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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas
versão On-line ISSN 1806-6976
SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.14 no.4 Ribeirão Preto out./dez. 2018
https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.152315
EDITORIAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.152315
Mídias sociais e suicídio
Kelly Graziani Giacchero Vedana
Professor Doutor, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail: kellygiacchero@eerp.usp.br https://orcid.org/0000-0001-7363-2429
As mídias sociais, por meio de sites e aplicativos, permitem que usuários criem e compartilhem conteúdos ou participem de redes sociais. Elas são amplamente difundidas e modificaram intensamente as formas de interação entre os indivíduos(1). As mídias sociais estão entre os múltiplos fatores de risco ou proteção para a saúde mental e o comportamento suicida, embora não possam isoladamente explicar esses fenômenos multifatoriais e complexos(2).
Na internet, o tema suicídio pode ser um "ponto de encontro" entre indivíduos vulneráveis, pois estudos revelaram que jovens com problemas de saúde mental são usuários mais pesados de mídias sociais(3) e pessoas que postam conteúdos sobre suicídio preferem usar blogs e fóruns on-line para se expressar e tendem a ser mais jovens, ter mais ideação suicida e afetividade negativa em comparação com pessoas sem postagens sobre suicídio(4).
A forma de abordar o suicídio em mídias precisa ser cuidadosa para evitar o efeito Werther ou contágio, que é um fenômeno de aparente disseminação de influências promotoras do comportamento suicida(5-6). Todavia, nas mídias sociais, conteúdos pró-suicidas podem ser produzidos anonimamente e são facilmente acessados por pessoas vulneráveis. Entre esses conteúdos estão os pactos de suicídio, jogos suicidas, manuais sobre métodos relacionados ao suicídio, bem como conteúdos que valorizam, romantizam, encorajam, condenam o suicídio ou dificultam a compreensão desse comportamento(7-8).
O uso de mídias sociais pode ser prejudicial especialmente quando é intenso, associado a cyberbullying, exposição excessiva de intimidade, expectativas não realistas, percepção aumentada da felicidade e sucesso alheio, procrastinação, falta de crítica, reflexão e de atitudes empáticas e responsáveis(1,4,9-12).
A intensidade e priorização da vida virtual também está associada a diversos prejuízos como sentimentos de inadequação, insatisfação com a imagem corporal, sintomas depressivos e ansiosos, pior qualidade do sono e a necessidade de engajamento excessivo nas mídias pelo medo de perder oque nelas ocorre(1,4,9-12). Considerando esses potenciais efeitos negativos das mídias sociais, é importante o desenvolvimento de pesquisas e intervenções relacionadas a ações educativas e de apoio para jovens, pais e educadores.
É preciso considerar também as potencialidades das mídias para a promoção da saúde mental e prevenção do suicídio. A incorporação de estratégias virtuais criativas e atrativas aos cuidados convencionais pode ser acessível, facilitar a adesão de jovens, as trocas de experiências, expressão e rastreamento de emoções e necessidades, catalisação de apoio e pertença, maior difusão de informações, conhecimento sobre repertórios de enfrentamento e melhores resultados aos cuidados em saúde(7-8). Existem diferentes recursos com tal finalidade, tais como: grupos de apoio, aplicativos, serious games, sites. Além disso, há situações em que o anonimato pode facilitar a busca inicial por apoio.
É importante investir em pesquisas, inovações tecnológicas e ações educativas e de cuidado criativas, acessíveis, eficientes e adaptadas para públicos diversos para que as mídias sociais sejam utilizadas de forma positiva, segura em prol da prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental.
Referências
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