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Mental

versão impressa ISSN 1679-4427

Mental vol.10 no.18 Barbacena jun. 2012

 

ARTIGOS

 

Algumas notas sobre as relações humanas mediadas por computadores

 

Some notes about human relationships intermediated by computers

 

 

Carla Pontes DonnamariaI; Antonios TerzisII

IPsicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Bolsista Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
IIProfessor Doutor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Campinas

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Após quase duas décadas da inauguração da internet comercial no Brasil, os seus efeitos sobre os relacionamentos humanos continuam a ser alvo de muitas discussões. O presente artigo tece algumas considerações sobre o desenvolvimento da internet e das relações humanas mediadas por computadores, mostrando como a nova tecnologia se transforma em um instrumento muito mais de aproximação do que de evitação da realidade.

Palavras-chave: Relacionamentos virtuais; internet; contemporaneidade; psicologia.


ABSTRACT

After nearly two decades of opening of the commercial internet in Brazil, its effects on human relationships remain the subject of many discussions. This paper presents some considerations about the development of the internet and computer mediated relationships, showing how the new technology turns into a much more approach than avoidance of reality.

Keywords: Virtual relationships; internet; contemporary; psychology.


 

 

1 INTRODUÇÃO

A internet, uma das mais significativas inovações tecnológicas das últimas décadas, favorável sobretudo à comunicação e à busca de informações, tornou-se também uma importante ferramenta de contato social. No entanto, após quase duas décadas de sua inauguração comercial no Brasil, os seus efeitos sobre os relacionamentos humanos continuam a ser alvo de muitas discussões. O presente artigo pretende contribuir para o clareamento dos aspectos que permeiam esta discussão e lançar luz sobre os benefícios da internet para o campo das relações humanas.

1.1 A internet: origem e expansão

A Interconnected Networks, ou internet, surgiu na década de 1960 pelas forças militares americanas, a partir de um projeto que visava a criação de um tipo de comunicação descentralizada e com múltiplas direções. Na década seguinte, ainda sob caráter militar, o governo norte-americano investe no desenvolvimento do novo sistema em meios acadêmicos. Nos anos 1980, a comunidade científica cria uma rede própria e a internet se estende a âmbitos extramilitares. Passa ao uso comum na década de 1990, expandindo-se para outras partes do mundo de maneira rápida e progressiva.

É o ano de 1995, entretanto, que marca a origem da internet tal como a conhecemos hoje. Como diz Vieira (2003):

O ano de 1995 pode ser considerado o marco-zero da Internet comercial no Brasil e no mundo. Foi quando surgiram nos Estados Unidos alguns dos mais importantes nomes da Internet, como o site de busca Yahoo! e a livraria Amazon.com, além dos primeiros protagonistas da WEB brasileira. (VIEIRA, 2003, p. 11).

As possibilidades que a internet traz para o campo da comunicação e das relações humanas não chegam a ser uma novidade absoluta. Como diz Lévy (2005, p. 49), "a comunicação continua, com o digital, um movimento de virtualização iniciado há muito tempo pelas técnicas mais antigas, como a escrita, a gravação de som e imagem, o rádio, a televisão e o telefone". Por outro lado:

Apenas as particularidades técnicas do ciberespaço permitem que membros de um grupo humano (que podem ser tantos quanto se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários. (LÉVY, 2005, p. 49).

A rapidez e a facilidade de acesso a qualquer tipo de informação, bem como a velocidade na emissão e recepção de mensagens e documentos, impulsionou a venda de computadores no país, acompanhada pelo aumento de consumo de linhas telefônicas - meio de conexão da internet nos seus primeiros anos. Imediatamente, instituições financeiras, os diferentes meios de comunicação impressa e uma diversidade de negócios e serviços foram adotando suas versões digitais, acelerando "uma virtualização geral da economia e da sociedade" (LÉVY, 2005, p. 49).

Fazer compras, cursos, divertir-se, reconectar-se com velhos amigos, fazer amizades e até namorar estão entre as ações envolvendo contato humano que ganharam suas versões online. Conforme constatam Otero e Fuks (2012, p. 194), a rede mundial de computadores traz inovações que "penetram de forma contundente a cultura e a subjetividade dos que vivem no século XXI". De fato, mais do que uma simples ferramenta, a internet se transforma em um novo espaço para realizações, um espaço não territorial, projetado na tela do computador, contando com um número cada vez maior de internautas. Segundo dados publicados no IDGNow (2012), o número total de pessoas conectadas à rede no Brasil atingiu 79,9 milhões no quarto trimestre de 2011, sendo que o crescimento foi de 2% sobre o mesmo período de 2010 e de 19% em relação a 2009.

Para alguns autores, como Castells (2001) e Nicolaci-da-Costa (2003), as repercussões decorrentes do uso da rede conferem uma transformação da vida das pessoas comparável às mudanças provocadas pela Revolução Industrial do século XVIII, quando, junto ao surgimento das fábricas, surgiram os grandes centros urbanos, instaurando diversas mudanças na vida dos sujeitos que migraram para esses novos espaços. Enquanto no campo, os vizinhos de residência, os colegas de trabalho e os companheiros de lazer eram as mesmas pessoas, nos centros urbanos, pessoas distintas passaram a compor cada uma dessas esferas de relacionamento. Nessa migração, os sujeitos se viram expostos a um grande número de desconhecidos. O excesso de estímulos de origem pouco familiar provocou solidão, em paradoxo com a multiplicação de possíveis contatos. Com as novas tecnologias, sem dúvida que nos deparamos com uma nova forma de excesso.

 

2 ENTRE O TEMOR E O ENTUSIASMO

Tanta inovação trouxe dúvidas e suscitou diferentes reações, variando entre uma postura de aceitação entusiástica e a sua contrapartida conservadora, que chegou a apostar no desaparecimento dos espaços de diálogo e no fim da vida comunitária clássica (MARCONDES FILHO, 2001). Pessoas que já teriam optado por evitar os computadores por acreditarem que essas máquinas fossem investidas de algum tipo de animismo, teriam se voltado também contra a internet (ASCH, 1991; BROTTMAN, 2012).

Dentre as projeções mais pessimistas, acreditou-se que, com a internet, as publicações de papel diminuiriam e os livros ficariam inacessíveis de tão caros, o que resultaria num aumento da massa de ignorantes. Pessoas se afastariam do convívio social e familiar para se dedicar a uma internet viciante, produtora de ilusão e de uma realidade falsa e ilusória (NOGUEIRA, 1998).

Os primeiros intelectuais dedicados a refletir sobre as possíveis consequências subjetivas do uso da internet concentraram-se especialmente sobre os possíveis efeitos nocivos de seu uso, no que dizia respeito aos relacionamentos humanos.

Para Baudrillard (1997), por exemplo, a internet cria uma realidade falsa que cega e confunde os sujeitos, que ficam imersos em um mundo caótico e sem sentido. Birman (1997), considerando que a comunicação à distância contribui para a ausência do contato físico, alerta para o risco do uso solitário e patológico da rede, capaz de incentivar formas maquínicas e desafetadas de relacionamentos. Seguindo uma linha similar de pensamento, Bauman (2004) enfatiza a contribuição da internet para a fragilidade e volatilidade dos relacionamentos interpessoais, argumentando que os relacionamentos "descartáveis", "frágeis" e "superficiais" no mundo pós-moderno seriam decorrentes de modelos frívolos dos relacionamentos virtuais.

Infelizmente, a internet também pode trazer prejuízos. Abreu et al. (2008) mostram o quanto algumas pessoas se tornam dependentes da tecnologia, ao ponto de abandonarem a vida social pela necessidade de se manterem conectadas, e experimentarem intenso sofrimento quando o acesso é dificultado. No entanto, compartilhamos da opinião de Nicolaci-da-Costa (2003) de que a mídia se excedeu nos primeiros anos na ênfase dada ao uso nocivo da internet, como se comportamentos patológicos, depressão, isolamento, sequestros, prostituição de menores, pornografia, invasão de privacidade, e outros, não existissem antes da nova tecnologia, e fossem por ela criados. Como diz Bettini (2002, p. 164), "a forma de se vincular e de se ter atitudes na Internet pode ser um reflexo de como o homem experimenta seu dia-a-dia".

E ainda que a preocupação com os prejuízos que a sua utilização pode trazer para o sujeito seja pertinente, Nicolaci-da-Costa (2006) ressalta que sentimentos de estranheza à internet deveram-se ao medo daquilo que é novo. Segundo a autora, quando surgiu a telefonia fixa houve semelhante temor de que o telefone pudesse gerar rupturas na vida familiar e social, que causaria afastamento físico e tornaria as pessoas preguiçosas. A mesma comoção não ocorreu com o advento dos celulares pelo fato destes serem usados "dentro do modelo dialógico que sempre caracterizou o uso da telefonia fixa". Além disso, "tal como no caso dos telefones fixos, os celulares são maciçamente utilizados para interações (de voz ou texto) entre familiares, amigos e conhecidos" (NICOLACI-DA-COSTA, 2006, p. 24).

Existem, ainda, registros de que no século XV, o advento da imprensa por Gutenberg teria suscitado pressentimentos de que a facilidade de acesso aos livros promoveria a preguiça intelectual. Marcondes Filho (2001) também lembra que na construção das primeiras estradas de ferro não faltavam aqueles que teorizavam sobre os perigos da fumaça nos túneis, que iria pôr em risco a saúde das pessoas. Hoje podemos constatar que nenhum dos prenúncios se confirmaram, assim como podemos observar que, passadas quase duas décadas, a internet não acabou com os livros nem com a imprensa de papel e nem todas as pessoas se tornaram viciadas na rede.

O outro lado da moeda é o entusiasmo irrefletido que, em especial nos primeiros anos da internet, levava muita gente a acreditar que com a mesma velocidade com que elas encontravam uma variedade de conteúdos na internet, encontrariam também ali a solução para quase todos os seus problemas. Às vezes, até, sequer buscando uma solução, mas tentando uma verdadeira fuga da realidade, como se a internet fosse de fato um mundo paralelo. Um exemplo é o caso Estela (TERZIS, 2006), uma jovem senhora que se entusiasma com as declarações de amor de um homem com quem se relaciona pela rede, acreditando ter reencontrado ali a oportunidade para a felicidade que já teria desistido de buscar em seu casamento. A felicidade, no entanto, acaba quando Estela se depara com reações rudes daquele homem que fica enfurecido diante da sua recusa à ideia de um encontro físico. Surpreendida com essa situação, e se deparando com a impossibilidade de se sentir realizada, Estela entra num grave processo depressivo.

Outros casos divulgados na mídia, ainda nos primeiros anos da internet, dão a impressão de que havia uma confusão entre a facilidade de fazer um "clique" com a ideia de se ter a situação sob controle. Não é possível dizer o quanto isso mudou, mas é preciso entender que esses casos não se tratam de um efeito da internet, mas do uso que se fez do recurso.

 

3 COMO CONCEBER UM MUNDO VIRTUAL

Vale destacar outro importante equívoco até hoje muito presente na argumentação daqueles que refutam o uso da internet para o estabelecimento de relações humanas. Trata-se da noção de virtual, como algo necessariamente irreal. De fato, a palavra virtual pode ser usada para falar daquilo que existe apenas em potência ou como faculdade, e não como realidade ou como efeito real (HOUAISS, 2000). O virtual da internet, entretanto, provém do sentido técnico do termo aplicado à informática. Explica Lévy (2005):

Os códigos de computador inscritos nos disquetes ou discos rígidos dos computadores - invisíveis, facilmente copiáveis ou transferíveis, de um nó a outro da rede - são quase virtuais, visto que são quase independentes de coordenadas espaço-temporais determinadas. No centro das redes digitais, a informação certamente se encontra 'fisicamente situada' em algum lugar, em determinado suporte, mas ela também está 'virtualmente presente em cada ponto da rede onde seja pedida'. A informação digital (traduzida para 0 e 1) pode também ser qualificada de virtual na medida em que é inacessível enquanto tal ao ser humano. Só podemos tomar conhecimento direto de 'sua atualização' por meio de alguma forma de exibição. (LÉVY, 2005, p. 48).

A partir desse sentido técnico, o termo virtual passou a ser empregado para referir tudo o que passa na Internet. Dessa forma, qualquer relacionamento entre dois ou mais humanos que tivesse um computador como mediador, passou a ser chamado de relacionamento virtual. E a partir daí, as críticas embasadas em um conceito equivocado.

Ainda que falsos e mentirosos também circulem pela internet, nenhum relacionamento é falso ou ilusório apenas pelo fato de se realizar via internet. Como diz Lévy (2005, p. 47), "é virtual toda entidade 'desterritorializada', capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular".

Em acordo com essa concepção, é possível dizer que um sistema de comunicação gera uma "virtualidade real" quando:

Esse sistema captura a realidade (a existência material/simbólica das pessoas) e a submerge a um enquadre virtual, no qual as experiências não são somente imagens ou símbolos na tela através dos quais se comunica a experiência se não que vem da experiência mesma. (FINQUELIEVICH, 1998, p. 2).

Não por acaso, o termo virtual parece vir caindo em desuso nas referências aos relacionamentos mediados pela internet, sendo substituído pelas expressões online e "à distância". Isso, a nosso ver, expressa uma conscientização de que pessoas reais se encontram e se afetam no ciberespaço, cada qual com seu computador, independentemente do lugar físico onde cada uma delas esteja. Como diz Turkle (1999, p. 119), relacionamentos reais, são "aqueles em que as pessoas se sentem suficientemente ligadas para dar-lhes real importância". Não tem necessariamente a ver com presença física.

Um relacionamento mediado pelo computador poderá ainda ser chamado de virtual desde que se tenha em conta a concepção de que "o virtual existe sem estar presente" (LÉVY, 2005, p. 49), aceitando a ideia do relacionamento virtual como aquele que diz do encontro entre duas ou mais pessoas por meios tecnológicos de comunicação, sem confundi-lo com o sentido do irreal, esse mais adequadamente aplicado aos jogos eletrônicos e a outros simuladores de realidade, igualmente presentes na internet.

 

4 ALGUMAS CONSTATAÇÕES

Existe um senso comum de que a internet desinibe as pessoas, e há quem acredite que isso poderia, inclusive, favorecer a terapia mediada pelo computador, uma prática em expansão no mundo, sobre a qual faremos algumas considerações adiante. Sugerindo esse efeito de desinibição, Suler (2001) comenta uma experiência online com um grupo de supervisão clínica, na qual os terapeutas teriam discutido os seus trabalhos assim como as suas reações contratransferenciais de forma mais livre, comparando com outras supervisões presenciais.

Para Suler (2004), o "anonimato", a "assincronicidade" na comunicação, e a "minimização da autoridade" - decorrente da ausência dos indícios de status, favorecendo um sentimento de igualdade entre os internautas - estão entre os fatores que contribuem para a desinibição online.

Justiça (2005) refere a experiência em que alunos de um curso regular de ensino médio, para os quais ela lecionava as disciplinas de Filosofia e Psicologia, teriam aproveitado um canal de comunicação online, de natureza assíncrona, disponibilizado por ela, para discutir assuntos privados não diretamente relacionados às disciplinas. Para ela, o fato dos adolescentes se sentirem protegidos dos possíveis olhares reprovadores, das críticas dos colegas, dos risos de fundo e de outras variáveis de um ambiente físico constrangedor, teria favorecido a entrada em outros assuntos.

Na pesquisa em que entrevistamos casais originados da internet (DONNAMARIA, 2008), um dos participantes relatou que durante certo período do relacionamento já transformado em relacionamento presencial optava ainda pela rede para a exposição de alguns sentimentos sobre os quais não teria adquirido coragem para dizer em presença.

Um resultado contrário em relação ao efeito da desinibição online é apresentado por Dias e Teixeira (2008). Nesse estudo, um grupo de estudantes universitários teria apresentado resultados mais favoráveis de autorrevelação em situações face a face com amigos, em comparação a conversas via chat com estranhos. A nosso ver, essa diferença de variáveis entre amigos e estranhos teria enviesado o resultado desse estudo. A preferência pode ter sido pelos laços de amizade preexistentes, e não pelo fato da comunicação ser, ou não, pela internet.

Afirma-se que, na internet, a comunicação é prejudicada em virtude da ausência, parcial ou total, das pistas não verbais. Na verdade, trata-se mais de uma comunicação diferenciada do que propriamente prejudicada. Essa diferenciação é evidente nas comunicações escritas, para as quais os usuários criam uma linguagem própria em que convencionam, informalmente, códigos voltados a tentar suprir a ausência do não verbal. Ainda que possamos supor que tais códigos não supram todas nuances de uma comunicação não verbal, é preciso que estudos se concentrem sobre essas questões, a fim de elucidar as reais consequências dessa diferenciação.

Uma diferença importante a ser destacada entre a internet e os demais meios de comunicação à distância está na existência de um espaço, não territorial, que é compartilhado na tela do computador. De acordo com Tantam (2008), o compartilhamento desse espaço proporciona ao internauta o sentido de uma "presença incorpórea", como se ele estivesse projetado naquele espaço - o ciberespaço - sem seu corpo objetivo. Talvez por isso, como diz Carlino (2010), a noção de encontro deixe de ser considerada em termos de distância, para ser considerada em termos de tempo.

Em referência a esse espaço, Romão-Dias e Nicolaci-da-Costa (2012) retomam a analogia proposta por Turkle (1997) da internet como um espaço potencial, no sentido winnicottiano dessa ideia. A proposta das autoras é suscitar debates sobre os efeitos enriquecedores da internet. Para elas, usar a internet para interagir com o outro é muito diferente de interagir com a máquina:

Se, por um lado, a Internet possibilita uma conexão mais tênue com a realidade externa, por outro, a fantasia tem um freio a partir do contato com o outro. Por isso, defendemos que a Internet pode gerar este estado intermediário que é o espaço potencial. O sujeito nem está na realidade externa, nem em seu devaneio. Talvez se sinta no espaço neutro do qual fala Winnicott. (ROMÃO-DIAS; NICOLACI-DA-COSTA, 2012, p. 95).

Às vezes o sujeito usa a internet para iniciar um movimento que gostaria de realizar no mundo físico. Um exemplo é extraído de uma pesquisa realizada com casais originados da internet (DONNAMARIA, 2008). Na rede, Breno (nome fictício que atribuímos ao caso em questão) diz ter se visto livre do medo da rejeição que o impedia de se aproximar de mulheres nas situações presenciais. Posteriormente, Breno descobriu que a experiência não era fácil como chegou a imaginar que poderia ser. Após sofrer uma série de frustrações decorrentes de uma ação impulsiva, Breno chegou a entrar em um expressivo ciclo de escolha e descarte, com uma voracidade insaciável e uma dissociação defensiva dos afetos, até começar a se dar conta de que aquela maneira de atuar não o favorecia no seu projeto de encontrar uma parceira. Utilizando-se do mesmo instrumento, mas com novas atitudes, ele pode finalmente encontrar aquela que viria a se tornar a sua esposa. Breno percebeu que a origem, a evolução e a qualidade dos vínculos que poderia construir nada dependiam dos recursos que a máquina tinha a lhe oferecer. De todo modo, foi a partir desse caminho que Breno conseguiu sair do isolamento que vivia até então, encontrar sua parceira, casar-se, e, por fim, encontrar uma confiança maior em si mesmo.

A nosso ver, exemplos como este, mais a popularização crescente dos recursos que tentam recuperar ao máximo possível os elementos da realidade presente no contato, mostram a internet como um instrumento mais de aproximação do que de evitação da realidade. Também atualmente, nas frequentadas redes sociais do ambiente online, os usuários demonstram-se mais dispostos a se expor do que interessados em se esconder detrás de um nickname, usados em salas de bate-papo virtuais disponíveis desde o começo da internet, através dos seus provedores.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o exposto, acreditamos que existe atualmente uma consciência maior entre os usuários de internet de que os benefícios que podemos obter com esses recursos dependem muito mais dos nossos anseios e de nossa capacidade de escolha e discernimento do que dos recursos mesmos.

Conforme afirma Turkle (1997, p. 393-394), "a virtualidade não tem que ser uma prisão. Pode ser uma jangada, a escada, o espaço transicional". A internet não é, em si, aquilo que se interpõe no caminho dos relacionamentos humanos.

É evidente a importância de considerarmos os usos nocivos que muitos ainda podem estar fazendo desse instrumento. No entanto, é preciso reconhecer os muitos benefícios que o mesmo recurso também pode nos trazer.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondênciaI:
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Artigo recebido em: 24/10/2012
Aprovado para publicação em: 17/11/2012