SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.7 número2Apoio ao escritor com dificuldade índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.7 n.2 Itatiba dez. 2002

 

RESENHAS

 

Temas em avaliação psicológica

 

 

Fernanda Andrade de Freitas*

 

 

Primi, R. (org.) (2002). Temas em avaliação psicológica. Campinas: Impressão Digital do Brasil, 178 páginas.

O organizador deste livro objetiva abordar temas no referencial da Avaliação Psicológica, preocupando-se em promover a reflexão, bem como em incentivar o avanço da pesquisa, da prática e da teorização nessa área. Primi organiza os 13 capítulos do livro, escrito por profissionais brasileiros e estrangeiros de Psicologia e áreas afins, de modo que os capítulos constituem-se em trabalhos independentes e tratam de temas distintos, mas correlatos à avaliação psicológica. São arranjados por questões abrangentes sobre a avaliação psicológica; instrumentos de personalidade; avaliação da inteligência; e, por último, aspectos mais específicos da Psicometria e seus avanços metodológicos. A seguir, haverá uma breve descrição de cada capítulo.

O capítulo escrito por Noronha e Alchieri intitula-se "Reflexões sobre os Instrumentos de Avaliação Psicológica". Os autores demonstram a preocupação em pontuar a diferença da produção científica referente aos testes na realidade brasileira e internacional, bem como descrever a história dos testes psicológicos no Brasil e sua influência no desenvolvimento do profissional de Psicologia, questionando a pouca utilização dos testes psicológicos na nossa realidade e suas características. Os autores ressaltam no capítulo a necessidade de mais atenção por parte de profissionais e pesquisadores da comunidade psicológica.

No capítulo seguinte, Custódio encarrega-se de abordar a "Avaliação Psicológica no Setor da Saúde", debatendo a contribuição que os testes podem fornecer, suscitando vários questionamentos em relação à necessidade da maior conscientização por parte dos profissionais em relação a essa área, que está em ascensão. Compara a realidade nacional com a internacional, concluindo que mais uma vez essa última encontra-se mais adiantada nessa questão, pois no Brasil ainda há uma preocupação com a utilização dos testes, que além de serem antigos, não possuem sempre estudos que confirmem sua qualidade psicométrica.

O capítulo seguinte é escrito por Simões e trata da "Avaliação Neuropsicológica em Crianças e Adolescentes", situando historicamente a avaliação neuropsicológica e também descrevendo alguns dos instrumentos utilizados para esse tipo de avaliação. Segundo o autor, esse tipo de avaliação difere da avaliação psicológica mais genérica, no que se refere à interpretação dos dados, pois leva em consideração o conhecimento da estrutura e função no Sistema Nervoso Central. O texto faz questionamentos à utilização, padronização dos testes e também à qualidade psicométrica, considerando que é possível encontrar profissionais que acreditam no valor "clínico" dos testes. Ao final do texto, o autor descreve alguns indicadores de progresso no contexto da Avaliação Neuropsicológica.

Alchieri e Bandeira enfocam a formação do psicólogo no trabalho "Ensino da Avaliação Psicológica no Brasil". Eles pontuam o ensino dos testes psicológicos, sugerindo uma nova postura, ou pelo menos, teoricamente, apontando uma mudança de conduta do professor de Técnicas de Exame Psicológico, visto que os professores enfatizavam a aplicação e a correção dos testes psicológicos, bem como as dificuldades dos manuais, desenvolvendo nos alunos um desinteresse pelos testes. Relatam que a Lei de Diretrizes e Bases favoreceu a mudança desse quadro, pois incentivou mudanças nos programas, atualização de testes e laboratórios. Os autores ressaltam a necessidade de maior participação das instituições e dos órgãos de classe nessa reflexão, de forma que haja maior espaço de discussão entre docentes, alunos e pesquisadores.

A partir do capítulo seguinte, os temas são mais voltados para a avaliação da personalidade. O capítulo escrito por Nunes e Hutz trata da apresentação do "Modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade", que é proveniente de um grande conjunto de pesquisas na área da personalidade, com base na teoria fatorial e nas teorias de traços de personalidade. Embora, de acordo com os autores, esse modelo tenha uma história conturbada, por ter sido acidental, é muito estudado. O modelo de cinco fatores é composto por Extroversão, Socialização, Neuroticismo, Abertura e Realização. No Brasil apenas o fator Neuroticismo é normatizado à realidade brasileira, e pode contribuir para a realização de avaliações tanto no contexto clínico, como na comunidade ou em instituições de saúde.

O capítulo seguinte é escrito por Villemor Amaral a respeito das "Novas Contribuições ao Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister", um teste antigo, utilizado há 50 décadas na seleção clínica e seleção de pessoal. A autora preocupou-se em validar esse instrumento para a realidade brasileira com pacientes com determinadas patologias e descreveu resultados interessantes em relação a cores e patologias como esquizofrenia, transtornos depressivos, transtorno por abuso de álcool, transtorno de pânico e transtorno obsessivo compulsivo e somatoformes, contradizendo algumas teorias.

No sétimo capítulo, o enfoque dado é a avaliação em "Inteligência: um Conceito Equívoco". Pasquali introduz esse conceito de forma muito simplificada, apresentando claramente suas idéias, incitando a comunidade psicológica a refletir nas variações de um conceito referente a um constructo, demonstrando quão difícil é a tentativa de definir. Ele tenta minimizar ou pelo menos construir uma explicação crítica do constructo inteligência, para o qual há várias ambigüidades. Uma boa introdução para os capítulos seguintes.

O próximo capítulo aborda "A 3a edição das Escalas Wechsler de Inteligência". As autoras Nascimento e Figueiredo reuniram seus respectivos trabalhos, demonstrando a importância da união de pesquisadores com objetivos semelhantes ou pelo menos convergentes. Uma trabalhou com o WISC-III e a outra com a WAIS-III, porém ambas normatizaram para a população brasileira, além de se preocuparem em descrever a história das Escalas Wechsler, as escalas, os objetivos, a forma de aplicação, a população para a qual se destina e a interpretação de dados, comparando as versões original e nacional.

Num enfoque ainda diferenciado, Alves escreve o capítulo 9, preocupando-se em levantar os "Instrumentos Disponíveis no Brasil para a Avaliação da Inteligência". A autora coletou 21 testes de inteligência publicados, descrevendo suas características, tais como: sigla, editora, classificação, tipo de material, origem da população, número de provas, data original, data no Brasil e um breve relato sobre eles. Fornece também uma lista de testes de inteligência mais ensinados no Brasil, ressaltando que a maior parte desses testes não tem normas atualizadas, como também estudos de precisão e validade. Dos que possuem os parâmetros psicométricos, alguns dos testes apenas descrevem estudos dos autores originais.

Num outro capítulo, o tratado é de pouca repercussão na literatura científica psicológica atual, entretanto, Wechsler e Nakano tentaram traçar novos "Caminhos para a Avaliação da Criatividade: Perspectiva Brasileira". No corpo teórico, as autoras descreveram um panorama da criatividade no contexto brasileiro por meio de artigos, ou seja, periódicos e dissertações, traçando uma perspectiva histórica do desenvolvimento da avaliação.
Vendramini discute a "Aplicação da TRI (Teoria de Resposta ao Item) na Avaliação Educacional", no 11o capítulo. Preocupa-se em demonstrar um panorama da produção científica referente à TRI, principalmente no que se refere a avaliações educacionais, sua relevância e aplicação no contexto brasileiro. Além de explicar e descrever alguns conceitos básicos da TRI, demonstra uma aplicação prática dessa teoria a uma prova de estatística num contexto universitário.

Em seguida, no capítulo 12, o tema abordado é a "Teoria de Resposta ao Item e o Modelo de Rasch de Mensuração: uma Análise do Provão de Psicologia", por Ziviani e Primi. Apresentam uma linguagem específica de estatística, ressaltando sua relevância para a aplicação em Psicologia, inovando a Psicometria. Os autores têm como prioridade familiarizar profissionais na área, principalmente no que compete a profissionais ligados à avaliação psicológica e educacional. Além disso, os autores, demonstram a aplicabilidade dessa teoria no contexto da Psicologia, usando-a para analisar criticamente o Provão do MEC referente ao curso superior de Psicologia, a fim de favorecer o melhoramento desse método de avaliação dos cursos superiores, tão significativos atualmente.

Nessa mesma abordagem, o último capítulo, escrito por Pasquali, aborda o "Provão (ENC) de Psicologia 2000 e 2001: Análise dos Parâmetros Psicométricos", utilizando uma linguagem clara, porém técnica. A análise envolve referências à discriminação dos itens, dificuldades dos itens, acertos aleatórios, precisão e validade. O autor pontua que ambos os provões apresentam dados semelhantes, embora tenham algumas diferenças no que diz respeito aos temas abordados e às qualidades psicométricas.

É possível perceber que todos os temas são essenciais para o fortalecimento da avaliação psicológica, considerando que são abordados diferentes e relevantes assuntos, como personalidade, inteligência, criatividade, estatística, a formação do psicólogo, a aplicação dos testes em vários contextos. De uma maneira bastante clara, o livro também aborda a importância da estatística para a avaliação psicológica/educacional, tema esse desprezado por muitos profissionais da área da psicologia, mas valorizado, nesses capítulos que o abordaram, destacando a relevância para o desenvolvimento da ciência Psicológica.

A leitura é recomendável a todos os profissionais da área, bem como aos estudantes de Psicologia e áreas afins, para que tenham à disposição temas diversos relacionados à avaliação psicológica. Apesar de ser um livro com uma impressão de má qualidade, é recompensado pela qualidade dos conteúdos abordados nos capítulos.

 

 

Recebido em 10/10/2002
Aceito em 10/12/2002

 

 

* Fernanda Andrade de Freitas é aluna de graduação do curso de Psicologia da Universidade São Francisco.