".
Por volta do segundo ano fora da casa da família, sentiu-se em "em xeque" com sua família quando o tio, a mãe e o pai tomaram conhecimento de sua sexualidade por acaso, com uma aceitação problemática por parte de alguns, como o pai, que cortou relações por quatro anos. É ilustrativo o caso da mãe, perante a qual ainda sente haver "um elefante branco" desde que ela descobriu vídeos seus com declarações de amor de outro homem. "Existe ali o assunto, ela sabe, eu sei que ela sabe, a gente não conversa sobre". Ao mesmo tempo, a reação dela é ambígua, posto que já foi capaz de brigar com o ex-marido para defender o filho. A avó foi a única que fez questão de contar pessoalmente e isso dissipou "vários fantasmas":
Acho que o sentir acolhido em casa é o primeiro passo. (...) se eu fosse acolhido dentro da minha família - que é a permanente - esses outros - que são provisórios -, eu nem me importaria tanto assim. Então, minha avó foi a última neste ciclo saber, mas foi a mais importante. (...) Foi muito amorosa, carinhosa, a ponto de ela dizer 'mas não mudou nada'. (...) Me deu muito poder essa fala dela, também para começar a enfrentar outras pessoas".
Participante 4 - "Eu nunca fui refém de nada"
Na narrativa do participante 4, a ausência de "grandes conflitos internos" o impede de falar num momento específico de "saída do armário". A sensação de que "alguma coisa acontecia" veio a partir dos cinco anos, por ter uma conduta diferente dos outros meninos. Atribui ao irmão e às amigas a garantia de "um ambiente protegido", bem como a facilidade pessoal de formar vínculos com colegas e professores, que o ajudaram a não sofrer discriminação na escola ou na catequese.
A sexualidade começou a ser pensada a partir dos primeiros contatos íntimos, ainda de modo inocente, nas brincadeiras de "pegação" com um primo e nos contatos com homens mais velhos - com as quais lidou de forma tranquila, embora reconheça hoje como uma forma de abuso: "eu tinha conseguido lidar, estava bem, não tinha acontecido nada comigo, então é vida que segue". Utilizou a internet como fonte de informação sobre sexualidade e de contato com outros homens. Começou as primeiras experiências "de verdade" com outros homens, aos 18 anos, em geral mais velhos, já na faculdade, com nada mais do que beijos, e iniciou a vida sexual propriamente dita cerca de um ano mais tarde.
A primeira conversa a respeito de sua sexualidade aconteceu com a mãe após uma carta melodramática de um admirador apaixonado que ela descobriu.
Eu lembro que ela chamou meu pai: "vem aqui! Seu filho acabou de falar que gosta de homens" e assim por diante. Meu pai me olhou, falou assim: "e qual é o problema?" Me deu um abraço. Saiu. Ela ficou, assim, mais indignada, tipo: não vai falar nada, não vai fazer nada?
Por mais que a mãe considerasse importante ouvir da boca dele sobre sua sexualidade, ele a esclarecia que se tratava de uma necessidade unicamente dela. Lidou da mesma forma com outras pessoas e nunca achou necessário se assumir como gay ou como negro: "eu nunca achei que tinha de comunicar alguém sobre isso. Eu simplesmente vivenciava e pra mim estava tudo certo". O lar ofereceu condições muito favoráveis:
Eu nunca tive problema de ninguém dormir em casa. Eu nunca apresentei ninguém pra minha família, por exemplo: "este é fulano, essa pessoa" e assim por diante. Então isso foi durante um bom tempo nesse aspecto: as pessoas, os caras com que me relacionava, eles iam na minha casa. Meu pai sempre foi uma pessoa muito tranquila: às vezes, eu dormia um pouco mais, e o menino estava lá, com meu pai, tomando café da manhã.
É só mais tarde, com 24 ou 25 anos, depois de ser convidado para lidar com a política LGBT, que ele sentiu a necessidade de pensar na sua própria identidade.
E aí eu vou começar a discutir isso; discutir, ler, pesquisar, compreender, pensar sobre. E aí que eu acho que eu construo a minha identidade, que eu vou entender do que o que é ser homossexual, do que é ser gay, ou do que é se relacionar sexual e afetivamente com homens, porque vou ter que discutir isso. (...) E aí eu acho que, nesse momento, que eu consigo me apropriar de quem eu sou na sua potencialidade.
As crenças pessoais o ajudaram a conciliar os planos da sexualidade e da religião, mesmo diante da preocupação dos reflexos de seu ativismo LGBT no meio eclesial: "eu achava que estava tudo certo, eu achava que se Deus tinha me feito dessa forma, era o que eu sentia, não teria problema nenhum". Da mesma forma, nunca sentiu necessidade de fazer terapia devido à relação de sinceridade consigo mesmo:
Eu sempre tive uma conversa comigo mesmo. Qual é o meu medo, o que eu tô escondendo, qual é meu receio, o que eu quero, qual é minha intenção? Então eu sempre tentei trazer para o campo da lucidez tudo o que acontece dentro de mim, e daí eu vou lidando com isso. E, aparentemente, eu fui conseguindo lidar bem.
Diferente de muitas histórias que escuta na forma de lidar com as discriminações, considera-se protegido dessas pelo seu contexto - "não me afetava, porque tinha grandes pessoas pra me defender" - e pelas suas habilidades pessoais - "eu sempre desenvolvi mecanismos de defesa, de lidar com a minha subjetividade desde quando me chamavam de 'viadinho' na escola". Ele diz:
Eu acho que eu fui privilegiado não pelo ambiente, pela forma que eu fui absorvendo as coisas. Eu era muito tranquilo em relação a isso, não era um problema. Então tinham pessoas ali que se preocupavam comigo, de estar ali junto, de demonstrar apoio, e assim por diante... Mas, assim, o jeito que minha família lidava, sem dúvida, eu sou um privilegiado pra aquela época - pra até hoje - meu pai é militar, eu nunca tive problema nenhum com ele, pelo contrário. (...) Minha família nunca negou minha afetividade.
Para ele, a "saída do armário" como um "rito de passagem" indispensável desconsidera as trajetórias únicas de cada um. Em suas palavras: "É cultural o sofrimento que as pessoas passam. (...) É um fardo para algumas, pra outras não". Apesar de sua história não ser um "parâmetro", ele usa sua experiência para orientar que os jovens podem até omitir sua sexualidade dos demais, mas nunca de si mesmos: "você vai ocultando, você vai se acostumando a viver sofrimentos sozinho, a viver sofrimentos sozinho. (...) Sofrimento guardado (...) não vai dar um resultado bom pra eles".
Discussão
Os quatro participantes situam na infância o início do reconhecimento dos primeiros traços de uma orientação sexual "diferente" e destacam a escola como ambiente em que essa percepção acontece. Assim como o relatório da APA (2009) indica não haver estudos que apontem o estresse relacionado à orientação sexual per se em crianças, não é o sentir-se diferente, mas sim a reação dos demais em forma de "piadinhas" e xingamentos que veio a provocar os primeiros desconfortos nos participantes 2 e 3. Os outros não relatam reações negativas nesse momento, porque sua diferença não era percebida (participante 1) ou por encontrarem ali um ambiente protegido (participante 4).
Os relatos também confluem em apontar a adolescência e o começo da idade adulta como a etapa de vida em que a percepção de comportamentos atípicos iniciada na infância e as manifestações dos afetos e desejos sexuais trazem à tona a questão da identidade sexual - justamente na etapa em que o modelo psicossocial de Erikson situa a crise entre identidade e confusão de identidade (McAdams & McLean, 2013). Junto às dúvidas comuns em torno da sexualidade nessa fase, eles têm de lidar com as expectativas dos familiares a respeito de uma heterossexualidade presumida ou da suspeita da homossexualidade, o que tende a impactar negativamente o bem-estar desses indivíduos (Meyer, 2003). A dificuldade aí é que somente a identidade heterossexual é considerada natural e desejável pela família e pela sociedade (Ingraham, 2005), de modo que qualquer outra configuração é interpretada como uma falha no desenvolvimento (Isay, 1998), como se evidencia na suspeita de que o participante 2 tivesse problemas hormonais - razão de ter sido encaminhado para acompanhamento médico, psiquiátrico e psicológico na tentativa de ajustá-lo.
A forma como acontece a saída do armário proporciona empenhos diferenciados para a questão da identidade. A sensação de vulnerabilidade e de exposição à discriminação aumenta com o fato de ser "saído," isto é, de ser revelado como homossexual involuntariamente (Herek & Garnets, 2007) - acontecimento esse que aparece nas narrativas dos participantes 1, 2 e 3 a partir da descoberta da primeira relação sexual, de uma carta apaixonada ou de vídeos com declaração de amor, respectivamente, inclusive com efetiva violência verbal e física que acompanharam a descoberta nos dois primeiros casos. A iniciativa dos participantes 2 e 3 de contar para pessoas que consideram muito significativas em suas vidas - a mãe, no caso do primeiro, e a avó, no caso do último - e a tensão aí envolvida mostram como a autorrevelação é um momento crítico no desenvolvimento da autoestima e na aceitação da sexualidade (Poeschl, Venâncio, & Costa, 2012), que implica riscos capazes de direcionar uma maior ou menor abertura da pessoa a depender da reação de outrem. Segundo o relato do participante 3, a reação inesperada da avó lhe confere "muito poder" para se abrir aos outros.
O movimento de sair do armário para uma ou mais pessoas não representa, porém, resolução dos conflitos, nem garante mais estabilidade à identidade de quem o empreende, e "pode ser tão cheia de incerteza, confusão, ambiguidade e instabilidade quanto a vida 'dentro' do armário" (McQueen, 2015, p. 173). As pessoas de quem se recebe o primeiro amor são também as que costumam emitir os juízos mais duros - como o pai do participante 3, que o rejeita e rompe relações por quatro anos -, mas também são complexas e potencialmente ambíguas (Savin-Williams, 2001). A hesitação das mães dos participantes 1 e 3 em conversar a respeito da sexualidade permite ver que o mero conhecimento da orientação sexual dos filhos não implica, necessariamente, em seu reconhecimento. Por outro lado, ao mesmo tempo em que existe um "elefante branco" entre o participante 3 e sua mãe nesse assunto, ela é capaz de brigar com o ex-marido para defender o filho de atitudes preconceituosas.
Os relatos apresentam o ambiente doméstico como sede dos conflitos mais numerosos e intensos em torno do reconhecimento da identidade sexual, o que situa a "'casa' como espaço marcado por contradições, desconstruindo a noção corrente de que ela seria um lugar da segurança e refúgio" (Soliva & Silva Junior, 2014, p. 146). A quebra da esperada heterossexualidade de um membro pode vir a afetar todo o núcleo familiar, que perde a condição de família "normal" e é instado a fazer um processo paralelo de saída do armário - algo que os primeiros modelos de coming out aproximavam às fases da elaboração do luto (Savin-Williams, 2001). Essa nova identidade familiar em formação experimenta sentimentos contraditórios de orgulho e vergonha, e tem dúvidas quanto ao apoio social, de modo a também ela se sentir exposta à condenação e à rejeição alheias (Julien, 2000).
Um dos aspectos que relacionam a família a fatores negativos em outro estudo (Higa et al., 2014) é o medo da expulsão do lar - que se efetivou no participante 1 e foi motivo para os participantes 2 e 3 deixarem a casa preventivamente. De qualquer forma, essas três narrativas apontam a saída de casa (seja ou não por iniciativa própria) como algo importante para assumir a identidade sexual para si e, posteriormente, para outros. Os participantes 1 e 2, ademais, não apenas deixaram a casa, mas fizeram movimentos mais amplos de mudança da aldeia para uma capital e de uma cidade do interior para uma metrópole, respectivamente.
A narrativa do participante 4 apresenta muitos aspectos divergentes dos demais participantes, sendo que ele próprio se reconhece como um "privilegiado". O ambiente "protegido" encontrado no lar, na escola e na faculdade confirma a importância da atitude da família e do meio social no sentido de diminuir a rejeição e aumentar a aceitação, que impactam positivamente no bem-estar do sujeito (APA, 2009; Katz-Wise, Rosario & Tsappis, 2016). Seu relato não apresenta um momento específico para a saída do armário em sua vida, de tão processual que fora, e corrobora a afirmação de que tal processo perde o caráter de evento nos contextos favoráveis à diversidade (Savin-Williams, 2001). Ao invés de frisar elementos de sofrimento e luta, seu relato acentua os aspectos positivos de ser gay.
A religião apresenta papeis dúbios no processo de reconhecimento. Ela é vivenciada como fonte de opressão externa (da parte da mãe e da aldeia) pelo participante 1 e de opressão concomitantemente externa e interna para o participante 3, cujo relato das primeiras percepções de sua orientação mostra um conflito entre a congruência télica (viver de acordo com valores) e a congruência organísmica (APA, 2009). Por outro lado, assim como em outros estudos (Rosenkrantz, Rostosky, Riggle, & Cook, 2016), a religião aparece como um elemento positivo nas histórias do mesmo participante (3), que nela baseia o seu modelo de relacionamento, e do participante 4, que não vê problema entre sua sexualidade e o engajamento religioso. Tanto a acolhida da comunidade de fé (Ribeiro & Scorsolini-Comin, 2017) como a maneira seletiva de lidar com dogmas e normas que entram em conflito com suas identificações (Dufour, 2000) podem contribuir para tal percepção.
Se a saída do armário foi utilizada como índice de desenvolvimento da identidade e como medida da saúde mental das minorias sexuais outrora, hoje essa ligação não é tão mecânica. Comunicar ou camuflar a sexualidade pode dizer mais sobre a família do que sobre o sujeito em questão (Savin-Williams, 2001), e uma maior publicidade pode não ser universalmente ideal (Klein, Holtby, Cook, & Travers, 2015). Por isso, a escolha entre revelar ou esconder a própria orientação e identidade sexual é tão particular: há benefícios (aumento da autoestima e da sensação de bem-estar; redução de estresse e comportamentos de riscos; diminuição da vigilância constante) e custos (represálias verbais ou físicas e reprovação social) que cada um deve avaliar (Herek & Garnets, 2007; Poeschl, Venâncio, & Costa, 2012). Ademais, o armário mostra-se paradoxal (Adams, 2011), porque a segurança do seu interior carrega sentimentos de inautenticidade, enquanto o movimento de sair comporta uma série de riscos. Nesse sentido, são reveladoras as maneiras como o participante 3 narra a "jaula" como algo que aprisiona, mas também protege, e a decisão do participante 2 de romper a "farsa" para sua mãe, mas não para seu pai - apesar de sua desconfiança e em respeito à sua saúde e idade.
Os dilemas também envolvem tempo e espaço. A saída do armário não é única nem estática, de modo que ninguém pode se considerar dentro ou fora dele de maneira total e constante (Orne, 2011; Sedgwick, 2007). Os lugares são avaliados conforme a percepção da homofobia, gerando "mapas de segurança" pelos quais alguém se mostra/oculta, embora a "armadilha da visibilidade" permaneça em razão da própria ambiguidade do armário: quem está dentro é ameaçado pelo fragrante e quem está fora, pela violência (Mason, 2002). A narrativa do participante 2 é particularmente significativa: ele se passa por heterossexual na juventude para agradar a família e se mostra "uma pessoa totalmente diferente" quando retorna à sua cidade natal, bem como mescla o desejo e o temor de falar para o pai sobre sua orientação sexual; talvez por isso ele ainda resista a ser reconhecido pelos outros como gay.
Os estudos atuais também chamam a atenção para questões étnicas, religiosas e socioeconômicas que suscitam outras identificações e que podem redundar em mais estigmas sociais (APA, 2009; Velez, Moradi & DeBlaere, 2015) ou mesmo entrar em conflito entre si (Meyer & Ouellette, 2009). Isto aparece, particularmente, nas narrativas dos participantes 1, indígena, e do 4, negro, com reporte mais negativo no primeiro caso, que sofre mais pela condição indígena na cidade e pela condição gay na aldeia - pois essa é entendida, atualmente, como algo não indígena, apesar de narrativas ancestrais o apresentarem de outra forma. Entrementes, o mesmo participante 1 se afirma: "sou homossexual indígena".
Meyer e Ouellette (2009) indicam que o "estresse de minoria" constitui o pano de fundo com as quais as pessoas não heterossexuais precisam lidar para conferir coerência às experiências fragmentadas e formar uma identidade narrativa (Ricoeur, 1984/2010, 1990/2014). Os estressores desse modelo (homofobia internalizada, estigma percebido e eventos de preconceito) aparecem nas narrativas dos participantes 1, 2 e 3, com especial ênfase no 2, que relata medo, culpa, preconceito na família, violência psicológica e física, ideação/tentativa de suicídio e depressão. Além da culpa, vergonha e medo, o participante 3 relata uma violência sexual sistemática em sua adolescência. Esses estressores e seus sinais de impacto na saúde se assemelham a outros estudos no Brasil (Natarelli, Braga, Oliveira, & Silva, 2015) e no exterior (Almeida, Johnson, Corliss, Molnar & Azrael, 2009; Saewyc, 2011), que endossam a manutenção da vulnerabilidade por conta da homofobia.
Por outro lado, mesmo as histórias mais dramáticas das minorias sexuais não frisam apenas o sofrimento e a vitimização, mas também a sobrevivência e a superação (Plummer, 1995), de modo que pesquisadores têm situado sob a temática da resiliência, tanto em nível pessoal como também familiar e social (Freitas, Coimbra & Fontaine, 2017; Lira & Morais, 2017). Nas narrativas vistas aqui, a resiliência é garantida pela rede de apoio em torno dos participantes, ainda que limitada no número de parentes ou no grau de aceitação de cada um. Há similaridade também com outra pesquisa (Shilo & Savaya, 2011), que aponta contribuições diferenciadas por parte de familiares e amigos, sendo que os primeiros teriam maior impacto em processos internos de autoaceitação e os últimos auxiliariam mais na revelação pública da orientação sexual. A relevância da "homossocialização" (Isay, 1998), mesmo quando não implica ativismo, como o do participante 4, faz-se notar nos demais relatos: o amigo de confiança do participante 1, que o ajuda a "se descobrir"; o primeiro parceiro do participante 2, que lhe oferece segurança afetiva; e os amigos que compõem uma "manada" em que o participante 3 se vê protegido. Esses elementos possibilitaram o fortalecimento da identidade e ofereceram modelos positivos.
Por fim, é possível ver que as narrativas dos participantes apresentam a saída do armário como um processo não apenas de conhecimento, mas de reconhecimento, e que esse se dá em diferentes instâncias, sobretudo pessoal e interpessoal. Nesse sentido, a reflexão que Ricoeur (2006) desenvolve sobre a temática do reconhecimento mostra-se oportuna ao destacar os vários sentidos do ato de reconhecer, que perfazem um percurso desde a voz ativa até a voz passiva (reconhecer algo, reconhecer a si mesmo e ser reconhecido por outrem). Tomada como chave de leitura para as narrativas deste estudo, é possível ver como os participantes se movem desde a identificação de sua orientação sexual (enquanto afetos, fantasias e desejos por pessoas do mesmo sexo) para, em seguida, reconhecerem a si mesmos como gays (o que não se trata de uma constatação, mas de uma atestação, que é um tipo de certeza prática) e, enfim, desejarem ser reconhecidos como tais pelas outras pessoas, com diferentes matizes de efetivação - da pacificação, que vigora no participante 4, à luta, que permanece em andamento para algumas relações dos demais participantes. Naqueles em que não se percebem sinais críveis de um potencial reconhecimento, prefere-se manter a "incógnita" (como o participante 2 diante do pai).
Considerações Finais
As quatro histórias aqui contadas, interpretadas e discutidas permitem vislumbrar que o reconhecimento da identidade gay não se esconde em algum pote dourado além do arco-íris. Antes, é fruto de uma verdadeira "odisseia pessoal" (Isay, 1998), que tem cenas, ora trágicas, ora cômicas, cujo fim é buscar uma "vida vivível" (McQueen, 2015) em meio a interações variadas de colaboração, confronto ou indiferença. Até que chegue um futuro em que as narrativas de saída do armário não precisem mais ser ditas (Plummer, 1995), continuarão a existir pessoas que escolham se esconder, não por capricho, mas por prudência; para que ao menos lhes salve o privilégio da dúvida.
Tanto na linguagem comum como na científica, uma pergunta se mostra importante quando queremos falar sobre um dado fenômeno: "qual é o contexto disso?" Talvez esteja aí uma das grandes contribuições de uma perspectiva narrativa de base hermenêutico-fenomenológica para abordar a questão da identidade sexual, ao mostrar que ela se desenvolve em circunstâncias particulares que, por sua vez, não estão isoladas, porquanto se configuram em relações complexas com outrem, seja no ambiente intersubjetivo mais próximo, seja em termos de contexto sociocultural. Como sustenta Coleman-Fountain (2014), tampouco se pode contar a história de como alguém se identifica como gay sem que essa história já não esteja entrelaçada com as narrativas circulantes num plano cultural mais amplo.
Para estudos futuros, pode-se explorar mais a questão do reconhecimento das minorias sexuais nas famílias, seja verificando índices gerais de homofobia em diversos contextos, seja explorando as narrativas dos núcleos familiares acerca da saída do armário de algum membro, para que também o ponto de vista delas seja mais bem conhecido. Também se mostra promissor o esforço de aplicar a teoria do reconhecimento de Ricoeur (2006) na construção de um modelo típico-ideal já não baseado em estágios da saída do armário, mas nos diversos sentidos do reconhecimento da identidade, de modo a incluir os aspectos éticos e políticos que essa teoria comporta.
O modo como Ricoeur conjuga dialeticamente subjetividade e alteridade num sujeito ativo-passivo estável-dinâmico, bem como seu tratamento da noção de sabedoria prática, vem a coadunar com perspectivas que tomam a saída do armário como um processo mais cíclico do que linear (Ali & Barden, 2015), de forma a tornar plausível falar em círculos hermenêuticos em torno das identidades sexuais, que evocam não apenas o modo como se apresentam aos outros, mas também como são lidos por eles. Ademais, à guisa de suspeita para ulteriores esclarecimentos, o peso semântico e pragmático que Ricoeur (2006, 1990/2014) confere à categoria da atestação avizinha-se de um verbo reflexivo muito empregado nos relatos de saída do armário: assumir-se.
Este estudo comporta limitações: como é característico de uma pesquisa qualitativa de viés narrativo (Polkinghorne, 1995), ele não é replicável, tampouco permite fazer generalizações para a população das minorias sexuais. Algumas informações mais detalhadas dos participantes, as quais poderiam oferecer uma compreensão melhor dos seus contextos, tiveram que ser omitidas para não comprometer a confidencialidade.
Em termos de políticas, resta o desafio de reforçar ações de campanhas educativas que visem a contemplar não apenas o combate à discriminação em espaços públicos, mas também chegar ao espaço privado das famílias, em que formas veladas e potencialmente nocivas continuam a comprometer o desenvolvimento saudável das minorias sexuais. Por suposto, trata-se de uma mudança de mentalidade, que costuma ser lenta e custosa.
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Endereço para correspondência:
Rafael Zanata Albertini
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Rodrigo Lopes Miranda
E-mail: rf3225@ucdb.br
Recebido em: 03/04/2019
Revisado em: 30/05/2019
Aceito em: 26/06/2019
Publicado online: 29/08/2019
Nota sobre o artigo:O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 (conforme Portaria nº 206 de 04 de setembro de 2018 da CAPES)
1 Green (2000) afirma que "viado" é uma forma pejorativa de "veado", com registros desde a década de 1920.