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IGT na Rede

versão On-line ISSN 1807-2526

IGT rede vol.12 no.23 Rio de Janeiro jul./dez. 2015

 

ARTIGO

A Noção de Tempo e Espaço na Educação a Distância: A Descentralização do Processo Ensino-Aprendizagem.

The Notion of Time and Space in Distance Education: Decentralization of the Teaching-Learning Process.

Paulo J.R. Hospodar*

Fundaçãoo Getúlio Vargas - Rio de Janeiro, Brasil.

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo tem por finalidade rever a bibliografia a partir do surgimento da WEB1 2.0 no que diz respeito a noção de tempo e espaço no processo de ensino-aprendizagem na Educação a Distância (EaD).  A literatura que fundamenta o ensino-aprendizagem a distância orienta para um novo perfil e relacionamento dos atores (professor e estudante) com o surgimento das novas Tecnologias de Informação e da Comunicação (nTICs)2, tornando necessário um estudo sobre os impactos deste modelo sobre o sujeito que aprende e o que ensina, bem como o processo contato/afastamento no processo dialógico.  O tempo-espaço está para além da ideia de espaço físico e tempo determinado.  Essa noção de tempo e espaço tem uma forte representação, ou seja, na noção atemporal da rede, o curso a distância se localiza em um tempo e um espaço.

Palavras-chave: Educação a Distância; Ensino Superior; Tecnologias da Informação e Comunicação; Tempo e Espaço na Educação a Distância.


ABSTRACT

The present article aims to review the current bibliography starting from the WEB 2.0 regarding the notion of time/space in the teaching/learning process of e-Learning education. The available literature that bases the mode of teaching-learning guides to a new profile and the actors' relationship with the emergence of nTIC, thereby making imperative a study on the impacts of this model on the subject that learns and teaches. The space-time is beyond the idea of the physical space and certain time. This notion of time and space has a strong representation, in other words, in the notion of timeless network, the e-Learning is located in a time and space.

Keyword: Distance Education; Higher Education; Open University of Brazil; Technologies of Information and Communication, Time and Space in the Distance Education.


 

Introdução

Com o advento da imprensa o mundo se transformou, bem como a forma de se comunicar e de interagir.  Tal fato transporta o homem para outro patamar simbólico, e as novas mídias que surgiram ao longo da história alimentaram a construção de uma cultura global, e a transformação do tempo e do espaço no que diz respeito à percepção de distância.  A partir do aparecimento dos meios eletrônicos a sociedade se reorganizou, bem como o segmento da educação, e neste cenário o rádio, invento que surge no final do século XIX, entra no cenário mundial como um coadjuvante no processo educativo.  A comunicação, então, não mais presencial, preenche a lacuna do espaço, e nasce uma relação remota.  "No processo de ensino-aprendizagem, as atividades pedagógicas se estruturavam através dos recursos midiáticos, como atualmente nos utilizamos da WEB3"(SOUZA e SOUZA, 2007).

De acordo com Dorigoni e Silva (2008), " a partir dos anos 40 o processo tecnológico invade todos os setores da sociedade, bem como o da educação, atingindo, assim, salas de aula, casas e ambientes de trabalho". Neste momento, os autores enfatizam a interferência tecnológica na percepção do atuar e pensar do sujeito que recebe a informação a distância.  Agora, diante do novo cenário, surgem os desafios para ajustar as nTICs ao processo de ensino-aprendizagem, bem como observar sua contribuição na construção de um sujeito criativo e crítico.  Ressaltam também, os benefícios das novas mídias minimizando desigualdades sociais.

Prosseguindo nos desafios do processo de ensino-aprendizagem, com as novas tecnologias surge a preocupação quanto às práticas instrucionistas promotoras da não criatividade, que reforçam o processo reprodutivo de conteúdos, mantendo aquele que aprende em uma posição passiva no conhecimento.  Afinal, com as novas ferramentas midiáticas, os atores principais devem reformular muitas de suas ações. O professor deverá descentralizar seu poder e apesar de detentor do saber, deve entender que os estudantes podem também contribuir para a construção do conhecimento. Os estudantes, por sua vez, aprenderão novas formas de aprendizagem e principalmente a ter autonomia e independência, sendo agentes de sua própria aprendizagem, pois estarão em um novo tempo e espaço. Para os autores, as nTICs surgem e transformam o ser alterando a forma de perceber o mundo, de expressar e de transformá-lo.

De acordo com o Decreto n.º 6.303, de 12 de dezembro de 2007 para a formalização de um curso a distância, destacou-se quatro itens básicos para a qualidade na educação de um curso superior:

  • Professores e estudantes atuam em espaços distintos;
  • Necessidade de mediação tutorial;
  • Necessidade de apoio descentralizado ao estudante;
  • E o estudante é o centro do processo pedagógico.

Para Costa (2007),

"a própria modalidade EaD traz em seu bojo a noção de deslocamento espacial e temporal para professores e estudantes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, bem como a estrutura do design instrucional que estará orientada para este binômio.  De acordo com o autor, para assegurar a qualidade deste processo, o apoio presencial também ocorrerá através de pólos presenciais, espaços físicos que oferecerão apoio administrativo, acadêmico, bem como uma estrutura apropriada para desenvolvimento pedagógico".

Para esta modalidade, o processo de ensino-aprendizagem e sua organização estão orientados para o foco no estudante, isto é, o estudante como centro do processo pedagógico.  No Brasil, quando surgem ofertas de EaD para cursos superiores, observa-se que há estudantes que moram em regiões remotas e que não dispõem de computadores, em casa, nem no trabalho.  Para contornar tal impasse, um curso a distância deverá atender as condições daqueles estudantes e uma tecnologia adequada para não promover o processo de exclusão, ou seja, oferecer recursos humanos e materiais para o acesso a rede global.

Ainda de acordo com Costa (2007), "em um curso superior na modalidade a distância, em outro ponto remoto se encontra a tutoria, responsável pela mediação do processo ensino-aprendizagem". Este mediador fornece uma ponte entre os professores e os estudantes.  Enfatiza que a interface de comunicação deve ser adequada para que o estudante se comunique com a rede do sistema de ensino ao qual está envolvido, bem como realizar tarefas síncronas4 e assíncronas5, participar de fóruns, comunidades virtuais, e se utilizar dos recursos oferecidos pela plataforma de estudo.  Para um atendimento de qualidade, esta tutoria estará dividida entre tutoria a distância e presencial, sendo que a primeira é a mediadora do processo pedagógico para os envolvidos em um espaço remoto, e a segunda, uma referência da primeira para o apoio presencial.

 

A Educação a Distância

De acordo com Nogueira (2010), "as nTICs estão imbricadas em diversos segmentos da sociedade, assim, modificando antigas rotinas e reorganizando o arcabouço social". Diversos meios de comunicação estão presentes e a serviço da humanidade no mundo contemporâneo e globalizado, fazendo com que a informação transite a tempo e no tempo para outros espaços.  Com o advento da Internet6 as fronteiras desaparecem e o acesso à cultura em geral está democratizado e descentralizado, formando um novo sujeito que aprende.

No segmento da educação não poderia ser diferente, a EaD promove a mudança no cenário e nos atores no que diz respeito a percepção do tempo e do espaço.  A nova forma de interagir, isto é, em um ambiente virtual cria uma nova realidade, bem como maneiras de socializar ou ressocializar através de vínculos.  Salienta o autor que com a gama de informações que circulam surge a dificuldade de filtrar as mais significativas.  Assim, compete aquele que ensina orientar seus estudantes quais fontes disponíveis têm relevância, e como reconhecê-las para que efetivamente esta se transforme em saber.

Diante de uma demanda social esta modalidade de ensino necessita de uma reestruturação para uma adequação ao processo ensino-aprendizagem de qualidade, bem como conjeturar sobre as formas de comunicação.  De acordo com Ponciano (1994), "é imperiosa a necessidade de entrarmos em contato com necessidade que se manifesta, e que nos impele ao contato, de um fato existencial para além do binômio em estudo".  Os atores, por vezes, estão em tempos e espaços distintos, estudantes, tutores e toda a estrutura educacional, diferentemente do modelo presencial, onde se entende que a aprendizagem ocorra naquele que ouve e vê – fisicamente, ou seja, percebe. "Esta nova percepção é a reestruturação do conhecimento dos sujeitos envolvidos no processo.  Este novo elemento é capaz de alterar àquela estrutura antiga, assim gerando uma nova estrutura" (PONCIANO 2012, p. 105).  Ao imaginar agora este mesmo estudante em um ponto remoto, será necessário ter novos ambientes que propiciem o ensino-aprendizagem, ou seja, espaços virtuais como fóruns e chats, por exemplo, para que aquele que aprende exponha efetivamente o seu saber.  Nogueira (2010) "conclui que tais espaços sem a manifestação dos atores seriam como uma sala de aula em silêncio, ou um trabalho de grupo sem diálogos".

"O diálogo que acontece nos ambientes virtuais de ensino-aprendizagem, isto é, transformar ideias em escrita, pede uma superação do sujeito que transmite, pois este agora não sabendo onde o receptor está, nem suas características de interpretação, necessitará de um aprimoramento em sua forma de ler e de explanar seus conceitos, conclui Nogueira" (NOGUEIRA,2010).

Para Yontef (2012), "este diálogo existencial é o encontro de pessoas, que superam a comunicação verbal ou não verbal, ou seja, este novo diálogo estará representado nos recursos da rede mundial".

 

Tutoria presencial e a distância

Com o surgimento da modalidade a distância, se faz uma comparação com o modelo presencial, talvez um modelo já vivenciado por boa parte de professores e estudantes, e certamente a interseção entre essas modalidades existe, bem como suas diferenças. Esses modelos visam um incentivo a aprendizagem e a informação, os materiais e atividades precisam estar ajustados com a proposta pedagógica. "Para as duas modalidades, o foco na aprendizagem será um fator preponderante para a qualidade do ensino", (MEDEIROS et al., 2012).

Ainda na interseção das modalidades, cabe ao professor interceder na relação dos estudantes com o conhecimento, no entanto, o que os diferencia é o contato direto do professor no modelo presencial, e na EaD o intermédio é através de materiais didáticos.  Para esta última, os recursos midiáticos7 são utilizados através das nTICs, que servem de via de comunicação entre os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.  Agora, para que aconteça uma relação dialógica, tal como sugerido no modelo presencial, aparecem no cenário os tutores.

Medeiros et al. (2012, p. 91), apresentam um Quadro de atribuições do tutor e do professor.

Quadro1 – Atribuições do tutor e professor em EaD

Professor Especialista em EaD

Tutor em EaD

1- Desenvolve e elabora os objetivos e conteúdos temáticos de sua disciplina

1- Estuda os conteúdos elaborados pelo professor especialista

2- Acompanha o processo de conversão de conteúdos para as mídias e suportes escolhidos

2- Colabora na validação dos materiais

3- Planeja as aulas distribuindo os temas e os materiais pelo período de duração do curso.

3- Planeja e realiza as intervenções e estratégias de interação com os alunos, em encontros presenciais ou a distância

4- Esclarece dúvidas técnicas dos conteúdos

4- Esclarece dúvidas metodológicas, de compreensão, e encaminha dúvidas de conteúdo ao professor especialista

5- Elabora as estratégias de avaliação e verifica a aprendizagem

5- Colabora na elaboração, aplicação, correção, registro e controle da avaliação da aprendizagem.

Entre os atores citados no Quadro1, observa-se que o professor atua mais na escolha e na preparação dos conteúdos, enquanto a atuação do tutor estaria ligada a parte operacional diretamente, a aplicação pedagógica através dos recursos midiáticos, e no favorecimento de um clima propício ao processo de aprendizagem.  Ressaltam as autoras que esses atores necessitam de uma harmonia em suas ações para que os objetivos sejam alcançados.  O diálogo entre professor e tutor deverá ser constante durante o processo de ensino, e entre todas as atribuições ressalta Medeiros et al., (2012, p. 92), "a de promover o estudo do material proposto, assim,  gerando estímulos para a autonomia do estudante".

Dentre alguns princípios da tutoria, o tutor não deve dar aula, pois estaria impedindo a construção do sujeito que aprende e sua autonomia.  Do contrário, o tutor deve estimular o estudante a preparar, se orientar, dirimir dúvidas em relação ao estudo, e promover sentido de cooperação entre os envolvidos.  Lembram as autoras que não necessariamente esse tutor dever ser um especialista naquele conteúdo, mas um especialista em proporcionar a autonomia para o estudo, e levar o um novo conceito no que diz respeito a noção de tempo e espaço, pois a EaD  não é isolamento. É importante frisar a ideia de interação levando os alunos a perceberem que não estão abandonados.

A chegada das nTICs possibilitou a utilização de novos recursos pela tutoria remota. Houve um crescente número de aquisições de computadores pela população, e em sua maioria interligada à rede mundial. Os dados coletados no último censo em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram que entre 2000 e 2010 houve um aumento considerável de aquisição de computadores residenciais, que elevou o índice de 10,6% para 38,3%.  Relendo os dados estatísticos do IBGE, o acesso a internet cresceu consideravelmente em todas as faixas etárias, conforme demonstrado a seguir:

"Em 2011, 77,7 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade (46,5% do total) haviam acessado a internet nos três meses anteriores à coleta da PNAD. O acesso à internet continuava sendo maior entre os jovens, especialmente nos grupos etários de 15 a 17 anos (74,1%) e de 18 ou 19 anos de idade (71,8%).Na análise da escolaridade dos internautas, observou-se que, de 2005 para 2011, no grupo dos sem instrução e com menos de quatro anos de estudo, o percentual passou de 2,5% para 11,8%. No mesmo período, no grupo com 15 ou mais anos de estudo, a estimativa aumentou de 76,1% para 90,2%". (Fonte: IBGE – 16/05/2013.)

Os dados coletados do IBGE corroboram com a fala de Medeiros et al., (2012, p. 97), "pois estudantes e tutores dispõem de uma rede e de ferramentas para sua interação em tempo real". Agora distanciados, mas unidos, estes podem ter a percepção de falta de afetividade, pois está em jogo o tempo e o espaço dos atores. Esta percepção de isolamento vivida pelo estudante poderá se transformar em resistência para dar seguimento aos seus estudos, aí o tutor se apresenta para promover vínculos afetivos entre os envolvidos através de atividades propostas. A seguir, na Figura 1, uma relação de ações dos tutores a distância para promover o contato do estudante com o ambiente virtual.

 

 

 

Figura 1 – Relação de ações dos tutores de EaD para promover o contato do estudante com o ambiente virtual.

Fonte: UAB (Universidade Aberta do Brasil) Módulo 2 aula 06 Tutoria presencial e tutoria a distância – Universidade Federal Fluminense - 2013.

Assim, a tutoria a distância tem disponível vários recursos midiáticos para a comunicação com os estudantes. Saber lidar com os diversos perfis é uma competência a ser desenvolvida, pois, por vezes, o estudante não apresenta o perfil esperado para esta modalidade. Não se pode esquecer que, por ser recente, a EaD traz como base a tutoria presencial, modelo vivenciado por professores e estudantes.   Desta forma, Medeiros et al., (2012, p. 104), "concluem que todos os atores da modalidade EaD necessitam rever conceitos para o novo ajuste no processo ensino-aprendizagem a distância".

 

O saber, o tempo e o espaço na era das nTICs

A proposta de Charlot (2012) "considera que não existe a construção do sujeito que aprende ausente de uma relação com o saber". Ao estudar tal proposta, as autoras entendem que as relações se constituem pela singularidade do sujeito que se desenvolve nas relações consigo e com o mundo.  Tal relação com o ambiente demonstra que o sujeito está inserido em um espaço, no mundo e no tempo, no aqui-e-agora. Com a dinâmica das nTICs, a agilidade, o pulsar, as interações determinaram diferentes relações de tempo e espaço.

O sujeito que aprende está cada vez mais inserido em um ambiente amplo, e que não está restrito aos modelos da educação presencial com tempo e espaço determinados.  Percebe-se que a noção de tempo e espaço entre os dois modelos difere, pois o acesso a informação não está restrito a um local físico, e se iguala no momento que o estudante pode acessar informações em espaços diferentes, e em um tempo definido pelo modelo presencial – mesmo tempo em outro espaço.  Para as autoras, as nTICs, estão para além da área da Tecnologia da Informação, pois estão presentes nas universidades como um todo, nas salas de aula, laboratórios e com os próprios estudantes.

As universidades se veem diante desta nova realidade, em que as relações e os métodos antigos se confrontam com as novas formas de aprendizagem e de posicionamentos de todos frente o processo de educação. "O desafio se faz pela necessidade da universidade conviver e compreender a geração que já nasceu dentro de uma sociedade hipermidiática", diz Freitas et al., (2012, p. 71).  De acordo com Lapa (2008, p.5), "as nTICs são construções da sociedade que reformulam antigos conceitos de como percebemos o mundo, e afirma que não podemos dissociá-los". Acrescenta ainda em Lévy (apud LAPA, 2008, p. 5), "que ambos se determinam e se transformam em uma retroalimentação – sociedade e tecnologia". Mas, acrescenta Lapa (2008, p.5), "que as nTICs não obrigatoriamente trariam transformações, mas oportunidades que podem avigorar ou negligenciar uma construção social".

As transformações sociais advindas das nTICs, nos apontam para um nova forma de manifestar comportamentos sociais, e para autora, na educação não se pode omitir três pontos:

 "... velocidade de surgimento e de renovação dos saberes; nova natureza do trabalho... aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos... tecnologias amplificam, exteriorizam e modificam as funções cognitivas humanas...".(LÉVY apud FREITAS et al., 2012, p. 71).

Com base na autora, e nos pontos citados acima, o contato consigo e com o outro é penetrar em uma dimensão que está para além de uma sala de aula, bem como para tempo. Desta forma, em uma IEs8 existe concomitantemente tempos e espaços, que modificam a percepção do cotidiano do ambiente de ensino.

Entende a autora que a educação presencial não está separada desta nova dimensão espaço-tempo proposta pela EaD, mas respondendo aos apelos sociais quanto ao acesso a informação.  As nTICs não se restringem mais aos profissionais da área da Tecnologia da Informação (TI), mas a todos os segmentos da sociedade.  Na dinâmica do mundo contemporâneo, o binômio deste estudo, envolve as IEs em todos os seus principais processos, isto é, no ensino, na aprendizagem, na construção do sujeito crítico e em benefício da sociedade.  Demonstra ainda a necessidade das IEs atentarem para as características pessoais e profissionais da geração em que o estudante está inserido, pois sua experiência está impregnada pelas nTICs.

De acordo com Lapa (2008, p. 10),

"professores e estudantes estão em uma relação predominantemente próxima e coincidente no modelo presencial, e com esta referência espaço-temporal, na atualidade temos a educação tradicional presencial, semipresencial, isto é, alternando entre o presencial e a distância, e a EaD".

Moran (apud Lapa, 2007, p. 10), "ressalta que o modelo presencial, conhecido pelo modelo padrão de ensino, onde tempo e espaço são os mesmos para os atores em sala de aula". Já o modelo semipresencial acontece em algum momento em sala de aula e em outro a distância, com a utilização das nTICs.  Já o modelo a distância não necessariamente acontecerá presencialmente, mas prevalecerá o distanciamento entre os atores, pois estarão em dimensões distintas, mas unidos pelas nTICs.  Conclui Lapa (2008, p. 10),

"que no modelo EaD, a aprendizagem ocorre nos dois pontos, isto é, o professor-tutor elabora toda a prática de aprendizagem, que não necessariamente ocorrerá com a presença do estudante, este último talvez nunca conheça pessoalmente seu professor-tutor ou colegas de curso, mas a partir de agora neste novo ambiente sua aprendizagem não compreenderá mais a presença de um professor".

"Com as nTICs os estudantes promovem mudanças na dinâmica das IEs, agora questionando a aprendizagem, bem como o que deve ser aprendido", afirma Bicudo (apud FREITAS et al., 2012, p. 72).  Neste cenário, aquele que estuda amplia a visão do conhecimento, e a cultura do conhecimento. "Não está mais restrito ao saber costumeiro", conforme Charlot(apud FREITAS et al., 2012, p. 72), mas sim em relação com a dinâmica global.  Esta interação também levará seus atores a uma nova identidade em função de suas experiências anteriores.  Na contemporaneidade e com as nTICs a afinidade com o saber é determinada pela relação tempo e espaço, fazendo com que essa tecnologia se torne um prática social dos estudantes das IEs (SILVA apud FREITAS et al., 2012, p. 72) – "...o saber não existe fora de uma relação..." .

Diante disto, as nTICs atuam como a interface entre professor e estudante em todo o tempo em que estiver conectado com a plataforma de seu curso, mapeando suas ações de contato com os materiais de estudo, com os colegas e com o professor. "Agora, o estudante tem a autonomia para utilizar os recursos do ambiente de estudo, não existem barreiras, nem para ele nem para a tecnologia, quando estiver conectado", afirma Deleuze (1992).

"Essa nova realidade, estar em qualquer tempo e espaço exige uma postura do estudante muitas vezes de superação, de desenvolver novas competências constantemente, para estar em um nível de igualdade não só com seus colegas, mas também com seu professor". (DELEUZE, GUATARRI, 1995).

 

Conclusão

O ser humano está em constante contato com o mundo, e as nTICs cada vez mais se apresentam como uma possível interface entre eles.  Outras mídias coexistem e não foram apagadas pelo surgimento destas, muito pelo contrário, se complementam, fazendo nascer um novo conceito de acesso a novas realidades. "Todas as tecnologias em suas épocas foram modernizadas, bem como a forma de perceber o mundo através destes recursos, o que nos remete a boa receptividade do novo através dos tempos" (SOUZA e SOUZA, 2007).

Com o fenômeno das nTICs ditando o andamento do mundo globalizado, as IEs não podem ficar descontextualizadas, devem se inserir nesta ordem não de forma passiva, apenas para se inserir, mas com o objetivo de refletir sobre as mesmas, trazendo o melhor tanto para o processo educativo, quanto para professores e estudantes envolvidos com as transformações advindas das novas formas de aprender.

"Sabemos, entretanto, que para que essas expectativas se realizem o professor deve coordená-lo e mediá-lo sem temer o novo, buscando capacitar-se continuamente para que a construção do conhecimento represente um construir juntos, professor e estudante" (DORIGONI e SILVA, 2008).

A WEB 2.0 conduz a novas interações com o saber, a partir de novas maneiras de se estudar e fazer contato com o novo. "O estudante a partir das nTICs se torna mais autônomo do conhecimento advindo dos ensinamentos das disciplinas convencionais ministradas em sala de aula, pois pode ir além, aprendendo por conta própria" (FREITAS et al., 2012, p. 77).

A EaD, como uma sala de aula sem paredes, supera  a idéia física do ambiente tradicional do ensino presencial através do binômio tempo e espaço, e mediada pelas nTICs.  O estudante desta modalidade amparado por uma estrutura pedagógica acertada, não se sentirá desorientado por este binômio, pois ele terá um endereço de acesso virtual, bem como um planejamento e organização apresentados em um curso presencial.  Desta forma, a EaD em sua atemporalidade se encontra em um tempo e um espaço.  

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência:

Paulo J.R. Hospodar

Endereço eletrônico: pjhospod@gmail.com

 

Recebido em: 25/12/2014

Aprovado em: 01/02/2016

 

NOTAS

* Graduado em Psicologia na LAUREATE International Universities – UNI-IBMR; Pós-graduado Lato Sensu - Planejamento, Implantação e Gestão da EaD na Universidade Federal Fluminense; Especialista em Gestão estratégica de recursos humanos na Fundação Getúlio Vargas.

1 Termo criado em 2004 pela empresa americana O'Reilly Media 1 para designar uma segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito aplicativos baseados em redes sociais e Tecnologia da Informação;

2 Novas Tecnologias da Informação e Comunicação.

3 A WorldWide Web (que em português se traduz literalmente por teia mundial), também conhecida como Web e WWW, é um sistema de documentos em hipermídia (hipermédia) que são interligados e executados na Internet. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/World_Wide_Web.  Acesso em 13/05/2013.

4 Cada bloco de informação é transmitido e recebido num instante de tempo bem definido e conhecido pelo transmissor e receptor, ou seja, estes têm que estar sincronizados. Para se manter esta sincronia, é transmitido periodicamente um bloco de informação que ajuda a manter o emissor e receptor sincronizados. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunicação_sincrona. Acesso em 19/05/2013.

5 Cada bloco de dados inclui um bloco de informação de controle (chamado flag), para que se saiba exatamente onde começa e acaba o bloco de dados e qual a sua posição na seqüência de informação transmitida. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunicação_sincrona. Acesso em 19/05/2013.

6 Conglomerado de redes de comunicações em escala mundial, ou seja, vários computadores e dispositivos conectados em uma rede mundial.  Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet. Acesso em 19/05/2013.

7 Tecnologias de media, incluindo a internet, a televisão, os jornais e a rádio, que são usados para comunicação de massa. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Midiático. Acesso em: 19/05/2013.

8 Instituição de Ensino Superior;

 

 

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