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Stylus (Rio de Janeiro)
versão impressa ISSN 1676-157X
Stylus (Rio J.) no.35 Rio de Janeiro jul./dez. 2017
Editorial
Joseane Garcia
Stylus 35 inaugura uma nova fase da revista. Todas as etapas desta edição foram feitas pela plataforma Open Journal Systems (OJS), no novo site da revista: http://stylus.emnuvens.com.br. O leitor encontrará nesse endereço toda a revista online. Além de facilitar e agilizar a gestão completa do processo editorial, a plataforma oferece ferramentas para pesquisa em seu conteúdo e a integração com outros sistemas para compartilhamento, divulgação, preservação e democratização do acesso ao material publicado. A OJS é uma opção interessante para uma das metas da atual gestão, que é colocar a revista circulando entre os vários fóruns, inclusive internacionalmente. Para isso, foi necessária também a mudança das normas de publicação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) - que somente é utilizada no Brasil - para as da American Psychological Association (APA) - que é um dos estilos de referência mais populares entre os periódicos científicos na área.
O tema desta edição, Sexuação e Identidades, é o mesmo do último Encontro Nacional da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil e do II Simpósio Interamericano da Internacional dos Fóruns do Campo Lacaniano. A maioria dos artigos é fruto deles e contribui para as questões de gênero e diversidade sexual.
A partir de 1972, Lacan introduz o termo sexuação para falar do que amarra o sujeito com o gozo. Sexuação para indicar uma ação, um processo de linguagem, não um fato de natureza. Nas fórmulas da sexuação, ele define as posições masculina e feminina como posições de gozo. Duas identidades de gozo: a toda-fálica e a não-toda fálica. Cada sujeito tem sua forma de se situar na partilha dos sexos e de circular nas diversas posições de gozo.
Nesse caminho, Antonio Quinet abre a seção Conferência recorrendo aos mitos de Édipo e Tirésias para analisar que os transgêneros demonstram o que aprendemos com Freud e Lacan: a posição sexuada está para além da anatomia.
Rosane Braga de Melo, em uma segunda conferência, ressalta a atualidade das teses freudianas, analisando um caso de criança-trans e como o discurso do analista e a ética da psicanálise podem contribuir para uma discussão de forma que não foraclua o modo como a criança pode se orientar a partir do gozo de sua própria condição de sujeito do desejo.
Logo depois, temos uma nova seção, que inauguramos para acolher Artigo bilíngue. Começamos com o texto em francês de Pedro Ambra e, em seguida, sua versão em português, feita pelo próprio autor. Ambra trata a questão da identidade de gênero fazendo uma aproximação com o conceito de identificação, propondo que o processo de identificação sexuada pode ser repensado como uma resposta performada ao desejo do Outro.
Nessa seção, temos ainda dois textos em espanhol, os dois também com versão em português. Julieta De Battista, com tradução de Vera Pollo, questiona o poder de decisão sobre o corpo e a liberdade de escolha dos transexuais na infância. E Agustina Saubidet, com tradução de Yordy Licea Fonseca e Rosana Maldonado Torres, revisa a questão do incesto em termos lógicos das fórmulas de sexuação.
Na seção Trabalho crítico com os conceitos, partindo da mesma questão de Julieta De Battista sobre a criança que escolhe o sexo oposto à sua anatomia em uma idade precoce, Maria Vitoria Fonseca Bittencourt revisita o caso Hans, abordando as concepções da escolha na criança nas vertentes de desejo e de gozo.
Logo depois, Vera Pollo percorre algumas passagens da biografia de Margarethe Csonka Trautenegg, a paciente homossexual de Freud, desenvolvendo com Lacan uma articulação do discurso sexual com a escolha homossexual feminina para destacar aspectos do quadro lógico da sexuação, em particular o quantificador não-toda.
Fechando essa seção, Glaucia Nagem trabalha a diferença entre sexuação e sexualidade a partir da lógica da sexuação como constituinte do discurso e de seus giros.
Na seção Direção do tratamento, Elisabeth da Rocha Miranda, por meio do caso Shirley, demonstra que não existe o significante que represente a mulher nem o homem, mas somente um operador que permite no inconsciente dar conta da diferença sexual, o falo.
Luciana Ribeiro Marques, Gisele Lavinas e Vinicius Müller apresentam o documentário A transexualidade e o estranhamento do corpo, com depoimentos de trans-mulheres e trans-homens que falam da questão do estranhamento do corpo, dos recursos à mudança de sexo, da escolha do parceiro e da representação do que é ser homem e do que é ser mulher.
Paulo Alberto Teixeira Bueno apresenta o caso de uma paciente cujo filho nasceu com uma malformação genital e em que, durante o processo de análise, quando a criança estava prestes a ser submetida a uma cirurgia de redesignação sexual, a paciente faz um giro em sua posição discursiva, mudando o destino da criança.
Ainda nessa mesma seção, Eduardo Brandão discute a demanda de pessoas transgêneras por alteração judicial do nome civil a partir de um fragmento de caso, defendendo a hipótese de que a mudança de nome civil proporciona ao sujeito o suporte simbólico que o singulariza e ao mesmo tempo representa-o para o Outro.
E, por fim, no Espaço Escola, diante de tema tão complexo e com limites do saber, Elisabete Thamer levanta alguns pontos extraídos de sua experiência de passe, apontando que uma modificação da relação do sujeito com o saber é necessária para o término de uma análise.
Esperamos que gostem, aproveitem e compartilhem a revista. Que ela cumpra sua missão de transmissão!
Boa leitura!
Joseane Garcia
Rio de Janeiro, janeiro de 2018.