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versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.38 no.61 São Paulo ago. 2016

 

EM PAUTA | CORPO: MISTÉRIO, AMBIGUIDADE

 

O corpo kleiniano: a morada do ser

 

The Kleinian body: the cradle of being

 

 

Liana Pinto ChavesI; Mariângela Mendes de AlmeidaII

IMembro efetivo da SBPSP, Master of Science em Psicologia Social pela London School of Economics
IIMembro filiado do Instituto de Psicanálise da SBPSP, mestre pela Tavistock Clinic e University of East London, coordenadora do Núcleo de Atendimento a Pais e Bebês, Setor de Saúde Mental, Pediatria-Unifesp

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo aborda os primórdiosda constituição psíquica segundo o pensamento kleiniano.O corpo é o cenário privilegiado da vida de fantasia e a integraçãocorpo-mente se dá à medida que o mundo interno vaise constituindo. Algumas ilustrações dessa articulação são oferecidas.

Palavras-chave: Psiquismo. Mundo interno. Fantasia. Melanie Klein.


SUMMARY

The paper addressesthe beginning of psychic development according to theKleinian thought. The body is the special scenario of the phantasylife. Body-mind integration takes place as the internal worldgets built. Some illustrations of this articulation are offered.Corpo.

Keywords: Body. Psychic development. Internal world. Phantasy.Melanie Klein.


 

 

E no princípio era o corpo... O corpo é a nossa primeira casa, ou melhor, nossa segunda casa. A primeira é o corpo da mãe. E será nossa casa para sempre, infinita enquanto dure. É o que somos, é o que temos. Pode ser um lugar agradável, um paraíso, pode ser um tormento, uma prisão.

O corpo está em toda parte. O interior do corpo da mãe é o cenário de toda a vida de fantasia e da interpretação que a criança dá aos fatos relevantes desta existência que se inicia, cenário que posteriormente se amplia para o espaço triangular e o espaço social. O corpo na visão kleiniana é tudo: a praça, o céu estrelado da idealização, a prisão claustrofóbica da persecutoriedade - o palco em que se apresentam as fantasias sobre os acontecimentos das relações humanas.

Como uma boneca russa, somos gestados no interior do corpo da mãe, no interior do berço psíquico construído pelo casal em intimidade para o bebê que está por vir (Magagna, 2015). Depois, durante muito tempo, a criança habita o psiquismo dos pais, é por ele envolta e depois será habitada por esses objetos internalizados. A experiência de ter um objeto dentro de si dá ao sujeito uma sensação de existência e de identidade.

Veremos, no decorrer do texto, a importância da noção de espaço no desenvolvimento psíquico e representação corporal no pensamento kleiniano: espaço dentro do objeto, espaço dentro do self e espaço entre os objetos, presente tanto na teoria quanto na clínica.

 

O psiquismo em gestação

Para Klein, não há superioridade da mente em relação ao corpo. Seu legado se caracteriza por uma interface corpo-mente, em suas concepções, articulações, imagens evocativas, metáforas constitutivas, e até na linguagem direta utilizada em seus diálogos interpretativos com crianças, núcleo simbólico de suas intervenções, em que se destaca a presença viva e autêntica do corpo e suas produções, tal como ocorre na vivência infantil encarnada. Essa ligação marca também as contribuições de autores que deram continuidade ao seu pensamento, relacionando processos psíquicos e somáticos, como ocorre, por exemplo, com todos os desdobramentos do conceito de fantasia como correlato psíquico das vivências pulsionais do sujeito corporal (Isaacs, 1973). São essas fantasias iniciais que dão forma à vida instintual infantil e também elaboram e representam internamente os eventos do mundo, gradualmente habilitando a emergência das capacidades de apreensão do bebê (Likierman, 1995). Mesmo em qualidade rudimentar, desde o início inscrevem-se psiquicamente interpretações subjetivas do que está sendo senti-do em nível orgânico, não reduzindo o sujeito a essa condição, nem sendo esta desconsiderada. (Vale a pena lembrar aqui também os desdobramentos contemporâneos relacionados à interface com a neuroquímica e aos dinamismos da plasticidade cerebral.)

As fantasias primevas mais remotas emergem dos impulsos corporais e se interconectam com as sensações e afetos gerados no mundo interno, tecendo em trama indivisível a matéria humana da qual somos constituídos, em processo não só biológico, mas também mental, desde o início. As possíveis primeiras experiências dessa trama híbrida aparecem descritas em inúmeras contribuições que, em caminho aberto por Klein, iluminam primórdios arcaicos da constituição do psiquismo. Exemplos desse desdobramento são os trabalhos de Piontelli (1992), de Caron e Lopes (2014), sobre a vida pré-natal intraútero, nascimento e parto. Experiências iniciais de alimentação, como matrizes de processos de internalização e continência, e desafios precoces de subjetivação e seus possíveis riscos, requerendo intervenções preventivas nas relações pais-bebê são outros exemplos (Mendes de Almeida, 2014).

Na clínica psicanalítica de adultos, se sensíveis a aspectos primitivos e contratransferenciais, registramos também cenas psíquicas em que pacientes comparecem como ainda em estado não nascido, fechados em um "útero mental" que os mantém regredidos, quase totalmente intocados pela vida no mundo externo (Piontelli, 1992).

Para Hinshelwood (1995), os objetos internos não são "representações", como poderiam ser em lembranças. Eles são sentidos como constituindo a própria substância do corpo e da mente. Segundo ele, os primeiros objetos concretos têm apenas atributos emocionais. Se os objetos são bons ou maus, depende das sensações corporais do momento e que ocupam a atenção do bebê. Exemplo interessante é oferecido por Marie Cristine Laznik (2013) ao acompanhar um bebê prematuro para o qual os inúmeros fios, garantindo seus cuidados intensivos em UTI Neonatal, que poderiam ter sido sentidos como invasivos e intrusivos em seu corpo físico e psíquico, foram mais tarde representados pela criança como promovendo vida e possibilitando ligações. O mundo mental interno vai se constituindo com uma realidade própria, dinâmica e contínua.

A concepção kleiniana da construção do psiquismo parte da noção de um espaço cavitário, segundo a expressão elegante habitualmente empregada por Luiz Meyer, começando pelo/no corpo propriamente dito e pela representação psíquica de um self que começa a se formar. Vera Regina Fonseca (2016) destacou o poderoso tropismo do bebê humano em direção ao objeto, movimento por ela caracterizado como "uma onda que contém tudo o que depois foi nomeado por Bion de experiência emocional. São sensações físicas, corporais, interpretadas como relações com o objeto que causariam tais sensações, [...] desenhando uma concomitância entre o somático e o mental" (p.1).

O conceito de mundo interno, que vai se criando por meio das fantasias que são como uma respiração da alma, é basilar para tudo o que é e o que virá a ser psiquismo. A fantasia é o que une o corpo e o psíquico, transita de uma esfera a outra. As fantasias são o conteúdo primário dos processos mentais inconscientes e acompanham toda e qualquer atividade mental.

Essas fantasias muito iniciais surgem pelas experiências somáticas e sensoriais do bebê na sua ligação íntima com o corpo da mãe: o som, a voz, o ritmo, o tato e o cheiro.

De outra vertente e cultura psicanalítica, Françoise Dolto (1990) nos conta sobre o início de seu trabalho como psicanalista em um hospital infantil: os bebês naquela época eram vistos pela puericultura como "tubos" ligando a boca ao ânus, passagem direta da alimentação para a evacuação, e só. Dolto e Klein muito contribuíram para que os bebês fossem considerados seres humanos já com sentimentos e emoções complexas.

Dessa perspectiva, as teorias sobre a psique-soma ou o soma-psique estariam estreitamente conectadas às teorias sobre o desenvolvimento inicial.

O bebê que se sente sem peso no útero, depois do nascimento fica submetido à ação da gravidade, surgindo disso uma premente necessidade de ancoragem por estar mais adaptado ao meio líquido. A adaptação ao novo meio é como a conquista de uma terra estrangeira - o próprio corpo e o corpo da mãe.

Aos poucos, "no desenvolvimento normal, essas experiências 'psicossomáticas' são integradas com formas mais simbólicas de funcionamento e formam parte das diferentes maneiras que temos de nos expressar em relação aos outros" (Bronstein, 2015, p. 937).

O corpo da Psicanálise se expandiu a partir da prática com crianças da qual Melanie Klein foi uma das pioneiras.

O pensamento psicanalítico se beneficiou muito de suas formulações acerca de níveis arcaicos de funcionamento psíquico, em reflexões originais muitas vezes emergentes de suas próprias vivências pessoais. Suas descrições convincentes de angústias primitivas são por nós (re)-encontradas em momentos de ameaça à nossa integridade física e psíquica, na vida ou na atividade clínica, como corpo individual ou como corpo em coletividade

Trânsitos entre, por um lado, fragmentos de persecutoriedade e pavores retaliatórios em relações parciais, e, por outro, ansiedades permeadas de culpa e desejos de reparação, em relações mais integradas, marcam, de acordo com Klein, o movimento de idas e vindas de nossos corpos psíquicos no universo dos relacionamentos, com seus perenes conflitos entre amor e ódio, vida e morte, integração e desintegração, relações de objeto e tendências narcísicas.

Meltzer (1978) destaca o potencial de revisão do corpo teórico psicanalítico freudiano precedente, presente nas ideias e práticas desenvolvidas por Melanie Klein, ao valorizar a curiosidade das crianças em sua intensa busca por conhecimento, para além do interesse sexual (também em si historicamente revolucionário). A ênfase na ideia do interesse epistemofílico pelo próprio corpo, pelo corpo dos pais, pelo seu funcionamento e, particularmente, pelo interior do corpo da mãe e seus conteúdos, em seus coloridos de sadismo e desejo de posse, abre caminho para futuros desenvolvimentos pós-kleinianos, trazendo à tona aspectos de encantamento e sua diferenciação dos aspectos destrutivos e intrusivos.

 

Janelas para o mundo interno

No espaço analítico, vários "recipientes" multidimensionais, físicos e psíquicos se prestam a continentes para objetos internos. Assim, no atendimento a crianças, as transformações lúdicas dominam a cena, presentes no próprio corpo somatopsíquico, agente do brincar, na utilização espacial dinâmica da sala de análise, na caixa lúdica que contém os aspectos internos da criança em constantes reconfigurações.

Presenciamos em nossa relação analítica com crianças - em um jogo lúdico - a complexa trama de emoções, fantasias e manifestações sensoriais expressas num corpo mais, ou menos, integrado.

Melanie Klein nos instrumentaliza na prática analítica clínica para essas compreensões e intervenções, levando em conta a atualização dos aspectos internos para o aqui e agora da sessão e a crença na possibilidade das crianças transferirem, para a situação analítica e para o analista, suas configurações vivenciais internas, aspecto polêmico e controverso nos primórdios do desenvolvimento da técnica analítica com crianças.

Traremos aqui uma evocação visual de material oferecido em uma caixa lúdica para crianças em análise, a caixa em si e o material, telas e continentes expressivos para a projeção de aspectos contidos no corpo psíquico dos sujeitos em trabalho terapêutico.

Oferecidas silhuetas em papelão, as crianças poderiam, se desejassem, preenchê-las com adesivos de detalhes variados, de acordo com a livre escolha de cada um: olhos, bocas, narizes, orelhas e outros detalhes em diferentes formatos, dimensões e expressões, pedacinhos coloridos de corpo, possibilitando mosaicos pessoais.

O material costuma convocar o interesse lúdico das crianças por preenchimento e representação. E nós aprendemos com elas. A grande diversidade, a partir dos mesmos elementos, sugere singulares experiências de integração entre canais de apreensão sensorial e simbólica de mundo e de localização sentida e distribuída no espaço-corpo. Em algumas silhuetas, os órgãos dos sentidos se avolumam e se sobrepõem no espaço-rosto, proa da comunicação no navegar das interações, uns de forma ordenadamente convencional e outros se arriscando e se divertindo com invenções mais cubistas, bizarras, sem medo de um faz de conta ou transparentemente ilustrando caminhos em prevalência peculiar: um rosto caolho espreita, um nariz grita, uma orelha se aguça com uma lente de óculos. Em outras, os detalhes dos sentidos se distribuem ao largo dos membros e espaços viscerais, afluentes e agentes de vivo contato: uma barriga olha, uma boca se abre no pescoço, em sugerida voz sufocante e aspirada, um umbigo cria língua, outro rosto se compõe na zona genital. Em paisagens kleinianas, kleinianas mentes se configuram, mente e corpo se mesclam, expressando caminhos variados de contato, representação e tentativas de integração, pela experimentação, projeção massiva, identificação, humor e fruição estética. Abrem-se também canais de comunicação acerca desses vários caminhos entre analista, criança e personagens representados.

O corpo é mesmo o palco de grandes acontecimentos (Coimbra, 2014), cenário de grandes emoções. É também o mediador e agente de diferentes níveis de funcionamento psíquico, ampliados desde Klein em lentes de aumento que alcançam o arcaico, o primitivo do desenvolvimento e os percursos da existência humana.

Em sessão analítica conjunta com os pais, um garoto de quase três anos, ainda com pouco desenvolvimento de comunicação e contato,"consola-se" em momento de irritabilidade,"plugando" a ponta de seu dedo indicador no umbigo da mãe. Nesse momento, ele institui e reconstitui o mais primitivo dos contatos corpo a corpo, passando por qualquer camada de vestimenta materna e cobertura cultural. Mantém assim um "fio" corpóreo que recupera a ligação umbilical com seu dedo index. Apesar de também já ser capaz de apontar em atenção compartilhada, nesse momento, amolda-se a um colo útero dos tempos primeiríssimos. O aconchego e a ressonância dos fluxos internos, do bombeamento de sangue, dos batimentos cardíacos e do ritmo da respiração em quase continência placentária, recuperam uma possível experiência de qualidade fusional, ainda sem a vivência de discriminação, diante de ameaças de separação.

Após conversa incluindo o pai e o aspecto materno facilitador de dependência relativa e crescimento, o garoto vai aos poucos se dirigindo a um banquinho entre os pais e podendo olhar e sentir além dos "umbigos". Sons e balbucios do garoto parecem anunciar uma possibilidade de maior subjetivação e desejo de participação na roda dos falantes. Percebendo e se entusiasmando com o movimento de abertura do filho, na cena analítica seguinte, o pai, sensível à retração do garoto, leva-o para uma "viagem" à janela da sala, na qual debruça metade do corpo do filho para fora, em visão panorâmica do mundo para além-mãe. Mãe e filho "estremecem" diante da ousadia dessa interdição, que o lança para o espaço além do corpo materno. Há uma tentativa de mãe e filho de retorno à unidade primária, relativizada em seguida por nossa conversa de como esses dois elementos, aconchego e autonomia acompanhada, parecem se combinar para oferecer ao garoto o que pode ajudá-lo nessa transição.

Em vinheta de atendimento psicanalítico de um grupo de crianças de um serviço federal comunitário, a dupla de coterapeutas processa junto com os pacientes a gravidez de uma delas, transformação corporal primária que desafia os limites da continência e evidencia de corpo para corpo a necessidade de compartilhar espaços físicos e psíquicos em triangulações.

Saulo (quatro anos) entra na caixa lúdica e fica em uma posição fetal, Solange, a terapeuta grávida, de cinco meses, aponta que às vezes queremos morar dentro do grupo e ser um bebê, ele se acalma.

Lembramos que Saulo várias vezes falara que não queria ir embora e queria passar o fim de semana no Ambulatório. Pouco tempo depois, ele começa a passar cola na caixa lúdica principalmente na parte lateral, lambuzando toda a caixa com a palma da mão, espalhando cola na parede externa da caixa. Ismael (quatro anos) também se junta à atividade, enquanto as outras crianças observam com bastante atenção e interesse. Indagamos alto uma para a outra e para o grupo o que será que eles estão querendo colar, passando a mão por todo lado da caixa. Será que querem ficar colados, grudadinhos no grupo, como o bebê está grudadinho dentro da barriga de Solange? Depois passam a espalhar cola e a colocar dominós na parte superior da caixa, expandindo-a (como uma muralha, proteção?), depois como se estivessem aumentando o espaço da caixa/grupo para caber mais coisas-bebês. A coterapeuta comenta que parece que a caixa está também grávida e que eles parecem querer garantir que tenha espaço para todo mundo no grupo, mesmo com o novo bebê chegando. As crianças, principalmente Saulo, riem, demonstrando ressonância com a comparação da caixa grávida.

Pouco tempo depois, Ismael ensina Emerson (seis anos) a fazer bombas e as testam assustando as terapeutas, principalmente a não grávida. Saulo logo fica interessado e começa a fazer bombas também. Solange compara o recebimento da notícia do bebê a uma bomba que faz muito barulho. Comentamos entre nós, e para o grupo, que não estava fácil falar sobre essa novidade, também estávamos preocupadas com o modo que eles iriam receber essa notícia. Talvez, no entanto, eles já estivessem notando diferenças, e se agitando com elas. Comentamos, como agora conversamos sobre isso, que parece que eles podem até mostrar a raiva e a irritação, mas estão menos agitados, até podendo ampliar esse espaço para acolher a nova notícia (imagem representada pela caixa grávida, que parece encontrar um paralelo no espaço inter-no criado no grupo e em cada um deles)1.

Em uma cena de aprisionamentos e rupturas mais dramáticas, o recente filme O quarto de Jack, de Lenny Abrahamson, narrado do ponto de vista de uma criança, trata da vida de um menino de cinco anos nascido e criado em cativeiro. Jack e sua mãe, Joy (que nome!), vivem trancados em um espaço de 10 m2, sem janelas, apenas com uma claraboia no teto, pela qual eles podem vislumbrar um pedacinho de céu. Se a mãe é o mundo para toda criança pequena, ali isso não é uma imagem, é a realidade concreta. Naquela prisão sufocante, Joy, com grande empenho e dedicação a maior parte do tempo, consegue oferecer a Jack o melhor, nessas circunstâncias, em matéria de afeto e conhecimento do "mundo". A ligação com o "mundo" se dá por meio da televisão e há toda uma grande conversa entre mãe e filho sobre o que é real e o que é televisão, conceitos dificílimos de serem apreendidos por alguém que viveu toda sua vida naquele quarto. A fuga do cativeiro abre de maneira bombástica um segundo tempo do filme: o do reingresso de Joy na vida social e o ingresso de Jack pela primeira vez nesse mundo de outras relações.

 

Para concluir...

Foi a partir de Klein que a análise infantil adquiriu um corpo autônomo como abordagem e técnica, em que a transferência direta ao setting e ao analista se fazia imediatamente possível, sem a necessidade de intermediações e alianças pré-analíticas com os pais reais.

De vida sabidamente turbulenta e não convencional (depressão, divórcio, conflitos mãe-filha, perda trágica de filho, contato pessoal com emoções profundas e extremas), Melanie Klein adentrou o campo da psicanálise buscando análise para suas próprias dificuldades. Durante seu tratamento, começou a observar seus próprios filhos e refletir acerca de suas vivências internas, de forma doméstica, íntima, bem próxima da fonte (Likierman, 1995). Esse corpo a corpo foi a fonte de inspiração de uma obra voltada às angústias primitivas e necessárias reparações e resgates, presentes até hoje na vitalidade do pensamento kleiniano contemporâneo.

 

REFERÊNCIAS

Bronstein, C. (2015). Finding Unconscious Phantasy in the Session: Recognizing Form. International Journal of Psychoanalysis, 96(4),925-944.         [ Links ]

Caron, N. A. & Lopes, R. C. S. (2014). Aprendendo com as mães e os bebês sobre a natureza humana e a técnica analítica.Porto Alegre: Dublinense.         [ Links ]

Coimbra, R. E. L. (2014). Níveis de integração sensorial – integração/não integração, autoestimulação sensorial. In F. V.Batistelli & e M. L. G. Amorim (Orgs.). Atendimento psicanalítico do autismo. 71-79. São Paulo: Zagodoni.         [ Links ]

Dolto, F. (1990). Autorretrato de uma psicanalista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.         [ Links ]

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Laznik, M. C. (2013). A hora e a vez do bebê. São Paulo: Instituto Langage.         [ Links ]

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Magagna, J. (2015). O jardineiro fiel. Jornal de Psicanálise,48(89),289-298.         [ Links ]

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Mendes de Almeida, M. (2011). Diferenciando a qualidade de projeções parentais na interface com dificuldades alimentares infantis: intervenção clínica e investigação psicanalítica com pais e bebês. In C. A. N. B. Bruno (Org.). Distúrbios alimentares– Uma contribuição da psicanálise (pp.169-189).Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

Piontelli, A. (1992). From Fetus to Child. Londres: Routledge.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
LIANA PINTO CHAVES
Rua José de Freitas Guimarães, 304
01237-010 – São Paulo – SP
tel.: 11 38715458
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MARIÂNGELA MENDES DE ALMEIDA
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tel.: 11 38428839
mamendesa@hotmail.com

Recebido 11.04.2016
Aceito 07.05.2016

 

 

1. Este atendimento foi realizado em coterapia com a psicóloga Solange Araújo, no Ambulatório de Saúde Mental, Departamento de Pediatria/ Unifesp.

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