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Construção psicopedagógica
versão impressa ISSN 1415-6954
Constr. psicopedag. vol.22 no.23 São Paulo 2014
EDITORIAL
O presente número da Revista Construção Psicopedagógica traz de forma contundente o caráter multi, inter e transdisciplinar, desde a formação do psicopedagogo e do psicólogo, da interação com a própria escrita para a construção da autonomia, passando pela vivência de projetos sociais, pelo uso da tecnologia no ensino e atendimento, bem como as políticas públicas na inclusão de crianças na Educação Infantil e adultos deficientes mentais no Ensino especial e regular.
O primeiro artigo, Sustracción, inmunización, capacitación, escrito por Osvaldo Bonano, da Argentina, nos traz com maestria o processo de construção da escrita monográfica, através da troca de experiência em grupo e, ao mesmo tempo, do desenvolvimento da capacidade de criação e invenção do aluno, a partir da própria prática. Com o apoio do grupo e dos mestres, processos mais subjetivos e ocultos se materializam numa intensa produção, permitindo que a autoria se instale de forma consistente:
Los textos de los alumnos son una extraordinaria vía de acceso a la capacidad de invención y creación. Un recorrido por secuencias temporales que abarquen las doce o catorce semanas del cuatrimestre y sus diversos topoi, en este caso la actividad escritural, permite tener acceso a una variedad de posiciones subjetivas, pensares y procesos que, silenciados o sencillamente ocultos ante el resto o el conjunto del agrupamiento, son de extraordinaria intensidad y productividad.
O artigo Os desafios da aprendizagem em projetos sociais: reflexões sobre incubadoras universitárias de empreendimentos solidários com enfoque multidisciplinar, produzido por Eloisa Quadros Fagali, do Instituto Sedes Sapientiae e Maristela Miranda Vieira de Oliveira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, propõe, como resultado da análise feita das Incubadoras Universitárias de Empreendimentos Solidários, em que um processo de aprendizagem operativa em grupo foi fundamental para o desenvolvimento do autoconhecimento e do conhecimento do outro, bem como da cultura na qual as pessoas se veem mergulhadas, tornando possível o sentimento de pertencimento ao grupo e, consequentemente, a sua emancipação social e coletiva. Dele ressaltamos:
Enquanto projeto de extensão universitária, a Incubadora representa uma oportunidade de aplicar o conhecimento científico desenvolvido na Universidade, através de suas diversas áreas de conhecimento, em prol de uma demanda real, carente de apoio, acompanhamento e desenvolvimento de técnicas que contribuam para a emancipação social e coletiva, como preza a ideologia da Economia Solidária. É uma tecnologia social capaz de contribuir na prática do ensino, pesquisa e extensão a partir de uma ação multidisciplinar, integrando os diversos saberes produzidos e reproduzidos no meio acadêmico. (Fagali e Oliveira).
Os três proximos artigos, trazem importantes reflexões da área da educação para aprática psicopedagógica. Os estudos realizados por Morgan, Silva, Knackfuss e Medeiros, da UERN e sintetizados no artigo As políticas públicas no contexto da educação infantil brasileira apontaram que apesar de todo o processo de evolução e transformação da Educação Infantil no cenário brasileiro, ainda se faz necessário repensar novas práticas que venham priorizar melhorias na qualidade deste nível de ensino.
Quando se pensa em avaliar a qualidade da educação infantil, deve-se fazê-la pelas oportunidades que esta oferece a criança para o seu pleno desenvolvimento, o erro é pensar na educação infantil como uma fase de preparação para o ensino fundamental, quando na verdade é uma preparação para a vida (Morgan, Silva, Knarchfuss e Medeiros).
As autoras Irene Vicente de Arruda e Marisa Irene Siqueira Castanho no artigo Educação de jovens e adultos deficientes mentais: reflexões sobre a permanência na escola especial ressaltam o caráter único e singular da produção de sentidos dos sujeitos com deficiência mental. Nessa produção, os aspectos individuais e sociais se articulam mutuamente. Segundo elas, o sentido subjetivo não é uma reprodução singular da pessoa que se constitui em diferentes momentos da vida, do contexto cultural e do homem atual de sua história. Dessa maneira, o olhar e o fazer psicopedagógicos ganham suportes interventivos de grande valia na reflexão sobre as ações educacionais desenvolvidas nos espaços de educação especial e sobre as possibilidades de inclusão social e escolar para jovens e adultos com deficiência mental, a partir de seu reconhecimento como sujeitos de direitos.
A inclusão, como termo novo, propõe como princípio a não segregação de nenhum ser humano, ou seja, uma exigência onde todos sejam incluídos, independente da cor, raça, sexo ou idade. A inclusão no aspecto educacional torna-se fundamental não só no quesito do acesso como também da permanência com qualidade para todos os alunos nas instituições escolares. (...) Arruda e Castanho
Para cada nova invenção tecnológica precisaremos repensar as possibilidades de intervenção psicopedagógicas no processo de aprendizagem. O artigo O que vem a ser um software "educativo", de Lormina Barreto Neta, da UNEB, aborda os paradigmas que sustentam o uso da tecnologia e seus aparatos na educação, fazendo a análise do software de astronomia do tipo simulação 3D do universo, de código aberto, criado por Chis Laurel denominado Celestia, considerando o contexto de aprendizagem que pode ser criado com a sua exploração:
Focar o olhar para o processo de aprendizagem, percebendo como o sujeito aprende e como fazê-lo aprender melhor numa interação em espaços/ambientes coletivos de aprendizagem seguindo rumo a uma concepção interdisciplinar do conhecimento que fuja à fragmentação, favoreça uma convivência harmônica entre homens, natureza constituindo-se uma visão ecológica que compreende os sistemas naturais inseridos numa totalidade indivisível. Nesse sentido surge a necessidade de se pensar a "escola expandida", reconhecendo "a ampliação dos espaços onde trafegam o conhecimento e as mudanças no saber" advindo do avanço das novas tecnologias da informação e comunicação que exige do aprendente uma alfabetização tecnológica que possibilita o uso social de instrumentos eletrônicos.
Os dois próximos artigos trazem estudos da área da Psicologia que podem contribuir para a reflexão da prática psicopedagógica.
O primeiro deles, Psicólogos e TDAH: possíveis caminhos para diagnóstico e tratamento escrito por Daniela Dadalto Ambrozine Missawa e Claudia Broetto Rossetti, da Universidade Federal do Espírito Santo tem como objetivo fazer um levantamento acerca das principais estratégias utilizadas por psicólogos brasileiros para realização do diagnóstico e tratamento de pessoas com TDAH.
(...) pôde-se observar a necessidade de realizar estudos mais aprofundados acerca dos grupos multidisciplinares para diagnóstico e tratamento de pessoas com TDAH que foram apontados pelos profissionais da Psicologia participantes do presente estudo. Tais grupos podem ser de suma importância para que as pessoas com TDAH sejam diagnosticadas e tratadas de forma mais adequada e completa.(Missawa e Rossetti)
O segundo, A base poética da mente: outras e possíveis linguagens no trabalho do psicólogo na escola, escrito por Rosane Barbosa Marendino, da Universidade Federal Fluminense - RJ, propõe uma revisão das relações e das práticas do psicólogo na educação considerando novos paradigmas, dentre eles o conceito de base poética da mente.
Na crítica referente aos tempos modernos, estabelecidos sob o paradigma da racionalidade e da cientificidade, é possível perceber uma crise instalada no campo educacional. Tal fato nos instiga a um novo olhar que emerge, contemporaneamente, na incerteza e no mistério, possibilitando que a razão ceda lugar à explosão das imagens e do universo simbólico. Faz-se necessária uma retomada da função educativa da imaginação, entendida aqui como uma faculdade que assume e constrói a coerência do ser. O papel do imaginário educacional torna-se fundamental na construção da identidade de alunos e docentes. (Rosane Barbosa Marendino)
Os dois últimos artigos reforçam a prática psicopedgógica. O primeiro deles, busca trazer contribuições da Linguística para o campo da Psicopedagogia no que tange à concepção de linguagem e do processo de aquisição e uso da leitura e escrita, tendo como objetivo orientar uma prática psicopedagógica não medicalizante. Assim, Laura Muller em Linguística e psicopedagogia: contribuições para uma prática não medicalizante faz uma crítica à concepção de linguagem presente na definição, diagnóstico e tratamento de Dislexia e nos aponta um caminho importante dentro da Psicopedagogia:
Ao contrário das concepções que sustentam o diagnóstico e os tratamentos para a Dislexia que entendem a linguagem como um código, argumentou-se que o sentido, que se constrói na interlocução e no contexto sócio histórico, é central no processo de aquisição e uso da leitura e da escrita. (Muller)
E finalmente, Adriane Cavalcanti nos traz a Gestalt-terapia através do artigo Gestalt-terapia e psicopedagogia, buscando contribuir para as reflexões e práticas psicopedagógicas a partir de três temas, que correspondem a princípios fundamentais dessa psicoterapia e que podem ser pensados na área pedagógica, a saber: 1- a awareness como ampliação da consciência dos sujeitos envolvidos na dinâmica da aprendizagem; 2- os níveis de contato e resistência na situação de aprendizado; e 3- o jogo entre figura e fundo na aprendizagem.
(...) a Gestalt-terapia amplia as possibilidades de direção para reflexão e prática da Psicopedagogia contribuindo tanto para lidar com as dificuldades de aprendizagem, quanto para desenvolver projetos e procedimentos educacionais. (Cavalcanti)
Desta forma, a Revista Construção Psicopedagógica convida você leitor para refletir sobre os diferentes olhares e possibilidades do trabalho psicopedagógico, bem como a sua interface com outros campos: educação, linguagem, psicologia, sociologia, entre outras. Além da sua companhia, espero também a sua contribuição para a próxima revista...
Marlene Coelho Alexandroff
Editora Científica