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Analytica: Revista de Psicanálise
versão On-line ISSN 2316-5197
Analytica vol.5 no.9 São João del Rei jul./dez. 2016
ARTIGOS
Constituição subjetiva do autismo e da psicose: aproximações e distanciamentos
Subjective constitution of autism and psychosis: approaches and distances
Constitution subjective de l'autisme et de la psychose: rapprochements et éloignements
Constitución subjetiva del autismo y de la psicosis: aproximaciones y alejamientos
Beatriz de Souza SilvaI; Maria Gláucia CalzavaraII
IMestranda do PPGPSI-UFSJ
IIProfessora adjunta DPSIC UFSJ
RESUMO
Partindo das considerações da Psicanálise lacaniana, a proposta deste artigo é investigar como os sujeitos autistas e psicóticos estabelecem suas relações com o Outro. Visando a alcançar tal compreensão, serão estudados as operações de alienação e separação e os modos de resposta perante essas operações constituintes do sujeito. Diante da resposta singular de cada sujeito no que concerne ao autismo e à psicose, serão as aproximações e distanciamentos entre essas posições nosso ponto de esclarecimento.
Palavras-chave: Psicanálise. Autismo. Psicose. Alienação e separação.
ABSTRACT
Starting from the Lacanian psychoanalysis considerations, the purpose of this article is to investigate how autistic and psychotic subjects establish their relationships with the Other. In order to achieve such understanding, it will be studied the operations of alienation and separation and the modes of response considering these constituent operations of the subject. Faced with the unique response of each subject in what concerns autism and psychosis, our point of clarification will be the approximations and distancing between these positions.
Keywords: Psychoanalysis. Autism. Psychosis. Alienation and separation.
RÉSUMÉ
À partir des remarques de la psychanalyse lacanienne, la proposition de cet article est d'investiguer comment les sujets autistes et psychotiques conçoivent ses relations avec l'Autre. Afin de parvenir telle compréhension, les opérations d'aliénation et séparation seront examinées et aussi les modes de reponse devant cettes opérations qui constituent le sujet. Face à la réponse singulière de chaque sujet concernant l'autisme et de la psychose, ils seront les rapprochements et éloignements entre cettes positions notre point de clarification.
Mots-clés: Psychanalyse. Autisme. Psychose. Aliénation et séparation.
RESUMEN
Desde las consideraciones del psicoanálisis lacaniano, la propuesta de este artículo es investigar cómo los sujetos autistas y psicóticos establecen sus relaciones con el Otro. Buscando alcanzar tal comprensión, van a ser estudiadas las operaciones de alienación y separación y los modos de respuesta frente a esas operaciones constituyentes del sujeto. Delante de la respuesta singular de cada sujeto en lo que se refiere al autismo y la psicosis, van a ser las aproximaciones y alejamientos entre esas posiciones nuestro punto de esclarecimiento.
Palabras clave: Psicoanálisis. Autismo. Psicosis. Alienación y separación.
INTRODUÇÃO
A atualidade da discussão sobre a clínica do autismo no âmbito da clínica psicanalítica exige do analista estar preparado para enfrentar os desafios clínicos do nosso tempo. Esses desafios se inserem, em sua maior parte, no contexto da ação de classificações diagnósticas e de uma patologização do termo autismo no campo das psicopatologias infantis. O autismo, que foi descrito como síndrome em 1943 por Kanner, em menos de um século, tornou-se um diagnóstico tão recorrente a ponto de receber o título de "grande causa nacional" na França em 2012 (Laurent, 2012).
As investigações acerca da causalidade do espectro autista - expressão que se utiliza nas classificações diagnósticas - apontam o componente genético ou biológico como determinante na assunção dessa categoria. Esses componentes tomaram uma extensão tão significativa que o número de sujeitos incluídos nessa categoria cresceu vertiginosamente a ponto de se poder considerar que, ao fim de dez anos, uma, em cada 50 crianças, poderá ser considerada autista (Laurent, 2012). Com o desenvolvimento das pesquisas de cunho genético, tem-se apostado não mais na descoberta de um gene, mas sim em muitas mutações espontâneas, a chamada epigênese (Maleval, 2015). Segundo essa nova possibilidade de entender o autismo, este seria consequência de alterações genéticas influenciadas pelo meio externo. A discussão sobre a etiologia do autismo é desconhecida e promove ainda hoje uma série de debates. Todavia, a despeito de a causa estar no biológico ou no gene, o que importa à Psicanálise é a particularidade do sujeito no caso a caso.
Em recente livro, A batalha do autismo, Éric Laurent (2014) nos revela que essa é uma batalha contra os modos de ver, de forma protocolada, os aspectos únicos de uma história. "É uma batalha pela diversidade das abordagens [...] é uma proposição de respeito à forma de ser de cada um" (Laurent, 2014, p. 11). Além disso, a leitura psicanalítica do autismo não depende das hipóteses etiológicas sobre o orgânico, como diz Laurent (2014, p. 33): "o fato de haver algo de biológico em jogo não exclui a particularidade do campo de constituição do sujeito como um ser falante". Portanto, é do campo da constituição do sujeito que iremos nos dirigir para articular o modo de resposta particular dada pelo sujeito ao campo do Outro.
No campo psicanalítico, há também uma série de problematizações sobre o autismo que demandam mais pesquisas na área. Uma dessas questões se dá pela dificuldade em manejar as diferenciações e aproximações do autismo com a psicose sem, no entanto, confundi-las. Sabemos que esses pontos de semelhanças e disparidades existem e que muitas vezes não são demarcados de forma clara, podendo tornar-se um problema de realização do diagnóstico diferencial entre essas duas estruturas. Se há uma diferenciação no processo de constituição desses sujeitos, há necessidade de que a escuta, o olhar e a intervenção do analista sejam diferenciados.
O trabalho clínico com sujeitos autistas e psicóticos nos revela, pelo modo como eles se relacionam com o Outro, que no momento de sua constituição subjetiva houve um impasse: na alienação, no caso do sujeito autista; e na separação, no caso da psicose. Por esse motivo, o objetivo deste artigo é compreender como os sujeitos autistas e psicóticos estabelecem suas relações com o Outro. Para esse fim, seguiremos os apontamentos da Psicanálise lacaniana a respeito dos modos de constituição do sujeito, considerando as operações de alienação e separação como importantes por apresentarem pontos teóricos-chave para o entendimento dos aspectos que aproximam e que distanciam o autismo da psicose.
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO PARA A PSICANÁLISE DE ORIENTAÇÃO LACANIANA
Almejando recuperar a mensagem da Psicanálise freudiana, Lacan deu início, no ano de 1953, com o texto Função e campo da fala e da linguagem em Psicanálise, ao que ele próprio reconheceria como seu ensino por meio de dois princípios: o retorno a Freud e a primazia do simbólico. Este pode ser caracterizado como um primeiro momento do seu ensino, marcado por uma concepção estrutural do psiquismo. A partir desse ano, Lacan retornou aos textos freudianos, para resgatar a relação do sujeito1 com o inconsciente. Nesse texto, a tarefa de Lacan (1953/1998, p. 247) é demonstrar que "os conceitos que fundamentam a psicanálise só adquirem sentido ao se orientarem no campo da linguagem e se ordenarem no campo da fala". É a consolidação, por parte de Lacan, do poder da linguagem em tudo o que diz respeito ao humano. Por essa condição, é a definição de inconsciente que também se faz por meio da linguagem na célebre frase: "o inconsciente estruturado como uma linguagem". Nessa ocasião, Lacan (1953/1998) revelou o sujeito que está em jogo na prática clínica: um sujeito que se apresenta por sua assunção da linguagem à palavra.
Na perspectiva lacaniana, resgatar a importância do inconsciente resulta no fato de se reconhecer que o sujeito proposto nessa perspectiva se manifesta no momento da divisão psíquica fundamental. Por essa divisão, o sujeito se define subjetivamente como sujeito do inconsciente, como efeito da linguagem. Completa Lacan (1964/1998, p. 849): "por esse efeito, ele não é causa dele mesmo, mas traz em si o germe da causa que o cinde".
No texto de 1949, O estádio do espelho como formador da função do eu, Lacan revela o primeiro momento da assunção subjetiva do sujeito. Nesse texto, são as dimensões da ordem da linguagem, do inconsciente e do Outro que marcam a grande contribuição. Esse estádio constitui a fase inicial de um processo psíquico rumo à subjetividade. Nele, Lacan (1949/1998) designa um momento psíquico situado entre os 6 e 18 meses de vida da criança, nos quais ela se constitui como unidade em torno da imagem do seu corpo. Esse estádio marca uma experiência de identificação fundamental da criança, que irá fazer a conquista da imagem do seu próprio corpo, promovendo a estruturação do eu. Essa experiência permite a abolição de um período precedente, no qual a criança não experimentava seu corpo como uma unidade, mas, sim, dentro de uma dispersão imaginária (ibidem).
Esse momento específico de estruturação do eu é definido, segundo Lacan (1949/1998), primeiramente por uma evidência clara de assujeitamento da criança ao registro imaginário, em que ela vive uma experiência de confusão de si mesma com o outro. Nesse momento, a criança se confunde com a mãe e lê nos movimentos esboçados por ela a satisfação de suas necessidades. Aqui, a criança e o outro (a mãe) vivem uma confusão de imagens entre si, uma vivência de indistinção. Por exemplo: uma "criança que bate diz que bateram nela, a que vê cair chora" (Lacan, 1949/1998, p. 116). Período único, no qual pode ser identificada, ao se registrarem as reações emocionais da criança, a presença de um transitivismo caracterizado, nesse momento, como normal.
Posteriormente, ao se reconhecer na relação com o outro, a criança recupera sua unidade corporal e se estrutura como Eu por meio dessa identificação primordial. É importante salientar que essa estruturação psíquica do Eu se dá sob a égide da dimensão do imaginário -que pressupõe uma alienação do Eu ao outro e, portanto, se situa como Eu (moi) imaginário (Lacan, 1949/1998).
Em um segundo momento desse processo de subjetivação, o acesso ao simbólico permitirá à criança pôr fim à relação especular e alienante com a mãe. Fato relevante de observação é que essa construção imaginária se apresenta submetida irremediavelmente à dimensão do Outro - à ordem simbólica. Isso nos leva a reconhecer que o advento da subjetividade se coloca irredutivelmente submetido à dimensão do Outro na dimensão da linguagem. Desse modo, pelo processo da metáfora paterna, a vertente do simbólico, registro do campo da linguagem, marca a passagem do registro imaginário, característico da fase do espelho, para o registro simbólico específico do Outro da linguagem (Lacan, 1949/1998).
Esse primeiro momento estrutural do ensino de Lacan, marcado pela supremacia do significante e da importância da metáfora paterna na determinação do sujeito, nos leva ao entendimento das consequências da aceitação, denegação e fracasso da metáfora na estruturação psíquica do sujeito. A foraclusão do Nome do Pai, apoiada no primeiro ensino de Lacan, nos levaria a considerar a posição do sujeito autista próxima do que seria a psicose. Entretanto, essa posição se apresenta insuficiente como determinação da posição do autista. Seguiremos no ensino de Lacan em direção à elucidação dessa posição.
OPERADORES LÓGICOS DA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO: ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO
No ano de 1964, Lacan, então, se distanciou desse modelo de retorno a Freud e de primazia do simbólico para dar início ao que ele reconhece como seu ensino: não sem reverenciar por meio do nome de Escola Freudiana de Paris (EFP) a procedência desse ensino, tendo como ponto de partida ir além dos conceitos freudianos (Lacan, 1964/2003). A noção de sujeito nessa data passou por nova elaboração com a introdução de duas operações que se fazem fundamentais na constituição do sujeito - a alienação e a separação. Na conceituação de alienação, Lacan (1964/1998) toma a direção de uma relação entre o sujeito e o Outro. Define o Outro como "o lugar em que se situa a cadeia do significante que comanda tudo que vai poder presentificar-se do sujeito" (Lacan, 1964/1998, p. 193-194). Nessa definição, é a relação de alienação do sujeito ao Outro que se constitui, revelando que esse sujeito está localizado na linguagem e foi marcado pelo significante que vem do Outro.
Ao advir pela linguagem, o sujeito logo se perde nela, na verdade de seu ser, de seu desejo, por estar aí senão representado. Essa alienação do sujeito na e pela linguagem confere a ele, diz-nos Lacan (1964/1998), sua condição de sujeito errante na cadeia significante. O sujeito é, pois, um efeito do significante representado na linguagem lacaniana pelo $ (Lacan, 1964/1998). Ao advir à linguagem, o sujeito se constitui como dividido, alienando uma parte de si mesmo no inconsciente (Lacan, 1953/1998). Desse modo, o advento do sujeito na clínica de orientação lacaniana é resultado da relação intrínseca do desejo, da linguagem e do inconsciente. O aparecimento do sujeito, como sujeito do inconsciente, é efeito de sua divisão subjetiva.
Essa primeira alienação marca uma falta que engendra o homem na via da escravidão tal como Lacan (1964/1998, p. 201) exemplificou com a frase: "a bolsa ou a vida! Se escolho a bolsa, perco as duas. Se escolho a vida, tenho a vida sem a bolsa, isto é, uma vida decepada". Quando falamos da constituição do sujeito, falamos no primeiro momento dessa escolha forçada em que o sentido emerge do campo do Outro. Isso confere ao sujeito sua condição de ser de linguagem, pois ele já nasce inserido aí, na linguagem que o antecede. Éric Laurent (1997) adota os esquemas desenvolvidos por Miller para exemplificar a primeira operação -alienação:
Na alienação, tem-se a reunião do sujeito com o Outro. Mas o ser do sujeito não pode ser totalmente coberto pelo sentido que vem do Outro; sempre há uma perda. Temos, nesse momento, a implicação de uma primeira falta que representa o fato de que o sujeito não pode ser inteiramente representado no Outro - sempre há um resto.
A introdução dessa primeira falta designa o sujeito marcado por uma barra - $ -, o sujeito dividido, fendido. O $ torna-se a escritura do sujeito equivalente à alienação do sujeito na linguagem. Na alienação, há a sujeição da criança à linguagem.
A segunda operação - separação - envolve o confronto do sujeito alienado ao Outro; dessa vez, não como linguagem, mas como desejo. É a presença de um Outro barrado. É o que diz Lacan (1964/1998, p. 201): "enquanto o primeiro tempo está fundado na subestrutura da reunião, o segundo está fundado na subestrutura da interseção ou produto".
Para o entendimento da segunda falta, é relevante destacar que a estrutura do Outro é definida a partir de dois significantes: S1 - S2. A articulação entre o primeiro par de significantes (S1 e S2) promove a possibilidade da constituição da cadeia discursiva pressuposta pela extração de gozo, pela perda do objeto. No entanto, uma vez constituído o sujeito, "deve-se levar em conta o fato de haver um resto - tanto do lado do sujeito, definido sexualmente, quanto dentro do Outro" (Laurent, 1997, p. 37).
Esse desejo do Outro (baseado na falta, que é condição própria do desejo) é o que provoca, o que causa o desejo da criança, o objeto a. O objeto a pode ser entendido como o resto produzido quando a unidade hipotética mãe e filho se rompe. "O objeto a é o último indício daquela unidade" (Fink, 1998, p. 82).
Ao clivar-se desse resto, diz-nos Fink (1998, p. 83), "o sujeito, dividido, embora excluído do Outro, pode sustentar a ilusão de totalidade. Ele, assim, o faz ao apegar-se ao objeto a, ignorando sua divisão". Toda essa operação de divisão é formalizada com o matema $ <> a, a fórmula da fantasia, e deve ser lido como o sujeito dividido em relação ao a. É por meio da fantasia que o sujeito apresenta ao analista sua forma de se relacionar com o objeto a.
É importante demarcarmos que essa relação de objeto nos diz da relação que o sujeito enfrenta com o mundo, apontando que cada sujeito tem com o objeto uma relação particular. Esse objeto tem a função de mascarar uma angústia fundamental que se coloca como base na relação do sujeito com o mundo.
Essa é, portanto, a maneira de entender o sujeito em uma estruturação neurótica em que sua resposta ao Outro se faz enigma e permite laço com ele. Diante do Outro da linguagem, o sujeito possui diferentes possibilidades de respostas que definirão sua posição no campo simbólico.
Uma primeira posição pode ser sua inserção na neurose por meio do recalque respondendo pelo sintoma. Outra posição pode ser encontrada na perversão por meio da denegação da falta e respondendo como falo. E na psicose, pela foraclusão do Nome-do-Pai e respondendo como objeto a (Padilla & Lhullier, 2012).
Portanto, o que importa à Psicanálise é o modo como o sujeito responde a essa entrada do Outro da linguagem, como o sujeito autista e o psicótico respondem ao Outro e como, a partir desse Outro, se posicionam como sujeito.
POSIÇÃO DIANTE DO OUTRO ALIENAÇÃO PARCIAL
Vimos que o sujeito se apresenta fundamentalmente na relação que ele estabelece com a ordem simbólica da linguagem. Isso quer dizer que nascemos em um mundo onde a linguagem nos precede e nos determina. Nascemos na linguagem e nos tornamos sujeitos por ela. O Outro como linguagem é assimilado pela maioria das crianças. Entretanto, as autistas demonstram certa defesa em relação a esse Outro. Essa posição, reitera Maleval (2012), não significa que a criança autista é um sujeito fora da linguagem. Porém, o Outro pode ser visto por ela como um intruso e seu excesso de presença coloca o sujeito em posição de promover um intenso trabalho de distanciamento dele.
Aposição percebida como intrusiva do Outro pelo sujeito autista pode ser revelada pelos operadores constituintes do sujeito: a alienação e a separação. A operação de alienação ao Outro é colocada ao sujeito desde o início, porque, mesmo antes de nascer, o sujeito está inserido nela. No sujeito autista, isso não é diferente. Ainda que ele se defenda da linguagem, ele é tocado por ela. Mesmo que a primeira extração de gozo, produtora da falta fundamental, não tenha se realizado efetivamente, não quer dizer, como nos fala Laurent (2007, p. 27), "que não haja Outro, e sim que não há Outro barrado". A despeito de estarem na linguagem, esses sujeitos não se encontram divididos pelo enigma do sintoma.
Entretanto, no que concerne à primeira subtração de gozo, a alienação, diz-nos Maleval (2012, p. 49), "é difícil precisar em que não foi assumida. Parece pouco plausível sustentar que o autista se situa aquém da alienação, pois ele é afetado pela negatividade da linguagem". Isso pode ser demonstrado, segundo Maleval (2012), pela angústia do "buraco negro" aberto pela hiância entre a coisa e sua representação, situada por Frances Tustin no fundamento do autismo. O autor continua: "Tal buraco angustiante, bem diferente de uma falta dinâmica, é produzido pela primeira subtração de gozo, o que evidencia um traumatismo decorrente da intervenção da linguagem" (Maleval, 2012, p. 49). A partir disso, acrescenta Maleval (2012, p. 50), "parece que seria preciso concluir provisoriamente por uma alienação parcial". Assim sendo, no que concerne ao sujeito autista, Maleval (2015, p. 21) defende que ele está na alienação, mas essa "alienação significante não é assumida pelo sujeito". Ou seja, parece-nos que o sujeito autista entra na alienação, mas tem dificuldades em sustentar-se nela.
IMPASSE NA SEPARAÇÃO
Diferentemente da posição sustentada pelo sujeito autista, na psicose, o sujeito não se aliena apenas ao Outro da linguagem, mas também ao Outro como desejo. A criança, em processo de constituição, seja na neurose ou na psicose, além de passar por esse primeiro momento da alienação à linguagem - em que o Outro lhe direciona significantes -, também se apresenta como objeto do desejo materno.
Esse segundo momento da alienação só é possível se a criança perceber que algo falta ao Outro materno. Ao reconhecer essa falta, a criança tem a possibilidade de identificar-se imaginariamente com o que supõe faltar; isto é, o falo. Ao se fazer objeto de desejo do Outro, a criança passa a ser determinada pelo significante primordial (S1) - significante que foi direcionado pelo Outro no primeiro momento da alienação. Dessa forma, pode-se dizer que a criança, diferentemente de uma aceitação parcial, não assumida, "aceitou completamente" se alienar ao Outro - como linguagem e desejo.
Na neurose, tal como na psicose, o sujeito se aliena ao Outro como desejo, mas ao perceber as vacilações no discurso do Outro, essas estruturas clínicas respondem de maneira diferente. Na neurose, o sujeito, ao reconhecer que o Outro deseja para além dele, irá tomar uma posição de separação, buscando identificar-se com o que supõe ser ou ter o falo. Ao se separar, o sujeito neurótico tem a possibilidade de ir ao encontro do seu próprio desejo. Diferentemente da posição neurótica, na psicose, o sujeito permanece colado à ideia de que ele é o que falta ao Outro. Isto é, que ele é falo. Ao permanecer alienado ao desejo do Outro, o significante do Nome-do-Pai - aquele que barra a relação simbiótica mãe-criança - não se inscreve na subjetividade da criança, por isso a interdição simbólica não se faz (Pozzato & Vorcaro, 2014), sendo, portanto, foracluído, deixado de fora do simbólico, o significante do Nome-do-Pai - o S2. A ausência desse significante possibilita que a criança permaneça colada ao significante primordial do desejo da mãe. Como consequência dessa colagem, a posição de separação se encontra impossibilitada, uma vez que esta se constitui como um efeito do intervalo entre os significantes (Campanário, 2004). Devido a essa colagem, não há a queda do objeto a que causa o desejo, ficando o sujeito psicótico à mercê do desejo do Outro, impossibilitado de ir ao encontro do seu próprio desejo.
O sujeito neurótico, o autista e o psicótico são todos capturados pela alienação significante no âmbito da linguagem. Como salienta Soler (1997, p. 62), "nenhum sujeito falante pode evitar a alienação. É um destino ligado à fala". Diante dessa alienação que é inevitável, os sujeitos operam com seus modos de resposta: o sujeito autista aliena-se ao Outro como linguagem, mas não a assume, permanecendo na alienação parcial; os sujeitos psicóticos e os neuróticos, além da alienação ao S1, alienam-se ao Outro como desejo. O sujeito neurótico, no entanto, realiza posteriormente um trabalho de separação da posição até então ocupada, a de objeto de desejo do Outro, e tem a possibilidade, com a queda do objeto a, de constituir seus próprios desejos, ao passo que o sujeito psicótico cola-se nessa posição de objeto. Assim sendo, o que se apresenta como notório nesses três modos de se relacionar com o Outro são as especificidades de suas relações.
A HOLÓFRASE SIGNIFICANTE
Lacan (1964/1998, p. 225), no Seminário 11, introduziu a holófrase do par primordial, dizendo que quando não há intervalo entre S1 e S2, quando esses significantes se unem se solidificando, "temos o modelo de toda uma série de casos como, por exemplo, a debilidade, inserida no campo da psicose". Mais adiante, em 1975, na Conferência em Genebra sobre o Sintoma, Lacan (1975/1998, p. 13) acrescentou o autismo a essa série de casos quando o aproximou da esquizofrenia: "trata-se de saber porque há algo no autista, ou no chamado esquizofrênico, algo que se congela, se se pode dizer isso". Há, portanto, segundo Lacan nessa Conferência, um ponto em comum nos casos de debilidade, de psicose, de esquizofrenia e de autismo.
Se há holófrase, se há uma solidificação do primeiro par de significantes - S1 e S2 -, que seriam os orientadores da criança no simbólico, o aparecimento do objeto a, como causa de desejo, fica impossibilitado. Como efeito, a criança fica impossibilitada de interpretar o que ela significa no desejo do Outro.
Partindo das considerações lacanianas de que há casos em que a Bejahung (afirmação) pode faltar, Azevedo (2009) tece considerações a respeito da holófrase no autismo e na psicose. Segundo esse autor, a Bejahung se refere à primeira afirmação, a admissão do simbólico e sua ausência implica a recusa da ordem simbólica. Com base nessa compreensão, Azevedo (2009) esclarece que no caso da psicose não há Bejahung do Nome-do-Pai (S2), o que ocasionaria a não admissão desse significante no simbólico; e no caso do autismo, não há Bejahung do S1, implicando também, consequentemente, a não admissão do S2.
Laurent (2012) contribui para essa discussão ao explicar que na psicose há um transtorno na cadeia entre o S1 e o S2, na medida em que há uma ruptura na transmissão da mensagem entre os dois significantes. Esse autor esclarece que no caso do autismo, diferentemente da psicose, não há uma ruptura, mas uma repetição do primeiro significante, sem reenvio de mensagem para um outro.
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS ENTRE O AUTISMO E A PSICOSE
Uma das maiores críticas direcionadas à Psicanálise, no que concerne ao trabalho com o autismo, se relaciona ao fato de ela ser ainda considerada por muitos psicanalistas como sendo atrelada ao campo das psicoses. Dentro da psicanálise, ainda não há consenso sobre essa questão2. Os que fazem essa crítica utilizam como um dos principais argumentos para distanciar o autismo da psicose a presença do delírio e das alucinações nessa última, ao passo que no sujeito autista essas produções são raras. Aos que baseiam o diagnóstico somente a partir dos sinais clínicos, essas diferenças bastam para separar essas duas estruturas clínicas (Maleval, 2015). De modo diferente, a Psicanálise considera os sinais clínicos como manifestações da estrutura subjetiva do sujeito. Por esse motivo, como salientam Figueiredo e Machado (2000, p. 67), o psicanalista não trabalha identificando os fenômenos clínicos, mas "como nomeador de um modo de incidência do sujeito na linguagem. O diagnóstico aparece então como estrutural e não mais fenomenológico". Assim sendo, para a Psicanálise, a ausência ou presença das produções do delírio e das alucinações não basta para diferenciar o diagnóstico do sujeito autista com o do psicótico. Mas as produções desses sujeitos servem como indícios de como eles se relacionam com o Outro; isto é, como funciona sua lógica estrutural.
Kanner, em seu estudo publicado em 1943, postulou uma das principais diferenças observáveis entre a psicose e o autismo: o momento de aparição das primeiras manifestações. A grande diferença apresentada por Kanner (1943/1997) é que na esquizofrenia, a partir de uma relação inicial presente, há um retraimento da participação com o mundo. Já no autismo, essa relação inicial não se faz. Dessa forma, para esse autor, na esquizofrenia havia rompimento na relação com o outro e no autismo, uma recusa em estabelecê-las. Sobre isso, em recente artigo intitulado "Porque a hipótese de uma estrutura autística?", Maleval (2015, p. 9) contribui ao nos indicar que "a psicose se desencadeia, enquanto o autismo estaria presente desde o nascimento".
Outra diferenciação proposta por Kanner (1943/1997) refere-se, como nomeado por Maleval (2015, p. 27), a uma indiferença seletiva. Kanner (1943/1997, p. 163), no estudo publicado com 11 crianças, relata que as crianças autistas possuíam uma boa relação com os objetos, que "interessa-se por eles e podem passar horas brincando com eles". A indiferença seletiva, no caso dessas crianças, era direcionada às pessoas. Na psicose, de modo diferente, a indiferença é "dirigida ao mundo exterior como um todo" (Maleval, 2015, p. 27).
A partir das contribuições de Kanner, Maleval (2015, p. 7) destaca que a característica que foi considerada por esse autor como a de maior destaque no autismo "está fortemente apagada no DSM". Essa característica, à qual esses autores se referem, se trata de um desejo por parte desses sujeitos de uma imutabilidade. Essa característica revela que os sujeitos autistas realizam um trabalho para assegurar certa ordem no mundo que se apresenta como caótico e inquietante. Deforma oposta a essa característica da imutabilidade, os sujeitos psicóticos fazem uso da ironia. Assim, Maleval (2015, p. 8) explica que "a ironia da esquizofrenia testemunha uma rejeição ao Outro, enquanto o autismo busca um Outro de síntese. O primeiro não crê em nada; o segundo está atento às regras absolutas".
Prosseguindo nesse caminho de elucidação, Maleval (2015) postula diferenciações a respeito dos escritos de sujeitos autistas e psicóticos. Para esse autor, os sujeitos "autistas que escrevem o fazem em nome dos autistas" (Maleval, 2015, p. 14), isto é, eles escrevem com o intuito de atestarem a singularidade de seu funcionamento. De maneira diferente, os sujeitos psicóticos negam que esse diagnóstico seja apropriado para o seu caso. Os escritos dos sujeitos psicóticos se restringem a produções literárias, à publicação de novas ideias e/ou à demanda por justiça, como é o caso das memórias escritas pelo presidente Schreber em 19033.
Uma aproximação feita por Maleval (2005, p. 18) entre o autismo e a psicose se refere à retenção do objeto a, chegando a dizer que esses sujeitos "o levam em seu bolso". Isso porque, em ambos os casos, por não haver a separação (nem mesmo a alienação ao Outro como desejo, no caso do autismo), há impossibilidade à queda do objeto a. No entanto, a relação com o objeto é diferente para o autismo e a psicose. Para o sujeito psicótico, esse objeto tende a presentificar-se em alucinações, tornando-se angustiante (Maleval, 2015). No caso do sujeito autista, ele esforça-se para preservar o objeto sob seu domínio. O objeto pulsional não se apresenta como inquietante (Maleval, 2015). Segundo Maleval (2015, p. 18), "o autista não deixa de manter um domínio sobre o objeto, seja por sua retenção, seja pela construção de uma borda, enquanto o psicótico se esforça para compor com um objeto não dominado que se impõe do exterior". Além disso, esse autor destaca as consequências dessa retenção dos objetos pulsionais pelos sujeitos autistas, que são: encoprese ou retenção das fezes, anorexia ou bulimia, ausência de apelo ou urros intermináveis etc.
A partir das questões apresentadas, é possível percebermos que existe uma série de aproximações possíveis entre o sujeito autista e o psicótico, principalmente no que se refere às manifestações clínicas observáveis. No entanto, após uma cautelosa investigação, torna-se perceptível que o modo de relacionar-se com o Outro e até mesmo com essas manifestações -que a princípios e assemelham -, no entanto, são diferentes. Às vezes, chegam a serem opostas. Por esse motivo, o diagnóstico e o tratamento de sujeitos com base nas manifestações clínicas são arriscados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das considerações apresentadas a respeito do modo como o sujeito autista e o psicótico se relacionam com o Outro, é possível constatarmos que existem aproximações e diferenciações no que se refere à maneira como esses sujeitos respondem ao processo de alienação: ambos são capturados pela alienação significante; o sujeito autista não assume essa alienação, permanecendo em uma alienação parcial, apenas no nível do Outro da linguagem; o sujeito psicótico aliena-se também ao Outro como desejo, colando-se nele.
As consequências para ambas as respostas ao Outro também produzem pontos de semelhanças e disparidades. Como semelhança, tem-se a holófrase significante e a retenção do objeto a, por exemplo. Como diferença, tem-se que no autismo há repetição do S1, e na psicose, ruptura na transmissão da mensagem entre o S1 e o S2. Em relação à retenção do objeto a, para o sujeito psicótico essa retenção é angustiante; já o sujeito autista a mantêm sob seu domínio.
Diante dessas colocações, é possível observarmos que o diagnóstico diferencial entre autismo e psicose não é um trabalho simples. Demanda que o analista esteja atento não apenas aos sintomas apresentados, mas, sobretudo, ao modo como o sujeito responde às demandas do Outro. Se os sujeitos autistas e psicóticos apresentam diferentes modos de resposta, é imprescindível que o analista apresente intervenções direcionadas à especificidade do caso. Desse modo, a Psicanálise se orienta em um diagnóstico que é efeito do tratamento, o que diferencia sobremaneira a práxis psicanalítica de outras abordagens preocupadas com o fenômeno. Isso porque a preocupação com a questão estrutural serve de orientação na práxis psicanalítica, permitindo ao analista servir-se da teoria para ampliar sua escuta.
As investigações atuais sobre o autismo e a psicose ainda produzem indagações concernentes ao seu campo de apresentação. O que é patente, no que se refere ao campo psicanalítico, é a maneira singular de apreender o sujeito. Esse é o modo pelo qual a Psicanálise se afirma e se sustenta nessa batalha dos variados modos de se fazer com as respostas singulares de cada sujeito. Nesse campo, trata-se de verificar o modo de funcionamento subjetivo desse sujeito, a despeito de um conjunto de sintomas que nos são revelados.
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1 A noção de sujeito em Lacan passa por várias formulações. No último ensino de Lacan que teve início no Seminário 20 - Mais Ainda, o termo falasser surge em contraposição à noção de sujeito. Nesse momento particular do ensino de Lacan, há uma nova leitura do inconsciente para além do simbólico e da linguagem; ou seja, no que nele há de real; isto é, de gozo (Lacan, 1985/1998).
2 Desde a concepção inicial do autismo, os psicanalistas o integraram à chamada "clínica diferencial da psicose". No entanto, a partir dos postulados de Rosine e Robert Lefort, de que o autismo se constituiria como uma quarta estrutura, distinta das três já postuladas, não há na Psicanálise consenso a esse respeito.
3 Daniel Paul Schreber escreveu o livro, publicado em português sob o título Daniel Paul Schreber: memórias de um doente dos nervos (1903/2006), com a finalidade de comprovar que estava em condições físicas e psicológicas de retomar suas atividades como magistrado.