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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.16 no.2 São Paulo dez. 2011

 

Editorial

 

 

Desde a mitologia cristã com a história de Adão e Eva, se inicia uma tradição na qual o conhecimento ocupa um lugar relevante na ordem das coisas. Da célebre árvore do conhecimento, cujo fruto, pela curiosidade despertada, valia mais do que a serenidade paradisíaca, passando pelo advento da ciência regada do iluminismo que via no conhecimento a única forma de escapar do obscurantismo, até culminar com Marx que o pensava como forma de emancipação, o conhecimento sempre ocupou um lugar de primazia indiscutível.

Depois de séculos de fama nossa época parece testemunhar seu declínio. Não que ele não tenha mais nenhum valor, valor que é comprovado todo o tempo, sobretudo pelos avanços científicos que crescem a nossos olhos diariamente, mas que seu valor atual é mais de troca do que de uso

Para a longa tradição citada o conhecimento tinha um valor em si, de emancipação, sem precisar recorrer a artifícios compensatórios ou utilitários.

Tudo leva a crer que o empuxo capitalista o transformou, em nossos tempos, em uma mercadoria entre outras e que como tal tem valido cada vez menos.

Na escola cada vez mais se assiste à utilitarização do conhecimento, sua transformação em peça de acesso a um gozo outro, provindo do consumo dos objetos do mercado em relação ao qual o conhecimento não é senão o meio de acesso, dispensável se houver outros. A corriqueira pergunta feita pelos alunos : para que vai me servir isso, professor? apenas revela cruelmente a lógica que organiza o universo escolar.

A universidade, por sua vez, lugar que sempre se caracterizou por ser de altos estudos, cada vez mais cede ao crescimento de uma lógica batizada de produtivista, por seus próprios membros, através da corrente incessante de artigos que publicam resultados de pesquisa. Mas tanta publicação não a banalizaria, perguntam os que ainda, sem ceder ao sabor dos tempos, se encontram atônitos com as regras atuais?

No campo psicoterapêutico, por sua vez, também se assiste à emergência (ou ao retorno se pensarmos no que foi o uso da hipnose, por exemplo) de um paradigma que dispensa o saber para privilegiar uma cura sem a participação do sujeito. De fato, a lógica imposta pelo remédio recupera a mesma mestria médica sobre a doença psíquica que estava presente na hipnose, abandonada por Freud exatamente porque entendeu a importância da participação do sujeito em sua cura.Uma cura supõe uma mudança no saber, eis o adágio que está em vias de perder seu fôlego

Os textos que compõem este dossiê apresentam, cada um a sua maneira, uma indagação sobre o que declina no valor do saber. Nem sempre esta indagação se faz sentir claramente, aparecendo de maneira sutil, noutras ela é escancarada.

A própria psicanálise precisa se perguntar sobre seu papel e seu lugar neste estado de coisas.

Este número da Estilos vem brindar o leitor marcando a importância deste tema que implica o trabalho de todos que se aventuram a trocar o paraíso pelo conhecimento.

 

Os Editores