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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. vol.28 no.29 São Paulo  2020

https://doi.org/10.37388/CP2020/v28n29a01 

RESENHA

 

Morin, E. (2000). Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2ª ed., São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2000.

 

 

Rose Skripka N. Gabriel1

Instituto Sedes Sapientiae - SP

 

 

Esta obra, dedicada ao ofício da educação, realizada pelo filósofo, antropólogo e sociólogo francês Edgar Morin, em tempos de pandemia torna-se mais viva e penetrante do que nunca, pois é considerando o próximo como um ser importante em sua multivariedade e participação ativa na construção do conhecimento que poderemos avançar na aprendizagem e no enfrentamento de dificuldades.

No primeiro capítulo, o autor descontrói a ideia de possibilidade de uma educação na qual os elementos que a constituem surgem imperturbáveis diante da crítica, na qual não se abre espaço para reformulações em sua lógica. Na concepção do autor, os tipos de erros que grassam no meio educacional são trazidos como se fossem alertas, sobrepujando os preconceitos e julgamentos superficiais. O capítulo "As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão" aponta as facetas do erro na interpretação do conhecimento. Os erros mentais, advindos da associação do sistema neuro cerebral às interpretações que nos são mais convenientes, desembocam nos erros intelectuais, que constroem o saber pautado em elementos que suscitam menos desconforto. Os conceitos paradigmáticos tornam-se então matrizes que privilegiam certos conhecimentos em detrimento de outros, havendo um afastamento dos padrões que abarcam a complexidade da vida.

As ferramentas para a quebra dos velhos paradigmas são a educação e o conhecimento científico pautados na crítica e na autocrítica, que impulsionam a criação de novos conhecimentos.

No capítulo dois, "Os princípios do conhecimento pertinente", Edgar Morin sustenta a necessidade do contato com o saber de forma que os indivíduos possam aplicar sua inteligência mais basal, como a curiosidade. Na mesma medida, propõe que o ser humano pode ser compreendido no entrelaçamento de diversos âmbitos, tais como o biológico, o psíquico, o social, o afetivo e o cognitivo. Ao mesmo tempo, numa dimensão macro, as sociedades são expressas pela história, a economia, a sociologia e a religião. Acontece que há uma prática comum de renunciar aos problemas globais nas ciências disciplinares. Desta forma, a compartimentalização das disciplinas e da inteligência acarretam desvantagem na busca por soluções de problemas, uma vez que tenta separar o que está unido de forma entrosada.

O autor defende no capítulo três, intitulado "Ensinar a condição humana", que se faz imprescindível na educação para o futuro a ligação do conhecimento das ciências naturais, nas quais estão registradas nossas condições de animalidade, com a cultura, que é o conjunto de manifestações humanas produzidas pela convivência em sociedade.

Dando seguimento à questão da identidade planetária que considera a mundialização da informação, no capítulo quatro, "Ensinar a identidade terrena", Edgar Morin destaca a educação voltada para uma consciência que precisa elaborar os saberes globais que nos chegam de forma acelerada. Neste tópico, a pátria é a Terra, vivemos juntos os problemas fundamentais. A educação do futuro visa alimentar a consciência das pessoas em relação à díade diversidade e individualidade, com constante dedicação à solidariedade e à valorização da ecologia, que compreende nossa sobrevida e convivência no planeta.

O capítulo cinco, "Enfrentar as incertezas", vem explanar os passos discutidos anteriormente, enfatizando a necessidade de se ponderar sobre o desenrolar histórico abstruso. Num outro ângulo, a sombra da incerteza nos acompanha, sejam nas questões psicológicas, na quais subjaz um mundo inconsciente, seja na racionalidade, quando carece de crítica e autocrítica. As considerações de Edgar Morin apontam que na educação para o futuro as estratégias devem ser desenvolvidas antes dos programas, haja vista que podem examinar de antemão as incertezas e as probabilidades dos cenários ambientais, capacitando as pessoas a traçarem planos de ação que vislumbram o conhecimento complexo.

O autor apresenta no capítulo seis, "Ensinar a compreensão", a necessidade do ensino voltado à moral, que oportuniza o conhecimento além do saber intelectual, incluindo as vivências de empatia e generosidade. A compreensão ética pressupõe a tolerância e a capacidade de aprender com o outro, investigando o grau de verdade naquilo que antagoniza a nossa visão de mundo.

O sétimo capítulo "A ética do gênero humano" conclui a obra trazendo a discussão sobre a democracia, apresentada como um sistema político complexo no qual podem coexistir ideias conflituosas, mas que são capazes ao mesmo tempo de trazer dinamismo às comunidades e respeito às diversidades. Na esfera da educação, a ética proposta por Edgar Morin pressupõe a gestão consciente da própria vida e a noção de cidadania planetária. Nesta perspectiva, a sala de aula deve ser um lugar de debate cujo cerne é o esforço para compreender o outro, para que se desenvolva um aprendizado democrático.

A aplicabilidade da leitura desta obra diz respeito a um resgate dos valores humanos essenciais, que nos fazem conscientes de que devemos prezar por nossa individualidade, mas também precisamos dialogar com os outros mais próximos, com a nossa comunidade e o nosso planeta, sendo a educação e a comunicação críticas os esteios fundamentais para o nosso crescimento moral, afetivo, político e intelectual.

 

 

1 Rose Skripka do Nascimento Gabriel, psicóloga, psicopedagoga, mestre em Psicologia da Saúde.

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