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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.5 n.1 Brasília  1985

 

EM DEBATE

 

Revendo a prática da Psicologia Social

 

 

 

Sílvia Lane: na origem da Psicologia Social já se encontram duas preocupações básicas: a aplicação prática — na seleção de pessoal, ao encontrar habilidades de relações sociais, etc.—  e a questão das atitudes. Essas duas linhas vêm percorrendo a Psicologia Social até hoje. Acredito que isso está extremamente vinculado às condições históricas, sobretudo norte-americanas, porque é nos EUA que a Psicologia Social realmente se desenvolve. Para nós o problema se coloca em termos de América Latina; como adaptar, ou transportar, para a nossa realidade, uma Psicologia Social que se desenvolve num país com as características norte-americanas? Nós sentimos que ela tinha muito pouco a ver com a nossa realidade, acabava ficando restrita ao meio acadêmico. Era um discurso que não acarretava nada na prática e isso foi gerando uma necessidade de reflexão, uma crítica dessa psicologia, sem negar, é claro, as contribuições de Lewin, Fastinger, Heidegger, por exemplo. Eu diria que essas são as grandes linhas hoje: uma linha mais comportamental, mais tecnológica e uma linha mais cognitivista.

No meu caso, sempre procurei, nos meus cursos, enfatizar que se nós temos uma teoria, ela só persiste se a nossa realidade a confirmar. E só através da prática, da investigação, é que se pode fazer uma crítica da teoria, porque ela, em si, é insuficiente para explicar o real. A partir dessa crítica , nós tentamos ver onde é que estava a verdadeira contradição. Dentro desse modelo mais experimental — seja cognitivista seja comportamentalista — vimos que o problema era que uma tradição positivista procurava manter a objetividade dos fatos e negar ou controlar a subjetividade, que assim ficava afastada do fato social. O indivíduo era o objeto de estudo e a concepção de social era apenas um cenário. Tínhamos de resgatar a subjetividade para a Psicologia Social e mais, deixar de ver o indivíduo como produto de si mesmo; porque a característica fundamental do ser humano é eleser um produto histórico e, ao mesmo tempo, agente do meio.

Do ponto de vista de uma revisão crítica da Psicologia Social, o problema agora é a prática que, acredito, deve ser revista. Na medida em que se tem a concepção do Homem como produto e agente histórico-cultural, a atuação do psicólogo tem que ser mais consequente. Ele não vive mais aquela dicotomia teoria x prática mas teoria e prática têm de vir juntas; então a prática tem de ser constantemente refletida, revista e reformulada. Na medida em que se pensa o Homem de uma outra forma, tem-se de pensar a atuação profissional também de outra forma.

Essa visão crítica da Psicologia Social só é possível na América Latina, porque as condições históricas de países extremamente desenvovidos tornam o conhecimento deles inadequado para nós. Então, na América Latina surgem alternativas; os argentinos fazem uma revisão crítica de Freud, no Peru eles se voltam à literatura indigenista, tentando encontrar o sentido próprio de seu povo, por exemplo. Nós fomos caminhando, com pesquisas em comunidades pobres, em periferias, sempre voltados à realidade social da maioria da população brasileira.

Quanto às perspectivas da Psicologia Social, atualmente nós estamos com o campo em aberto. Há muita pesquisa a ser feita e o grande desafio agora é chegarmos às categorias do pacto social; porque toda psicologia é social, a não ser que você assuma que o homem possa não ser histórico. Nesse sentido, acho que as perspectivas são grandes. DemOS um salto qualitativo, estamos sentindo que há um movimento que é brasileiro. A ABRAPSO — Associação Brasileira de Psicologia Social —, que se reúne na SBPC, em âmbito nacional e em assembléias regionais, durante o ano, é um exemplo disso. Dá para perceber que o movimento está avançando, não só com psicólogos mas também com assistentes sociais, antropólogos, sociólogos, que precisam da visão da Psicologia.