SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.4 número7Psicologia social no Brasil: considerações epistemológicas e políticas a respeito de um campo fragmentadoO olho e o conto: as pulsões fazendo histórias índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Mental

versão impressa ISSN 1679-4427versão On-line ISSN 1984-980X

Mental v.4 n.7 Barbacena nov. 2006

 

ARTIGOS

 

Fenomenologia da solidão na depressão

 

Phenomenology of solitude in depression

 

 

Virginia MoreiraI*; Virginia CallouII**

IUniversidade de Fortaleza - Brasil
IICentro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Uma pesquisa fenomenológica transcultural sobre a experiência da depressão foi realizada no Brasil, no Chile e nos Estados Unidos, sendo a solidão uma das temáticas emergentes nos três países (MOREIRA, submetido para publicação). Neste artigo descreve-se um desdobramento dessa pesquisa que estuda, especificamente, a solidão em relação à depressão. Foram reanalisadas entrevistas com 72 adultos (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n = 20, em Boston), focalizando o tema emergente: solidão. O objetivo foi aprofundar essa temática e descrever a relação entre solidão e depressão na experiência vivida, a fim de compreender até que ponto a solidão é causa (etiologia) ou conseqüência (sintoma) da depressão. Os resultados mostram o significado ambíguo da solidão na experiência da depressão.

Palavras-chave: Solidão, Isolamento, Depressão, Fenomenologia, Transcultural.


ABSTRACT

A cross-cultural phenomenological research took place in Chile, Brazil and the United States about the lived experience of depression, in which solitude was one of the emerging themes (MOREIRA, submitted for publication). This article describes a follow up of that research, specifically studying solitude in its relation with depression. The interviews of seventy-two adults with depression (n = 30, in Fortaleza; n = 22, in Santiago; and n = 20 in Boston) were reanalyzed, focusing the emergent theme of solitude. It aimed to develop this issue, describing the relationship between solitude and depression in the lived experience, in order to understand how much solitude is the cause (etiology) or a consequence (symptom) of depression. The results show an ambiguous meaning for solitude in the lived experience of depression.

Keywords: Solitude, Isolation, Depression, Phenomenology, Cross-cultural.


 

 

Introdução

Devido à sua alarmante incidência em todo o mundo, a depressão tem sido bastante estudada, pesquisada e discutida (LIMA, 1999; BERLINCK, 2000; EHRENBERGER, 2000; KLEINMAN & COHEN, 2001; SHORTER, 2001; DAWSON & TYLEE, 2001; SCHUMAKER, 2001; SAM & MOREIRA, 2002; MOREIRA, 2002; MOREIRA & FREIRE, 2003). Ao considerar a freqüente confusão entre depressão e algum tipo de tristeza decorrente do modo e da experiência de vida das pessoas, o que contribui para um maior número de diagnósticos desta doença, a depressão tem sido, nos últimos anos, a grande vedete do mercado psicofarmacológico que, nos dias atuais, "medica" quase todo e qualquer tipo de problema humano (KLEINMAN & GOOD, 1985; KLEINMAN, 1988; 1995; KLEINMAN & COHEN, 2001; HEALY, 1997; MOREIRA, 2002, 2003a; 2003b; MOREIRA & FREIRE, 2003).

Para contribuir para melhor compreensão acerca da experiência vivida da depressão, foi realizado um estudo fenomenológico transcultural no Brasil, no Chile e nos Estados Unidos (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n = 20, em Boston). Objetivou-se, também, entender a experiência vivida da depressão em relação a essas culturas específicas.

A pergunta norteadora da pesquisa foi: "Que relação você encontra entre o seu jeito de viver e a sua depressão?" Para a análise das entrevistas, foi utilizado o método fenomenológico crítico (MOREIRA, 2004), com base na fenomenologia de Merleau-Ponty. As entrevistas foram transcritas (texto nativo) e divididas em movimentos com articulação de sentido; foram descritos os temas emergentes e, finalmente, analisados tais temas, buscando o significado da experiência de lebenswelt (mundo vivido) com foco em seus aspectos culturais.

A solidão foi um tema emergente associado à depressão nas entrevistas dos sujeitos colaboradores dos três países:

"É interessante diferenciar, nas referências dos sujeitos colaboradores, dois tipos de solidão: a primeira está vinculada a estar sozinho de fato, isto é, concretamente, sem conviver com outras pessoas, por motivos variados, principalmente por trabalho excessivo, nas cidades de Fortaleza e Santiago. O segundo tipo de solidão é aquele em que, ainda que a pessoa esteja cercada de outras pessoas, família etc. ela se sente só. Essa é uma solidão que poderíamos ver como sintoma da depressão. Ela faz parte da experiência vivida muito mais como uma vivência ontológica, isto é, própria do ser humano, do que por uma situação concreta. Em ambos os casos, no entanto, a solidão é real, é experienciada de fato e associada pelos sujeitos colaboradores à depressão. Nas falas desses sujeitos a solidão está muito presente, tanto como fator etiológico quanto como sintoma" (MOREIRA, submetido para publicação).

O estudo descrito neste artigo consiste na sugestão da pesquisa anterior: estudar a relação entre depressão e solidão, buscando compreender melhor se a solidão é conseqüência (sintoma) ou causa da depressão (etiológica). Foram reanalisadas, neste trabalho, as entrevistas da pesquisa anterior de 72 pessoas adultas (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n = 20, em Boston), focalizando especificamente o tema "solidão", com o objetivo de aprofundar essa experiência vivida em sua relação com a depressão.

 

Sobre a solidão

 

Definição do termo

A etimologia da palavra solidão é referida a 'só', termo que, por sua vez, vem do latim solus e pode significar tanto 'desacompanhado' e 'solitário' como 'único' (CUNHA, 2001). A solidão pode ser analisada, por um lado, por meio da dor e do sofrimento oriundos da perda. Por outro, como pela capacidade de estar só na ausência do outro (SEEWALD e HALPERIN, 1995).

Para melhor compreender o conceito de solidão, Gomes (2001) tenta defini-la em termos sociológicos, de acordo com os quais é subproduto da construção social do indivíduo. Ao afirmar sua individualidade, o homem afirma também a fragmentação do universo social e o isolamento do outro. Esse isolamento, porém, pode tornar-se insuportável e gerar a tentativa de ser superado por meio da relação interpessoal. Do ponto de vista sociológico, a solidão é, assim, o resultado da produção social de um homem "egocentrado", individualista, narcisista.

A solidão, em termos psicológicos, pode caracterizar-se pela ausência afetiva do outro e estar intimamente relacionada com o sentimento, com a sensação de se estar só. O outro pode até estar próximo geograficamente, mas não há aproximação psicológica; falta interação e comunicação emocional.

De acordo com Tamayo & Pinheiro (1984a), solidão é uma reação emocional de insatisfação, decorrente de falta e/ou de deficiência nos relacionamentos pessoais significativos, os quais incluem algum tipo de isolamento. Montero y Lopez e Sánchez Sosa (2001) definem a solidão como: "[...] um fenômeno multidimensional, psicológico e potencialmente estressante; resultado de carências afetivas, sociais e/ou físicas, reais ou percebidas, que tem um impacto diferencial sobre o funcionamento da saúde física e psíquica do sujeito" (p. 21).

A solidão pode ocorrer tanto na presença quanto na ausência do outro. A esse respeito, Ruggero (2004) define a solidão sociológica, que se revela pela ausência dos outros, mas lembra, também, que a solidão pode ser ontológica - própria do ser enquanto ser -, quando se revela na presença de outros, a também chamada 'solidão acompanhada'. Parafraseando a Minkowski, quando define sofrimento, poderíamos dizer que a solidão também é do domínio do pathos, é "do domínio do pathos humano, e nele o homem reconhece o seu aspecto humano" (MINKOWSKI, 1999, p. 156).

 

Solidão e individualismo na contemporaneidade

Mais além de uma discussão sobre o sentido ontológico do termo solidão, sabe-se que a contemporaneidade, marcada por grandes avanços científicos e tecnológicos e pela expansão dos meios de comunicação, tem gerado uma crescente solidão no ser humano. Ela faz com que a comunicação entre as pessoas encontre-se altamente comprometida devido ao estilo de vida individualista e consumista.

Para Ruggero (2004), a solidão é, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem. O mundo da tecnologia e da crescente expansão dos meios de comunicação tem, cada vez mais, produzido homens solitários. O desenvolvimento técnico-científico, com suas extraordinárias potencialidades de humanização e de socialização, contrapõe-se à crescente solidão e ao individualismo gerados nas relações sociais (JORGE, 1998; MOREIRA, 2002).

O individualismo narcisista aparece como sintoma social nas sociedades ocidentais contemporâneas e produz a solidão, a sensação de vazio, de falta, no homem:

A falta ou, melhor dizendo, a suposta falta, levará a comportamentos de compensação ligados ao consumo, tais como comprar e comer. Trata-se de ingerir, de se completar, de tentar preencher o que falta, ou o vazio, gênese da baixa auto-estima de um mundo individualista que dá lugar à solidão (MOREIRA, 2002, p. 143).

Matarazzo (1989) já mencionava a provável solidão que a revolução sexual, oriunda da contemporaneidade, poderia causar ao homem:

A troca sistemática de parceiros pode esconder uma comunicação humana de muito desespero e solidão, tornando a busca do encontro sexual uma necessidade obsessiva de alimento contra o vazio, no que denomina 'os viciados em amor', gerando a robotização da sexualidade com graves prejuízos emocionais (p. 22).

Trata-se da "era do vazio" (LIPOVETSKY, 1996). E na tentativa de fugir da solidão, o homem perde a oportunidade de usá-la como recurso poderoso, capaz de fazê-lo entrar em contato consigo mesmo para, a partir daí, amadurecer e melhorar significativamente seus relacionamentos. A esse respeito, May (2002) nos diz que o homem, ao fugir da solidão:

perde, assim, a única coisa que o ajudaria positivamente a vencer a solidão a longo prazo, isto é, o desenvolvimento de seus recursos interiores, da força e do senso de direção, para usá-los como base de um relacionamento significativo com outros seres humanos. Os homens 'empalhados' acabam por tornarem-se ainda mais solitários, por mais que se apóiem nos outros, pois gente vazia não possui a base necessária para aprender a amar (p. 29).

Trata-se de assumir a solidão ontológica, inerente ao Ser. Nas palavras de Lipovetsky (1996):

quanto mais a cidade desenvolve possibilidades de encontro, mais sós se sentem os indivíduos; mais livres as relações se tornam emancipadas das velhas sujeições, mais rara é a possibilidade de encontrar uma relação intensa. Em toda parte encontramos a solidão, o vazio, a dificuldade de sentir... (p. 77).

A solidão é, nas sociedades contemporâneas ocidentais, conseqüência do modo individual de viver. Tais conseqüências, por sua vez, estão relacionadas a níveis de suporte social. Pesquisas mostram que altos níveis de suporte social reduzem a vulnerabilidade às desordens mentais, de modo que uma participação ativa na rede social funcionaria como profilaxia da saúde mental (DAVIDSON e STRAUSS, 1992; DAVIDSON, HAGLUND, STAYNER, RAKFELDT, CHINMAN e TEBES, 2001).

O problema da depressão, crescente em nossos dias, pode ser explicado, entre outras formas, em termos da estrutura individualizada, característica da cultura ocidental contemporânea. Nela, o self individualizado tende a personalizar estados internos de emoção, incluindo angústias resultantes da adversidade de eventos dolorosos da vida. Nessa linha de pensamento, um estilo de vida consumista, por sua vez, levaria à deterioração das relações interpessoais, corroborando o colapso do suporte social, com graves conseqüências para o desenvolvimento dos quadros patológicos ligados a essa sociedade individualista (MOREIRA, 2002). O indivíduo deprimido sente-se sozinho. Ou ele fica deprimido porque está só?

 

Metodologia

Com base no método fenomenológico crítico (MOREIRA, 2004), que busca o significado da experiência de lebenswelt (mundo vivido), foram reanalisadas as entrevistas realizadas com 72 pessoas adultas (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n = 20, em Boston), em pesquisa anterior sobre a depressão no Brasil, no Chile e nos Estados Unidos (MOREIRA, submetido para publicação), focalizando o tema emergente: solidão. O desdobramento, aqui relatado, objetivou aprofundar essa temática emergente nas falas dos sujeitos colaboradores entrevistados (todos com o diagnóstico de depressão, segundo eles mesmos) e descrever a relação entre solidão e depressão na experiência vivida, a fim de compreender até que ponto a solidão é causa (etiologia) ou conseqüência (sintoma) da depressão.

Das 72 entrevistas reanalisadas, 21 tiveram a solidão como temática emergente (n = 04, no Brasil; n = 11, no Chile; e n = 06, nos Estados Unidos). No Brasil, a solidão foi verificada no relato de quatro mulheres entrevistadas. Não houve relatos de homens sobre experiências de solidão atreladas à depressão. No Chile, os relatos sobre a solidão foram feitos por seis mulheres e cinco homens. Dentre as mulheres, duas eram casadas, duas conviviam maritalmente e duas eram viúvas. A maioria era dona-de-casa, com idade entre 30 e 50 anos, e média de até quatro filhos cada uma delas. Dos cinco homens citados, três eram separados. Nos Estados Unidos, três homens e três mulheres fizeram alusão à solidão em seus relatos.

A partir desses relatos referentes à solidão, a análise das entrevistas selecionadas consistiu em subdividir os pontos em comum encontrados para verificar o quanto a solidão estaria relacionada à depressão como causa (etiologia) ou conseqüência (sintoma).

 

Resultados e discussão

Como resultado da análise da temática "solidão" nas 21 entrevistas que abordavam o tema, constatou-se:

1) Solidão da mulher pela ausência do marido

- "... eso... si pienso que todo se me juntó, y digo yo, puede ser todo eso, y ahora que hay problemas económicos, y mi marido pasa fuera y yo paso la mayor del tiempo sola, de repente me siento muy sola también... y no hablo con nadie en la casa, la paso encera todo el día..."

- "Eh, yo le echo la culpa a mi esposo, igual no mas cuando mis 2 hijos grandes tenían 10, 12 años se empezó a poner mujeriego, bueno antes también lo era, pero nunca tanto como en esa época, me dejaba sola días, noches enteras sola, yo no dormía en la noche y a mi me parecía que era normal, yo no dormía tomaba un libro me lo leía entero, una novela, lo que fuera, me lo leía en toda la noche y, dormía 1 hora, 2 horas y yo lo encontraba normal, nunca fui a medico, nunca me preocupe de eso y ahí empezó."

Os relatos das mulheres chilenas encontram suporte na literatura. Trindade & Enumo (2002) afirmam que as mulheres sentem-se muito sozinhas devido à ausência concreta ou metafórica do marido. Nesse caso, a solidão se relaciona à falta que essas mulheres sentem de seus parceiros, em uma relação em que parecem assumir posição passiva, à espera deles. Essa temática sugere futuros estudos sobre gênero e depressão, já que a depressão é duas vezes mais freqüente em mulheres que em homens (DAWSON & TYLEE, 2001).

2) Solidão das mulheres viúvas

- "Si, porque no es lo misma, cuando usted esta con su pareja es feliz, todo, ya cuando esta sola ya no... Sí, distinta, sí distinta, ya usted cuando esta con su pareja las personas la tratan mejor, ya cuando uno esta sola no, no la tratan igual, le cambia la vida..." (silencio).

- "Sí, claro, eso me ha afectado (lento) yo nunca me imaginé que esto iba a ser así, que si iba a asumir pero como, como... así en la forma en que lo estoy pasando (silencio), eso me ha llevado a todo lo que he pasado, tener alguien que te respalde, que te escuche, que este en las buenas y en las malas, ahora yo tengo a mis hijos pero no es lo mismo (silencio) que tu pareja te escuche, tienes con quien comunicarte la otra parte, (bajito) con los hijos no...".

A mulher, normalmente, tem um período de vida mais longo que o do homem, além de casar-se mais jovem. Daí existir um número mais elevado de mulheres viúvas. Tudo isso contribui para que ela passe por um período mais longo de solidão, tal como se pode constatar nas falas de mulheres chilenas viúvas (VERAS, RAMOS & KALACHE, 1987). Esse seria um resultado associado ao anterior, que corrobora a necessidade de estudos qualitativos que esclareçam o fato de que a depressão seja tão mais freqüente em mulheres do que em homens (DAWSON & TYLEE, 2001).

3) Solidão pela ausência de pessoas

- "... Hace un tiempo atrás yo vivía sola, en una pieza, en una casa vieja, las piezas eran grandes y altas como esto, entonces llegar a la casa, en la noche, que nadie te este esperando, una casa fría, no hay, calor de hogar, te sientes mas solo de lo que, te sientes, ósea no podría explicártelo, y eso tu en la soledad empiezas a pensar, a pensar, a pensar, a pensar miles y miles de cosas... que porque te pasa esto, que porque estay sola, que porque me sucedió
esto...".

- "Tampoco me he preocupado de vivir muy bien por que yo no tengo muchos amigos, entonces paso solo y no me dan ganas de salir, ni de comer algo rico".

- "Era semelhante, mas era melhor. Porque eu morava com a minha mãe, com esse meu filho; era mais gente em casa. E eu não me sentia tão só. Agora a minha mãe não tá mais morando comigo, meu filho casou-se, eu tô só como os dois filhos pequenos, aí eu me sinto assim, muito sozinha".

- "... Not being with people!... Not all the time!... You need people!... And I was just by my self!... At during that time, yeah!... And I was working, like 'originally to IPM' to feel that loneliness."

- "…I was depressed about the way people were treating me because I´ll break that I had being in the house and be excluded, you know! So, humm I had to learn how to humm live by myself. Humm. Accept the fact that the children won´t come back…".

- "Well, I lived alone for a while, in an appartment. And my parents weren't here. Lived alone for a while. It wasn't supportive enough...".

Nos três países onde foi realizada a pesquisa, verificou-se a experiência vivida da solidão devido à ausência concreta de pessoas, ou seja, a solidão física, ou o isolamento, contribuiu para a depressão. Em Santiago e em Boston, tanto homens quanto mulheres associaram a depressão ao fato de viverem sozinhos. Já em Fortaleza, somente as mulheres relacionaram solidão com depressão.

Na sociedade contemporânea, principalmente nos grandes centros urbanos, como Boston e Santiago, sabe-se que é mais comum as pessoas viverem sozinhas. Essa temática emergente corrobora com a literatura que associa depressão e crescimento urbano (DEVEREUX, 1977; MOREIRA & SLOAN, 2002), mas não é conclusiva desse fato, apesar de ilustrá-lo.

4) Solidão ontológica

- "Sí, aparte la soledad, la soledad, mas que nada, un ser humano se siente, una que cuando uno tiene depresión se siente muy solo, se siente como abandonada, y otro que cuando se vive solo, ósea te sentís solo y estay solo...".

- "De repente el sentirme sólo, pero es que inconscientemente, porque si concientemente me daría cuenta y me doy a veces.... de repente me doy cuenta de que no me importa nada y que lo único que quiero es hacerme daño que todo se acabe, con la negativa y me pongo a pensar después y se que me voy a sentir mas mal como encerrado en una vida que no quiero para mi pero que no se como cambiar…".

- "Doutora, é aquela vontade grande de chorar, de morrer, que na hora da depressão muito forte a gente se acha no mundo sem uma mão amiga, sem um amparo, sem uma palavra de conforto, sem nada! A gente se acha assim sozinha... olha pro lado e não vê ninguém".

- "Vontade, uma vontade de chorar sem ter nenhum motivo... aquela solidão, né? Não tem nenhum (motivo) e tem aquela solidão, aquela tristeza, aquela angústia... tudo aquilo ali, né? Até que quando eu choro, até que eu melhoro um pouco, alivia mais."

Nos sujeitos colaboradores da pesquisa, no Brasil e no Chile, encontramos a solidão como algo constitutivo da depressão, ou seja, a solidão é entendida como inerente à depressão. Os relatos referem-se a uma solidão aparentemente sem explicação e sem causa concreta, somada à enorme sensação de abandono. Essas falas ilustram a experiência vivida de solidão como sintoma de depressão, que estaria associada à tristeza profunda e à vontade de chorar que caracterizam a enfermidade.

5) Solidão nos homens separados

- "…El estar sólo, con mí hijo pero igual estoy sólo, y para mí esa es una condición que para mi también es complicada, eso para mi es complicado desde chico...el estar solo, entonces eso contribuye a mi depresión."

- "Yo creo que la depresión llegó cuando me separé con la Carola, ahí ya yo estaba bién mal, tenía los nervios hechos polvo, estaba fracasado y más encima esto, o sea..... ahí caí.... me fui cada vez sintiendo peor angustiado, angustiado y triste, me había quedado solo…".

- "Lo que pasa es que todavía sufro mucho, lo que más me cuesta es estar solo... yo todavía estoy intentando recuperar mi matrimonio, pero mi señora dice que ya se acabo el amor...".

Somente nos relatos dos homens chilenos encontramos a experiência vivida da depressão associada à separação conjugal. Esses homens atribuem a depressão ao fato de estarem se sentindo sozinhos devido à perda de suas esposas por causa da separação. Tais relatos corroboram a literatura, quando Leite (2002) assinala que o isolamento emocional e/ou empobrecimento das relações emocionais com suas esposas está diretamente relacionado com a depressão nos homens.

É interessante observar como a solidão é compreendida de maneira diferente nessas falas em relação às falas anteriores, que se referiam à depressão como experiência inerente à solidão. Para esses sujeitos-colaboradores, a solidão faria parte da etiologia da sua depressão.

6) Solidão e os animais

- "... Y ahora tengo un perro, juego con ese perro, me acompaña, eso, si bien, siento que mi vida es un poco más solitaria, me gusta el hecho de saber que si necesito contar con alguien, puedo contar con alguien…".

- "Yo hablo con ellas, yo le hablo a todo, lo que yo no puedo hacer con una persona, mm, yo me siento, me siento, sola en el sentido de que... las personas humanas a mi no me dan la confianza que me da un gato o una planta...".

Nos relatos dos sujeitos-colaboradores chilenos, verificou-se que ter um animal de estimação ou uma planta pode fazer com que se sintam menos solitários. Ainda que não tenhamos encontrado referências similares nas falas dos sujeitos-colaboradores norte-americanos e brasileiros, não podemos afirmar que tal fato não ocorra nesses países. Sugere estudos sobre a solidão de seres humanos e suas relações com os animais.

7) Solidão e o vazio interior

- "Estar todos los días haciendo como si estuvieras bien, saliendo para todas partes, carreteando (salir de fiesta), y después estar mal sólo, estar triste y no hacer nada para salir de eso para estar mejor y al contrario sintiendo que nada de lo que yo haga me va a hacer sentir mejor".

- "La autoestima baja..... si porque...... tenía que andar, para poder andar con más gente, con más amigos, tenía que ser el que más coca tenía, para sentirme tranquilo yo tenía que ser el más simpático, el más payaso y aunque ya estaba aburrido de la droga, yo sabía que todos iban a andar conmigo, los iba a tener ahí, no se, una cosa de miedo de estar solo, de quedarme tirado solo…".

O medo de ficar sozinho e de se deparar com a própria solidão faz com que as pessoas tentem fugir e se esconder atrás de uma suposta alegria, encontrada em festas ou reuniões com amigos. Os relatos dos homens em Santiago encontram respaldo na literatura quando May (2002) afirma que "a sensação de vazio e solidão andam juntas" (p. 23), e ser convidado para esses eventos é importante como prova de não se estar só, pois muitos sofrem do "medo da solidão".

Tais falas ilustram o significado ontológico da solidão como pathos: a solidão parece ser uma forma de sofrimento que o ser humano busca sempre evitar sem nunca conseguir, porque lhe é inerente. Aludem ainda a um modo superficial de viver contemporâneo, no qual inexistem relações inter-humanas mais sólidas e profundas. Nele, as pessoas não se encontram, embora estejam juntas. Nesse sentido, o estilo de vida contemporâneo contribuiria para a epidemia de depressão atual (MOREIRA, 2001; EHRENBERGER, 2000; LYPOVETSKY, 1996).

8) Solidão e os amigos

- "When I come here I'm not lonely, cause I'm always busy, I'm working and I'm doing things, I've doing […]. I laugh at my friends I junk around and laugh and tell them jokes...".

- "Yeah! Sometimes, you know, you can ask a person to 'listen' the same show! Or you go out to show together! Watch good 'pg' film, watch a good 'detective show' together…".

- "Right. And lots of things can 'through' to depression in your life. Staying by yourself too much or not getting out, make friends, join a club".

Entrevistas realizadas em Boston revelam que conviver com amigos e estar ao lado deles está relacionado com a redução da solidão e, conseqüentemente, da depressão. Vale lembrar que na amostra norte-americana entrevistada, a maioria dos sujeitos-colaboradores moravam sozinhos, o que é uma característica mais específica dessa cultura, especialmente nos grandes centros urbanos, como Boston. Para esses sujeitos-colaboradores, a solidão faria parte da etiologia de sua depressão, ou seja, afirmam que quando estão entre amigos, não se sentem mais deprimidos, o que corrobora com as pesquisas que apontam a importância das redes psicossociais no tratamento da doença mental (DAVIDSON & STRAUSS, 1992; DAVIDSON, STAYNER, LAMBERT, SMITH & SLEDGE, 1997; DAVIDSON, HAGLUND, STAYNER, RAKFELDT, CHINMAN, & TEBES, 2001).

 

Conclusão

A maioria das falas dos sujeitos-colaboradores, nos três países, relata situações de solidão que levariam à depressão. A solidão associada à vida a dois foi descrita por mulheres com maridos ausentes, mulheres viúvas e homens separados. O fato de se morar só, bem como a ausência de amigos também foram aspectos relacionados à depressão. Essas pessoas referiram-se à solidão como sinônimo de isolamento. Nos casos analisados, segundo a perspectiva dos entrevistados, a solidão estaria relacionada à etiologia da depressão.

Verificou-se, também, nas mesmas falas, que a solidão inerente ao ser e sem explicações situacionais concretas é vivida pelos entrevistados como sintoma, e não como causa da depressão. A solidão é relatada como algo inerente, como parte constitutiva, da depressão. Em algumas falas, a solidão é quase sinônimo de depressão, descrita com sentimentos de angústia, abandono, sofrimento. Encontramos aí um significado ontológico para a experiência vivida de solidão.

Vale ressaltar as limitações deste estudo. Os resultados não podem ser generalizados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com amostra reduzida. Seria impossível, ainda que não fosse objetivo deste estudo, pensar em qualquer tipo de conclusão, do ponto de vista transcultural, ainda que tenhamos usado entrevistas de três países.

Mais que tirar conclusões, este estudo ilustra a literatura que associa depressão e solidão, a partir dos depoimentos de pessoas que passam por tal vivência. Ele sugere futuras pesquisas qualitativas mais específicas, tais como estudar a relação entre gênero e depressão, que possam vir a contribuir para uma compreensão mais consistente da experiência vivida da depressão. O estudo poderá possibilitar, quem sabe, intervenções futuras que venham a parar ou, pelo menos, diminuir a atual epidemia de depressão que invade o mundo contemporâneo. Apesar dos progressos importantes das pesquisas epidemiológicas e psicofarmacológicas nessa área, essa doença aumenta a cada dia, o que indica a urgência de formas mais sólidas e fundamentadas de intervenção.

Podemos aprender sobre a depressão com quem a vivencia. Quem melhor do que o próprio doente para falar da experiência vivida de sua doença? Essa nos parece ser a maior contribuição deste pequeno estudo, fruto de uma pesquisa anterior maior: aprofundar a temática emergente dessa pesquisa - a relação entre solidão e depressão - no sentido de compreender melhor como se dá tal relação.

Neste estudo, a solidão associada à depressão tem significado ambíguo: tanto é causa como conseqüência; tanto é sintoma como é origem, fazendo parte da etiologia; tanto a solidão apresenta caráter ontológico como significa isolamento. Nesse sentido, este estudo corrobora os múltiplos contornos da psicopatologia da depressão (MOREIRA, 2002; MOREIRA, 2005), na qual a solidão possui diversas cores, nuances, tons, ou seja, significados diferentes, segundo a experiência de lebenswelt (mundo vivido) de cada um. Ao se considerar a amplitude e a profundidade do tema pesquisado, sugerimos a realização de estudos qualitativos mais aprofundados, para uma exploração mais ampla.

 

Referências

BERLINCK, Manoel. Psicopatologia fundamental. São Paulo: Escuta, 2000.        [ Links ]

CUNHA, Antonio. Dicionário Etimológico da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.        [ Links ]

DAVIDSON, Larry. & STRAUSS, John. Sense of self in recovery from severe mental illness. British Journal of Medical Psychology, n. 65, p. 131-145, 1992.        [ Links ]

DAVIDSON, Larry, HAGLUND, Kim, STAYNER, David, RAKFELDT, Jonh, CHINMAN, Matthew e TEBES, Jacob. (2001). A qualitative study of supported socialization. Psychiatric Rehabilitation Journal, 24 (3), 275-292, 2001.        [ Links ]

DAWSON, Ann & TYLEE, Andre (Eds.). Depression: social and economic timebomb. London: BMJ Publishing Group, 2001.        [ Links ]

DEVEREUX, Georges. Essais d'ethnopsychiatrie générale. Paris: Gallimard, 1977.        [ Links ]

EHRENBERGER, Alain. La fatigue d'être soi. Dépression et societé. Paris: Odile Jacob, 2000.        [ Links ]

GOMES, Antonio Máspoli de Araújo. Solidão: uma abordagem interdisciplinar pela ótica da teologia bíblica reformada. Fides Reformata, v. VI, n.1, 2001. Disponível em: < http:// www.mackenzie.br/teologia/fides/vol06/num01/Maspoli.pdf> Acesso em: 25 fev. 2005.        [ Links ]

HEALY, David. The antidepressive era. Cambridge: Harvard University Press, 1997.        [ Links ]

JORGE, Maria Tereza. Será o ensino escolar supérfluo no mundo das novas tecnologias? Educ. Soc, São Paulo, v. XIX, n. 65, p. 163-178, dez. 1998. Disponível em: < http://www.scielo.br/ptp>. Acesso em: 19 mar. 2005.        [ Links ]

KLEINMAN, Arthur. Rethinking psychiatry: cultural category to personal experience. New York: Free Press, 1988.        [ Links ]

KLEINMAN, Arthur. Writing at the margin: discourse between anthropology and medicine. Berkeley: University of California Press, 1995.        [ Links ]

KLEINMAN, Arthur e COHEN, Alex. A global view of depression from an anthropological perspective. In: DAWSON, Ann e TYLEE, Andre. Depression: Social economic and timebomb. London: BMJ Publishing Group, 2001.        [ Links ]

KLEINMAN, Arthur. & GOOD, Byron. (Eds.). Culture and depression. Studies in the anthropology and cross-cultural psychiatry of the affect and disorder. Berkeley: University of California Press, 1985.        [ Links ]

LEITE, Valéria Moura. Depressão e envelhecimento. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública). Centro de pesquisa Aggeu Magalhães, Recife, 2002.        [ Links ]

LIMA, Mauricio Silva. Epidemiologia e impacto social. Revista Brasileira de psiquiatria, v. 22, (s. 1), 1999. Disponível em: <http://proquest.umi.com/pqdweb?INT=0&SelLanguage=0&TS=1029438509&Did=000000074599214&Fmt=3&Deli=1&Mtd=1&Idx=1&Sid=1&RQT=309> Acesso em 30 jul. 2002.

LIPOVETSKY, Gilles. La era del vacío. Barcelona: Anagrama, 1996.        [ Links ]

MATARAZZO, Maria Helena. Os mitos da revolução sexual. Reprodução, v. IV, n. 1, p. 22-24, 1989.        [ Links ]

MAY, Rollo. O homem a procura de si mesmo. Petrópolis: Vozes, 2002.        [ Links ]

MINKOWISKI, Eugene. Traité de psychopathologie. Plessis-Robinson: Institut Synthélabo,1999.        [ Links ]

MONTERO, María e SANCHEZ, Juan José. La soledad como fenômeno psicológico: um análisis conceptual. Salud Mental, México, v.XXIV24, n.1, p.19-27, fev. 2001.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia. Psicopatología y contemporaneidad: individualismo como síntoma contemporáneo. Revista Terapia Psicológica. v I, n.19, p.33-38, 2001.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia. Psicopatologia Crítica - Parte II (p. 109 - 248). In: Moreira, Virgínia; Sloan, Tod. Personalidade, Ideologia e Psicopatologia Crítica. São Paulo: Escuta, 2002.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia. The ideological meaning of depression in the contemporary world. International Journal of Critical Psychology. v. 9, p. 143-159, 2003a.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia. Poverty and psychopathology (pp. 69-86). In: Carr, Stuart e Sloan, Tod. Poverty and psychoplogy: from global perspective to local practice. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, 2003b.        [ Links ]

MOREIRA, Virginia. O método fenonomenológico de Merleau-Ponty como ferramenta crítica na pesquisa em psicopatologia. Psicologia: Reflexão e Crítica. 17 (3), 447-456, 2004.        [ Links ]

MOREIRA, Virginia. Critical Psychopahtology. Radical Psychology. (4) 1. 2005. Web site: http://www.radpsynet.org/journal/vol4-1/moreira.html.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia. (submetido para publicação). Critical phenomenology of depression in Brazil, Chile and the United States. Transcultural Psychiatry.        [ Links ]

MOREIRA, Virgínia e FREIRE, José Célio. La dépression dans la postmodernité: un désordre des affections ou l'ordre dês désaffections? (pp. 111-118). In: Bernard Granger e Georges Charboneau. Phénomenologie des sentiments corporels. Paris: Circle Hermeneutique. v. II, 2003.        [ Links ]

RUGGERO, Niube. A inevitável solidão para as personagens femininas. Cadernos: Centro Universitário São Camilo, São Paulo, v .X, n. 4, p. 38-42, out/dez. 2004.        [ Links ]

SAM, David e MOREIRA, Virgínia. The mutual embeddedness of culture and mental illness. In: Walter Lonner, Suzana, Dale Dinnel, Suzana Hayes e David Sattler (Eds.)., OnLine Readings in Psychology and Culture. Western Washington University, Department of Psychology, 2002, Center for Cross-Cultural Research Web site: http://www.wwu.edu/~culture        [ Links ]

SCHUMAKER, John. Cultural cognition and depression. In John Shumaker e Tony Ward , Cultural cognition and psychopathology. Westport: Praeger, 2001.        [ Links ]

SEEWALD, Frederico et al. O tema da solidão: Klein e Winnicott revisitados. R. Psiquiatria, RS, v. XVII, n.1, p. 29-37, 1995.        [ Links ]

SHORTER, Edward. Historical review of diagnosis and treatment of depression. In Adre Tylee. Depression: Social economic and timebomb. London: BMJ Publishing Group, 2001.        [ Links ]

TAMAYO, Álvaro e PINHEIRO, Ângela. Conceituação e definição de solidão. Revista de Psicologia, Fortaleza, v.II, 1984.        [ Links ]

TRINDADE, Zeide Araújo e EUNUMO, Sônia Regina Fiorim. Triste e Incompleta: uma visão feminina da mulher infértil. Psicologia USP, v.XIII, n.2, p.151-182, 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/ptp>. Acesso em: 19 mar. 2005.        [ Links ]

VERAS, Renato et al. Crescimento da população idosa no Brasil: transformações e conseqüências na sociedade. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. XXI, n. 3, p. 225-233, jun.1987. Disponível em: < http://www.scielo.br/ptp>. Acesso em: 23 fev. 2005.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Virginia Moreira
Avenida Washington Soares, 1321 - Fortaleza - CE - CEP 60811-341 - Brasil
virginia_moreira@fulbrightweb.org
E-mail: virginiamoreira@unifor.br

Virginia Callou
Rua Monsenhor Esmeraldo, 36; Bairro Franciscanos, Juazeiro do Norte - CE
Fone/Fax: 88- 3511.4730
E-mail: cerestjua@bol.com.br

Artigo recebido em: 10/5/2006
Versão revisada recebida para publicação em: 19/92006
Aprovado para publicação em: 25/9/2006

 

 

*Universidade de Fortaleza - UNIFOR - Mestrado em Psicologia
**CERST - Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons