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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.47 no.4 São Paulo out./dez. 2013

 

LANÇAMENTOS

 

Lançamentos

 

 

A imago somatossensitiva na fantasia somática

 

 

Maria Luiza Scrosoppi Persicano
São Paulo: Escuta, 2013, 240p.

Esta obra, fruto da tese de doutorado da autora, é daqueles raros casos em que um trabalho acadêmico alcança nível de excelência tal que se torna referência científica sobre seu tema, estabelecendo-se como fonte de pesquisa para especialistas, profissionais clínicos e estudiosos da psicanálise, além de se impor como leitura necessária para todos os que pretendam aprofundar o conhecimento teórico acerca dos determinantes clínicos envolvidos nos casos de pacientes de complexa abordagem - aqueles que apresentam em seus corpos campo privilegiado de expressão, manifestação e atuação. O livro compreende inicialmente uma revisão do conceito econômico de angústia somática, seguindo o referencial freudiano, mas ampliado pela ótica da teoria de Klein sobre a fantasia, buscando compor uma elaboração e uma problematização das ideias fundamentais envolvidas nesse assunto. Aprofunda-se na averiguação do lugar da angústia somática no pensamento de Melanie Klein a respeito do fantasiar. Apoiada em casos clínicos, a autora testa a eficácia e a definição do conceito de angústia somática no pensamento de Klein, e o implementa de modo compatível com a metapsicologia em sua teoria da fantasia, fazendo com que se objetive o estudo da fantasia inconsciente e o lugar que a angústia somática ocupa nesta. Duas hipóteses gerais são aventadas: seria possível que a angústia somática fosse uma angústia sem fantasia inconsciente? Seria possível a angústia somática dentro da teoria da fantasia inconsciente a ponto de isso significar que esta chegaria a ter um estatuto de somático? Tais hipóteses levaram a outra mais específica, acerca da possibilidade de um fantasiar somático que permitiu a sustentação metapsicológica de que a fantasia primária kleiniana é um estado de angústia somática, vivido em imagens sensoriais arcaicas, ou seja, uma fantasia primária somática. Introduzindo a expressão imagos somatossensitivas, a autora se refere a aquelas imagens sensoriais arcaicas, ligando-as à manifestação de angústia somática. Formula a noção de fantasia somática a partir das imagos somatossensitivas, compondo-as na metapsicologia da fantasia inconsciente, e estabelece os níveis de fantasiar, o lugar das fantasias somáticas, assim como o das imagos somatossensitivas e da angústia somática.

 

Do que fala o corpo do bebê

 

 

Isabel Kahn Marin
Regina Orth de Aragão (Orgs.)
São Paulo: Escuta, 2013, 300p.

Este livro, composto de vinte artigos escritos por diferentes autores, de característica multi e interdisciplinar, se propõe a apresentar alguns dos trabalhos discutidos no I Encontro Internacional/VIII Encontro Nacional sobre o Bebê, organizado pela Associação Brasileira de Estudos sobre o Bebê abebe, que ocorreu em São Paulo, em 2010. Seu conteúdo reflete expressivamente a força, a diversidade e a pluralidade presentes nas formas de intervenção, tanto na dimensão clínica quanto na educação e na prevenção, promovendo aprofundamento e convergência de várias atividades profissionais voltadas para as questões do bebê. Trata-se não apenas de se remontar aos primórdios da vida psíquica, mas também de se interpelar por uma interpretação, atenta e sensível, dos sutis processos "narrativos" suscitados e necessitados pelo bebê. Procura-se criar diálogo entre distintos pensamentos que sustentam as atividades práticas contemporâneas dos cuidados dispensados à primeira infância, que reconhecidamente destacam o "falar" do bebê por meio de seu corpo. Transpondo-se a divisão cartesiana de corpo e mente, prioriza-se a dimensão relacional da constituição subjetiva do bebê, pensando sua dimensão física como um corpo psíquico desde o início da vida - corpo este que é entendido como espaço de narratividade e de trocas significativas entre o bebê e seu ambiente, bem como palco das vicissitudes de seu percurso intersubjetivo. Compreende-se narratividade aqui como construção conjunta que se inicia da sensorialidade, dos afetos de vitalidade e da comunicação não verbal estabelecida entre o bebê e aqueles que viabilizam sua vida. Esta visão de narratividade colabora para que se sustente a dimensão simbólica do corpo do bebê e a defesa de uma ética dos cuidados necessários a ele dispensados com a função de priorizar a noção paradoxal de reciprocidade assimétrica, marcando o lugar ativo do bebê nas interações com seu mundo afetivo e o reconhecimento de sua dependência para com os adultos que nele investem afetivamente, que interpretam e dão sentido àquilo que vem de seu corpo.

 

O psicanalista na comunidade

 

 

Jassanan Amoroso Dias Pastore
Sylvia Salles Godoy de Souza Soares (Orgs.)
São Paulo: Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, 2012, 382p.

Esta obra - produto de trabalho de grande envergadura, por reunir tantos e tão bons artigos que tratam da relação da atividade psicanalítica com o mundo em que esta se insere - põe em relevo um aspecto fundamental para a psicanálise, que resgata o que o pensamento de Freud tem de mais amplo e significativo, a saber, sua função operadora do ponto de vista político e cultural. Nesse sentido, destacando a possibilidade de o trabalho analítico também estar localizado fora de seu espaço tradicional, indo além do consultório particular e do divã, os vários autores presentes neste livro revisitam o percurso aberto por Melanie Farkas e, com isso, direta ou indiretamente, a ela prestam homenagem. Farkas, pioneira em utilizar a psicanálise como instrumento de resgate da cidadania - alinhada a Freud em seus artigos de cunho social, histórico, antropológico, filosófico e cultural -, dimensão nunca ausente do pensamento freudiano, vem desde a década de 1970 trabalhando de forma a ampliar o alcance da psicanálise, denotando com isso que a herança freudiana é muito maior do que se costuma imaginar. Na medida em que cidadania e subjetividade são ideias inseparáveis, sabendo-se que não há espaço social sem sujeitos, assim como não há sujeitos sem sociedade, foi justamente nas frestas, nas rupturas deste espaço social, que surgiram os trabalhos aqui reunidos para reflexão do leitor. A maioria deles é de membros da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, ponto de partida da psicanálise no Brasil, que se originou da mescla do pensamento médico com o pensamento sociopolítico, especialmente personalizado nas figuras de Durval Marcondes, Virgínia Bicudo, Lygia Alcântara do Amaral, entre outros. Esse espírito de origem é recuperado neste livro, destinado a desmistificar a caricatura do psicanalista restrito a seu formato ortodoxo. A proposição de pensar e dialogar com o sujeito cidadão faz justiça a uma sociedade de psicanalistas - este é o testemunho apresentado neste livro, em que se resgatam o cidadão, o psicanalista e a psicanálise.

 

Penser la psychanalyse avec Bion, Lacan, Winnicott, Laplanche, Aulagnier, Anzieu, Rosolato

 

 

André Green
Paris: Les Editions d'Ithaque, 2013, 178p.

A leitura de seus contemporâneos constitui, sem dúvida alguma, um dos motores do pensamento de André Green. Nesse sentido, Penser la psychanalyse apresenta a constelação de autores com os quais ele esteve em constante diálogo. Composto de estudos exegéticos em torno de certos trabalhos contemporâneos decisivos, esta coletânea, preparada por Green em 2011, põe igualmente em evidência o contexto intelectual fértil que acolhe seu próprio pensamento. O exame da obra de Bion, sob o ângulo do psiquismo em seus primordios, conduz a uma reflexão sobre o trabalho do negativo. A comparação dos escritos de Lacan e Winnicott sublinha uma evolução distinta; faz com que apareçam as fontes teóricas extrapsicanalíticas do primeiro e aquelas oriundas da clínica dos limites no segundo. Uma notável pesquisa sobre o último período do trabalho de Winnicott coloca a noção do ser à prova dos conceitos-chave de criatividade, destrutividade e sexualidade. Talvez aí esteja, dentre os textos consagrados a um autor, aquele que mais se destaca, porque muito inspirado, em toda a obra de Green. Marcando seu momento histórico, esse volume termina com uma discussão das teorias de Lévi-Strauss e de sua influência sobre Lacan. Quer se trate do sexual de Laplanche, do originário em Aulagnier, do pensar em Anzieu ou da relação do desconhecido em Rosolato, cada uma dessas ideias, lidas e comentadas por Green, nos conduz ao coração da clínica contemporânea.

 

Rêver, transformer, somatiser

 

 

Jacques Press (Dir.)
Collection Perspectives Psychosomatiques
Genebra: Georg Éditeur, 2013, 210p.

Perspectives Psychosomatiques é uma nova coleção da Association Genevoise de Pychosomatique, que dá continuidade à sua publicação anual, a revista Actualités psychosomatique. Sob a direção de Jacques Press, esta coleção se propõe a tratar os temas de modo exaustivo. Assim, este primeiro volume articula as teorias oriundas do pensamento de diversos autores pós-freudianos e pós-kleinianos - tendo como carro-chefe os conceitos de rêverie e de transformação desenvolvidos por W. R. Bion - em torno do paradigma de uma relação inversa entre a qualidade da mentalização e o risco da somatização, colocada em evidência pela Ecole Psychosomatique de Paris. Os estudiosos da Ecole puseram em primeiro plano esta relação inversa entre o risco de somatização e a qualidade do funcionamento mental - qualidade cujo indicador mais acurado, para eles, é o funcionamento do pré-consciente. Deste modo, encontramos, abrindo o volume, o artigo de Pierre Marty, "Mentalisation et psychosomatique". Os estudiosos da psicossomática da segunda geração aprofundaram esta reflexão, seja a partir dos desenvolvimentos freudianos, a partir de 1920, seja por conta de seus interesses nos aportes trazidos por Sándor Ferenczi e por D. W. Winnicott. Na segunda parte deste volume, "Reverie et somatisation", podemos encontrar os artigos de Jacques Press, "Capacité de rêverie et fonction maternelle"; de Antonino Ferro, "Psychosomatique ou métaphore: problèmes de la limite"; de Claire Rojas, "Commentaires autour de l'article d'Antonino Ferro"; de François Ansermet, "L'au-delà du principe de plaisir, entre corps et psyché"; de Iréne Nigolian, "Discussion autour de l'article de François Ansermet"; de Luc Magnenat, "Sein psychosomatique et sein soma-psychotique: une perspective psychosomatique bionienne". As "Transformations en psychosomatique" constituem a terceira parte deste número. É de Bion o mérito de ter colocado em destaque a importância da noção de transformação em psicanálise. Esta noção se inscreve no complexo sistema que ele desenvolve no curso de sua obra e já está implícita nas ideias de capacidade negativa e de função alfa da mãe. Deste modo, nesta terceira parte do volume, encontramos os artigos de Sara Botella, "À propos des processus transformationnels dans la théorie freudienne"; de Bérangére de Senarclens, "Discussion autour de l'article de Sara Botella"; de Jorge Canestri, "Corps, mouvement et 'Hausmusik'"; de Patricia Vadi Lathion, "Commentaires sur l'article de Jorge Canestri"; de Jacques Press, "Régression et transformation"; e de Giuseppe Scariati, "Le modèle psychosomatique implicite de Bion: commentaires sur l'article de Jacques Press".

 

Verbal and visual approaches to reality

 

 

Paulo Cesar Sandler
A clinical application of Bion's concepts, Volume 3
London: Karnac, 2013, 291p.

O destaque prestigioso de Paulo Cesar Sandler como psicanalista e autor de renomados livros sobre psicanálise encontra novo reforço em lançamento feito recentemente no Brasil: o terceiro volume da série A clinical application of Bion's concepts, intitulado Verbal and visual approachs to reality. Lembrando que em 2009 surgira Dreaming, transformation, containment and change (volume 1 da série) e, em 2011, Analytic function and the function of the analyst (o volume 2), este terceiro volume vem apresentar de modo conclusivo as contribuições do autor a respeito das aplicações clínicas dos conceitos de Bion. Deve-se recordar que, ainda em 2005, o autor havia nos presenteado com seu fundamental The language of Bion: a dictionary of concepts - formando um conjunto de obras sobre a teoria de Bion e a clínica psicanalítica com sua orientação, mostrando grau de relevância raramente encontrado na bibliografia psicanalítica. Este volume apresenta correlações que vinculam importantes aspectos da teoria de Bion com uma minuciosa seleção de experiências clínicas pessoais vivenciadas em quatro décadas de prática psicanalítica. O leitor pode se aproximar das teorias de observação legadas por Bion nos anos de 1960, que são ainda razoavelmente desconhecidas por um número significativo de psicanalistas. O autor propõe modelos e ferramentas de regulação que foram emprestados do conhecimento matemático e da física, os quais contribuem bastante para a compreensão de diferentes fenômenos clínicos. Neste volume, dividido em quatro partes ("The multi-dimension grid", "Free associations and free-floating attention", "Epistemology and truth" e "Groups"), percebe-se que todo o pensamento do autor se fundamenta em um importante trabalho metapsicológico que exige condições mentais receptivas, dotadas de disciplina e coragem, daqueles que aceitem a aventura de explorar o Não Conhecido em suas práticas clínicas. Apontando para a existência de condições reais que permitem o diálogo e a investigação clínica pelo par analítico, surge o questionamento de se a atenção livremente flutuante, exigida ao analista, deve ser considerada como um fator pessoal. Apesar de sua óbvia intenção prática, várias surpresas agradáveis, por esclarecerem elaborações teóricas de grande complexidade, são oferecidas ao leitor, que poderá se deparar com a preocupação pela vida e com a consideração pela verdade que caracterizam verdadeiramente a psicanálise.

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