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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641Xversão On-line ISSN 2175-3601

Rev. bras. psicanál v.42 n.1 São Paulo mar. 2008

 

ARTIGOS

 

Paradoxo, objeto transicional e fetiche

 

Paradoja, objeto transicional y fetiche

 

Paradox, transitional objects and fetish

 

 

Eloisa Helena Rubello Valler CeleriI, II, 1; José OuteiralIII, IV, 2; Julio de Mello FilhoIV, 3; Raquel Z. de GoldsteinV, 4

IFaculdade de Ciências Médicas da Unicamp
IISociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
IIISociedade Psicanalítica de Pelotas
IVSociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro
VAsociación Psicoanalítica Argentina

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Tomando como ponto de partida a afirmação de que “em nenhum campo cultural é possível ser original, exceto numa base de tradição” (“d. w. w. por d. w. w”, 1967), este artigo visa rastrear a produção de autores contemporâneos de Winnicott e reconhecer possíveis influências que teriam contribuído para a “invenção” dos conceitos de objeto transicionale espaço potencial. Busca-se também, desta forma, neste vértice, trazer subsídios para a discussão sobre a possibilidade de a clínica e a teoria desenvolvidas por Winnicott constituírem um novo paradigma dentro do campo psicanalítico.

Palavras-chave: Paradoxo; Objeto transicional; Winnicott; Fetiche.


RESUMEN

Tomando como punto de partida la aserción de que “no existe campo cultural en lo cual sea posible ser original excepto en la base de la tradición” (“d. w. w. por d. w. w”, 1967), este artículo tiene por objetivo rastrear la producción de autores contemporáneos de Winnicott y así comparar posibles influencias para la “invención” de los conceptos de “objeto transicional” y “espacio potencial”. Buscamos así, de esta forma, desde este punto de vista, traer subsidios para la discusión sobre la posibilidad de la clínica y la teoría propuestas por Winnicott formar un nuevo paradigma dentro del campo psicoanalítico.

Palavras clave: Paradoja; Objetos transicionales; Winnicott; Fetichismo.


ABSTRACT

Considering Winnicott’s thinking “in any cultural field it is not possible to be original except on a basis of tradition” (“d. w. w. by d. w. w”), this paper aims to follow the tracks of Winnicott’s contemporary authors and to delineate possible influences that could have contributed to the “invention” of the concepts of “transicional objects” and “potential space”. We looking for in this way, under this vertice, to bring informations to the discussion about the possibilities of the clinics and theories developed by Winnicott to make an new paradigm in the psychoanalytic field.

Keywords: Paradox; Transitional objects; Winnicott; Fetish.


 

 

So wherever I am, there’s always Pooh,
There’s always Pooh and Me.
“What would I do?” I said to Pooh,
“If it wasn’t for you,” and Pooh said: “True,
It isn’t much fun for One, but Two
Can stick together”, says Pooh, says he,
“That’s how it is”, says Pooh.

A. A. Milne, Now we are six

 

Dando seguimento a uma linha de trabalho iniciada com “A tradição freudiana de Donald Winnicott: a situação edípica. E sobre o pai?” (Outeiral & Celeri, 2002), este artigo tem por objetivo, conforme um desejo de Winnicott (1967), rastrear na produção de autores seus contemporâneos, e por ele citados, possíveis influências que teriam contribuído para a “invenção” e o desenvolvimento dos conceitos de objeto transicionale espaço potenciale, assim, melhor compreendê-los.

Winnicott escreveu que alguém só poderia ser original se baseado na tradição. A palavra “original” nos remete, seguindo Freud, a um par antitético: ao novoe, ao mesmo tempo, a gene, genealogia. E a “genealogia” de um psicanalista o leva, reconheça ele ou não, ao criador da psicanálise, Sigmund Freud.

Quando assumiu pela primeira vez a presidência da Sociedade Britânica de Psicanálise, em 1956, Winnicott escreveu uma carta a Clifford Scott na qual registrava: “Sinto-me um estranho na cadeira de presidente porque não conheço o meu Freud da forma como um presidente deveria conhecer, porém acho que tenho Freud no sangue”.

É oportuno, também, reler a carta que um Winnicott preocupado escreveu a Melanie Klein em 17 de novembro de 1952, sugerindo que ela tomasse precauções, pois alguns de seus seguidores poderiam “desvirtuar” a autenticidade de suas idéias.

A articulação que pretendemos não é tarefa fácil, pois o estilo de Winnicott é extremamente pessoal. Sua obra traz marcas de individualidade, liberdade e sofisticação intelectual e afetiva, o que torna alguns de seus artigos compactos e de difícil compreensão. Ele não costumava citar autores com os quais algumas de suas idéias poderiam ter relação; escreveu inclusive, jocosamente, que ao redigir um texto não se preocupava se estava “roubando” a idéia de alguém e que veria isso “depois”.

Em 1967, por exemplo, quatro anos antes de morrer, numa palestra para a sociedade de senior British analysts(Winnicott, 1967), ele reconheceu a dificuldade e, às vezes, a impossibilidade de identificarmos os textos psicanalíticos de onde suas idéias derivavam. Entretanto, Winnicott escreveu num inglês simples, pois não desejava inventar termos que provocassem “confusão” e eventualmente desenvolvessem “uma rigidez e uma qualidade obstrutiva” (1963/1988). Essa facilidade ao expressar algumas idéias torna a leitura de sua obra muitas vezes surpreendente, mas, por outro lado, para o leitor menos atento ou pouco familiarizado com a obra winnicottiana, alguns de seus conceitos ou de suas “ficções reguladoras” (Khan, 1988) podem se tornar traiçoeiros em sua simplicidade. Também é interessante referir aqui, freudianamente, que na compreensão do pensamento analítico podemos avançar até onde as nossas “neuroses” o permitem.

No texto clássico “Objetos e fenômenos transicionais”, de 1951, publicado na coletânea Da pediatria à psicanálise, Winnicott cita um artigo de 1946, “Fetishism and object choice in early childhood”, de autoria de M. Wulff, um analista de Telavive. Fato pouco comum, ele citar um autor. Numa nota, afirma ter tido conhecimento do ensaio de Wulff só depois de ter escrito o seu texto e reconhece que esse autor estava interessado em estudar os mesmos fenômenos que ele. Winnicott discorda, entretanto, do uso da expressão “objeto fetiche” adotada por Wulff. Essa citação e a comparação entre o objeto transicional e o fetichismo desaparecerão quando o artigo for revisto e reescrito, para se tornar o primeiro capítulo de O brincar e a realidade(1971/1975).

Pontalis “interpreta” esse “desaparecimento” como um desejo de Winnicott em mudar o foco do leitor, retirando-o do conceito de objeto transicional, un objet de plus(Pontalis, 1975), e movendo-o em direção ao conceito de espaço potencial, a área intermediária que assegura uma transição entre o eu e o não-eu, a ausência e a presença, espaço paradoxal, espaço da criação simbólica, área negligenciada e, até ali, pouco estudada pela psicanálise.

Interessante observar que é exatamente com base nas modificações introduzidas em “Objetos e fenômenos transicionais”, de 1951 e 1971, que André Green desenvolveu seu importante conceito de “negativo”, como ele próprio expressou nas conferências em homenagem a Winnicott na Squiggle Foundation (Green, 2003). A compreensão dessa forma de leitura, feita tanto por Pontalis como por Green, mostra como o paradoxo é importante para Winnicott. A aparente simplicidade e a sutil complexidade de seus textos nos convidam a uma leitura atenta, que se revela, tal como no processo psicanalítico, exatamente nas fraturas do discurso manifesto.

Devemos acrescentar que, como todo conhecimento, também a idéia de objeto transicional e objeto fetiche perpassa inúmeros autores. Quando Freud escreveu que nada do que dizia já fora dito por algum filósofo ou “sábio de outrora”, ou quando Bion diz que um autor que tenha o nome estampado na capa será um idiota se pensar que o livro é dele, somos levados a pensar que o desenvolvimento de um pensamento resulta da ação de inúmeros pensadores e não de determinado “predestinado”.

Pretendemos, então, fazer um caminho inverso ao do comentário de Pontalis, voltando o foco para o objeto fetiche e o objeto transicional, pois, uma vez que o objeto transicional sinaliza concretamente o espaço potencial, uma melhor compreensão desse objeto nos permitirá maior precisão ao demarcar e compreender o terceiro espaço– a “terceira tópica”– e sua importância clínica. Como Phyllis Greenacre afirma, “o objeto transicional e o fetiche se parecem em certos aspectos formais: ambos são objetos inanimados, adotados e utilizados pelo indivíduo para auxiliar na manutenção de um balanço psicofísico sobre certas condições de mais ou menos pressão”. (Greenacre, 1969). Mas existem também diferenças importantíssimas, tanto na sua origem, como nas funções e formas clínicas apresentadas. Vejamos.

 

1. Atradição

1.1. Sobre o fetichismo

Podemos definir fetichecomo um objeto ou esquema obrigatoriamente utilizado como parte do ato sexual e sem o qual a gratificação não pode ocorrer. A concepção freudiana de fetichismo encontra-se exposta em vários textos. Inicia pelos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade(1905/1996), nos quais Freud afirma que certo grau de fetichismo faz parte da “normalidade” da vida amorosa, tornando-se patológico quando a fixação no objeto “se coloca no lugar do alvo sexual normal, e ainda, quando o fetiche se desprende de determinada pessoa e se torna o único objeto sexual”. Em nota acrescentada em 1920, Freud sustenta a precocidade das “impressões sexuais” que conduziriam ao aparecimento do fetiche:

O fato verdadeiro é que, por trás da primeira lembrança do aparecimento do fetiche, há uma fase submersa e esquecida do desenvolvimento sexual, substituído pelo fetiche como que por uma “lembrança encobridora”, e cujo resto e sedimento, portanto, o fetiche representa. A transição dessa fase dos primeiros anos da infância para o fetichismo, assim como a escolha do próprio fetiche, são constitucionalmente determinadas.

No estudo sobre Leonardo da Vinci (1910/1996) e sobre a Gradivade Wilhem Jensen (1907/1996), Freud identifica o fetichismo como integrante de todas as formas de perversão. No artigo “Fetichismo” (1927/1996), apoiado no conceito de negação, Freud passa a compreender o fetiche como “um substituto do pênis da mulher (da mãe) em que o menininho outrora acreditou e que– por razões que nos são familiares– não desejava abandonar”. O fetiche é “um indício do triunfo sobre a ameaça de castração e uma proteção contra ela”, pois o fetichista destrói a prova da possibilidade de castração e, assim, escapa à angústia de castração.

O fetiche se constrói sobre duas atitudes opostas. A visão traumática dos órgãos genitais femininos é rejeitada pelo ego, que sofre um processo de clivagem, e a atitude que se ajusta ao desejo (a mulher não é castrada) passa a coexistir lado a lado com a atitude que se ajusta à realidade, ou seja, o fetiche paradoxalmente nega e confirma a castração. Outro aspecto apresentado nesse ensaio diz respeito ao funcionamento do fetiche como defesa contra a homossexualidade, “dotando as mulheres de características que as tornam toleráveis como objetos sexuais” (Freud, 1927/1996).

Ao enfatizar a importância dos mecanismos de renegação (verneinung) e de cisão (spaltung) do ego como formas de lidar com a ansiedade de castração, Freud abriu um amplo caminho, percorrido por uma série de autores que, a partir dos anos 1930, passaram a estudar o fetichismo, com ênfase especial sobre a relação com o senso de realidade e a cisão. São relevantes os trabalhos de E. Glover (1933), The relation of perversion-formation to the development of reality-sense, de M. Balint (1935), A contribution on fetishism, de Sylvia Payne (1939), Some observations of ego development of fetichist, de W. Gillespie (1940), A contribution to the study of fetishisme o de M. Wulff (1946), Fetishism and object choice in early childhood, além dos importantes artigos de Phyllis Greenacre publicados no The Psychoanalic Study of Child(1951, 1953, 1955, 1960, 1968, 1969).

Levantamos a hipótese de que Winnicott provavelmente teve acesso a esses artigos de seus contemporâneos, em sua maioria membros da Sociedade Psicanalítica Britânica, e que de alguma forma a leitura deles contribuiu para as teorizações expostas no artigo de 1951 e, depois, na nova redação em 1971.

O artigo de Glover (1933) enfatiza a importância dos mecanismos de projeção e introjeção para o desenvolvimento do ego e sua interferência no desenvolvimento do senso de realidade. O autor considera que o estudo do senso de realidade no fetichismo– “incluindo aqui fetiches narcisistas em que partes do próprio corpo ou roupas proporcionariam gratificação sexual”– poderia fornecer informações extremamente interessantes para a compreensão dessas questões. Ele escreve:

[…] quando, por alguma razão, alguma forma de ansiedade infantil reaparece na vida adulta, uma forma de lidar com a crise é pelo reforço de sistemas libidinais. Isto dá origem à perversão. Perversões auxiliam a remendar fendas no desenvolvimento do senso de realidade (Glover, 1933).

O artigo de Payne enfatiza os componentes pré-genitais no desenvolvimento do fetichismo, acentuando a existência na história de vida do fetichista de muitos eventos que contribuiriam para a manutenção de uma relação de dependência com as figuras parentais, além da existência de um ego frágil, que predisporia a um temor à castração. O anseio pelo fetiche corresponderia, segundo esta autora, por um lado a um anseio por bons pais que pudessem ser introjetados e que o protegeriam contra a ansiedade, e por outro, representaria um anseio por reparar a destruição dos pais, realizada na fantasia.

A fragilidade do desenvolvimento do ego é um aspecto da fragilidade da genitalidade e denota interferências na libidinização, formação e integração no ego corporal, especialmente na imago do pênis. Isto provoca um exagero dos mecanismos mais precoces e uma dependência excessiva dos objetos introjetados, mas sem conseguir uma identificação com eles (Payne, 1939).

Nas palavras da autora, “o fetiche salva o indivíduo de uma forma perversa de sexualidade”, isto é, salva-o de impulsos sádicos dirigidos ao objeto amado.

Seguindo a linha apresentada no artigo de Sylvia Payne e influenciado pela teoria kleiniana, Gillespie, em ensaio de 1940, formula a seguinte questão:

É o fetichismo primariamente um produto da ansiedade de castração, relacionado quase que exclusivamente com a fase fálica e a manutenção da existência de um pênis feminino, ou sua força dinâmica principal realmente vem de níveis mais primitivos, que inegavelmente contribuem para dar a forma última ao fetiche? (Gillespie, 1940).

Ele responde tomando um caminho conciliatório. Na etiologia do fetichismo estariam envolvidas fantasias fálicas, orais e anais, tanto amorosas como agressivas, das quais o indivíduo se defende através da utilização de mecanismos de defesa primitivos, como cisão, negação, idealização onipotente e aniquilação. Gillespie considera que “o fetichismo é o resultado da ansiedade de castração, mas uma forma específica dessa ansiedade, uma forma produzida por uma forte mistura de certas tendências orais e anais”.

Em artigo posterior, Gillespie (1952) faz uma diferenciação entre o mecanismo de cisão do ego na psicose e na perversão. Nesta última, ao contrário do que ocorre na psicose, parte do ego mantém uma boa relação com a realidade, enquanto outra parte, graças ao mecanismo de negação, liga-se a um “delírio focal”, o fetiche.

Os trabalhos de Phyllis Greenacre, autora muito considerada por Winnicott, são os mais elaborados e precisos na descrição clínica e metapsicológica. Greenacre preocupa-se em organizar o retrato clínico e os achados da história de vida de casos de fetichismo, com especial atenção para o desenvolvimento da imagem corporal, uma vez que o uso do fetiche funcionaria, mais tarde na vida, segundo ela, como uma espécie de curativo para defeitos na imagem corporal (Greenacre, 1953, 1955).

Segundo a autora, o fetichismo se apresentaria clinicamente como um pavor à castração ligado a dificuldades pré-genitais, as quais impossibilitariam à criança lidar com as dificuldades normais do período edipiano. Essas crianças experimentariam traumas severos, especialmente sob a forma de “castrações”, não apenas pela visão do genital da mãe e a aparente castração dela, mas por testemunhar e experienciar “ataques mutiladores sangrentos” (Greenacre, 1955) sob a forma de operações, acidentes ou observação de nascimentos e abortos. Essas experiências traumáticas ocorreriam em dois períodos especialmente vulneráveis: em torno dos dezoito meses e no início da fase fálica (3-4 anos).

Durante o primeiro período, além dos eventos traumáticos mencionados, também contribuiriam para o aparecimento do fetichismo “severos e/ou contínuos transtornos no relacionamento mãe-bebê” (Greenacre, 1953), com aumento da ansiedade de separação e um apego excessivo à mãe, que passa a representar uma parte do selfda criança, bem como situações que produziriam uma alteração na imagem corporal: 1) mudanças no corpo (alterações bruscas de peso, edemas); 2) condições físicas que provocariam súbitas sensações subjetivas de mudança de tamanho (febres, anestesia, convulsões, acessos severos de fúria); 3) certas atividades repetitivas, como cócegas, hiperestimulação etc, que levariam a criança a um estado de extrema excitação com término abrupto.

Todos esses eventos contribuiriam para o desenvolvimento instável e inseguro da imagem corporal, com uma incompleta separação entre eu e não-eu. Isso faria com que o fetichista se sentisse castrado ao se confrontar com os genitais femininos; o fetiche lhe serviria para concretizar o falo da mulher.

Nos distúrbios que surgem após o segundo ano, Greenacre refere dois grupos de fatores que contribuiriam para a severidade do complexo de castração: 1) traumas particularmente severos; 2) efeitos dos transtornos da imagem corporal que teriam ocorrido nos primeiros anos de vida e que agora interfeririam na capacidade da criança em lidar com as angústias específicas da fase fálica.

Como sabemos, o período fálico corresponde a um momento de consolidação da parte genital da imagem corporal. Se já existirem dificuldades na construção da imagem corporal e do ego corporal, ansiedade excessiva e incertezas quanto às partes genitais aparecem, contribuindo para o caráter aterrador da ansiedade de castração, que o objeto fetiche consegue controlar visto que passa a representar o pênis, o qual pode ser incorporado “através da visão, do toque e do odor, e assim apoiar a genitalidade incerta” (Greenacre, 1955).

Seguindo essas considerações, o fetichismo passa a ser compreendido como um transtorno associado ao desenvolvimento defeituoso da imagem corporal e do ego corporal, com conseqüente distúrbio nos sensos de realidade e de identidade e no relacionamento objetal (Greenacre, 1955). Isso aproxima o fetiche do objeto transicional da infância, pois este normalmente desempenha um papel importante no estabelecimento da relação com o mundo externo e nas relações objetais– mas com uma diferença fundamental: o objeto transicional é abandonado com o advento da genitalidade, o que não ocorre com o fetiche.

Na clínica nem sempre é fácil diferenciarmos esses dois objetos. Encontramos áreas de sobreposição entre os dois (uso de amuletos ou objetos mágicos, alguns ritos etc) ou um uso prolongado do objeto transicional, que acaba por servir a necessidades fetichistas. O fetiche é definido como um objeto visível, tangível, inanimado, com texturas específicas (o couro, por exemplo), investido de odores corporais e dificilmente destrutível. Existem, entretanto, casos menos severos, nos quais podem ser utilizadas uma parte do corpo (visão ou toque do pescoço, orelha, seios, joelhos do parceiro) ou às vezes uma lembrança ou fantasia, ou ainda algum elemento ritualístico não usual, mas aí já estaríamos caminhando em direção às variações de um relacionamento sexual “normal”.

É importante não confundir esses aspectos com os precursores dos objetos transicionais, estudados por Renata Gaddini. Lembremos que Winnicott cita nominalmente essa autora em seu texto sobre os objetos e fenômenos transicionais.

1.2. O artigo de Wulff

Com o objetivo de melhor compreender as escolhas objetais na primeira infância, Wulff se propõe investigar a presença de fetichismo ou de manifestações fetichistas em crianças pequenas, e, após revisar a literatura psicanalítica então disponível, encontra três casos, aos quais agrega mais dois relatos pessoais.

O primeiro caso refere-se a um menino de dezoito meses e foi publicado por Joseph Friedjung no Zeitschrift für psychoanalytische Pädagogik(1927). Esse menino, extremamente ligado à mãe, havia sido desmamado aos nove meses e desde então, para pegar no sono, necessitava segurar entre as mãos uma meia ou um sutiã da mãe, enquanto sugava o dedo. Numa nova observação aos 24 meses, o menino, descrito como adorável e bem desenvolvido física e mentalmente, ainda apresentava “essa manifestação fetichista”, o que confirmava, segundo o autor, as hipóteses de Freud, expostas no artigo “Fetichismo”.

O segundo caso, publicado na mesma revista, havia sido relatado por Editha Sterba sob o título “A case of eating disturbance” (1935). Tratava-se de uma menina de vinte meses que mantinha “uma ligação tenaz com uma possessão particularmente amada”, um babador, por ela nomeado “my-my” desde que fora desmamada, aos seis meses e meio. Sterba descreve a relação da menina com o babador: “O my-myera tanto o confortador como o protetor dela, em todas as dificuldades e perigos de sua curta vida”.

Os próximos dois casos correspondem a observações do próprio Wulff. Ele relata a situação de um menino de 4 para 5 anos que tinha um “cobertor mágico”. Ele possuía essa pequena colcha de lã desde pequeno e a “prezava mais do que tudo no mundo”; utilizava-a para dormir, quando ficava sozinho ou para se tranqüilizar. O outro exemplo é de um menino de 2 anos, morador de um orfanato em Moscou, que apresentava uma relação toda especial com seu urinol, com o qual brincava e do qual evitava separar-se; era para ele “o mais precioso objeto do mundo”.

Afirmando que esses relatos apenas confirmavam algo comum e familiar tanto na clínica como na vida diária, Wulff traz um último exemplo: um menino de 1 ano e 3 meses que “exibia uma preferência especial e um interesse exclusivo por um babador” chamado Hoppa; ele o levava para a cama consigo e o cheirava e sugava antes de adormecer. Quando esse menino estava com 2 anos e meio, o babador desapareceu. O menino deixou de fazer seu sono da tarde e passou a ter dificuldades para dormir à noite, chamando tristemente pelo seu Hoppa. Voltou a molhar a cama e parou de chupar o dedo. Aos 4 anos, adotou um lenço dado por sua mãe e passou a levá-lo para a cama. A enurese desapareceu, mas ele passou a pôr o lenço dentro do pijama, apertando-o entre as pernas e dizendo ter medo de perdê-lo.

Depois de analisar essas várias vinhetas, Wulff constata que essas crianças usavam o “fetiche” principalmente antes de adormecer, associado com o chupar de dedos, e conclui que o fetiche representa um substituto para o corpo materno, em particular para o seio materno. Ele escreve:

Com o objetivo de adormecer tranqüilamente, a criança, neste período precoce, aparentemente sente necessidade de restaurar a situação daquele momento feliz em que adormecia satisfeita pelas várias sensações agradáveis que se originavam do contato com corpo da mãe (Wulff, 1946).

A questão que ficava era esta: haveria alguma relação entre o fetichismo dessas crianças e o fetichismo da idade adulta?

Uma resposta, parece-nos, poder ser encontrada na teorização criativa e surpreendente de Winnicott, que, apoiado na tradição, mas fazendo um uso novo e criativo dela, passa a ver os fenômenos descritos por Wulff como um aspecto normal do desenvolvimento infantil. Segundo ele, Wulff

[…] descreve o uso de objetos por certas crianças, mas não atenta de forma suficientemente clara para o aspecto normal deste fenômeno. Ele põe especial ênfase na relação entre o objeto utilizado pela criança e os objetos que são importantes no fetichismo e de fato usa o termo objeto fetiche, o que implica uma anormalidade que penso não ser necessariamente uma característica (Winnicott, 1954).

 

2. O salto criativo

2.1. Winnicott e o objeto transicional

Relacionados no tempo com os fenômenos auto-eróticos e com a sucção do punho e do polegar, algum objeto ou fenômeno (som, ruído, maneirismo do bebê) surge e adquire grande importância na vida do lactente. Paradoxalmente, esse objeto é “criado” pelo bebê, embora tenha sido colocado “ali” pela mãe. O objeto é investido (catexizado) pelo bebê e usado na hora de dormir, constituindo uma defesa contra a ansiedade, especialmente a ansiedade de separação e do tipo depressivo (Winnicott, 1951/1975). A mãe percebe o significado e o valor desse objeto e respeita a “adição” do bebê ao objeto.

Winnicott descreveu o objeto transicional como a primeira possessão não-eu da criança. Trata-se de um objeto que teria a função de servir de ponte entre aquilo que é considerado confortavelmente familiar (eu) e o assustadoramente não-familiar (não-eu), tornando a solidão e o não-conhecido mais bem aceitos. É a primeira possessão não-eu, mas também carrega qualidades que servem de ligação com o estado mãe-eu.

O objeto transicional ainda não é o brinquedo macio. Este o bebê já reconhece como proveniente do exterior; por esse presente, espera-se que o bebê diga “obrigado”.

O objeto transicional vem do ambiente, como sabemos, mas é essencial que compreendamos, como foi escrito antes, que do ponto de vista do bebê esse objeto foi criado pelo bebê. Não há por que dizer “obrigado”, pois o objeto foi usado antes que a palavra “obrigado” pudesse ser formulada e antes que o reconhecimento do mundo tivesse se tornado significativo (Winnicott, 1954).

Inicialmente ele é usado pelo bebê próximo do rosto, na hora de pegar no sono longe da mãe, repetindo a relação de proximidade experimentada ao dormir colado ao seio materno, quando era amamentado, ou ao ser mantido em contato com o corpo materno para ser ninado. O objeto, para cumprir esse papel, deve pertencer ao ambiente próximo e estar disponível para que o bebê o escolha. Muito freqüentemente, é um objeto macio e possui maleabilidade; trata-se em geral de algo utilizado ou associado ao cuidado do bebê. O objeto transicional “aceita” ser amado apaixonadamente, negligenciado e maltratado– como vemos nos comicsde Schultz, citado por Winnicott, com seus personagens Snoopy e Charlie Brown, ou nos de Watterson, com Calvin e Haroldo–, mas raramente é destruído de forma violenta e “responde” de forma sensível à impulsividade e às necessidades de seu dono: “[…] deve parecer ao bebê que [o objeto] lhe dá calor ou que se move, ou que possui textura, ou que faz algo que pareça indicar que tem vitalidade ou realidade próprias” (Winnicott, 1951/1975).

O objeto não deve ser substituído– salvo se a substituição ocorrer a partir do próprio bebê–, pois isso introduziria uma ruptura na continuidade do ser (going-on-being) e destruiria o significado do objeto para o bebê (Winnicott, 1975/1951). Seu destino é ser progressivamente desinvestido e ser relegado ao limbo, pois o objeto transicional não é esquecido ou pranteado; ele apenas perde o significado, visto que os fenômenos transicionais se tornam difusos e se espalham por todo o espaço potencial, entre a realidade psíquica e o mundo externo.

O objeto transicional inicia o bebê em “uma área neutra da experiência que não será contextualizada” (Winnicott, 1951), uma área intermediária de ilusão que possibilita a separação progressiva entre o mundo dos objetos e o self:

O objeto transicional demarca a existência de uma terceira área, um espaço potencial entre o bebê e a mãe, entre o objeto subjetivo e o objeto objetivamente percebido, que tanto une quanto separa o bebê e a mãe e que pode tornar-se o buraco vazio da separação se não puder ser preen­chido criativamente pela imaginação do bebê, o brincar criativo, a simbolização, a cultura, a apreciação artística, a poesia, a filosofia e o sentimento religioso (Winnicott, 1967, 1971/1975).

Esse é o lugar onde o indivíduo experimenta o viver criativo. A mãe-ambiente e os objetos subjetivamente concebidos cedem lugar progressivamente à mãe-objeto (M/Other) e aos objetos objetivamente percebidos. Nesse trajeto, nesse ir-e-vir, estão criativamente inseridos os objetos e fenômenos transicionais. Winnicott, em seu texto O uso do objeto(1968) descreve este processo.

Esse espaço potencial tem uma característica especial: para existir, ele depende das “experiências do viver” e não de tendências herdadas. Assim, a extensão dessa área, que faz parte da organização do ego, pode ser maior ou menor, “de acordo com a soma de experiências concretas” (Winnicott, 1967), que não se relacionam com as experiências pulsionais, mas, sim, com as experiências do ego. Essas experiências, acumulando-se ao logo do tempo, conduzem a um sentimento de confiança, condição indispensável ao viver criativo e à aceitação da realidade.

Podemos agora, feita esta compilação de vários autores com os quais possivelmente Winnicott teve contato pessoal e teórico, cotejar o objeto transicional e o objeto fetiche. E, assim, compreender em suas raízes este conceito que é hoje aceito pelas mais diversas correntes psicanalíticas, o objeto transicional.

 

Objeto transicional

Objeto fetiche

Ligado ao desenvolvimento e ao processo maturacional

Ligado à patologia

Primeiras etapas do desenvolvimento

Etapas posteriores do desenvolvimento

Voltado para a integração

A parte substitui o todo

Predomina a ansiedade de separação

Predomina a ansiedade de castração

Acalma, consola

Excita e busca a descarga

Objetos geralmente macios, e o que importa é o seu uso

Objetos consistentes (couro, por exemplo)

Tem como destino ser progressivamente desinvestido e ser “relegado ao limbo”

Tem permanência e constância

Está ligado ao surgimento das primeiras experiências não-eu e aos símbolos

Concreto, “coisa em si”

 

2.2. Sobre o paradoxo

O pensamento paradoxal e o nonsense são extremamente importantes para o pensamento teórico e clínico de Winnicott, constituindo-se os objetos e os fenômenos transicionais– o que importa é o uso do objeto e não o objeto em si– no núcleo do paradoxo central proposto pelo autor (Roussilon, 2006). Os paradoxos, tanto os dos processos maturacionais– a transicionalidade e a capacidade de estar só– como as defesas paradoxais, são parte constituinte do pensamento de Winnicott (Roussilon, 1992/1991).

Tentemos clarear um pouco mais os conceitos. Os paradoxos dos processos maturacionais, ou paradoxos lógicos, pertencem à área da transicionalidade; são formações intermediárias entre a realidade externa e a realidade interna e permitem o acesso a esta última. As defesas paradoxais, por seu lado, se constituem como defesa contra a realidade externa, buscam proteger o verdadeiro selfda ameaça de aniquilamento (por falha ambiental, impingementetc) que ameaça a continuidade do self. Winnicott escreverá em 1971:

É hoje geralmente reconhecido, acredito que aquilo a que me refiro nesta parte do trabalho não seja o pano nem o ursinho que o bebê usa; não tanto o objeto como o uso do objeto. Chamo a atenção para o paradoxo envolvido no uso que o bebê dá àquilo que chamei de objeto transicional. Minha contribuição é solicitar que o paradoxo seja aceito, tolerado e respeitado, e que não seja resolvido. Pela fuga para o funcionamento em nível puramente intelectual é possível solucioná-lo, mas o preço disso é a perda do valor do próprio paradoxo. Esse paradoxo, uma vez aceito e tolerado, possui valor para todo indivíduo humano que não esteja apenas vivo e a viver neste mundo, mas que também seja capaz de ser infinitamente enriquecido pela exploração do vínculo cultural com o passado e o futuro (Winnicott, 1971/1975).

A característica fundamental e fundadora da transicionalidade é a aceitação e o respeito pelo paradoxo. As experiências iniciadas pelo objeto e pelos fenômenos transicionais possibilitam algo que permanecerá para sempre importante, um campo neutro de experiência, um campo que não será contextualizado, um lugar neutro para brincar e experienciar o viver criativo.

A experiência na área da transicionalidade, um lugar psíquico de intercâmbio entre o dentro e o fora, possibilita o sentimento de que a vida vale a pena de ser vivida e inaugura o uso do objeto, a capacidade de modificar o que é “dado”, de destruí-lo em fantasia e assim re-criá-lo, transformando-o em criação própria. Mais que isso, a sobrevivência do objeto faz com que ele adquira autonomia. Agora, sim, é possível aceitar sua existência.

Acreditamos que uma contribuição fundamental de Winnicott para o pensamento psicanalítico, advinda dessa teoria, tenha sido descrever esse “lugar nenhum”, esse espaço utópico no qual um objeto se mantém graças à ilusão (não se trata de alucinação, pois o objeto está realmente presente). Um lugar potencial, lugar onde ocorre a experiência analítica, onde cada um dos protagonistas será, ao mesmo tempo, criado e encontrado pelo outro.

Encontraremos em Freud referências a esse modelo de pensamento. Um dos muitos autores que podem nos auxiliar nessa vinculação entre o pensamento freudiano e o de Winnicott quanto ao paradoxo é Janine Chasseguet-Smirgel (1985), que apresentou um elucidativo trabalho por ocasião do 25º aniversário do Instituto Sigmund Freud (Frankfurt), em dezembro de 1985, intitulado “O paradoxo do método freudiano”; ali, ao abordar as origens do que denomina “as forças subterrâneas e soturnas na cultura alemã e o empreendimento freudiano”, ela oferece vários elementos para refletirmos sobre essa questão.

Muitos são os textos de Freud que nos apontam as origens do pensamento winni­cottiano, como referimos em trabalho já citado (Outeiral & Celeri, 2002). No texto “Escritores criativos e devaneios”, publicado pela primeira vez em 1908, o criador da psicanálise trata de questões em que se relacionam o brincar, a fantasia e a criatividade. Ele escreve:

Sabemos que muitas obras imaginativas guardam boa distância do modelo do devaneio ingênuo, mas não posso deixar de sUSPeitar que até mesmo os exemplos mais afastados daquele modelo podem estar ligados ao mesmo, através de uma seqüência ininterrupta de casos transicionais (Freud, 1908).

Sabendo que um dos livros mais importantes de Winnicott é, exatamente, O brincar e a realidade(1971/1975), somos levados a crer na possibilidade de ele ter tomado muitas de suas idéias sobre o brincar e a realidade desse texto freudiano.

A leitura atenta dos textos de Winnicott nos revelará, com toda a certeza, um autor extremamente criativo, que sem dúvida contribuiu para inúmeros desenvolvimentos clínicos e teóricos da psicanálise. A nosso ver, entretanto, a criatividade e o desenvolvimento por ele trazidos não representam uma ruptura epistemológica ou dos paradigmas fundamentais da contribuição freudiana.

 

3. Comentários finais

Ao leitor que tenha nos acompanhado, gostaríamos apenas de relembrar dois fatos ao finalizar este artigo: que Winnicott sempre reafirmou sua orientação freudiana e que, ao escrever que “ninguém é original a não ser baseado na tradição”, parece-nos ter esclarecido a pergunta: “Será o pensamento de Winnicott um novo paradigma em psicanálise?”

O “uso” da obra de Winnicott deve ser feito no sentido que ele próprio dá à palavra “uso”, ou seja, tomando-a não como uma obra subjetivamente concebida. Quando alguém toma os “rabiscos” de Winnicott, feitos à moda de um squiggle game,e em seguida produz outros rabiscos, devemos compreender e reconhecer que temos uma “nova obra”, mas uma “nova obra” criada em uma tradição.

Winnicott fez um “jogo” com a obra de Freud e de diversos outros autores psicanalíticos. Seguiu vários elementos básicos propostos por eles, desenvolveu outros e contestou alguns, como o instinto de morte. É preciso lembrar que, quase ao final da vida, ele leu no Clube 52, em janeiro de 1967, o texto “d. w. w. por d. w. w.”, quando disse: “Assim que descobri Freud e o método que ele nos deu para investigação e tratamento, estive de acordo com ele […]. Se houver algo que eu faça de não freudiano, gostaria de sabê-lo”.

Nossa opinião, nesse sentido, é que Winnicott, no fundamental, promove desenvolvimentos no pensamento psicanalítico e não uma ruptura epistemológica com os elementos essenciais que definem o conceito e a estrutura da psicanálise. Estamos abertos, entretanto, ao debate, e é esse o nosso objetivo com esta contribuição, que reflete nossa experiência clínica e teórica com o pensamento de Winnicott e de outros autores, especialmente Freud.

Queremos registrar, contudo, que a idéia de desvincular o pensamento de Winnicott da tradição freudiana e dos paradigmas básicos da psicanálise poderá sugerir, na verdade, entre vários outros aspectos, uma resistência à psicanálise, mais do que o reconhecimento de uma especial originalidade no pensamento de Winnicott– evento bastante conhecido dos psicanalistas desde o final do século xix. Na verdade, não nos interessa uma discussão “filosófica” sobre a questão. Todos conhecemos uma frase de O brincar e a realidadeem que Winnicott nos adverte sobre ter cuidado com os “filósofos de poltrona”, isto é, com aqueles que nunca sentaram no chão com seus pacientes crianças. Para nós a clínica é soberana, e é a clínica e a experiência que podem conduzir a teorização.

Para concluir, e buscando não sobrecarregar o leitor, queremos citar o final do importante trabalho de Winnicott publicado em 1954, Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão no settinganalítico, no qual ele apresenta suas “modificações técnicas”.

Ao se recuperar da regressão, o paciente com o eu agora entregue aos cuidados do ego de um modo mais completo, precisará de análise standard, conforme a que se destina a lidar com a posição depressiva e o complexo de Édipo nos relacionamentos interpessoais. Por essa razão, senão por nenhuma outra, o futuro analista em formação deve tornar-se competente na análise de pacientes não psicóticos cuidadosamente selecionados antes de passar a se familiarizar com a regressão. Um trabalho preliminar deve ser realizado através do estudo do settingda análise standard. (Winnicott, 1954).

 

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Endereço para correspondência
Eloisa Helena Rubello Valler Celeri
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
Rua Tiradentes, 446/32– Vila Itapura
13023-160– Campinas SP – Brasil
Tel.: 55 19 3232-5799
E-mail: evaller@fcm.unicamp.br

José Outeiral
Sociedade Psicanalítica de Pelotas SPP; Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ
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90510-000– Porto Alegre RS - Brasil
Tel.: 55 51 3222-4906
E-mail: joseouteiral@hotmail.com

Julio de Mello Filho
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ
Av. Portugal, 986/40– Urca
22441-090– Rio de Janeiro RJ - Brasil
Tel.: 021 2511-2434
E-mail: juliodemellofilho@terra.com.br

Raquel Z. de Goldstein
Membro titular e didata da Asociacion Psicoanalitica Argentina
[Buenos Aires] APA]
E-mail: raquelzdeg@fibertel.com.ar
www.rzdeg.com

Recebido em 25.2.2008
Aceito em 24.3.2008

 

 

1 Professora doutora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP.
2 Membro titular e didata da Sociedade Psicanalítica de Pelotas SPP; membro convidado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ.
3 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro SBPRJ.
4 Membro titular e didata da Asociación Psicoanalítica Argentina [Buenos Aires] APA.

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