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PsicoUSF
versão impressa ISSN 1413-8271
PsicoUSF v.10 n.1 Itatiba jun. 2005
RESENHA
Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola
Fabiano Koich Miguel 1
Universidade São Francisco
Boruchovitch, E., & Bzuneck, J. A. (Orgs.). (2004). Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 282 p.
Para que a escola possa cumprir seu papel de desenvolver ao máximo o aprendizado dos alunos, é necessário conhecer como a aprendizagem se processa, ou seja, de que maneira o aluno aprende, e também quais os fenômenos que o influenciam. O livro organizado por Evelyn Boruchovitch e José Aloyseo Bzuneck reúne nove artigos atuais e concernentes à Psicologia Educacional, que buscam lançar luz sobre diferentes visões da área.
No primeiro capítulo, chamado Aprendizagem por processamento da informação: uma visão construtivista, José Aloyseo Bzuneck expõe a ótica construtivista do modelo de processamento de informação. A nova abordagem concentra-se apenas no funcionamento cognitivo, expli-cando a atividade mental do aluno individualmente. O autor descreve o fluxo da informação, explicando os papéis e limitações dos tipos de memória que selecionam a entrada de informação do ambiente, processam as informações, operam e codificam o novo conhecimento associando-o a um já existente, para então armazená-lo de maneira organizada e poder recuperá-lo posteriormente. Esse esquema é usado para explicar a incapacidade de alguns alunos de focar a atenção, descrevendo estratégias adequadas e inadequadas tanto de professores quanto de alunos no processo de aprendizagem.
Evelyn Boruchovitch, no segundo capítulo, A auto-regulação da aprendizagem e a escolarização inicial, revê o conceito de auto-regulação em diversas abordagens teóricas, inclusive do processamento de informação, para expor a importância da metacognição desde a infância e, especialmente no ensino fundamental, para desenvolver estratégias de autocontrole. A autora cita pesquisas que demonstram que atrasos no desenvolvimento metacognitivo estão relacionados a baixo desempenho escolar, sugerindo estratégias motivacionais que promovam o desenvolvimento da auto-regulação, responsabilizando o aluno pela sua aprendizagem.
O terceiro capítulo, A aprendizagem por meio de jogos: uma abordagem cognitivista, escrito por Maria Aparecida Mezzalira Gomes e Evely Boruchovitch, apresenta os benefícios de se utilizarem jogos com alunos, que podem servir tanto para fins de diagnóstico e intervenção, quanto para auxiliar a criança a auto-avaliar seu desempenho e desenvolver a auto-regulação de seus processos cognitivos e afetivos, o que será útil não apenas na escola, mas também em seu desenvolvimento profissional. Utilizando como referência a teoria do processamento de informação, as autoras demonstram que os desafios do jogo são representativos das exigências da vida real, portanto, seu uso tem fins de aprendizagem.
O quarto capítulo, intitulado A importância da compreensão de leitura para a aprendizagem de universitários, de Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Katya Luciane de Oliveira, apresenta a leitura como importante via de comunicação entre sujeito e sociedade. Destacando a visão cognitivista no entendimento do processo de aprendizagem, as autoras revisam diversos estudos explicativos das habilidades mentais e sugerem o teste de Cloze como instrumento de avaliação da compreensão de leitura. Criticam, ainda, a reduzida habilidade de estudantes universitários em compreender textos científicos e desenvolver argumentos críticos, resultado da insatisfatória escolarização, destacando a responsabilidade das universidades no processo de formação profissional.
O quinto capítulo foi escrito por Sonia Regina Loureiro e Paula Cristina Medeiros e se chama Crianças com dificuldades de aprendizagem: vulnerabilidade e proteção associadas à auto-eficácia e ao suporte psicopedagógico. As autoras utilizam a abordagem desenvolvimentista para conceituar situações de risco no contexto escolar e apresentar a dificuldade de aprendizagem como fator de vulnerabilidade no desenvol-vimento infantil. Destaca-se a autopercepção do aluno em relação à sua auto-eficácia como determinante do rendi-mento acadêmico, apontando uma pesquisa cujo resultado incentiva o uso de programas de intervenção psicopeda-gógica em crianças com baixo desempenho escolar.
No sexto capítulo, Necessidade de pertencer: um motivo humano fundamental, Sueli Edi Rufini Guimarães mostra a escola como um importante ambiente de interação com outras pessoas, especialmente na adolescência, quando surgem mais dificuldades ligadas ao social, e apresenta elaborações teóricas sobre a necessidade hu-mana de pertencer, levando em consideração a percepção da qualidade do vínculo com os outros. A autora apresenta pesquisas que demonstram a importância da figura do professor, e também a relação entre o sentimento de pertencer e melhor qualidade de vida, tanto escolar quanto pessoal e social.
Carolina Lisboa e Sílvia Helena Koller, no sétimo capítulo, Interações na escola e processos de aprendizagem: fatores de risco e proteção, retratam a escola não apenas como um ambiente de aquisição de conhecimentos, mas também de desenvolvimento social para os jovens. Criticando a maior ênfase da Psicologia Educacional nos aspectos cognitivos dos alunos, as autoras utilizam a Teoria dos Sistemas Ecológicos para também entender a qualidade das interações com professores e pares, que podem gerar fatores de proteção ou situações de risco, como a vitimização.
Em Interação social, cooperação e aprendizagem, oitavo capítulo, Fermino Sisto, numa abordagem piagetiana que considera a interação social fundamental para a apren-dizagem, conceitua dois tipos de conflito: cognitivo e sociocognitivo. Para ambos, o autor apresenta a definição dos construtos e suas influências nas situações de aprendizagem, assim como suas limitações, comentando os resul-tados das pesquisas desenvolvidas no Brasil, questionando, inclusive, a metodologia de algumas delas, e expondo algumas questões pertinentes que permanecem em aberto.
No nono e último capítulo, Aprendizagem escolar e contextos competitivos, José Aloyseo Bzuneck e Sueli Edi Rufini Guimarães expõem diversas situações no ambiente escolar, em que a competição é estimulada pelos professores ao comparar o desempenho de alunos, ainda que a intenção tenha sido benéfica. Os autores citam pesquisas que estudam os efeitos desse contexto na autopercepção das habilidades, na auto-estima e na motivação dos alunos, e também nas estratégias que eles usam para lidar com isso. Revendo abordagens teóricas que explicam esse fenômeno, sugerem-se alguns procedimentos mais eficazes para ser usados por professores.
Os capítulos que compõem essa obra tomam o cuidado de explicar detalhadamente os conceitos de que fazem uso, revendo o arcabouço teórico da Psicologia Educacional e citando pesquisas pertinentes, recentes e nacionais. Além de apontar a adequação ou inadequação de estratégias de aprendizagem, tanto de professores quan-to de alunos, os autores sugerem novos procedimentos, sejam de intervenção, sejam de prevenção, que podem ser adotados pela instituição educacional. Por isso, essa obra é recomendada aos profissionais envolvidos com o contexto escolar, sejam eles professores, educadores, psicopedagogos ou psicólogos.
Endereço para correspondência
E-mail: fabianokm@yahoo.com
Sobre o autor:
1 Fabiano Koich Miguel é psicólogo, especialista em Psicologia do Trânsito e mestrando em Psicologia pela Universidade São Francisco.