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Stylus (Rio de Janeiro)
versão impressa ISSN 1676-157X
Stylus (Rio J.) no.38 Rio de Janeiro jan./jun. 2019
CONFERÊNCIA BILÍNGUE
Uma rejeição fiadora do desejo
A desire's guarantor rejection
Un rejet garant du désir
Rodrigo Valetín Abínzano; Tradução de Wilson Alves-Bezerra
RESUMO
No presente trabalho, investigamos a função da anorexia como fiadora do desejo, partindo das elaborações de Lacan nos Seminários 8 e 9. Essa escolha deve-se ao interesse especial desta pesquisa em examinar as referências contidas ali em relação à rejeição, ao Versagung e ao corpo. Para ordenar nosso procedimento, usamos coordenadas pontuais, que ecoam as menções feitas por Lacan sobre essa apresentação sintomática. São elas: a) anorexia como uma "desordem" da oralidade, a diferenciação entre necessidade-demanda-desejo; b) as diferenças entre o amor do narcisismo e o amor da dádiva; c) o Versagung, entre a rejeição e a frustração; d) a imersão topológica como uma paixão anoréxica: indo de três dimensões a duas; e) alguns efeitos epistêmico-clínicos do objeto a na imagem especular, bem como o lugar do imperativo do gozo. Na seção final, há conclusões e outras linhas futuras de trabalho.
Palavras-chave: Anorexia; Lacan; Desejo; Rejeição; Imersão; Gozo.
ABSTRACT
In the present work we investigate the function of anorexia as a guarantor of desire, taking for it the developments made by Lacan in Seminars VIII and IX. This choice is due to the special interest it had for our research to examine the references contained there in relation to the rejection, the Versagung and the body. To order our procedure, we use point coordinates, which echo with the mentions made by Lacan about this symptomatic presentation. They are: a) anorexia as a "disorder" of orality, the differentiation between need-demand-desire; b) the differences between the love of narcissism and the love of the gift; c) the Versagung, between rejection and frustration; d) the topological immersion as an anorexic passion: going from three dimensions to two; e) some epistemic-clinical effects of the object a in the mirror image as well as the place of the imperative of enjoyment. In a final section there are conclusions and further lines of work.
Keywords: Anorexia; Lacan; Desire; Rejection; Immersion; Joy.
RÉSUMÉ
Dans le présent travail, nous étudions la fonction de l'anorexie en tant que garant du désir, en nous inspirant des développements réalisés par Lacan lors des Séminaires VIII et IX. Ce choix est dû à l'intérêt particulier que notre recherche a porté à examiner les références qui y figurent en relation avec le rejet, la Versagung et le corps. Pour ordonner notre procédure, nous utilisons des coordonnées de point, qui font écho aux mentions faites par Lacan à propos de cette présentation symptomatique. Ce sont : a) l'anorexie en tant que « trouble » de l'oralité, la différenciation entre besoin-demande-désir ; b) les différences entre l'amour du narcissisme et l'amour du don ; c) la Versagung, entre le rejet et frustration ; d) l'immersion topologique en tant que passion anorexique : passer de trois dimensions à deux ; e) certains effets épistémico-cliniques de l'objet a sur le miroir ainsi que la place de l'impératif de jouissance. La dernière section présente les conclusions et les autres axes de travail.
Mots-clés : Anorexie ; Lacan ; Désir ; Rejet ; Immersion ; Jouissance.
Introdução
O ensino de Lacan lança luz sobre vários sintomas que interrogam à clínica contemporânea. Se a epidemiologia revela dados que mostram o crescimento das taxas de mortalidade ocasionadas pela anorexia nervosa, isso não pode ser deixado de lado pelo psicanalista, já que incide de modo direto nos motivos de consulta com os quais sua prática se encontra.
Desde meados dos anos 1930, encontramos registros em que Lacan teoriza sobre a anorexia nervosa: as sessões da S.S.P. (Lacan, 1933-1950/2010a, pp. 5-31) foram uma cena fecunda para o então jovem psiquiatra, na qual germinaram as produções logo plasmadas de modo sistematizado, como atesta o texto "Os complexos familiares na formação do indivíduo" (Lacan, 1938/2003, pp. 29-90). Naquela época, a ênfase no complexo de desmame e a impossibilidade de sublimação da imago materna constituíam a pedra angular da reflexão e permitiam pensar a anorexia tanto como "greve de fome" quanto como "suicídio não violento"; por sua vez, Lacan confere a ela, em sua argumentação, um lugar basal (no caso, ao lado das toxicomanias e das neuroses gástricas).
Aquela que pode ser delimitada como a segunda conceptualização lacaniana da anorexia nervosa tem seu início no seminário sobre a relação de objeto (Lacan, 1956-1957/2009c) e estende-se ao menos até o seminário dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise, já que logo Lacan fará referências isoladas que são difíceis de localizar como uma conceptualização em si. Não obstante, há uma orientação nos anos 1970 de interrogar a vertente ligada ao gozo, especialmente em seu vínculo com o horror ao saber (Lacan, 1973-1974, aula de 9 de abril de 1974). No presente trabalho, centrar-nos-emos nas elaborações realizadas por Jacques Lacan entre os Seminários 8 e 9, já que lá encontramos a antessala da produção do objeto a, com as modificações e os efeitos que isso trouxe a seu ensino. A partir do que lá é desenvolvido, afirmaremos que a rejeição da anorexia funciona como fiadora do desejo.
Primeiramente, dedicaremos uma seção à anorexia como "transtorno" da oralidade, tal qual Lacan a teoriza no meio do seminário A transferência. Coordenada de suma importância: a rejeição como posição da anorexia diante do Outro. As diferenças entre o amor do narcisismo e o do dom serão fundamentais ao momento de pensar o lugar do desejo e da demanda. Em relação ao isso, será preciso repassar a noção de Versagung, rejeição radical, mas não foraclusão. Em seguida, abordaremos o problema do corpo na anorexia nervosa, orientados pelo que podemos chamar "uma paixão topológica": passar de três dimensões a duas. Isso é denominado, em topologia, "imersão". A imagem como "erro" será a outra vertente do corpo a interrogar, prenunciando o que foi desenvolvido em A angústia, seminário no qual o objeto na imagem mostra seus diferentes efeitos e onde seu paradigma é o sinistro (Lacan, 1962-1963/2005). Para finalizar, exporemos conclusões e futuras linhas de trabalho que tenham surgido do percurso realizado.
O desejo: aquém da demanda
O Seminário 8, denominado A transferência (Lacan, 1960-1961b/2010b),1 é um dos seminários mais longos realizados por Lacan. Como diz Collete Soler, o rodeio e a pergunta criam todo o ambiente da cena, deixando muito mais perguntas do que respostas, e, momentaneamente, ficamos sem saber direito para onde Lacan está indo (Soler, 1992, pp. 16-17). Provavelmente, a parte sobre O banquete, de Platão, seja a mais conhecida desse seminário, quando Lacan introduz os modos do érastès e érôménos, assim como também a metáfora do amor, levando-nos ao núcleo do tema da transferência e da posição do analista. Posição do sujeito, posição do desejo, compulsão à repetição, interpretação e rememoração são alguns dos termos que ordenam as aulas posteriores ao diálogo platônico e que foram reunidas em uma grande seção, intitulada, na versão oficial, de "O objeto do desejo e a dialética da castração". Dessa seção são as afirmações mais inovadoras e subversivas que Lacan faz em relação à contratransferência, evidenciando o absurdo do pensar, em relação ao conhecimento do inconsciente, "que ele coloque, por si mesmo, o analista fora do alcance das paixões" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 232), bem como situando o desejo "mais forte", que aqueles pelos quais o analista, eventualmente, tem vontade de pegar no colo um paciente ou jogá-lo pela janela (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 233).
Pela possiblidade de repensar a contratransferência, Lacan retoma a relação da demanda e do desejo, já que o final da análise é "a emergência da manifestação do desejo do outro" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 247). O amor e o desejo localizam-se de modo diferente em relação à demanda: enquanto o primeiro fica além - daí a afirmação de que "toda demanda é demanda de amor" -, o desejo fica aquém.
Ilustração da discordância e rejeição
Lacan pergunta "O que é uma demanda oral?" e responde automaticamente: "É a demanda de ser alimentado" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 251). Em razão da estrutura do significante, a resposta a tal demanda é a demanda do Outro de se deixar alimentar. Entretanto, Lacan esclarece que não há uma correspondência ponto a ponto entre ambas as demandas, e, sim, que há uma hiância, um gap, um desgarrar-se, pela existência do desejo.2
O desejo que transborda o encontro - e o desencontro - das demandas é o que permite que a satisfação não seja levada a cabo de maneira completa, impedindo a extinção desejante. Lacan diz:
(...) é para que esse desejo que transborda a demanda não se sacie que o sujeito que tem fome, pelo fato de que, à sua demanda de ser alimentado, responde à demanda de se deixar alimentar, não se deixa alimentar e recusa de alguma forma desaparecer como desejo pelo fato de ser satisfeito como demanda. (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 252)
O esmagamento da demanda mata o desejo; por isso, a hiância mantém tanto um quanto o outro. Nessa mesma linha de argumentação, Lacan introduz um ponto essencial para nossa pesquisa: "É daí que saem todas essas discordâncias, das quais a mais imajada é aquela da recusa de se deixar alimentar na anorexia dita, com maior ou menor justiça, nervosa" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 252).
Essa última citação permite-nos refletir sobre os seguintes pontos:
Em primeiro lugar, o caráter de "discordância" que há no encontro das demandas pelo desejo; inclusive deveríamos falar em plural, já que são "discordâncias", o que indica modos variados desse desencontro.
O caráter ilustrativo da anorexia nervosa. Esse destaque não é fruto do acaso na retórica de Lacan: a anorexia permite vislumbrar de modo claro a problemática em questão. No texto "A direção do tratamento e os princípios de seu poder", a anorexia permite dar conta, "melhor do que qualquer outra apresentação", das vias de realização do ser, conhecidas como "as paixões do ser", a saber, o amor, o ódio e a ignorância (Lacan, 1958/2008d, pp. 591-652). Tal uso sustenta-se, em outros, no lugar "exemplar" que Lacan confere à anorexia em relação à separação no Seminário 11 (Lacan, 1964/1985, p. 222).
A anorexia é o modo mais ilustrativo de rejeição à demanda de se deixar alimentar, proveniente do Outro. Isso é uma orientação clínica, enquanto o desejo do sujeito é o que está em jogo. Não é o desejo do Outro, mas sua demanda.
A insistência de Lacan de colocar em questão o adjetivo "nervosa" para a anorexia.
Está implícito, em toda demanda, o fato de que o sujeito não quer que esta seja satisfeita, já que isso mataria o desejo; na homofonia na língua francesa tu es le désir (você é o desejo) e tué le désir (morto o desejo), nota-se o caráter do desejo como metonímia da falta-a-ser, como Lacan a definira seminários antes. Se o desejo fica fixado na demanda do "é isso", inevitavelmente detém seu movimento e morre. Razão pela qual, no fim da aula de 15 de março de 1961, Lacan dirá que o desejo é aporia (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 261), isto é, encerra em si um caráter paradoxal e insuperável.
Transtorno da oralidade
O fato de a pulsão obedecer a dois diferentes mestres (a autoconservação e a sexualidade) é uma afirmação clássica freudiana dos Três ensaios para uma teoria sexual (Freud, 1905/2007b). A demanda oral, compreendida como demanda tanto de ser alimentado quanto de se deixar alimentar, inscreve-se no fato de que a "demanda oral tem outro sentido além da satisfação da fome. Ela é demanda sexual" (Lacan, 1960-1961b/2010b, pp. 252-253). A crítica lacaniana à teoria libidinal acompanha esse resto ao qual as demandas não podem responder em sua totalidade e que está ligado a um excedente, o que permite que toda satisfação possível não seja em vão. A rejeição antes mencionada - a qual a anorexia ilustra - preserva a função do desejo.
Diz Lacan:
Vocês vão sentir isso imediatamente no seguinte: pelo simples fato de que a tendência da boca que tem fome exprime-se por essa mesma boca em uma cadeia significante, entra nela essa possibilidade de designar o alimento, que é o desejo. Que alimento? A primeira coisa que resulta disso é que essa boca pode dizer: esse, não. A negação, o afastamento, o eu gosto dissoe não gosto de outra coisa do desejo já entra aqui, e aqui explode a especificidade da dimensão do desejo. (Lacan, 1960-1961b/2010b, pp. 253-254)
Em sua conformação heterogênea, o mesmo órgão abriga tanto a demanda oral quanto a pulsão, e nisso, diz Lacan, "reside o transtorno" (Lacan, 1960-1961b/2010b). Por uma questão de estrutura da linguagem, o equívoco está na ordem do dia, e responder à demanda ou acreditar que "o outro diz o que quer dizer o que está dizendo" é perder a bússola do desejo. Se o sujeito conseguisse satisfazer a necessidade, o desejo não teria razão de ser.
Dom do Outro, dom do sujeito: desejo de expulsão
As teorizações dos Seminários 4 e 5 sustentam-se na influência antropológica com a qual Lacan circunscreveu a anorexia em torno da doutrina da simbólica do dom (Lacan, 1956-1957/2009c). Apesar de o tema ser introduzido já nos primeiros seminários, foi apenas no seminário da relação de objeto que se produziu uma inter-relação com a anorexia nervosa.
Homólogo à pergunta pela demanda oral aparece o questionamento sobre a demanda anal, onde se localiza - diferentemente da primeira - um "desejo de expulsão". A demanda oral e a anal são estruturalmente diferentes: enquanto a primeira estava em relação com o excedente sexual do desencontro das demandas, na segunda: "É de uma disciplina da necessidade que se trata, e a sexualização só se produz no movimento de retorno à necessidade" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 254). O importante de tal movimento é que legitima a necessidade como dom da mãe, já que esta espera que o filho satisfaça suas funções, que lhe presenteie com alguma coisa. Como dissera Freud: "o cocô é o primeiro presente, uma parte de seu corpo da qual o lactante só se separa a pedido da pessoa amada e com a qual testemunha sua ternura sem que isso lhe seja solicitado" (Freud, 1917/2007a, p. 120).
A oblatividade, paradigma da fantasia obsessiva, é a oferenda que se diferencia da posição diante do outro: se, antes, era uma demanda ao Outro - ainda que esteja presente a rejeição -, aqui a equação inverte-se, porque agora é uma demanda do Outro:
A fase anal caracteriza-se pelo seguinte, que o sujeito só satisfaz uma necessidade para a satisfação de um outro. (...) E é na medida em que é um dom que é demandado ao sujeito que se pode dizer que a oblatividade está ligada à esfera de relações da fase anal. (...) O desejo, literalmente, vai à merda. (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 235)
O que importa ao Outro o que eu possa dar a ele? - pergunta-se o sujeito diante de tal demanda. A fase anal ensina que um objeto não vale por sua matéria concreta, mas pelo lugar que ocupa na escala de valores atribuída pelo Outro. Daí aquele belo texto de Freud sobre os sonhos com contos populares, em que o excremento e o cocô apresentam-se como tesouros ou outro nas produções oníricas (Freud, 1911/1958/2007c, pp. 177-206).
Se a oblatividade inaugura para o sujeito um circuito é porque, a partir daí, ele terá de aportar um objeto a tal dinâmica, o qual tem a particularidade de ser um objeto que se perde... por amor ao Outro. Talvez seja necessário recordar aqui a diferenciação realizada por Lacan no seminário Os escritos técnicos de Freud, vinculada ao amor do narcisismo e ao amor do dom: "Aprendam a distinguir agora o amor, como paixão imaginária, do dom ativo que ele constitui no plano simbólico. O amor, o amor daquele que deseja ser amado, é essencialmente uma tentativa de capturar o outro em si mesmo, em si mesmo como objeto" (Lacan, 1953-1954/1986, p. 314).
O amor do narcisismo é, aqui, aquele que dá conta dessa fratura e será um caminho perdido que se constituirá em um sistema simbólico, no qual um dom ativo permite inscrever essa perda em termos de ausência. Se dissermos, antes, que o amor está para além da demanda, esse será o amor do dom, aquele que não tem a ver com uma potência ou propriedade, e, sim, com uma carência.
No plano da demanda anal, isto é o que se põe à prova: "no nível anal, ainda mais que em qualquer outro lugar, devemos ser reservados quanto à compreensão do outro" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 259). A margem do desejo é o incompreensível, e em seu caráter paradoxal, tem lugar na palavra, ao mesmo tempo que não vive nela. Por isso Lacan diz:
Responder à demanda de alimento, à demanda frustrada, em um significante alimentício, deixa elidido o seguinte: que, para além de todo alimento da fala, o que o sujeito realmente necessita é aquilo que ele significa metonimicamente, e que não está em ponto algum dessa fala. (Lacan, 1960-1961b/2010b, pp. 260-261)
Versagung, rejeição e frustração3
A noção de Versagung, desenvolvida no fim do seminário, coloca em jogo a polarização rejeição-frustração, ficando mais consonante à primeira. Tal noção tem um antecedente no Seminário 4, no qual frustração, privação e castração são trabalhadas como três diferentes modalidades da falta, apoiadas em uma manifesta crítica a seu uso pela escola inglesa (Lacan, 1956-1967/2009c).
Na aula do dia 17 de maio de 1961, Lacan diz ter "rogado" à sua audiência que analisasse em profundidade tal termo. Não falará da Versagung como frustração, já que "sua ênfase pode ser colocada bem para além, e bem mais profundamente, do que toda frustração concebível" (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 371).4 A Versagung implica uma falta de promessa, pela qual se renuncia a tudo. Tal renúncia está ligada à estrutura da palavra, já que a Versagung é rejeição referente ao dito.
Lacan diz que a Versagung só tem lugar como mecanismo no campo da neurose. Para sustentar tal ponto, volta-se sobre a distinção feita na Ética da psicanálise entre Das Ding e Die Sache, em que "A Coisa" (Das Ding), como real, diferencia-se "das coisas" (Die Sache) simbólicas (Lacan, 1959-1960/2009d). O caráter intraduzível de Versagung só se torna possível dentro do campo simbólico, isto é, de Die Sache, já que é lá que emerge a dimensão significante "que permite ao sujeito escapar" (Lacan, 1960-1961b/2010b).
Lacan inverte a discussão, voltando-a à própria conformação do dispositivo analítico:
Vamos continuar colocando uma questão insidiosa - o que deve ser a Versagung da análise? Nesse ponto, francamente, eu não lhes disse muito, mas pergunto a vocês - não será isso a fecunda Versagung da análise? - que o analista recuse ao sujeito a sua angústia, a dele, analista, e deixe nu o lugar onde ele é convocado como outro a dar o sinal da angústia. (...) o lugar puro do analista, na medida em que podemos defini-lo na e pela fantasia, seria o lugar desejante puro. (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 449)
Outro aspecto
No final do seminário, Lacan voltará a mencionar a anorexia nervosa. Para tanto, retoma o modelo ótico, o qual, desde o Seminário 1, é utilizado para a formalização do estádio do espelho. O ponto importante a ser destacado é que Lacan localiza a imagem, a realidade e, podemos acrescentar, o corpo no lugar do Outro. Inclusive chega a pensar que é o analista quem deve ir ao lugar desse Outro, espelho plano no modelo, para devolver ao analisante sua imagem virtual, a qual, pelos movimentos do espelho, vai se modificando. Lacan propõe isso de modo cabal em "Observações sobre o relatório de Daniel Lagache" - único escrito no qual se encontra o modelo (Lacan, 1960/2008e).
É possível perceber a tensão, já que o modelo, como dispositivo analógico, transforma-se no principal representante da antessala de toda a reversão topológica que Lacan introduzirá no seminário seguinte. O falo, que nesse momento se constitui fora do modelo, na medida em que passa de imaginário a simbólico e de simbólico a real, necessita da negativação para se inscrever. Apesar de o objeto a não estar formalizado, quem ocupa esse lugar é a função que desempenha a negativação.
Apesar de o caráter formador da imagem como Gestalt continuar presente com a introdução do significante, a teorização lacaniana tende mais a indagar as formas das imagens afetadas pela linguagem do que aquelas que conservam sua enganosa harmonia. Lacan diz:
Talvez vejamos agora, igualmente, a verdadeira função a ser dada, na relação objetal, ao nipple. O bico do seio também está em posição de isolamento sobre um fundo, e, por esse motivo, está em posição de exclusão no que se refere a essa relação profunda com a mãe que é a do bebê. Se não fosse assim, não se teria, talvez, com tanta frequência, tamanha dificuldade para fazer o bebê pegar o bico em questão. E talvez os fenômenos das anorexias tivessem também outro desenvolvimento.5 (Lacan, 1960-1961b/2010b, p. 465)
A questão da forma tem lugar importante nesse trajeto, existindo uma exclusão da amamentação. Também conflui, nesse ponto, o vai e vem antes proposto em relação à dupla função do órgão. A dificuldade para o lactante diz tanto dos encontros quanto dos desencontros com o cerne da questão, e vemos que aí Lacan volta a trazer à baila a anorexia. Se não fosse tão difícil capturar o mamilo, os fenômenos das anorexias nervosas teriam outro aspecto, outra forma; sua apresentação seria diferente. Por isso, podemos ler que a anorexia novamente serve a Lacan para ilustrar essa relação primeira com o nipple.
Também é preciso mencionar especialmente o fato de que Lacan fala de "fenômenos" das anorexias nervosas, o que é uma orientação nosográfica bastante importante, já que introduz como localizar essas apresentações, diferenciando fenômeno e estrutura.
A paixão topológica da anorexia: passar de três a duas dimensões
Vimos, nas seções anteriores, as categorias e os elementos teóricos utilizados por Lacan no seminário da transferência, os quais permitem pensar o lugar e a função da anorexia nervosa em seu ensino.
Nesta seção, terá lugar um processo homólogo, com uma série de elementos que nos traz o seminário A identificação, seminário estruturado por uma influência marcada da topologia e os usos que Lacan fez dela. Além de retomar suas elaborações prévias, as desse seminário indagam um ponto crucial para a anorexia nervosa: o corpo. Se há um ensino topológico sobre a anorexia é porque ela acalenta a paixão de passar de três dimensões a duas. Tal paixão sustenta-se na destruição da profundidade, tentando alcançar um nível o mais plano possível. Tal passagem de 3D para 2D é o que alguns autores, como Vappereau, chamam "imersão" (Vappereau, 1988/1997, pp. 40 e segs. e 90 e segs.), contrário ao movimento de passagem de 2D a 3D, conhecido como "submersão", processo pelo qual uma figura - cabe a redundância - submerge-se na dimensão da profundidade, como é possível fazer com uma Banda de Moebius ou com um toro, mas não com uma garrafa de Klein ou com um cross cap.
Seguindo a pista freudiana, de que existe saber no homem primitivo, esse corpo em duas dimensões é próximo à vivência corporal dos aborígenes da Nova Guiné, como nos ensina Leenhardt (1947/1961, p. 21): "É um detalhe que é indispensável ter presente. O canaco não conseguiu destacar do conjunto a terceira dimensão, ele ignora a profundidade."6 Esse ponto, em que confluem corpo e ignorância, pode ser uma orientação valiosa para futuras pesquisas.
Lacan nos dá notícias de seus estudos de topologia em "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", quando faz referência ao toro, "a que conviria recorrer, na medida em que sua exterioridade periférica e sua exterioridade central constituem apenas uma única região" (Lacan, 1953/1998, p. 322). De modo gradual, começamos a encontrar também nos seminários o modelo ótico, diferentes esquemas e grafos, correspondentes à topologia (Darmon, 1990/2008). Apesar do avanço topológico no ensino de Lacan, não será antes do seminário A identificação que se assentará totalmente a influência desse ramo da geometria. Dizemos isso já que o seminário oferecido entre 1961 e 1962 sustenta-se, desde sua base, no entrecruzamento entre psicanálise e topologia.
Usos da topologia em psicanálise
Muito já se disse do uso que Lacan fazia da topologia - como sua invenção dos toros abraçados para dar conta da relação da demanda entre o sujeito e o Outro, algo que não existe em topologia (Lacan, 1961-1962, aula de 30 de maio de 1962) -, mas isso sempre precisa ser levado em conta, não como um ramo da matemática, e sim como uma topologia "propriamente analítica", inseparável da psicanálise. A teoria lacaniana vale-se da topologia, entre tantos outros recursos, para criticar e repensar as categorias espaçotemporais clássicas. Daí que as críticas puristas de autores como Sokal & Bricmont (1998/1999, pp. 35-50) apontem para uma coordenada pela qual Lacan não se interessou, já que seu horizonte sempre foi clínico.
Isso pode ser visto de modo bastante claro na apresentação que os dois autores dedicaram a ele em seu livro Imposturas intelectuais:
Não vamos entrar no debate sobre a parte propriamente psicanalítica de seus trabalhos, mas apenas limitar-nos a analisar suas numerosas referências matemáticas com a finalidade de demonstrar que Lacan ilustra à perfeição, em diferentes passagens de sua obra, os abusos citados na introdução. (Sokal & Bricmont, 1998/1999, p. 35)
A oração inicial orienta-nos a localizar qual é o erro dos autores, já que delimitam uma apropriação topológica por parte de Lacan em sua obra; desconhecemos qual seria a parte "não psicanalítica" do trabalho lacaniano, motivo pelo qual consideramos infundada tal crítica.
Lacan começa a aula do dia 2 de fevereiro de 1962 recapitulando algumas linhas argumentativas expostas em seu escrito "Kant com Sade" (Lacan, 1963/2008b) e desenvolvimentos paralelos realizados no seminário sobre a ética. Expondo a diferença entre o desejo, o Wohl e o Gut, diz que, no que se refere ao primeiro, há algo que ultrapassa o conforto ou a "concessão alimentícia":
Isso vai além, até explicar a própria sede tissular. Não nos esqueçamos do papel, da função que confiro à anorexia nervosa; podemos sentir nos primeiros efeitos essa função do desejo e o papel que lhe conferi a título de exemplo para ilustrar a distinção entre desejo e necessidade. (Lacan, 1961--1962, aula de 28 de fevereiro de 1962)7
Retomemos brevemente a referência prévia para poder pavimentar mais facilmente o caminho rumo ao que Lacan diz em relação à anorexia. No começo do escrito publicado originalmente em Critique, em 1963, Lacan diferencia o Wohl do Gute. Do primeiro, dirá: "O princípio do prazer é a lei do bem que é o Wohl, digamos, o bem-estar" (Lacan, 1963/2008b, p. 728), enquanto do segundo, afirma: "A busca do bem será, portanto, um beco sem saída, se não renascesse das Gute, o bem que é o objeto da lei moral", para logo acrescentar: "É-nos indicado pela experiência que temos que ouvir dentro de nossos mandatos, cujo imperativo apresenta-se como categórico, dito de outra maneira, incondicional" (Lacan, 1963/2008b). Das Guten ficaria do lado do imperativo do gozo, como bem soberano, diferenciando-se, assim, do Wohl, que ficaria inscrito, como vimos, no princípio do prazer.
A menção à anorexia tem, em primeiro lugar, o caráter de não nos fazer esquecer qual é o papel e a função que Lacan atribui a ela em relação ao desejo. Logo, anaforicamente, localiza o lugar retórico da anorexia: "ilustra", tal qual o que havia feito na menção que vimos no seminário da transferência, e "exemplo", que será retomado no Seminário 11, quando a anorexia mostra o caráter exemplar da operação de causação subjetiva da separação, em relação à pergunta: Você pode me perder? (Lacan, 1964/2009g, p. 222).
O erro da imagem especular
A possibilidade de distinguir uma forma de bem que se inscreve no princípio do prazer (Wohl) de outra que tem caráter de imperativo, ligada ao gozo e ao supereu (Das Guten), leva-nos à problemática da imagem corporal. Se há algo que a experiência devolve no que se refere à apresentação sintomática da anorexia nervosa é que a perturbação encontra-se no plano da imagem, e não no que faz a oralidade. Apesar de que, como vimos, Lacan articula a anorexia na esfera da oralidade, o movimento explicativo que ele faz é para localizar o valor da anorexia em relação ao desejo. Não obstante, é fundamental destacar que é aqui que já encontramos o imperativo do gozo colocado na imagem do sujeito com anorexia, experiência discursiva frequente nas modalidades com que se referem à imagem corporal.
No período ao qual nos dedicamos a pesquisar, há por parte de Lacan uma preponderância em aproximar anorexia nervosa do campo do desejo pela via da rejeição. Tal modalidade se sustentará nos seminários seguintes, apesar de que com o objeto a a dimensão do gozo começará a ganhar maior protagonismo. Por questão de extensão, não podemos seguir aqui tal linha de investigação, mas a consideramos uma vertente crucial a ser levada em conta.
Efeito de seus avanços epistemológicos, Lacan forjará o objeto a, que, apesar de ter uma genealogia localizável, é algo diferente de seus antecessores. No que se refere ao plano da imagem, o objeto não especularizável obriga a pensar o corpo com um caráter diferencial, acentuando o errôneo de sua crença:
O objeto do desejo não tem imagem, e o impasse da fantasia neurótica é que, em busca de a, o objeto do desejo, encontra i de a. Tal é a origem de onde parte toda a dialética à qual, desde o começo de meu ensino, introduzi vocês, a saber, que a imagem especular, a compreensão especular sustentam-se nisso de que me assombro que ninguém tenha pensando em glosar na função que lhe atribuo: a imagem especular é um erro, não é simplesmente uma ilusão, um sinalzinho da Gestalt cativante cuja agressividade marcou a ênfase, é um erro profundo enquanto o sujeito se desconhece ali, se me permitem a expressão, como origem do eu e seu desconhecimento fundamental estão aqui reunidos no l'ortographe;8 e, na medida em que o sujeito se engana, acredita que tem diante de si sua imagem; se ele soubesse se ver, se ele soubesse, o que é simples verdade - que não há mais que relações mais disformes, de modo algum identificáveis, entre seu lado direito e seu lado esquerdo -, não sonharia com se identificar com sua imagem no espelho. (Lacan, 1961-1962, aula de 30 de maio de 1962)
O modelo ótico utilizado em várias passagens do seminário A transferência sofre certas modificações no nível estrutural, que obrigam Lacan a mudar seu estatuto analógico pelo do "esquema" (Eidelsztein, 1992/2010, pp. 24-45). O objeto não especularizável modifica a concepção da imagem, dando conta de seu caráter de "erro", isto é, que, pela extração do objeto do campo da realidade, toda imagem terá uma maior ou menor distorção: dix-torção, torção pelo dizer de uma realidade e um corpo estruturados pela linguagem.
Algumas conclusões e linhas futuras de pesquisa
No presente trabalho, abordamos a função da anorexia como fiadora do desejo. Para tanto, tomamos as referências trazidas por Lacan nos Seminários 8 e 9, as quais se revestiam de particular interesse para nossa pesquisa, já que nelas encontramos a antessala da produção do objeto a, espaço apto para poder dar conta da tensão e da transformação de conceitos como objeto, corpo e realidade.
Sublinhamos o caráter de rejeição da anorexia, via pela qual se sustenta o desejo. Para tanto, indagamos a anorexia como "transtorno" da oralidade, diferenciando o desejo entre a demanda e a necessidade. Com tal base, repassamos e diferenciamos dois modos do amor: o amor do narcisismo e o amor do dom, sendo a segunda forma a que estaria para além da demanda, já que é um amor que pressupõe uma perda.
Em consonância com a noção de rejeição, tomamos a Versagung, abordada no litoral da frustração, e a própria rejeição radical, sem por isso ser uma foraclusão.
Além de seu modo nítido de dar conta das paixões do ser (amor, ódio e ignorância), a anorexia tem uma paixão topológica: passar de três dimensões a duas. Valemo-nos, para dar conta disso, da "imersão" como modo de encontro com o corpo para esses sujeitos. Complementarmente, temos as elaborações lacanianas do fim do seminário sobre a identificação, em que a imagem especular é proposta como um "erro", dando base para o que se desenvolverá nas primeiras aulas de A angústia, em que, já com o objeto a - e em contraponto com o modelo ótico -, podemos dizer que toda imagem é mais ou menos errônea ou distorcida por estar estruturada pela linguagem (Lacan, 1962-1963/2009f). Daí se pode concluir que:
a) A anorexia, entendida como um "transtorno" da oralidade, tem em sua raiz o fato de sustentar o desejo mediante esse "transtorno". Da impossibilidade do encontro entre a demanda do sujeito e a do Outro surge essa hiância que a anorexia defende mediante a rejeição.
b) A dimensão do desejo não pode ser pensada sem sua relação com o amor. Daí que o amor narcisista sustenta, no plano imaginário, algo que se inscreve como perda no simbólico. Se a simbólica do dom é o ato de uma perda, o amor ligado ao para além da demanda tem essa apresentação. O amor narcisista enoda-se às perturbações no nível da imagem na anorexia, que são o testemunho da não inscrição de dita perda.
c) Em consonância com o ponto anterior, a Versagung, modalidade de rejeição radical, mas onde não há retorno no real, tem caráter de litoral, já que não é frustração, mas tampouco foraclusão.
d) A anorexia tem uma paixão topológica, que podemos denominar "imersão". Ela é a tentativa de passar de três dimensões a duas, eludindo a variável da profundidade.
e) A anorexia tem, para Lacan, um caráter ilustrativo, exemplar e fenomênico. Em relação aos dois primeiros aspectos, recurso retórico que faz cadeia com o anaforismo ligado à anorexia com seu caráter estruturante (nesse caso, em relação ao desejo, mas também em relação ao sintoma, à causação subjetiva e à formação do saber inconsciente, entre outras). Em segundo lugar (em relação ao fenomênico), diferenciando-se de uma perspectiva que entenda a anorexia como uma estrutura fora da neurose, perversão ou psicose. A anorexia, por seu caráter fenomênico, é transestrutural. Característica que compartilha com o fenômeno psicossomático.9
f) O saber do homem primitivo dá conta da relação entre o corpo e a ignorância. Há toda uma linha de investigação a se seguir por tal caminho, levando-se em conta que Lacan articula a anorexia nervosa com a ignorância, o amor e o ódio, as paixões do ser.
g) Os desenvolvimentos epistêmicos dos Seminários 8 e 9 permitem-nos dar conta dos pródromos e das incidências que trouxeram a modificação do estatuto do objeto no campo da realidade e da imagem.
h) O imperativo do gozo ligado a tal apresentação tem seu germe inaugural na aproximação realizada por Lacan entre a anorexia e a moral kantiana, no seminário sobre a identificação.
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Recebido: 23/02/2019
Aprovado: 14/05/2019
1 Todas as citações do Seminário 8 referem-se à edição brasileira, da editora Jorge Zahar, realizada por Dulce Duque Estrada. Os números de página são também dessa edição. [N.T.]
2 Tal ponto é esclarecido no seminário seguinte, A identificação, no qual Lacan vale-se da topologia e "inventa" - já que em topologia isso não existe - a figura dos toros abraçados para dar conta de como a demanda do Outro é o desejo do sujeito e como a demanda do sujeito é o desejo do Outro. Lacan, J. (1961-1962). Seminário 9: a identificação. Inédito, aula de 30 de maio de 1962.
3 Ultrapassaria nossa pesquisa o aprofundamento que a noção de filiação freudiana pede. Recomendamos a orientação pelo caráter típico e desencadeante da Versagung, ambos os pontos desenvolvidos no artigo de Ana Paula Gianesi (2015, pp. 29-41).
4 Sobral desenvolve uma série de questões ligadas a esse ponto em seu livro Madres, anorexia y feminidad. Fazendo uma releitura, propõe duas formas da Versagung: uma, como frustração, como transmissão da falta em consonância com o dom do amor; e outra, como rejeição ao Outro (Sobral, 2011, pp. 37-38).
5 O termo "desenvolvimento" é traduzido por Berenguer, o tradutor da edição argentina com a qual trabalha o autor, por "cariz", ou seja, aparência, aspecto. Por isso, linhas adiante, o autor joga com o significante: "as anorexias nervosas teriam outro aspecto, outra forma". Na versão francesa, o termo é "tournure". [N.T.]
6 A leitura da obra de Leenhardt foi de suma importância para Lacan, especialmente no que se refere à diferenciação entre palavra e linguagem. Em "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", menciona Do Kamo como exemplo do lugar transcendental do simbólico, a partir da lógica do homem primitivo, na conformação do ser humano (Lacan, 1953/2008a, p. 263), seguindo a linha de investigação estruturalista, na qual se encontravam, entre outros, seu amigo Lévi-Strauss. Referências como a realizada por Lacan no Seminário 3, mostrando a similaridade do pensamento selvagem e a linguagem schreberiana (Lacan, 1955-1956/2009b, pp. 44-45) - sem esquecer o texto de Freud sobre o sentido antitético das palavras -, são um exemplo da influência dessa corrente antropológica em sua obra. Em "A ciência e a verdade", a discussão epistemológica surge de modo mais contundente, e nela o autor mais criticado é Lévy Bruhl, que defendia o caráter "pré-lógico" do homem primitivo (Lacan, 1966/2008c, p. 817). Para quem se interessar em se iniciar nessa linha, recomendamos Radin (1960) e Lévi-Strauss (1962/2014).
7 Como não há edição publicada do Seminário 9 no Brasil até o momento, optei por traduzir a versão consultada pelo autor do artigo, mantendo a referência às páginas da versão com a qual ele trabalhou. [N.T.]
8 Equívoco/ortografia.
9 Em outro texto, abordamos este ponto: Abínzano & Pozzobon (2018).