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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.54 no.4 São Paulo out./dez. 2020

 

IDEAIS

 

Ideais e o universo feminino: as bordas identitárias e a função parental

 

Ideals and the feminine universe: the identity borders and the parental function

 

Ideales y el universo femenino: las fronteras identitarias y la función parental

 

Les idéaux et l'univers féminin : les bords identitaires et la fonction parentale

 

 

Josefa Maria Dias da Silva Fernandes

Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e do Grupo de Estudos de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região (GEP Rio Preto e Região)

Correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo a autora pretende evidenciar o universo feminino. Também procura salientar que, nos processos de identificação, quando as funções parentais não são exercidas de forma clara, dificultam esse processo, gerando identificações com a borda do objeto, e não com o objeto total. Para tanto, por meio de relato clínico, descreve um processo analítico em que evidencia a precoce experiência traumática vivida pela paciente com o casal parental e o prejuízo causado na constituição de sua feminilidade. Na prevalência do funcionamento dos estados mentais primitivos, em que a função feminina não está bem constituída, é salutar a amplitude da experiência emocional vivida com a psicanalista, que, no exercício de sua função analítica, promove condições de registros emocionais vivos, sonhando junto com a paciente ou até por ela, contribuindo para a constituição e representação simbólica de sua existência e de novos recursos para a vida emocional.

Palavras-chave: ideais, feminino, função parental, função analítica, simbolização, sonhos


ABSTRACT

In this article the author aims to highlight the female universe. It also seeks to emphasize that, in the identification processes, when parental functions are not clearly exercised, they hinder this process, generating identifications with the object's edge and not with the total object. To this end, through clinical reports, it describes an analytical process in which it highlights the early traumatic experience lived by the patient with the parental couple and the damage caused in the constitution of their femininity. In the prevalence of the functioning of primitive mental states, in which the female function is not well constituted, it is salutary the breadth of the emotional experience lived with the psychoanalyst who, in the exercise of her analytical function, promotes conditions of living emotional records, dreaming together with the patient or even for her, contributing to the constitution and symbolic representation of her existence and new resources for emotional life.

Keywords: ideals, feminine, parental function, analytical function, symbolization, dreams


RESUMEN

En este artículo el autor tiene como objetivo resaltar el universo femenino. También busca enfatizar que, en los procesos de identificación, cuando las funciones parentales no se ejercen claramente, dificultan este proceso, generando identificaciones con el borde del objeto y no con el objeto total. Para ello, a través de informes clínicos, describe un proceso analítico en el que destaca la experiencia traumática temprana vivida por la paciente con la pareja parental y el daño causado en la constitución de su feminidad. En el predominio del funcionamiento de estados mentales primitivos, en los que la función femenina no está bien constituida, es saludable la amplitud de la experiencia emocional vivida con la psicoanalista que, en el ejercicio de su función analítica, promueve condiciones de vivir registros emocionales, soñando juntos con la paciente o incluso para ella, contribuyendo a la constitución y representación simbólica de su existencia y nuevos recursos para la vida emocional.

Palabras clave: ideales, femenino, función parental, función analítica, simbolización, sueños


RÉSUMÉ

Dans cet article, l›auteur vise à mettre en évidence l›univers féminin. Il cherche également à souligner que, dans les processus d›identification, lorsque les fonctions parentales ne sont pas clairement exercées, elles entravent ce processus, en générant des identifications au bord de l'objet et non à l'objet total. À cet effet, au moyen d'un rapport clinique, il décrit un processus analytique dans lequel il met en évidence l'expérience traumatique précoce vécue par la patiente par rapport au couple parental, et les dommages causés dans la constitution de leur féminité. Dans la prévalence du fonctionnement des états mentaux primitifs, dans lesquels la fonction féminine n'est pas bien constituée, c'est salutaire l'ampleur de l'expérience émotionnelle vécue avec la psychanalyste qui, dans l'exercice de sa fonction analytique, favorise les conditions des enregistrements émotionnels vécus, en rêvant ensemble avec la patiente ou même pour elle, et en contribuant à la constitution aussi bien qu'à la représentation symbolique de son existence et de nouvelles ressources pour sa vie affective.

Mots-clés: idéaux, féminin, fonction parentale, fonction analytique, symbolisation, rêves


 

 

Mar afora, mar adentro
lá vai singrando um veleiro
quem dera ser passageiro
pra correr nas mãos do vento.
Mar adentro, mar afora
como navega ligeiro
cruzando este golfo inteiro
nas cores vivas da aurora.
Onde vais assim tão cedo
rumo à ilha do Arvoredo
levando meu coração...?
Vou navegando contigo
meus olhos te seguem, amigo
perdidos na imensidão.

MANOEL DE ANDRADE, "Veleiro"

 

Funções: parental e psicanalítica

Destaca-se, na teoria psicanalítica, a importância da competência emocional do casal parental para com o seu bebê. A qualidade do exercício dessa função é fundamental na construção da intersubjetividade. Espera-se que o adulto esteja disponível a viver a experiência emocional com seu bebê e que entenda, atenda e contenha as necessidades dele, bem como os desdobramentos na trajetória dos primeiros anos da vida emocional da criança.

Nos últimos tempos, com a evolução da discussão sobre gênero, identidade sexual, feminilidade, funções parentais e outras, a psicanálise passou a se utilizar de outras nomenclaturas para definir o papel dos cuidadores dos bebês. Também fez importantes diferenciações entre termos que geravam dúvidas marcadas pelo viés masculino e falocêntrico de entender as distinções de gênero e os processos de identificação.

Ema Ponce de Leon afirmou:

Considero que o conceito de funções parentais apresenta vantagens sobre os conceitos de função materna e paterna, já que colabora para separar as categorias de masculino e feminino das de paternidade e maternidade, e permite uma maior interação entre as funções tradicionalmente atribuídas ao materno ou ao paterno, acompanhando o desenvolvimento das teorias de gênero e as mudanças socioculturais com relação à diversidade sexual e aos novos modelos de família. Outro fator que coloca a parentalidade na primeira linha é a hierarquização da qualidade simbólica das funções acima da adjudicação às pessoas que as exercem, independentemente do seu sexo e/ou gênero, ou do componente biológico da filiação. Em sua vertente libidinal, a parentalidade é um processo singular, de transformação psíquica, que se cria em um casal ou em um sujeito por meio de experiências afetivas que vão desde o desejo por um filho, o advento do filho como outro diferente, e o trânsito do filho da dependência absoluta à independência. (2016)

De acordo com Winnicott (1966/2005), para que o sujeito nasça psiquicamente, e possa "se ver", precisa inicialmente "ser visto" pelo objeto. Portanto, a relação do objeto com o bebê será assimétrica. O adulto é portador de uma bagagem própria e, na melhor das hipóteses, percorreu processos de subjetivação que incluem desejos inconscientes, identificações, reconhecimento da alteridade, da diferença sexual e de gênero.

Contudo, a não discriminação dessas funções, nos adultos cuidadores, insere no psiquismo do bebê áreas não bem definidas de identificação. Funcionam como "manchas", e não como objetos. São as chamadas bordas identitárias (Leon, 2016), que dificultam o processo de identificação, o desenvolvimento emocional e, consequentemente, a capacidade de sonhar, fantasiar, simbolizar e criar, ou seja, a subjetivação.

 

Conversando com Ismênia1

Ismênia está em processo analítico há seis anos, com atendimento em alta frequência. Quando procurou pelo atendimento, contou que já estava com o contato telefônico há um ano e três meses, guardado no fundo de uma gaveta, dentro de uma caixinha, com chave, onde colocava objetos pessoais. Não estava animada em começar mais um processo terapêutico, diante dos vários tratamentos sem sucesso. Além disso, como lhe contaram que se tratava de uma psicanalista, ficou com medo dos honorários absurdos a que, com certeza, seria submetida. No entanto, na última semana antes de aceitar o trabalho analítico, teve vários episódios de pânico, e a família a levou a uma consulta com um novo psiquiatra, que também sugeriu o mesmo nome.

Na época, chamaram a atenção suas primeiras comunicações. O que lhe era caro e lhe parecia também precioso, sendo guardado em caixinhas?

Primeiros movimentos no processo analítico

ISMÊNIA: Fui diagnosticada como bipolar. Já sei o que vai dizer, não tenho cura e não tenho solução, não é isso?

ANALISTA: Você se agarrou a uma história já conhecida e acreditou nela. Parece que começa a aparecer uma dúvida ao perguntar o que penso sobre seu diagnóstico.

ISMÊNIA: Estou aqui porque o Fernando [marido] e o Gabriel [psiquiatra] falam na minha cabeça e não me dão sossego. O Fernando me avisou sobre o corte do cartão de crédito, e o Gabriel disse que, se eu não procurasse análise, não seria possível continuar o tratamento psiquiátrico.

ANALISTA: Parece contar-me que faz tempo que tem necessidade de ser cuidada.

ISMÊNIA: Faz anos que tenho insônia e depressões profundas. Nada me ajudou - nem medicação, nem tratamentos. Estou sem vontade de viver. Desde meu nascimento sinto que não pertenço a este mundo. Além disso, brigo com todas as pessoas. No momento briguei com todos os parentes e amigos.

Faz silêncio.

No meu íntimo, eu conjecturava os tipos de ameaça que vivia. Ainda que viessem de fora, há quanto tempo não estavam dentro dela, não permitindo que sonhasse ou dormisse?

ISMÊNIA: Posso contar minha história? Espero que não seja mais uma pessoa que durma enquanto passo pela vida.

ANALISTA: Parece que espera encontrar em mim um olhar curioso frente ao que pretende apresentar.

Enquanto conversávamos, eu observava sua agitação motora. Era como se o seu corpo não coubesse na poltrona, e parecia me comunicar muito mais do que sua fala dizia. Lembrava as crianças com demandas libidinais que convocam o acolhimento dos pais. Percebia o momento fundamental para prover registros afetivos e erógenos e me questionava os motivos pelo qual seu corpo se expressava tão intensamente endereçado à analista. Quais eram as lacunas que existiam em sua constituição psíquica e que afetavam aquele corpo?

ISMÊNIA: Minha vida é sem graça, nada interessante para as pessoas. Nasci e residi em outro país até casar. Quando eu tinha 1 ano e 3 meses, minha irmã nasceu, com algumas dificuldades, que até hoje não sei dizer. Como ela chorava muito, dia e noite, permaneceu no quarto com a mãe, pois meus pais tinham medo que seus gritos atrapalhassem meu sono, e o meu pai passou a dormir no meu quarto, na mesma cama. Desde então, ele sempre dormiu comigo, todas as noites, até meus 12 anos. As minhas lembranças só começam a partir dos 6 anos de idade, meu pai brincando de cavalinho e me abraçando. Nessa época, ele era muito carinhoso comigo. Todos os dias, no final da tarde, eu ficava esperando por ele. Quando terminava o trabalho, ele passava na venda e trazia doces. Nossa! Meus braços e minhas pernas estão doendo muito, posso andar?

Acenei com a cabeça, concordando, mantendo-me em silêncio, atenta às suas expressões. Continuou falando e circulando pela sala sem parar. Eu imaginava as marcas sofridas que ficaram perdidas no entrecho da sua história. Ocorria-me a imagem de um bebê, talvez desassistido diante das primeiras necessidades de cuidado físico e conforto que poderia inter- nalizar sensorialmente.

ANALISTA: Você parece desassossegada diante de suas lembranças.

ISMÊNIA: Todas essas lembranças me fazem sofrer muito. Quando eu já estava com 12 anos, meu pai ficou doente e descobriu um câncer no pâncreas, já com metástases. Foi do hospital para o cemitério. A época da morte do meu pai foi muito estranha. Parecia um pesadelo. Eu não sabia muito bem o que estava acontecendo. Olhava as pessoas no velório e as via distantes, como se eu estivesse fora de mim. Não me reconhecia, fiquei desorientada, parecia ter perdido a referência da minha vida, entrei em pânico. Sempre fui ligada ao meu pai e brigava com a mãe. Não gostava dela. Ela nunca conseguiu me entender e ajudar. Morávamos numa colônia, todos parentes, da família paterna. Continuamos morando lá até meu tio arranjar um noivo para mim. Casei aos 16 anos, sem nem saber o que estava fazendo. Tudo muito estranho. Com um ano de casada, com toda a família do meu marido, a minha mãe e a minha irmã, viemos para o Brasil. Por muitos anos, moramos todos juntos, numa fazenda, onde as casas eram "germinadas".2 Aos 18 anos tive meu primeiro filho, e a última foi aos 25 anos. Fiquei muito doente durante todas as gestações. Não consegui amamentar nenhum deles. Hoje sei que estava muito deprimida.

ANALISTA: Você está contando sobre suas sensações solitárias, como se estivesse numa ilha cercada de água por todos os lados.

Percebi que me olhava assustada, fazia silêncio, e decidi aguardar. Naquele momento, fiquei pensando sobre sua necessidade de experiências "germinadas". Imaginei as casas geminadas, todas juntas. Seria isso que ela esperava viver comigo?

ISMÊNIA: Eu tenho consciência que preciso de ajuda, há uma parte da minha vida que está parada.

ANALISTA: O que você sente que está parado?

ISMÊNIA: Acredito que quase tudo. A minha vida é estranha, eu sou estranha. Peguei o seu cartão com uma amiga da minha prima e também com a minha ginecologista. Elas fazem análise com você. Guardei na caixinha por tanto tempo, nem sei por que só agora tive coragem.

ANALISTA: Talvez você procurou a minha companhia para sentir-se olhada e escutada em suas inquietações.

ISMÊNIA: Descongelar algo muito antigo que me faz enlouquecer.

O seu corpo ficou agitado, e queixou-se de sentir fome e dor no estômago.

Pensei que essas lembranças a levaram à experiência de vazio. Supus que, quando nasceu, os pais estavam vivendo momentos emocionalmente difíceis. Confirmando minha hipótese, em outras sessões, contou-me que foi amamentada por uma tia, diante da possível depressão vivida pela mãe.

Durante o relato e o movimento corporal da paciente, imagens surgiram como um pictograma num sonho: ilhas, mar, escuridão, desespero, desamparo, amparo. Depois, tal qual um ideograma, imaginei um barco no meio da escuridão do oceano, com ondas fortes e diversas pequenas ilhas, onde seria possível parar por um tempo até as ondas diminuírem, seguindo viagem até encontrar algum lugar em que pudesse atracar com segurança. Percebi que os relatos dela me faziam "sonhar" cenas significativas sobre o que ela viveu e sobre o que vivíamos no encontro analítico.

Chamava a atenção quando relatava lembranças anteriores aos 6 anos de idade, do pai amoroso e da mãe invisível, e como se referia a eles: "a mãe" e "meu pai". Provavelmente eram vivências com conexões falhas, com os objetos externos empobrecidos de recursos simbólicos. A hipótese que eu fazia era de que a possível inconstância na relação afetiva dos pais dificultou o desenvolvimento de sua capacidade para se sustentar. Ou então, quando ocorria uma conexão, se desfazia rapidamente, resultando em fragmentação e sensação de vazio. Dessa maneira, os objetos internalizados carregavam em si a imprecisão dos afetos dos cuidadores que exerceram a função parental, gerando o que foi estabelecido como bordas identitárias, em vez de identificações com os objetos totais.

Com o nascimento da irmã, as possíveis dificuldades conjugais dos pais se intensificaram. As interrupções precoces da presença materna levaram a limitações no seu desenvolvimento do feminino como fundador das competências psíquicas. É nesse sentido que se advoga ser fundamental o papel do objeto como mediador do desenvolvimento de espaço interno, que propicia a vida mental intersubjetiva.

 

Transferência-contratransferência

No início do trabalho, Ismênia despertou empatia e receptividade analítica. Depois, a análise transcorreu como um caldeirão fervilhante de infinitas necessidades de transformar aspectos de sua vida emocional. Houve momentos difíceis em que, na experiência contratransferencial, o sono e o cansaço se tornaram presentes por várias sessões.

Contava histórias sobre sua origem que se repetiam compulsivamente e, às vezes, isso desvitalizava o encontro analítico. Essas situações pareciam não evoluir para elementos que pudessem chegar a uma melhor compreensão e reconhecimento do significado analítico do que se estava vivenciando.

Durante alguns relatos eu sentia desconforto gástrico, náuseas e refluxo, e em outros surgiam imagens de uma mãe ninando delicadamente seu bebê, mas de forma firme em seus braços, pois estava diante de um bebê desaninhado, machucado e sofrido. Recordava a experiência do conceito de holding, de Winnicott, e do continuar a ser. Essa conceituação transmite o sentimento da experiência do bebê de estar vivo em uma etapa na qual ainda não se tornou sujeito. O estado emocional da mãe-analista, em seu ato de segurar o bebê, corporal e psicologicamente, garantindo a continuidade do ser, é denominado, por esse autor, de preocupação materna primária (Winnicott, 1956/2000). A recepção desse estado de expressão do analisando requer do analista as condições para suportar o que, até então, é insuportável na mente do paciente. Na época, passei a fazer menos intervenções, sentindo a necessidade de tempo para sustentar a inundação de informações que se repetia compulsivamente nas sessões.

ISMÊNIA: Apesar de não saber sobre os meus sentimentos, reconheço a dependência da presença do meu marido. Acho que é um dos meus vícios, como as compulsões por compras [sapatos e bolsas], e os doces e chocolates. Eu me lembro de que, na adolescência, logo depois da morte do meu pai, quando sentia uma inquietação corporal, começava a me masturbar com uma bucha caipira de banho, até ver minha vagina sangrar, momento que sentia alívio. Faço isso nos momentos em que sinto o distanciamento do meu marido, e imagino que ele tenha outra mulher mais interessante do que eu. Mesmo que ele venha todos os finais de semana, vivo esses momentos inexplicáveis.

ANALISTA: No fim de semana você lida com o intervalo das sessões como se fosse uma eternidade.

ISMÊNIA: De fato, tenho me sentido bem aqui. Mas de sexta-feira para sábado me sinto vazia.

ANALISTA: Agora estamos juntas e podemos conversar sobre seus sentimentos e sensações.

Faz silêncio.

No relato sobre fazer sua vagina sangrar para sentir algum alívio, contratransferencialmente, eu me sentia debruçada nas bordas de um mar de ressaca, escutando o som da inundação ao imaginar sua dor posta em lágrimas de sangue.

ISMÊNIA: Por que me machuco?

ANALISTA: Você tem alguma ideia?

ISMÊNIA: Porque na hora eu não consigo segurar meu ato. Rompe algo, igual a Brumadinho.

ANALISTA: Escuto você sentindo como se fosse uma cidade inundada. Mas agora a experiência está sendo outra. Você está comigo, falando e pensando como se sente.

ISMÊNIA: Estou dando sentido ao que nunca teve sentido. Como a minha vida sexual. O prazer pelo sexo sempre foi algo desconhecido desde o início do casamento, além das dificuldades do meu marido e as minhas. Algo marcante sobre meu sexo aconteceu logo após a morte do meu pai. Com 13 anos, trocava carícias com uma prima de 20 anos, e depois com outra - na época, da minha idade. A partir daí, fico excitada, imaginando estar sendo acariciada por mulheres, como se fosse um vício. Nunca tive orgasmo com a penetração e sou frustrada por isso. Eu ficava excitada pensando em mulheres, apesar de nunca ter transado com mulheres, apenas algumas trocas de carícias na adolescência. Meu interesse é pelo meu marido.

ANALISTA: Você me conta sobre suas precoces descobertas sexuais no início de sua adolescência e o quanto isso te deixou confusa.

Ismênia lamentou, por várias vezes, nunca ter recebido um abraço ou um beijo de sua mãe, que considerava uma mulher fria e sem expressão. Pelo fato de, desde bebê até a adolescência, ter dormido com o pai, é possível conjecturar quais fantasias surgiram enquanto menininha, percebendo o pai dormindo com ela, e a mãe, com a irmã. Fantasias incestuosas? A mãe preferiu dormir com a outra filha, e não com o marido - por quê? Imaginava se esses seriam os seus experimentos de identificação.

Uma observação de Haudenschild, sobre a disponibilidade do analista em oferecer a mente a seus pacientes como continente para suportar e pensar o que ainda não foi possível, fazia grande sentido durante esse período. Segundo a autora,

o que auxilia nesse empreendimento corajoso, em que oferecemos nosso psiquismo aos analisandos, é nosso "bom casal internalizado", nossa bissexualidade psíquica primária internalizada desde as relações primárias com nossa mãe. Ela própria portadora de "objetos internos" parentais, coloridos (ou não) pelo amor e a valorização da mulher pelo marido e vice-versa. (2016, p. 26)

 

O corpo e a dor psíquica

Numa sessão, Ismênia deitou-se no divã encolhida, com as pernas apertadas. Lembrei que sempre se referia à forma como se machucava com a buchinha no banheiro, toda vez que brigava com alguém. Contudo, eu sentia uma forte impressão de algo diferente na sua expressão corporal. Parecia estar triste. Resolvi aguardar, e ela disse:

ISMÊNIA: Comecei a perceber que as dores físicas que provoco em mim ardem tanto, que aí eu penso na dor do corpo e me esqueço das outras dores.

Conversamos sobre como ela estava se aproximando das dores psíquicas, mesmo parecendo insuportáveis. Ismênia apresentava suas inquietações ao revisitar os objetos parentais internalizados, confusos, mas parecia que começava a surgir desejo e curiosidade sobre si mesma. De acordo com Dejours, a subjetividade começa com a capacidade de sentir, de experimentar a vida em si, através do corpo: "Devemos essa capacidade ao corpo, ao seu modo fundamental de penar: o sofrimento. Não há sofrimento sem corpo para sentir. Não há angústia, prazer ou desejo se não houver um corpo para senti-los" (2019, p. 141).

Durante um momento de silêncio, observei que ela refletia sobre o que conversávamos. Surgiu-me a percepção de que algo novo estava acontecendo.

ISMÊNIA: Hoje meu filho chegou do plantão e veio conversar comigo. Contou que vou ser avó e que pretende se casar com a namorada no próximo mês. Confesso que fi- quei impactada. Choramos juntos de tanta emoção. Senti alegria com a notícia. Conversamos por mais de duas horas. Eu nunca havia me imaginado nesse lugar, mãe de um filho casado e com netos. Pela primeira vez imaginei minha casa com vários netos, a casa cheia de alegria.

ANALISTA: Você mostra um sonho que se energiza com a força da vida, casamento, netos.

ISMÊNIA: Espero ser uma avó muito melhor do que fui como mãe e do que minha mãe pôde ser para mim e minha irmã.

Percebi que ficamos emocionadas com esse momento e me veio à lembrança a frase de Goethe: "O que herdaste de teus pais, adquire-o para possuí-lo". Conversamos sobre sua capacidade afetiva e o momento vital como mulher conectada com seus sonhos e descobertas.

 

Relato de um sonho

Ao encontrar com Ismênia, fiquei surpresa ao me deparar com ela esborrifando água com nutrientes, que trouxera de sua casa, nas minhas orquídeas que estão no jardim da sala de espera. Ela sorriu e disse que, apesar de estarem fortes e algumas floridas, sempre é bom mais nutriente para as orquídeas. "É assim que tenho aprendido a cuidar das minhas." Fiquei surpresa novamente ao percebê-la apressada para entrar no atendimento. Senti no ar um clima de mistério.

ISMÊNIA: Eu estava contando os minutos para entrar logo aqui. Nunca me lembro dos meus sonhos. Essa noite, eu fiquei impressionada com o que sonhei e acordei assustada e com ansiedade. Levantei e fui beber um copo de água. E não dormi mais. Sonhei que estava numa festa e avistei do outro lado da sala a imagem de uma mulher muito bonita, uma beleza diferente. Fiquei curiosa e, ao mesmo tempo, com medo de me aproximar, pois parecia de outra dimensão. Mas em passos lentos cheguei até onde ela estava e começamos a conversar. Ela disse: "Olha o que aconteceu comigo". Virando as costas para mim, me mostrou que no final das costas tinha uma fístula, agora menor, mas pela qual ainda dava para ver seus órgãos.

Recriei na minha mente o início do nosso encontro, sua chegada com o borrifador. Surgiu a ideia do feminino no humano. A condição de receptividade e o mistério implícito à fundação no psiquismo. Acredito que não é possível pensar esse sonho como o sonho da mente isolada de Ismênia sobre si mesma. Trata-se de um sonho que emerge e se estrutura em um espaço emocional específico, com matriz relacional única dada pela intersubjetividade daquele encontro analítico. Reconduzi-me adotando como vértice principal os estados emocionais e afetivos em que nos encontrávamos. (As orquídeas, alimentadas por Ismênia com nutrientes que nunca são demais, também me levaram à simbologia dessas flores, que estão associadas às festas da primavera na China, quando são usadas para afastar influências nocivas, entre elas a esterilidade. As orquídeas simbolizam, portanto, a fecundação. E em Ismênia parecia despontar um espaço fértil.)

ANALISTA: Você parece surpresa ao apresentar que tem suas orquídeas, e eu tenho as minhas. E está grata à minha fertilização das suas expressões emocionais. Percebo você curiosa sobre como as transformo no interior dos meus pensamentos, a partir das minhas ideias e do nosso encontro.

ISMÊNIA: Eu acho você enigmática. Você retira leite de pedra. Esse seu jeitinho calmo, vai comendo pelas bordas. Ando me sentindo mais tempo em paz. E reconheço as minhas qualidades e quero acreditar que posso também doar. Reconheço que diminuíram os momentos de desespero quando fico sozinha. Tenho descoberto que cuidar da minha casa e da minha família me faz ressuscitar.

ANALISTA: Penso que está se apropriando de sua capacidade nutridora de afetos.

ISMÊNIA: Por falar em vida, hoje é o meu aniversário, 50 anos, casada há muitos anos e quatro filhos. A vida passa muito rápido. Já faz cinco anos que estou aqui com você.

ANALISTA: Comemorando o seu aniversário e suas conquistas.

Faz silêncio.

ISMÊNIA: Quando a procurei, eram frequentes as brigas com meu marido, meus filhos e meus familiares. E, naquele momento, eu temia o fim do casamento. Hoje vejo meu marido um vencedor, lutando bravamente pela família, e reconheço que sempre buscou oferecer o melhor para nós. Isso é amor! Ser estrangeiro, se adaptar em outro país, construir tijolo por tijolo, é algo que só quem passa pode entender o desamparo, a dor e o sofrimento. Trabalhou muito e sempre foi um homem determinado. Nunca desistiu diante das inúmeras tempestades. Como diz você, quando estamos velejando, vivemos vários sentimentos. Viver é como velejar, onde o mar assume a luta e o vento os rumos. Como chama aquele poeta de quem você leu uma poesia para mim?

Fiquei surpresa com sua lembrança. Várias vezes, durante algumas sessões, eu evocava os poetas com suas poesias que me ajudavam a nomear momentos sem palavras. O poema ao qual ela se referia é "Veleiro", de Manoel de Andrade, epígrafe deste trabalho. Refleti sobre o momento da sessão, com base nas reverberações surgidas em mim, bem como na poesia revivescida na memória de ambas. A experiência dos estrangeiros, as grandes imigrações, os deslocamentos humanos, vindos de navio, de um mundo para outro, a sua própria experiência real, e agora, ali, parecia ser um anúncio de passagem emocional. Percebia o deslocamento de um estado emocional para outro, tendo a analista como uma espécie de timoneiro no leme do veleiro.

Parecia que Ismênia estava se permitindo fazer uma viagem com a analista. Dessa forma, tornava-se possível uma identificação introjetiva com a experiência analítica. Dito com maior precisão: a identificação com o feminino- -analista, sinalizado no "sonho" de velejar juntas.

 

A migração para o setting virtual

Em razão da covid-19, comecei a conjecturar sobre a viabilidade de continuar meu trabalho com pacientes que têm necessidade de constância da analista. Ou seja, pacientes para os quais eu percebia ser imprescindível o objeto corporalmente concreto, pois supunha e considerava as dificuldades de alcançarem as representações simbólicas internalizadas do objeto. Eu imaginava como seria a delimitação do setting virtual analítico na minha experiência emocional, no atendimento à distância, com essas pessoas. Vale ressaltar que eu já realizava atendimentos virtuais com pacientes com predomínio do funcionamento mental neurótico.

Na pandemia, comecei a atender os pacientes que aceitaram o trabalho online. Utilizei ferramentas virtuais que já eram familiares para mim. Porém, fui surpreendida pelas manifestações psíquicas de Ismênia. Nas duas primeiras semanas, mantida a alta frequência, ela teve necessidade de mostrar os espaços físicos de sua residência. Mostrou a piscina e a enorme área de lazer, com árvores frutíferas e um belo orquidário, o quarto e o banheiro, espaço de sua intimidade. Por vezes eu ficava impactada com sua ansiedade, demonstrada por sua aceleração corporal, e também com a percepção de suas emoções, pensamentos e possíveis elaborações. Reconhecia as minhas percepções diante da experiência emocional, e as intuições durante as sessões, o que me norteou a delimitar até mesmo um setting virtual possível.

ISMÊNIA: Quero que conheça todos os espaços da minha casa. Alguns eu raramente frequento. Tenho muitas coisas. Algumas nem sei que as tenho. Nesse período da pandemia estou limpando e abrindo espaço nas gavetas, armários e guarda-roupas, e admito o quanto eu era compulsiva, comprava sem precisar e guardava sem nunca usar. Mas está sendo uma grande oportunidade de você conhecer tudo que eu sempre digo sobre minha casa e minhas coisas, quando estou aí no seu consultório.

ANALISTA: Percebo o quanto você está alegre ao me apresentar sua casa e seus espaços. E parece estar se aproximando de seus pensamentos enquanto vive tudo isso.

ISMÊNIA: Tem me feito muito bem conseguir organizar minha casa e, sim, reconhecer com alívio que não preciso comprar loucamente para ser feliz. Parece que estou me desapegando das relíquias, como as mantas e roupas dos meus filhos de quando eram pequenos. Além das roupas, meus sapatos, lenços da adolescência - os que trouxe comigo quando vim para o Brasil. Meu marido chegou no final de semana. Senti vontade de abraçá-lo fortemente. Estava com muita saudade. Já fazia um mês que ele não vinha para casa. Quando mostrei os 50 sacos de 200 litros que separei para ele doar aos índios que fazem divisa com uma das nossas fazendas, ele ficou surpreso, porque sempre me pediu, e eu não conseguia fazer nada, não tinha energia.

ANALISTA: O que me chama a atenção é sua maior tolerância e maior intimidade com os seus sentimentos, com as novas descobertas.

Enquanto acompanhava suas expressões e expansões, surgiu em mim um estado onírico. Imaginei uma jovem viajando dias de navio, passando por lugares inabitáveis e primitivos, até chegar ao estrangeiro e estranho. Separando-se do lugar conhecido e atracando no desconhecido. Divisor de mares do Pacífico ao Atlântico. Do não sonhado ao agora possível de ser representado, com o reconhecimento de suas emoções.

ISMÊNIA: Quero te mostrar o quadro que estou terminando de pintar. Está gerando muito prazer criá-lo. Há muitos anos venho pintando. Por várias vezes comecei e parei. Em momentos de muita tristeza e desânimo, a intenção era jogá-lo no rio. Mas neste mês resolvi voltar a pintar. Batizei-o de Portal das cores.

ANALISTA: Você está compartilhando comigo um momento especial de nascimento de sua capacidade criativa colorida de afetos.

O quadro desencadeou em mim intensa emoção, uma obra com cores vivas sobre um fundo escuro e o portal em forma de caracol ascendente. Observei uma forte experiência emocional compartilhada pela dupla. Pareceu ser um momento tocante, de profunda intimidade afetiva. Foi a primeira vez que vi o seu olhar vitalizado, com brilho, e a senti inteira no nosso encontro analítico, mesmo vivido de modo virtual.

Acredito que, para minha paciente, produzir uma obra de arte estava sendo essencial na tentativa de captar e criar algo. Com a linguagem visual e estética, buscava de maneira significativa a experiência de sentir-se viva. Penso que essa transformação psíquica foi possível a partir do encontro estético na análise, construindo uma delicada e profunda relação de intimidade, formando novos links para o desenvolvimento psíquico da paciente.

 

Considerações finais

A clínica psicanalítica possibilita transformar e promover a expansão psíquica por meio da experiência emocional vivida pela dupla. O analista, em sua função analítica, com uma mente-albergue aos movimentos emocionais experimentados com o paciente, funciona como fonte geradora de novos links. A partir da experiência emocional no encontro analítico, ressalta-se a importância da capacidade de reverie do analista como veículo de acesso ao analisando. Isso colabora para a construção de novos significados em sua vida emocional.

No trabalho psicanalítico com Ismênia, foram percorridos caminhos emocionalmente tortuosos, carregados de desamparo, com surpresas e também afetividade amorosa. Procurei funcionar como um veículo de acesso para compreender e promover condições de transformar as experiências traumáticas vividas desde a tenra infância. Inicialmente o corpo de Ismênia era o protagonista de angústias primitivas, sensorialmente apresentadas. Seus conflitos vinculares já eram sinalizados no início da análise, quando se referiu ao medo de que eu fosse mais uma pessoa que não a escutasse e de que eu não a registrasse em minha memória.

O impacto sobre mim de sua sensorialidade estrangulada por marcas traumáticas levou-me a conjecturar tratar-se de manifestações ligadas ao que passei a designar como bordas identitárias. Durante o trabalho analítico, pude confirmar os desdobramentos das dificuldades na assimilação das funções parentais e o quanto isso comprometeu a realização e a elaboração simbólica da bissexualidade psíquica e a constituição da capacidade "sonhante".

A representação expressa no quadro que Ismênia estava pintando, e que me mostrou através do celular, deu-me a ideia de que ela estava penetrando em um novo portal colorido, com novas experiências emocionais próprias.

Os movimentos sensoriais e psíquicos dessas experiências emocionais e analíticas com a paciente foram apreendidos e vividos pelo filtro visceral da analista, proporcionando novos movimentos psíquicos e significados intersubjetivos.

Evidenciei as vicissitudes simbólicas do universo feminino e o reconhecimento da condição humana da interação interminável do feminino em nós. Pude me apropriar de modelos teóricos reconhecidos, que contribuíram para a compreensão da dinâmica do funcionamento mental e da postura técnica requerida para esse tipo de trabalho. Também pude adaptar ideias formuladas por autores renomados, que serviram especificamente para me nortear na difícil porém intrigante experiência com Ismênia.

Considero que, até aqui, caminhamos e vivemos o possível para a dupla. A experiência analítica é uma obra inacabada, nunca limitada e completa. Sei que é requerida ao analista uma sensibilidade para capturar partículas voláteis, às vezes minúsculas, adentrando num universo mental, em que imaginação, criatividade e intuição captam os mais tênues sinais de vida. Um trabalho árduo, mas gratificante.

 

Referências

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Dejours, C. (2019). Primeiro, o corpo: corpo biológico, corpo erótico e senso moral (V. Dresch, Trad.).Dublinense.         [ Links ]

Haudenschild, T. (2016). Psicossexualidades: feminilidade, masculinidade e gênero. Escuta.         [ Links ]

Ismênia. (2020, 8 de fevereiro). In Wikipédia. http://bit.ly/3jMURKf        [ Links ]

Leon, E. P. (2016). Função diferenciadora parental: matriz da alteridade e da diferença sexual [Apresentação de trabalho]. XII Diálogo Latino-Americano Intergeracional entre Homens e Mulheres, São Paulo, SP, Brasil.         [ Links ]

Winnicott, D. W. (2000). A preocupação materna primária. In D. W. Winnicott, Da pediatria psicanlise: obras escolhidas (D. Bogomoletz, Trad., pp. 399-405). Imago. (Trabalho original publicado em 1956)        [ Links ]

Winnicott, D. W. (2005). Sobre os elementos femininos e masculinos ex-cindidos. In C. Winnicott, R. Shepherd, & M. Davis (Orgs.), Explorações psicanalíticas: D. W. Winnicott (J. O. A. Abreu, Trad., pp. 133-150). Artmed. (Trabalho original publicado em 1966)        [ Links ]

 

 

Correspondência:
Josefa Maria Dias da Silva Fernandes
Rua Bahia, 360
15013-160 São José do Rio Preto, SP
Tel.: 17 3234-4079
josefadiassf@gmail.com

Recebido em 2/12/2020
Aceito em 16/12/2020

 

 

1 Na mitologia grega, Ismênia era irmã de Antígona, Polinice e Etéocles, filhos incestuosos de Édipo e da rainha Jocasta. Era uma mulher frágil, ao contrário da irmã. Ficou triste com a partida de seu pai de Tebas, mas não tomou atitude nenhuma em relação a isso. Quando Creonte lavrou um decreto que proibia qualquer tebano de enterrar o corpo de Polinice, morto na guerra contra Etéocles, Antígona acabou desobedecendo a lei e enterrando o irmão de ambas. Ismênia, visando defendê-la, tentou levar a culpa e ser morta no lugar da irmã, mas foi logo desmentida por esta (Ismênia, 2020).
2 A paciente se referia a casas geminadas.

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