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Revista Mal Estar e Subjetividade

versão impressa ISSN 1518-6148versão On-line ISSN 2175-3644

Rev. Mal-Estar Subj. v.3 n.1 Fortaleza mar. 2003

 

RESENHAS DE LIVROS

 

 

Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher

Professora Doutora do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza. e-mail: agathon@foralnet.com.br

 

 

 

Maria José Esteves de Vasconcelos
PENSAMENTO SISTÊMICO: o novo paradigma da ciência
Campinas, São Paulo: Papirus, 2002, 272p

A teoria geral dos sistemas tem sido tema de inúmeros livros e, até mesmo, do filme "O ponto de mutação", baseado no livro de Fritkof Capra. Em outubro de 2002, foi lançado, no Brasil, o livro "Pensamento Sistêmico. O Novo Paradigma das Ciências", de autoria da Prof. Maria José Esteves de Vasconcelos, versando sobre o tema, o qual já se encontra na sua 2ª edição.

Anteriormente, em 1995, a referida professora publicou o livro "Terapia Familiar Sistêmica: Bases Cibernéticas", que se tornou um instrumento valioso de reflexão das bases epistemológicas acerca da prática terapêutica com o grupo familiar, destinado a profissionais que atuam na área da Terapia Familiar e aos pesquisadores do campo epistemológico.

Essa iniciativa possibilitou, também, a ampliação de saberes, úteis ao desenvolvimento de outras atividades no campo da psicologia e de ciências afins.

Este ano, ela nos apresenta, através do pensamento sistêmico, enquanto paradigma da ciência, uma reflexão desse pensamento, que enfatiza o sistema de relações e das interações, presentes em toda a vida do ser humano.

O livro tem início com a apresentação das origens do paradigma do conhecimento científico; nele são identificadas as noções de paradigma e epistemologia, através de vários autores, com destaque para Bertallanffy, autor do livro Teoria Geral dos Sistemas, publicado em 1968, os quais se propuseram a identificar os princípios gerais do funcionamento de todos os sistemas e sua aplicação às varias ciências empíricas.

Na perspectiva de Thomas Kuhn, a Prof. Maria José apresenta o conceito de paradigma e, através de vários exemplos de experimentos no campo da percepção, procura demonstrar como os novos paradigmas influenciam nossas percepções e nossas ações.

Ela discute também o trabalho de Backer, sobre a questão dos paradigmas, apontando para autores como Paul Watslawick, que escreveu Pragmática da Comunicação Humana, tido como um dos pioneiros na abordagem sistêmica das interações humanas. No seu texto, a autora considera que as premissas de terceira ordem constituiriam, no conjunto, nossa visão de mundo, identificando-as como premissas de nossos paradigmas.

A prof. Maria José observa que, no âmbito da psicologia, o pensamento sistêmico não pode se limitar a uma nova corrente em psicoterapia, ou até se confundir com a terapia familiar, como tem sido muitas vezes identificado. Trata-se, no caso, de um novo paradigma que "antecede qualquer prática, inclusive a psicoterapia". A referencia que faz aos trabalhos de Maturana e Varela apontam para os nossos "pontos cegos" cognitivos, presentes em nossas visões de mundo, relacionando-os com os limites do paradigma em vigência e concluindo que uma mudança na visão de mundo só pode ocorrer por meio de vivências de experiência e de "evidências de seu esgotamento".

A autora discorre sobre as diferenças entre teoria e paradigma, aos sentidos atribuídos ao termo "epistemologia na ciência", percorrendo autores que vêm trabalhando sobre esses conceitos, ao longo da construção do conhecimento sistêmico.

Sua apresentação sobre a evolução, ou melhor as transformações do paradigma da ciência, enfatizam alguns temas da contemporaneidade, provenientes da física e os novos pressupostos epistemológicos, destacando os trabalhos dos pesquisadores: Planck, Einstein-Bohr, com questionamento sobre a contradição, onda/corpúsculo; Boltzman, com suas indagações acerca da desordem molecular; e Heisenberg, com a questão da incerteza que gerou o "princípio de incerteza". Essas contribuições permitiram o surgimento de pressupostos responsáveis pelo direcionamento das novas correntes da ciência: complexidade, instabilidade e intersubjetividade.

De forma muito didática, a partir desse recorte, a autora procura explicar esses conceitos, articulando-os com os processos de conhecimento, indicando uma "ciência novo-paradigmática" como ela própria denomina, da qual despontam três eixos: complexidade, instabilidade e intersubjetividade, indicadores do desenvolvimento ou da passagem de uma cibernética tradicional a uma cibernética novo-paradigmática, denominada de epistemologia Si-cibernética.

De maneira clara, ela nos introduz ao pensamento sistêmico e à "cibernética de segunda ordem".

Este livro constitui uma referência ímpar na literatura brasileira, acerca do tema, sendo de grande importância para as mais variadas áreas das ciências, bem como para profissionais interessados em melhor compreender o contexto em que se encontram inseridos.

O grande momento da autora acontece ao apresentar uma nova maneira de pensar e de perceber o mundo, destacando as inter-relações entre os elementos que o constituem.

Não resta dúvida que o livro nos traz, no seu bojo, o resultado de um esforço transdisciplinar, cujo desenvolvimento teve início no século passado, com as contribuições emprestadas por vários campos da ciência.

A leitura deste livro abre, assim, as portas para a compreensão do conhecimento e de como ele se constitui, a partir da nossa visão de mundo.

 

 

Recebido em 10 de julho de 2002
Aceito em 22 de agosto de 2002
Revisado em 25 de agosto de 2002

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