EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Adriano Beiras

Coordenador Editorial

 

 

O mundo está diferente, temos tido novos desafios pela frente diante de um contexto mundial de pandemia de COVID-19. Ao meio de tudo o que estamos passando, há também brotos de coisas boas, há esperanças e mudanças positivas que podemos conservar. Estes são algumas das reflexões trazidas por Saul Fuks, em um webinar produzido pelo Interfaci/SP, meses atrás, tema que falarei adiante neste editorial. É com esta reflexão que gostaria de iniciar esta edição da Revista Nova Perspectiva Sistêmica. Procuramos trazer temas de grande atualizade para o momento e esperanças também em temas outros diversos, para que possamos seguir e apresentar potencialidades, transformações e estratégias de redefinir-se.

O primeiro artigo desta edição chama-se "Recursos da terapia narrativa de sessão única em tempos de pandemia e isolamento social", de Laura Vilela e Souza, Camila Martins Lion, Leticia Trombini Vidotto, Murilo dos Santos Moscheta. Trata-se se um texto muito relevante para o momento atual, onde as autoras e autor nos apresentam recursos para enfrentar cenários de emergência e do contexto atual da pandemia do Covid-19, no âmbito da saúde mental. Apresentam a terapia de sessão única fundamentada na terapia narrativa, integrada a necessidade do atendimento online. Ressaltam na prática a valorização de narrativas alternativas e a construção de possibilidades futuras na identificação de recursos diversos na sessão, assim como a ampliação de possibilidades de atendimento terapêutico.

O segundo artigo tem o titulo "O Uso de Metáforas com um Adolescente em Processo Psicoterapêutico Familiar", escrito pelas autoras Mariana Peres Trajano e Monica Duarte da Silva Gonçalves. O texto apresenta um relato clínico onde as autoras ressaltam as contribuições do uso de metáforas para ampliar recursos conversacionais e ressignificar sentimentos e emoções, a partir do construcionismo social, práticas colaborativas e narrativas. Foca em recortes de sessões individuais com o adolescente, em seu periodo de adoção.

O terceiro artigo intitula-se "A conjugalidade diante do enfrentamento de múltiplos estressores: Um estudo de caso sobre uma terapia de casal involuntária" de Ana Dóris da Silva e Isabela Machado da Silva. Trata-se de um estudo de caso com um casal que iniciou terapia a partir da recomendação da instituição onde os filhos estavam acolhidos. Buscou-se compreender a dinâmica relacional do casal e refletir sobre estratégias de intervenção, a partir de dificuldades como uso abusivo de álcool, drogas, violência doméstica e o acolhimento dos filhos.

O quarto artigo desta edição chama-se "Características do relacionamento conjugal de casais que optaram por não ter filhos" de Ingrid Mesquita Coelho, Daniel Cerdeira de Souza e Iolete Ribeiro da Silva. O objetivo foi elencar razões que levam casais a optarem por não ter filhos, compreendendo o nível de satisfação sobre o relacionamento conjugal. A partir de categorias como falta de desejo em ter filhos, carreira profissional, responsabilidades na criação e estabilidade financeira, o estudo foi feito de forma qualitativa e demostrou, dentre outros aspectos, o enfrentamento de estigmas baseados em gênero.

O quinto artigo tem o título "Saúde mental feminina e ciclo reprodutivo: uma revisão de literatura" de Ana Carolina Cerqueira Medrado e Mônica Lima. As autoras analisam criticamente a produção de literatura sobre adoecimento metal de mulheres relacionado ao ciclo reprodutivo feminino. Adotam como referencial a psicologia social construcionista e o feminismo interseccional. Os achados trazem à tona determinantes sociais como pobreza, sobrecarga de trabalho e violência, no adoecimento feminino.

O sexto artigo chama-se "Estratégias de acompanhamento psicológico da parentalidade adotiva: notas sobre experiências grupais", de Paulo Ricardo de Araújo Miranda, Juliana Gomes Fiorott, Andréia Isabel Giacomozzi e Andréa Barbará da Silva Bousfield. O texto traz uma análise da importância de espaços grupais no processo de acompanhamento psicológico com pretendentes a adoção e também pais e mães posteriormente ao processo adotivo. Realizou-se grupos com seis encontros, quinzenais, no serviço de atendimento psicológico de uma universidade pública. O estudo foi feito a partir de questionários aplicados antes e depois do processo grupal. Os resultados demonstram que o processo grupal se torna um espaço de elaboração de motivações e angustias do processo adotivo, assim como evidenciam a importância de políticas públicas relacionadas a parentalidade adotiva que proporcione acompanhamentos e orientações.

O sétimo e último artigo desta edição titula-se "Da suspeita ao diagnóstico de câncer infantojuvenil: a experiência de familiares em serviços de saúde" de Beatriz Lima Figueirêdo e Sibelle Maria Martins de Barros. A partir de entrevistas semiestruturadas com cuidadores familiares de crianças e adolescentes em tratamento oncológico em um hospital público da Paraíba, as autoras analisam a experiência de familiares de pacientes com câncer, diante diversos desafios como a espera do diagnóstico, a busca pelos serviços de saúde, diagnósticos errados. Sinalizam no estudo o choque pela notícia, a união familiar, mudanças de rotina e país, adaptações. Foi ressaltado a importância de repensar práticas e cuidado na rede de assistência, de forma que se assegure acolhimento, vínculo e integralidade.

As seções desta edição da NPS estão imperdíveis e muito especiais! Começamos com "Conversando com a Mídia" que desta vez foi feita em formato de entrevista. Dialogamos com Pedro Martins e Marina Arantes sobre o projeto de criação e produção do curso online Intervenções Terapêuticas, suas interações com redes digitais (Facebook, Instagram) e livro digital grátis em pdf derivado deste projeto. Em tempos de grande uso e transformações do ensino para o mundo online e EaD, devido a pandemia, trata-se de uma entrevista muito instrutiva e um grande convite para conhecermos o curso feito por estes colegas.

A seção Ecos chega duplicada. Primeiro com a participação de Maria Gabriela Mantaut Leifert que nos convida a revisitar o artigo "Tecendo redes, construindo pontes: Atendimento a uma família migrante na Clínica de Família do Instituto Noos", escrito por Adriana Scoz da C. Lima e Leonora F. Corsini na edição 66 da NPS. Segundo, com Alexandra R. Moreira, que nos convida a ler o texto de Bruno Lenzi intitulado "Responsividade reflexiva: um conceito para meios criativos de transformação em práticas colaborativas-dialógicas". Ambas autoras relatam as ressonâncias em suas práticas a partir da leitura destes instigantes textos publicados pela NPS. Na Seção Estante de Livros temos a participação de Edna Lúcia Tinoco Ponciano que nos chama para a leitura do livro publicado em 2019 "Mente saudável: conexão e equilíbrio do corpo e da mente" de D. Siegel.

Por fim, da mesma forma que iniciei este editorial com as reflexões de Saul Fuks, finalizo com ele, na seção Família e Comunidade em Foco. Marilene Grandesso e Graziella Jones Mofarrej relatam a experiência de criar um belo espaço online de reflexão, com a série de conferências online chamada "ZOOMpartilhando: dialogando em tempos de crise, no pelo ICCP-INTERFACI. Na edição em questão relatada em nossa revista, contamos com o relato sobre a conferência de Saul Fuks, a qual foi titulada como "Futuro Pós-Pandemia: que mundo queremos construir?" O autor nos traz brilhantes perguntas reflexivas para pensarmos o futuro diante o contexto de desafio imenso que a pandemia do COVID-19 nos impôs. As perguntas reflexivas de Saul nos fazem refletir e ter muita esperança no futuro que segue diante deste novo contexto. Esperamos que estas perguntas também tragam aos nossos leitores e leitoras muitos brotos de coisas boas e recursos para seguir em suas práticas de transformação social, colaboração e diálogos, construindo um mundo possível e preferido por todos e todas nós.

Uma excelente leitura a todos e todas!