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Revista Brasileira de Psicanálise
versão impressa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.46 no.3 São Paulo jul./set. 2012
LANÇAMENTOS
Psicanálise, trauma e neurobiologia
Sebastião Abrão Salim
Belo Horizonte: Artesã, 2012, 232p.
O autor expõe, nesta obra, desenvolvimentos sobre a psicopatologia autista, a partir de seus conceitos: Retraimento Autista e Síndrome de Desconexão. Tais conceitos foram elaborados em mais de uma década de estudos interdisciplinares entre Psicanálise, Neurobiologia, Psiquiatria e Psicologia Experimental. Retraimento Autista está ligado ao trauma sentido como ameaça de morte, desde o período fetal até a senilidade, tratando-se de defesa biológica, inata e reflexa, em busca de manter a vida por meio de retorno ao estado homeostático inicial, acompanhado de um recurso de autoapaziguamento da angústia de morte presente, mediante experiências sensoriais. A fixação a esse retraimento autista precoce criaria a condição necessária para o desenvolvimento da psicopatologia autista. Frente a um novo trauma com a mesma ameaça de morte, haveria uma retomada dessa defesa, como se o sujeito soubesse o caminho de volta à sobrevivência. Síndrome de Desconexão seria a denominação dada ao quadro resultante da associação do retraimento autista a sintomas oriundos de uma desconexão parcial do sistema nervoso autônomo com o sistema nervoso central, o qual deixaria o sujeito "ausente de si mesmo" devido à incapacidade de usar suas aquisições cognitivas. Esse quadro configuraria a "clínica do vazio" ou do "desvalimento". Professando a preservação do setting e do holding para a retomada dos processos de maturação, levando em conta a pessoa real do analista, o trabalho analítico estaria centrado na atividade interpretativa da contratransferência, via mestra para a compreensão desse universo autista, sem palavras e sem símbolos.
La fe en el Nombre
Una lectura psicoanalítica de las creencias
José E. Milmaniene
Buenos Aires: Editorial Biblos, 2012, 113p.
Este livro propõe uma original articulação do corpus psicanalítico com o discurso bíblico, o pensamento filosófico e o fazer poético. Trata-se de uma reflexão psicanalítica sobre a dimensão sublimatória da linguagem, sobre o horizonte de um "Deus sem nome" que possibilita os nomes. Trata-se, portanto, de uma palavra desconhecida e impronunciável que, sem significar nada, significa a significação mesma, e que se pressupõe a si mesma, como o Nome que alude à preexistência da linguagem como origem. Esta pura voz do "Nome sem Nome", da qual dá testemunho o texto bíblico, expressa que "a linguagem é", e todo desejo de sua revelação aponta para desvelar o mistério da certeza de sua existência como essência do Ser, fundamento de toda fé. Para o autor, ser psicanalista é crer no "acontecimento da linguagem", é ter fé em sua potência e entregar-se à voz do "Outro da Lei (Deus-dizer)", que nos obriga ao abandono do gozo sem "otredad", para poder nos inscrever assim na ética da sublimação. A análise permitiria alcançar o momento desejado, no qual a fé se realiza na experiência intransferível do "evento da linguagem", pela qual o vivente se converte em sujeito das palavras, que chegam a se tornar nomes. Para o autor, só a fé na linguagem e na recuperação dos significantes reprimidos e/ou recusados da história libidinal permite pôr em jogo a dimensão sublimatória inerente à cura.
Versões de Freud
Breve panorama crítico das traduções de sua obra
Pedro Heliodoro Tavares
Rio de Janeiro: 7Letras, 2011, 146p.
Livro dos mais significativos para os estudiosos da obra de Freud, este trabalho vem ao encontro dos antigos questionamentos a respeito do que o leitor encontra, na língua portuguesa, quando tem interesse no aprofundamento de seus conhecimentos sobre os escritos freudianos. Até recentemente contávamos apenas com versões indiretas sobre os trabalhos de Freud, as quais sofreram duras críticas nas últimas décadas. A partir de 2009, entrando a obra de Freud para o domínio público, surgiram algumas traduções, três especialmente, feitas diretamente do texto alemão para o português. Haveria alguma melhor, mais precisa, que reproduzisse a forma elegante e clara do estilo de Freud, que superasse ou ao menos enfrentasse as divergências de leituras presentes entre os estudiosos do assunto? Como cotejar essas traduções com aquelas de que nos servíamos e que haviam sido feitas para o inglês, francês, espanhol, italiano e assim por diante? Embora o autor não busque fazer classificação valorativa, parte das mais influentes traduções feitas a outras línguas, passando pelas atuais traduções ao português feitas por Luiz Alberto Hanns, Paulo César de Souza e Renato Zwick, para demonstrar se esta ou aquela versão pode ser considerada a mais adequada para um determinado leitor. Tal análise foi desenvolvida por meio da investigação de estilo e da terminologia de cada versão, da formação e influências dos tradutores, assim como das declaradas decisões por eles tomadas.
Entre elos perdidos
David Léo Levisky
Rio de Janeiro: Imago, 2011, 380p.
Este livro, do destacado psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, compõe-se de um romance histórico, que aborda questões atuais ligadas à busca de identidade, a ambivalências amorosas e valores. A forma literária desta obra não descarta, muito ao contrário, as formulações de natureza psicológica e psicanalítica presentes na expressão fortemente humana de seus protagonistas. Os personagens são marcados por conflitos existenciais e psicológicos, tratados de maneira profunda e instigante. A trama narrativa que expõe a natureza dos protagonistas desta ficção coloca em primeiro plano as relações entretecidas por eles durante seus percursos e percalços, que se questionam a respeito de possíveis resquícios de seus elos perdidos no passado histórico. Pergunta-se pela origem inconsciente das emoções suscitadas pelos enlaces dos personagens do romance; busca-se a verdade interior de cada sujeito quando o inesperado acontece.
Limites de Eros
Eliane Michelini Marraccini,
Maria Helena Fernandes,
Marta Rezende Cardoso e
Silvana Rabello (orgs.)
São Paulo: Primavera Editorial, 2012, 219p.
Apresenta-se neste livro uma coletânea de trabalhos que se dirige a distintas situações clínicas, nas quais encontra-se a questão central dos limites do trabalho psíquico, o trabalho de Eros. Verifica-se que os artigos componentes do livro contemplam, de modo integrado, elementos teóricos e clínicos vinculados a vivências, de natureza subjetiva, que apresentam dificuldades no que diz respeito à possibilidade do uso da capacidade de ligação e de representação. Tal problemática é tratada não apenas pelo viés da dinâmica pulsional, como também pela dinâmica das relações objetais, e especialmente a partir do campo da relação transferencial. O leitor poderá verificar que são estudados diferentes fenômenos que nos questionam sobre os limites de Eros, incluindo os desafios que são colocados à clínica psicanalítica, tendo como referência a peculiaridade de seu manejo. A interrogação sobre os limites do trabalho psíquico nas configurações subjetivas que caracterizam o mundo contemporâneo é certamente objeto de análise em muitos dos textos oferecidos neste livro.
Novos tempos, velhas recomendações
Sobre a função analítica (1912-2012)
Freud - 100 anos depois
Ignácio Alves Paim Filho
Lisia Coelho Leite
Porto Alegre: Sulina, 2012, 152p.
Esta bem-vinda obra de psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre revisita com grande vigor e espírito criativo a obra de Freud, não como meros compiladores dos conceitos freudianos, ordenando-os sob outra forma, mas com liberdade de pensamento para apresentar suas ideias, ou mesmo novos conceitos, a partir do legado freudiano. Inquietos com as patologias do tempo presente, mergulham no texto freudiano para obterem novos instrumentos para trabalharem no século XXI, fazendo com que se revitalizem nossas ferramentas terapêuticas para os "avatares das desmedidas narcísicas da sociedade de consumo". Partindo de um reestudo do recalque, questiona-se o lugar de importância do "desejo do analista", a neutralidade analítica, a "escuta analítica", o espaço que a transferência ocupa na clínica atual, o sentido contemporâneo de contratransferência e finalmente encontra-se o estudo exploratório sobre a dinâmica, o jogo entre a interpretação e a construção na clínica de cada dia. Obra bastante original, oferece uma ampla visão sobre a elaboração teórica-técnica-clínica de Freud, que é colocada à disposição das novas gerações de analistas. Vale, de muito, a leitura desse texto conciso, que não faz concessão a facilitações, ao contrário, com fidelidade a Freud, criam-se novas possibilidades conceituais à nossa prática clínica atual.