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Psicologia: ciência e profissão
versão impressa ISSN 1414-9893
Psicol. cienc. prof. v.9 n.1 Brasília 1989
LEITURA
Como tratar o medo de dentista?
Inúbla Duarte
Mestre em Psicologia Aplicada. Prof» no Instituto de Psicologia da PUCRS, nas disciplinas de Ética Profissional e Psicologia Clínica. Coordenadora e Supervisora da Sociedade Núcleo de Estudos em Psicoterapia - NEP. P. Alegre - RS
O "medo do dentista", que tantos prejuízos pode trazer à saúde das pessoas, nas mais diversas idades, pode agora ser mais bem compreendido. A possibilidade de "aplicar a Psicologia na prática/odontológica" foi a feliz associação realizada pela psicóloga e odontóloga Prof". Myrna Cicely Couto Giron, em seu livro "Fundamentos Psicológicos da Prática Odontológica" (D. C. Luzzato Editores Ltda, P. Alegre, 1988).
Em sua obra, a autora, com linguagem clara e de fácil compreensão, consegue ir desenvolvendo conceitos psicológicos fundamentais à compreensão da dinâmica da personalidade, aliando-os a sua rica vivência como odontóloga e professora de Psicologia Aplicada, no curso de Odontologia. Leva o leitor à estreita inter-relação do indivíduo com o "meio" e, mais especificamente, à relação com a figura "temida" daquele que é responsável pela prevenção e tratamento de nossos dentes o dentista.
Realidade e fantasia são estudadas, observadas e entendidas na complexidade das relações odontólogo-paciente e em consonância com suas experiências existenciais.
Com esta obra, a autora procura capacitar o futuro odontólogo para um melhor e mais adequado desempenho profissional, através da compreensão dos aspectos psicológicos envolvidos em sua situação de trabalho; com o objetivo de libertá-lo da pressão em ser onipotente, de resolver dificuldades que escapam aos limites odontológicos, são expostos aspectos importantes que caracterizam o ser humano, nos seus mais diferentes momentos vitais, com a preocupação de diferenciar entre reações ditas "normais" de outras consideradas "patológicas".
Com rara capacidade de síntese e integração, a autora torna possível o conhecimento do funcionamento da pessoa, desde seu nascimento até a velhice, sob o enfoque psicanalítico. As crises vitais, com suas características específicas; a ansiedade, suas manifestações e as defesas utilizadas na situação de conflito, são entendidas através de contribuições advindas de Freud, Melanie Klein, Anna Freud, Erick Erickson, Arminda Aberastury e Lidz, entre outros.
A compreensão dos fatores ansiogênicos despertados nas situações de dor, de enfermidades e de cirurgias na prática odontológica é necessária e fundamental para que exista uma geral conscientização de que o "odontólogo não trata apenas de uma boca e sim de uma boca que faz parte de uma pessoa", com história passado, presente e futuro inserida na complexidade do contexto sócio-econômico-cultural em que vive.
Os estereótipos atribuídos ao odontólogo, em conseqüência de aspectos inconscientes originados da ansiedade de castração, sentimentos de culpa etc. revelados através de simbolismos de dentes e do processo de dentição, chamam nossa atenção para a difícil tarefa que esse profissional de saúde enfrenta no seu dia-a-dia. O cirurgião-dentista é identificado, em brincadeiras, em charges de jornais e revistas, como o "agressor, o carrasco", fazendo com que surjam atitudes punitivas na dinâmica "vítima-agressor" sociedade paciente odontólogo.
Mas talvez a questão mais relevante nesta obra, seja o alerta que a autora faz quanto às ansiedades patológicas frente ao tratamento dentário, que levam crianças, adolescentes, adultos e velhos, não só a abandonarem os tratamentos necessários, como às enfermidades intercorrentes, à negação completa da existência de dentes, que impedem o paciente de ir ao dentista. As possíveis intervenções que este pode realizar e a necessidade da ajuda de um psicólogo na solução de problemas emocionais mais severos são enfatizadas através do relato da experiência da autora, nesta obra que é o resultado de uma feliz união de duas áreas a da Odontologia e a da Psicologia.