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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.54 no.2 São Paulo abr,/./jun. 2020

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Ferenczi e Freud para além do princípio do prazer: a construção das hipóteses, o debate e algumas derivações clínicas

 

Ferenczi and Freud beyond the pleasure principle: the construction of hypotheses, the debate and some clinical derivations

 

Ferenczi y Freud más allá del principio del placer: la construcción de hipótesis, el debate y algunas derivaciones clínicas

 

Ferenczi et Freud au-delà du principe du plaisir : la construction des hypothèses, le débat et quelques dérivations cliniques

 

 

Gustavo Dean-GomesI; Daniel KupermannII

IPsicanalista. Mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutorando em psicologia clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Professor do Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo. Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi
IIPsicanalista. Professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Presidente do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi. Bolsista do CNPq-Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo pretendemos demonstrar, a partir da análise da obra de Sándor Ferenczi e de sua correspondência com Freud, como certas ideias propostas em Além do princípio do prazer prolongaram, por um lado, hipóteses antecipadas pelo psicanalista húngaro e, por outro, lhe forneceram importantes subsídios para seus derradeiros avanços clínicos.

Palavras-chave: Ferenczi, Freud, pulsão de morte, clínica psicanalítica, Além do princípio do prazer


ABSTRACT

In this article we intend to demonstrate, from the analysis of Sándor Ferenczi's work and his correspondence with Freud, as certain ideas proposed in "Beyond the pleasure principle" on the one hand, prolong hypotheses that were anticipated by the Hungarian psychoanalyst and, on the other hand, they provided him with important subsidies for his ultimate clinical advances.

Keywords: Ferenczi, Freud, death drive, psychoanalytic clinic, "Beyond the Pleasure Principle"


RESUMEN

En este artículo pretendemos demostrar, a partir del análisis del trabajo de Sándor Ferenczi, su trabajo y su correspondencia con Freud, cómo ciertas ideas propuestas en "Más allá del principio del placer", por un lado, prolongan las hipótesis anticipadas por el psicoanalista húngaro. Y, por otro lado, le proporcionaron importantes subsidios para sus propuestas clínicas finales.

Palabras claves: Ferenczi, Freud, impulso de muerte, clínica psicoanalítica, "Más allá del principio del placer"


RÉSUMÉ

Dans cet article, nous voulons démontrer, à partir de l'analyse du travail de Sándor Ferenczi et de sa correspondance avec Freud, comment certaines idées proposées dans « Au-delà du principe du plaisir » ont prolongé, d'une part, les hypothèses anticipées par le psychanalyste hongrois et, d'autre part, elles lui ont fourni des subsides importants pour ses avancements cliniques ultimes.

Mots-clés : Ferenczi, Freud, pulsion de mort, clinique psychanalytique, « Au-delà du principe du plaisir »


 

 

Introdução

De forma oportuna a Revista Brasileira de Psicanálise nos convida a refletir sobre o agora secular Além do princípio do prazer, um dos trabalhos mais controversos e, em nossa opinião, instigantes de Sigmund Freud.

Neste artigo pretendemos fazê-lo em companhia de Sándor Ferenczi, um dos mais próximos discípulos de Freud, a fim de demonstrar, a partir da análise de sua obra e da correspondência que empreendeu com o pai da psicanálise, como certas especulações sustentadas no texto centenário, por um lado, prolongaram hipóteses antecipadas pelo psicanalista húngaro e, por outro, lhe forneceram importantes subsídios para seus derradeiros avanços clínicos, elaborados especialmente no final dos anos 1920 e no início da década de 1930. Nesse percurso poderemos vislumbrar como a colaboração constante por eles mantida potencializou a criatividade de ambos, além de conhecermos elementos valiosos para a compreensão da prática psicanalítica de inspiração ferencziana.

 

Apresentando brevemente Além do princípio do prazer

Segundo seus biógrafos, uma série de fatores observados no contexto da época teriam conduzido Freud à elaboração de Além do princípio do prazer: fatores sociais, como a experiência da Primeira Guerra Mundial; fatores pessoais, como o receio da morte - sua e de familiares (dois de seus filhos combateram na guerra e, entre os primeiros esboços e a publicação do escrito, sua filha Sophie veio a falecer de gripe espanhola); observações sobre a psicopatologia, especialmente as neuroses traumáticas; e por fim fenômenos clínicos, como as resistências, as regressões e a compulsão à repetição, convocavam-no, de um lado, a questionar elementos de sua teoria prévia - o psiquismo regido pelo princípio do prazer - e, de outro, a refletir sobre os problemas da agressividade e da morte (Gay, 1988/2012; Jones, 1953-1957/1988; Roudinesco, 2016).

Tais elementos conduziram Freud a lançar a hipótese de um conflito de natureza bastante primitiva dominando o psiquismo humano, aquele que se daria entre a pulsão de vida e a de morte. Essa última teria um importante fundamento biológico, ligado à ideia de que todo ser animado tenderia ao retorno a sua condição inorgânica.

Esse é, possivelmente, o argumento principal de Além do princípio do prazer, mas não é suficiente resumi-lo a tal ideia. No texto Freud aborda o problema da repetição a partir das neuroses de guerra e do brincar infantil, aprofunda os aspectos clínicos da repetição, trazendo breves apontamentos acerca de seus reflexos na prática clínica, explicita as origens biológicas e articula elementos de uma metapsicologia que inclui a nova dualidade pulsional. Esse percurso de hipóteses situa tal escrito como o primeiro dos importantíssimos trabalhos de reavaliação das principais vigas de suporte da teoria psicanalítica que Freud iniciou na virada dos anos 1920, ao qual se seguiriam Psicologia das massas e análise do eu (1920), O eu e o id (1923) e, finalmente, Inibição, sintoma e angústia (1926).

Uma vez que nosso objetivo não é trabalhar o texto de Freud integralmente, mas articular um diálogo entre algumas de suas teses e o pensamento de Sándor Ferenczi, retomaremos seu conteúdo adiante, na medida em que avançarmos com o raciocínio ferencziano.

 

Breves apontamentos sobre o processo de elaboração de Além do princípio do prazer

"Terminei um artigo de 26 páginas sobre a gênese do masoquismo, que leva o título 'Uma criança está sendo espancada'. Um segundo com a misteriosa rubrica 'Além do princípio do prazer' está em processo" (Brabant et al., 1996, p. 335). Essa é a primeira notícia que Freud dá a Ferenczi sobre a elaboração do trabalho que renovaria seu modelo pulsional e consta na carta que partiu de Viena em 17 de março de 1919. A redação do texto, de fato, parece ter conferido ao pai da psicanálise um grande prazer, como atesta uma nova correspondência, enviada pouco mais de 10 dias depois ao húngaro, na qual afirma: "Estou me divertindo muito com uma obra, 'Além do princípio do prazer', que depois copiarei para ouvir sua opinião a respeito" (Brabant et al., 1996, p. 340). Em 28 de março de 1919, três dias depois dessa correspondência, Freud retoma o texto, antecipando, de certa maneira, o aspecto polêmico que ele teria no meio psicanalítico:

Ainda estou com uma agenda lotada, mas ao mesmo tempo estou escrevendo o ensaio 'Além do princípio do prazer' e, como em todos os casos, espero sua compreensão, que ainda não me abandonou em nenhuma situação. Nele, estou dizendo muitas coisas que não são claras, das quais o leitor deve tirar a coisa certa. Às vezes não se pode fazer o contrário. Mas espero que você encontre algo interessante nele. Infelizmente, não é a mesma coisa que uma troca de ideias cara a cara. (Brabant et al., 1996, p. 341)

Em que pese o pai da psicanálise referir-se a Além do princípio do prazer a diferentes membros do Comitê Secreto (é mencionado em cartas a Eitingon e Abraham) e apresentá-lo à Sociedade Psicanalítica de Viena em junho de 1919, o exame do epistolário serve-nos como indicativo de uma referência especial a Ferenczi, como inspiração e interlocutor privilegiado. Assim, em 12 de maio de 1919, informou ao colega do término do primeiro esboço e de seu envio para Budapeste (Brabant et al., 1996), encerrando a fase de elaboração do escrito naquele ano.

Não percebemos pela correspondência uma reciprocidade de ânimo vinda da Hungria. De fato, Ferenczi quase nada comenta em suas cartas da época sobre o escrito, o que talvez se deva às grandes preocupações que então lhe atormentavam, algumas relacionadas, inclusive, com o problema do luto e da morte. O colapso do Império Austro-Húngaro, após a Primeira Guerra, teve graves consequências para seu país, que perdeu uma parcela significativa do território. Em 20 de março de 1919, as negociações do Tratado de Trianon determinaram que a nação magiar deveria retirar-se das terras romenas que, até então, lhe pertenciam. Poucos dias depois, instalou-se a República Soviética Húngara, que nacionalizou alguns bens de propriedade da família de Ferenczi, deixando-o bastante apreensivo (Brabant et al., 1996). Além da política nacional instável, o adoecimento do amigo e mecenas da psicanálise Anton von Freund ocupa grande espaço no epistolário do período. Von Freund veio a óbito em janeiro de 1920 e seu desaparecimento, aliado à situação política, reduziu consideravelmente as esperanças de que Budapeste se tornasse o grande centro de desenvolvimento da matéria nos anos 1920.

Retornando a Freud, o criador da psicanálise parece ter deixado Além do princípio do prazer descansar por aproximadamente um ano até voltar a escrever para Ferenczi, dessa vez solicitando-lhe, a partir da leitura da introdução à psicanálise de Barbara Low, a referência de uma citação feita pela autora britânica de um texto do húngaro. Para insatisfação de Freud, o próprio Ferenczi não consegue identificar o excerto em questão - a despeito de reconhecer sua provável paternidade (Brabant et al., 2000).1

O fato de Freud não obter a fonte dessa citação, contudo, não o impede de referir-se a Ferenczi em Além do princípio do prazer. Ele o faz a partir de dois textos, "O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios", de 1913, e "A psicanálise das neuroses de guerra", publicado em 1919. Será pelo primeiro que iniciaremos nosso diálogo acerca do desenvolvimento das ideias ferenczianas na direção de alguns pressupostos sustentados por Freud no texto em tela, o que nos fará ingressar em um caminho que, acreditamos, demonstrará que certas hipóteses trabalhadas por Freud no texto ora celebrado resultam de um trajeto de reflexões mais longo que suas dezenas de páginas -e tem no colega húngaro um importante interlocutor.

 

Ferenczi e sua intuição de uma tendência intrauterina além da pulsão de vida

Foi em uma nota constante da quinta parte de Além do princípio do prazer que Freud fez referência ao texto de Ferenczi de 1913 indicado antes, mais precisamente a um apontamento do húngaro contido em uma anotação de rodapé. O vienense, ao fazer uma reavaliação de hipóteses centrais de seu argumento - como "um instinto seria um impulso, presente em todo organismo vivo, tendente à restauração de um estado anterior, que esse ser vivo teve de abandonar por influência de perturbadoras forças externas" ou "o objetivo de toda vida é a morte, ... o inanimado existia antes do vivente" (Freud, 1920/2010, pp. 202 e 204) -, ponderou:

Agora voltemos atrás nós mesmos, para perguntar se todas essas especulações têm fundamento. Realmente não existem, à parte os instintos sexuais, outros instintos senão os que querem restabelecer um estado anterior, nem outros que aspirem a um estado jamais atingido? Não sei, no mundo orgânico, de exemplo seguro que contradiga a caracterização aqui proposta. Certamente não se constata, no mundo das plantas e dos animais, um instinto universal rumo ao desenvolvimento mais elevado, embora permaneça indiscutível que há uma tal direção no desenvolvimento. Mas, por um lado, frequentemente não passa de avaliação nossa, quando afirmamos que um estágio de desenvolvimento é mais elevado que outro, e a ciência do ser vivente, por outro lado, mostra-nos que o desenvolvimento superior num ponto é, muitas vezes, obtido ou compensado pela regressão num outro. Também existem bastantes formas animais cujos estados juvenis nos fazem ver que o seu desenvolvimento assumiu, de fato, caráter regressivo. Tanto o desenvolvimento superior como a regressão poderiam ser consequências de forças externas que impelem à adaptação, e o papel dos instintos poderia limitar-se, em ambos os casos, a reter como fonte interna de prazer a mudança imposta. (Freud, 1920/2010, p. 208)

Ao final desse parágrafo, Freud lança a nota que faz referência a Ferenczi:

Por um outro caminho, Ferenczi chegou à possibilidade da mesma concepção: "Seguindo coerentemente este curso de pensamento, é preciso familiarizar-se com a ideia de uma tendência à perseverança ou à regressão que domina também a vida orgânica, enquanto a tendência ao maior desenvolvimento, à adaptação etc., é animada apenas por estímulos externos", (p. 209)2

A relevância da anotação de Ferenczi citada por Freud é tamanha que Figueiredo, em suas Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi, ponderou se Além do princípio do prazer não seria uma "desproporcionalmente longa nota de rodapé anexada à curta nota de rodapé de Ferenczi" (1999, p. 159). De fato, ela surge em um trabalho no qual o húngaro indica ideias arrojadas, das quais tiraria maiores consequências ao longo dos anos. Façamos mais uma referência ao texto ferencziano, desta vez ao parágrafo que antecede a nota citada por Freud, para situar o leitor em nosso ponto de partida, a teoria ferencziana da tendência intrauterina. Diz o autor:

O desenvolvimento do sentido de realidade apresenta-se em geral como uma série de sucessivos impulsos de recalcamento, aos quais o ser humano é forçado pela necessidade, pela frustração que exige a adaptação, e não por "tendências para a evolução" espontâneas. O primeiro grande recalcamento torna-se necessário pelo processo do nascimento, que, com toda a certeza, faz-se sem colaboração ativa, sem intenção por parte da criança. O feto preferiria muito permanecer ainda na quietude do corpo materno, mas é implacavelmente posto no mundo, deve esquecer (recalcar) seus modos de satisfação preferidos e adaptar-se a outros. O mesmo jogo cruel repete-se a cada novo estágio do desenvolvimento. (Ferenczi, 1913/2011c, p. 59)

Nesse trabalho de 1913 Ferenczi prosseguiu uma linha de pesquisa que lhe interessava há algum tempo, sobre o surgimento da consciência, do eu e do além-de-mim, com pontos de reflexão relevantes em trabalhos anteriores, especialmente "Transferência e introjeção" (1909/2011h). A partir do estudo de Freud sobre as neuroses obsessivas, Ferenczi concluiu pela existência de um estado psicológico inicial de "onipotência", equivalente ao sentimento de "ter tido o que se quer e de não ter mais nada a desejar" (1913/2011c, p. 48). Segundo Dean-Gomes, Ferenczi postula em 1913 que "a passagem desse estado para outro, de reconhecimento do mundo externo, caracterizaria o essencial do desenvolvimento do eu" (2019, p. 194), um movimento que se iniciaria no período intrauterino, quando, como aponta o próprio húngaro, para o nascituro "mal existe um 'mundo externo', todos os seus desejos de proteção, de calor e de alimento estão assegurados pela mãe" (1913/2011c, p. 48).

A hipótese de Ferenczi é de que o bebê, ao nascer, não abdicaria de pronto desse estágio de onipotência. A evolução nesse sentido - que teria como destino final a realidade (que, em nossa leitura da obra ferencziana, estaria próxima da alteridade) - seria paulatina, atravessando diferentes períodos de adaptação, acompanhada de uma tendência constante (um desejo, talvez pudéssemos dizer) de retorno à condição intrauterina inicial. Na verdade, segundo o autor, caberia ao ambiente agir para possibilitar essa passagem, tornando-a suave, respeitando e ampliando as capacidades psíquicas do recém-nascido. Citemo-lo neste apontamento tão inicial da importância dos cuidadores para o desenvolvimento psíquico. Partindo da situação uterina, Ferenczi diz:

As pessoas que cuidam da criança compreendem instantaneamente esse desejo e, assim que manifesta seu desprazer com choro e agitação, colocam-na em condições que se aproximam o mais possível da situação intrauterina. Põem-na no fundo do corpo tépido da mãe ou envolvem-na em cobertores e edredons quentes e macios, com o objetivo de dar a ilusão da cálida proteção materna. Protegem seus olhos dos estímulos luminosos, os ouvidos de ruídos, a fim de permitir-lhe continuar desfrutando da ausência de excitações próprias do estado fetal, ou então reproduzem estimulações suaves e monótonas de que a criança não está isenta nem mesmo no útero. (1913/2011c, p. 50)

Dessa maneira, o dileto discípulo de Freud nos indica um caminho que persistiria em seus anos de mais clara revisão dos postulados psicanalíticos, o do estudo da participação dos cuidadores no acolhimento da criança e seus efeitos constitutivos e disruptivos para o jovem psiquismo. Observemos, ainda, dois aspectos relevantes da citação. Primeiramente, a ideia de que o sentimento de onipotência da criança dependerá de um outro que se apresente para sustentá-lo. Em segundo lugar, a pressuposição generalizante ("As pessoas que cuidam da criança compreendem instantaneamente esse desejo") de que o ambiente se adapta às necessidades do bebê. Ferenczi já havia observado em outros trabalhos que nem sempre o ambiente acolhe ou respeita as disposições do bebê e da criança, fato que poderia ter efeitos nocivos em seu psiquismo. Nesse sentido, por exemplo, ao refletir em 1908 sobre a pedagogia, afirmou que "muitos sofrimentos psíquicos inúteis podem ser atribuídos a princípios educativos impróprios; e sob o efeito dessa mesma ação nociva, a personalidade de alguns entre nós se tornou mais ou menos inapta para desfrutar sem inibição dos prazeres da vida" (1908/2011g, p. 39).

Seria então por essa trilha da pesquisa acerca dos encontros e desencontros do psiquismo infantil com o universo emocional do mundo adulto, a conhecida confusão de línguas, que Ferenczi nos indicaria aspectos a serem considerados para pensar sobre o adoecimento psíquico e sua clínica, uma dimensão de suas reflexões que ficou conhecida por sublinhar a importância de levar em conta experiências traumáticas, tema que, por sua vez, nos põe novamente na trilha das ponderações de Freud em Além do princípio do prazer.

 

Freud e Ferenczi: do trauma de guerra ao trauma doméstico

Consoante indicamos nas primeiras linhas de nosso texto, a elaboração de Além do princípio do prazer deu-se poucos meses após o término na Primeira Guerra Mundial, e os biógrafos indicam que a destrutividade observada no conflito teria reforçado a impressão freudiana de que algo no regime pulsional funcionava de maneira diversa daquela até então defendida pela teoria psicanalítica. Além disso, os sintomas enigmáticos das neuroses de guerra, que recolocavam os doentes diante de eventos que lhes causavam enorme sofrimento e desprazer, propunham um novo desafio aos psicanalistas.

Ao longo do conflito bélico o próprio Freud foi reaproximando-se da questão do trauma, como demonstram algumas de suas conferências introdutórias à psicanálise. Na conferência 22 ("Algumas ideias sobre desenvolvimento e regressão: etiologia", 1917/1996a), ele traz o problema da origem endógena ou exógena das neuroses, lançando mão da ideia de séries complementares. Na de número 23 ("Os caminhos da formação dos sintomas", 1917/1996b), o pai da psicanálise afirma a necessidade de levar em consideração as vivências infantis e seu potencial efeito traumático. Por fim, como prólogo a essa retomada dos estudos sobre o trauma, devemos citar a conferência 18 ("A fixação em traumas: o inconsciente", 1917/1996c), na qual, referindo-se à guerra, Freud ingressou no tema das neuroses traumáticas, observando o incremento de sua incidência. Segundo sua hipótese, pessoas atingidas por tais afecções agiam como se jamais tivessem superado a ocorrência, mantendo-se essa tarefa por ser realizada.

O tema das neuroses de guerra foi central no primeiro Congresso Internacional de Psicanálise ocorrido após o auge do conflito bélico. Reunida em Budapeste, a nata da psicanálise da época era solicitada por autoridades públicas a oferecer caminhos que contemplassem um tratamento eficaz para aqueles que voltavam psicologicamente doentes do campo de batalha. Essa conjuntura, aliada a sua experiência como médico do exército austro-húngaro, levou Ferenczi a apresentar nesse encontro seu segundo artigo mencionado por Freud em Além do princípio do prazer: "A psicanálise das neuroses de guerra".

O escrito de Ferenczi surge na pena de Freud a partir de observações acerca da natureza dos sonhos que reencenam cenários traumáticos:

Podemos considerar o estudo dos sonhos o caminho mais seguro para a investigação dos processos psíquicos profundos. Ora, os sonhos que ocorrem numa neurose traumática têm a característica de que o doente sempre retorna à situação do acidente, da qual desperta com renovado terror. As pessoas não se surpreendem o bastante com isso. Acham que é justamente uma prova de como foi forte a impressão deixada pela vivência traumática, que até no sonho volta a se impor ao doente. Este se acha, então, psiquicamente fixado ao trauma, por assim dizer. Tais fixações à vivência que desencadeou a enfermidade nos são conhecidas há muito tempo, no caso da histeria. Breuer e Freud afirmaram, em 1893, que "os histéricos sofrem principalmente de reminiscências". Também nas neuroses de guerra observadores como Ferenczi e Simmel puderam explicar vários sintomas motores pela fixação ao momento do trauma. (Freud, 1920/2010, pp. 169-170)

De fato, além de explicar as neuroses de guerra como uma fixação no trauma, Ferenczi postulou nesse artigo uma motivação para o processo, que nos coloca em linha com a tendência regressiva estudada no item anterior. Ele diz, após fazer apontamentos sobre a hipersensibilidade do ego do traumatizado:

Portanto, não se trata apenas, como acreditava Strümpell, de quadros clínicos apresentados em vista de um benefício atual (pensão, indenização por danos e perdas, isenção do serviço ativo); esses são meros benefícios secundários da doença; o motivo primário da doença é o próprio prazer de permanecer no seguro abrigo da situação infantil, outrora abandonado a contragosto. ... Tudo se passa como se um afeto demasiado intenso não pudesse mais descarregar-se pelas vias normais, mas devesse regredir a modos de reação já abandonados mas virtualmente existentes. (Ferenczi, 1919/2011f, p. 29)

Ou seja, para o húngaro a neurose traumática desencadearia uma regressão pulsional que poria o psiquismo do sujeito em uma marcha de direção oposta àquela do sentido de realidade a que nos referimos anteriormente. Outras observações de Ferenczi nesse texto reforçam essa tese. Ele nos diz, por exemplo, que a mencionada hipersensibilidade do ego do traumatizado deriva da retirada da libido de objeto, que é redirecionada para o próprio eu, podendo-se falar, no caso, "de uma regressão ao estágio infantil do amor a si mesmo" (Ferenczi, 2019/2011f, p. 28). Diz ainda que

a personalidade da maioria dos traumatizados corresponde, portanto, à de uma criança que em consequência de um susto ficou angustiada, mimada, sem inibições e malévola... A maioria deles recusa-se a trabalhar e gostaria de ser cuidada e alimentada como crianças. (p. 29)

Percebemos nesses excertos Ferenczi reunindo o problema do trauma a certas vivências infantis, em uma linha de pesquisa próxima à de Freud. Lembremos que o fundador da psicanálise se propôs em Além do princípio do prazer a refletir sobre tema semelhante a partir do brincar infantil. Há ainda outro impulso para essa investigação, que surge nas últimas linhas de "A psicanálise das neuroses de guerra": a descoberta do reflexo de Moro, tema de um comentário de Ferenczi. Esse movimento surge no bebê que sente medo e reencena uma ação espontânea de agarramento, percebida também nos filhotes de outros mamíferos. Tais observações colocam-se em consonância com aquelas que Freud faz sobre o fort-da e nos mantêm em uma via de reflexão sobre as possibilidades de elaboração, pelo psiquismo infantil, da separação da mãe, movimento que o vienense não receia indicar, em Além do princípio do prazer, como a "grande conquista cultural do menino" (1920/2010, p. 172)

De fato, as experiências traumáticas estão relacionadas com um incremento de intensidades energéticas no interior do psiquismo, dele exigindo mobilização para efetuar ligação de energia dispersa. Nessa esteira, certas repetições teriam como função tentar promover tal ligação, havendo assim sentido na produção a posteriori da angústia percebida, por exemplo, nos sonhos que reencenam situações traumáticas, uma vez que ela não teria sido experimentada como sinal, alertando o sujeito para o choque. Citando Figueiredo: "trabalhado pela angústia, o indivíduo não se traumatiza e nas repetições do mesmo pesadelo a força traumática do acontecimento 'passado' iria se atenuando" (1999, p. 74).

Essa maneira de interpretar a regressão libidinal apontaria, então, para uma condição prévia ao funcionamento psíquico fundado no princípio do prazer - a promoção de ligações energéticas no interior do psiquismo. Como assevera Dean-Gomes ao tratar das reflexões derradeiras do húngaro, "Ferenczi, do final dos anos 1920 em diante, concentrou-se exatamente na importância da participação dos objetos externos, do ambiente, para a ligação dessas somas de energia dispersas no bebê, que resultariam exatamente na constituição dessa tão necessária estrutura psíquica" (2019, p. 272).

Antes de nos aproximarmos desse momento do pensamento ferencziano, vale conhecermos algumas reflexões clínicas mais imediatas que as hipóteses de Além do princípio do prazer trouxeram-lhe, trabalhadas no texto que redigiu em conjunto com Otto Rank em 1924, Perspectivas da psicanálise.

 

Perspectivas iniciais para a clínica além do princípio do prazer no pensamento ferencziano

As observações sobre o trauma feitas por Freud e Ferenczi na virada para os anos 1920 coincidem com o momento de implementação das técnicas ativas pelo húngaro - com respaldo do pai da psicanálise, sublinhe-se, consoante o texto por ele apresentado no referido congresso de Budapeste, "Linhas de progresso na terapia psicanalítica" (Freud, 1919/1996d). Essas técnicas surgiram como tentativas de vencer fenômenos clínicos tais quais transferências, formações sintomáticas e repetições, que eram compreendidos, de maneira geral, como duras resistências ao método associativo. As técnicas ativas apostavam em proibições e injunções que operariam por um incremento da abstinência, tentando inviabilizar amplamente as formas de satisfação que um paciente poderia estar obtendo no curso do processo de análise, visando recolocá-lo na trilha das associações livres.

Para além dessas experiências, nesse período e justamente com base nas observações sobre o trauma e a importância do ambiente e da figura materna, Ferenczi aproximou-se de outros analistas que compartilhavam dos mesmos interesses. Um deles foi Otto Rank, e juntos - a partir de uma provocação de Freud, que propôs uma premiação para o autor que elaborasse o melhor texto contemplando os novos achados da teoria psicanalítica e seus reflexos na prática clínica - redigiram Perspectivas da psicanálise: sobre a interdependência da teoria e da prática, trabalho em que buscavam comunicar suas experiências visando "expor como praticamos e o que agora entendemos pela psicanálise". Somente então, segundo eles, "será possível entender as dificuldades atuais, que surgem em todos os lados, e como esperamos corrigi-las" (Ferenczi & Rank, 1924/2012, p. 3).

A grande novidade que os autores propunham nesse trabalho era a compreensão do lugar da repetição na clínica psicanalítica. Eles partiram de um ponto comum com aquilo que Freud já antecipara em Além do princípio do prazer: a ideia de que nem tudo o que é reprimido estaria acessível à memória. Nesse sentido, escreveu o vienense no trabalho referido:

O doente não pode lembrar-se de tudo o que nele está reprimido, talvez precisamente do essencial, não se convencendo da justeza da construção que lhe é informada. Ele é antes levado a repetir o reprimido como vivência atual, em vez de, como preferiria o médico, recordá-lo como parte do passado. (Freud, 1920/2010, p. 177)

Ferenczi e Rank, por um lado, atribuíram valor a essa perspectiva freudiana e, por outro, aprofundaram-lhe as consequências clínicas: o repetir, e não o recordar, deveria ser compreendido como o coração do trabalho de análise, como um efetivo processo de comunicação inconsciente; o analista, sendo esse o caso, deveria incentivar eventuais repetições que estivessem inibidas no psiquismo do analisando. Citemos os autores:

A primeira necessidade prática que deriva dessa perspectiva implica não apenas não inibir na análise essas tendências de repetição, mas também promovê-las quando se sabe como dominá-las; caso contrário, o material mais importante pode não se expressar e não ser abordado. Por outro lado, algumas resistências - talvez também biologicamente fundamentadas - se opõem à compulsão à repetição, sobretudo a angústia e os sentimentos de culpa que não podemos superar, a não ser através de uma intervenção ativa no sentido de promover a repetição. Assim, passamos a atribuir o papel principal na técnica psicanalítica a repetir em vez de a rememorar. Isso não deve ser entendido simplesmente como deixar que os efeitos se percam nas "experiências"; trata-se, na verdade, como será detalhadamente descrito adiante, de uma gradual transformação do que é reproduzido em memória efetiva (primeiro permitir a reprodução e, então, explicá-la). (Ferenczi & Rank, 1924/2012, p. 4)

A proposta dos autores de conferir esse status à repetição não agradou Freud, que percebia no livro "um defeito de nascença, na medida em que enfatiza a 'experiência', à maneira de um slogan, sem fazer o mesmo com relação à resolução" (Brabant et al., 2000, p. 122). Essa apreciação do escrito, a princípio, causou grande consternação a Ferenczi, além de ter contribuído para o afastamento de Rank do movimento psicanalítico. O húngaro precisou de algum tempo - e de uma estadia de nove meses nos Estados Unidos - para sentir-se confiante em persistir nesse caminho de revisão de sua atuação clínica. Em sua prática terapêutica daí em diante, Ferenczi seguiria uma direção que, em vez de apostar na abstinência própria da técnica ativa, reconheceria em outras posturas e manejos as vias mais adequadas para lidar com aspectos do psiquismo que, por efeito do trauma, estivessem regidos por modos de funcionamento para além do princípio do prazer.

Será com observações sobre esse aspecto do percurso ferencziano que encerraremos nossas considerações.

 

A virada de 1928 e a clínica ferencziana para além do princípio do prazer

Ferenczi retornou da referida viagem aos Estados Unidos em 1927 e, no ano seguinte, publicou "Adaptação da família à criança", texto no qual, retomando hipóteses do artigo sobre o sentido de realidade (Ferenczi, 1913/2011c), passa a aprofundar suas observações acerca do papel do ambiente no que concerne ao estabelecimento do psiquismo saudável da criança. Ele acentua que um manejo descuidado de certos aspectos da vida infantil - como o desmame, o treino de toalete, a sexualidade e a travessia edípica - poderia resultar em traumatismos reais, cujos efeitos dizem respeito ao ingresso da criança na cultura. Diferentemente do que apontou no texto de 1913, no entanto, surge a observação de que, com relação à hospitalidade na recepção do recém-nascido, "o instinto dos pais parece com muita frequência falhar" (1928/2011a, p. 5). Os efeitos dessas inadvertências seriam diversos, mas de maneira geral passariam por adaptações forçadas ao mundo adulto, muitas vezes intermediadas por um superego que se constrói com severidade excessiva.

Ainda mais interessante para o contexto de nossa reflexão é o trabalho de 1929 "A criança mal acolhida e sua pulsão de morte", no qual, como indica o título, Ferenczi aproxima a grande inovação metapsicológica de Freud em Além do princípio do prazer, a pulsão de morte, à recepção que a criança tem por seu ambiente desde os momentos iniciais da vida. Nesse texto, a partir da análise de casos clínicos, o húngaro conclui que, além de bons cuidados, as crianças necessitariam de um acolhimento efetivamente amoroso para o desenvolvimento psíquico saudável - o que equivale, nesse momento, ao estabelecimento de um regime pulsional em que Eros pudesse se instalar. Em vista da importância desse raciocínio, emprestemos a palavra a Ferenczi:

No início da vida intra e extrauterina os órgãos e suas funções desenvolvem-se com uma abundância e uma rapidez surpreendentes - mas só em condições particularmente favoráveis de proteção do embrião e da criança. A criança deve ser levada por um prodigioso dispêndio de amor, de ternura e de cuidados a perdoar os pais por terem-na posto no mundo sem lhe perguntar qual era a sua intenção, pois, caso contrário, as pulsões de destruição logo entram em ação. E, no fundo, não há motivos de espanto, uma vez que o bebê, ao contrário do adulto, ainda se encontra muito mais perto do não ser individual, do qual não foi afastado pela experiência da vida. Deslizar de novo para esse não ser poderia, portanto, nas crianças acontecer de um modo muito mais fácil. A "força vital" que resiste às dificuldades da vida não é, portanto, muito forte no nascimento; segundo parece, ela só se reforça após a imunização progressiva contra os atentados físicos e psíquicos por meio de um tratamento e de uma educação conduzidos com tato. (1929/2011b, p. 58)

É importante ressaltar, após a leitura desse excerto, a centralidade que Ferenczi confere ao ambiente em estágios diversos do desenvolvimento humano. Assim, o tato, a empatia e o amor com que os cuidadores podem receber (e que podem oferecer para) a criança torna-se precondição para a instalação de um regime de vitalidade ("força vital") psíquica. Caso não haja essa hospitalidade, o húngaro conclui, "crianças acolhidas com rudeza ou sem carinho morrem facilmente e de bom grado. Ou utilizam um dos numerosos meios orgânicos para desaparecer, ou, se escapam a esse destino, conservarão um certo pessimismo e aversão à vida" (p. 58).

Dessa maneira, fica bastante claro como Ferenczi de fato investiu nas hipóteses freudianas sobre a pulsionalidade mortífera, tirando-a de uma dimensão especulativa para fazê-la um conceito efetivamente útil para pensarmos na ontogênese e na psicopatologia.

Não poderíamos encerrar este escrito sem indicar mais algumas providências clínicas trazidas pelo húngaro para lidar com pacientes desvitalizados, cujo psiquismo parece regido predominantemente pela pulsão de morte. Elas surgem nas últimas linhas do texto de 1929, retomando de maneira resumida e ampliando hipóteses sustentadas em outro artigo, "A elasticidade da técnica psicanalítica", publicado no ano anterior.

Ferenczi indica a autorização (Gewahrenlassen) para que os pacientes agissem por um certo período como crianças, permitindo-lhes "desfrutar pela primeira vez a irresponsabilidade da infância, o que equivale a introduzir impulsos positivos de vida e razões para continuar existindo" (1929/2011b, p. 59). Essa autorização - elevada, no texto de 1930 "Princípio de relaxamento e neocatarse", a um efetivo princípio, o Prinzips der Gewahrung, vertido para o francês (e para o português) como laisser-faire e com relação ao qual Kupermann (2019) propõe uma nova tradução, princípio de consentimento -torna-se um contrapeso às ideias de abstinência e neutralidade, valorizando a proximidade, a sensibilidade e a interação de afetos entre analisando e analista, que poderiam ser pensadas, então, como elementos de transformação psíquica no trabalho terapêutico.

Essas apostas de que certas repetições e regressões poderiam ser compreendidas não como resistências, mas como condição da análise - constituindo um movimento de busca por um ambiente mais adaptado às necessidades infantis mal atendidas dos pacientes -, ou pontos relevantes de perlaboração em um processo de cura, passariam a ser pressupostos da clínica ferencziana que serviriam de inspiração para gerações futuras de psicanalistas, como Balint, Winnicott e autores da psicanálise intersubjetiva contemporânea, o que demonstra a atualidade das reflexões de Ferenczi, ao mesmo tempo que nos coloca em diálogo com as origens do pensamento psicanalítico.

 

Referências

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Correspondência:
Gustavo Dean-Gomes
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Recebido em 18/3/2020
Aceito em 28/4/2020

 

 

1 Freud diz: "Em seu livro Psicanálise 1919, Barbara Low cita uma frase sua: 'Nossas repressões desconhecidas nos levam ainda mais longe no caminho da repressão'. Onde está? Preciso dela para Além...', no qual estou trabalhando agora" (Brabant et al., 2000, p. 21). Não conseguimos também localizar essa citação nas obras de Ferenczi. Sabemos, pelas referências bibliográficas do livro de Low, que ela deve ter sido extraída do primeiro volume das obras do húngaro em inglês, Contributions to psychoanalysis (Low, 1920/2014).
2 Assim está vertida a referida nota na edição das Obras completas de Ferenczi traduzida para o português: "Se seguirmos este raciocínio até o fim, será preciso considerar a existência de uma tendência para a inércia e para a regressão, dominando a própria vida orgânica; a tendência para a evolução, para a adaptação, etc. dependeria, pelo contrário, unicamente de estímulos externos" (1913/2011c, p. 60).

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