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Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. v.1 n.2 Juiz de Fora dez. 2007

 

RESENHA

 

Análise de produção científica em psicologia: questões psicossociais

 

 

Eliana Santos

PUC Campinas

 

 

Witter, C., Buriti, M. A., & Witter, G. P. (orgs.). (2007). Problemas Psicossociais: análise de produção. Guararema, SP: Anadarco.

De modo geral, trabalhos sobre produção científica de uma determinada área da Ciência, justifica-se por buscar avaliar o discurso científico no que concerne a seus vários aspectos. Esta publicação contemporânea, de leitura agradável, foi organizada por Carla Witter, Marcelo de Almeida Buriti e Geraldina Porto Witter. Esses três autores são docentes e pesquisadores conceituados e atuantes na área de conhecimento da Psicologia, bem como em áreas afins. Possuem larga experiência em pesquisas metacientíficas. A obra em questão teve como eixo principal reunir trabalhos derivados de orientações de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, ou mesmo parcerias entre os profissionais, desde que se apropriassem da temática maior: problemas de cunho psicossocial.

A apresentação que leva a assinatura dos três organizadores, ilustra a importância da pesquisa para a formação e para a prática profissional em Psicologia. Além disso, procura ressaltar a importância da produção científica escrita, sendo considerada mais relevante e democrática. Além desse elemento pré-textual, a obra é composta por oito capítulos referentes à Psicologia Jurídica/Forense e à Psicologia do Trânsito, bem como a outros temas como depressão, hospitalização, autismo.

O capítulo primeiro denominado de “Psicologia forense / jurídica no banco de dissertações e teses da Capes”, é assinado por Geraldina Porto Witter e Marcelo de Almeida Buriti. Este capítulo busca conceituar e clarificar as pesquisas de metaciência, enfocando esta área da Psicologia, que historicamente recebeu pouca atenção e, por este motivo, muitas vezes foi confundida como uma área de estudos e atuação clínica. Os autores analisaram trabalhos decorrentes de mestrados e doutorados nacionais (1992-2006), quanto a gênero, cursos e outros aspectos relevantes. Com uma atuação feminina de cerca de 70% nesta área, os autores sugerem que se criem estímulos para que os profissionais do sexo masculino possam se sentir mais atraídos para atuar nesta área.

De certo modo, seguindo esta temática, Herica Rocha Phelippe, Geraldina Porto Witter e Marcelo de Almeida Buriti são os responsáveis pelo segundo capítulo “Análise da produção científica sobre psicologia forense”. Teve como intuito analisar os trabalhos quanto à autoria, instrumentos utilizados e demais aspectos dos artigos arrolados na base de dados Lilacs (rede BVS, assuntos relacionados às ciências da saúde). Embora inicialmente tenham sido levantados 100 artigos, muitos deles foram descartados por não atender aos critérios de inclusão. Do mesmo modo como no capítulo primeiro, existe uma maior participação de mulheres, assim como também de autoria múltipla dos trabalhos analisados. Os resultados apontam para uma carência de instrumentos de coleta de dados validados especificamente para esta área. Além disso, sugere que os olhares se voltem para pesquisas com outra população, além da adulta, e mais trabalhos de cunho prático.

Elaborado por quatros autores, Andréa Oliveira Vieira, Adriana Aparecida Ferreira, Marcelo de Almeida Buriti e Carla Witter, o capítulo “Psicologia do trânsito: análise de produção de dissertações e teses (1991-2003)”, propõe uma discussão no que concerne à Psicologia do Trânsito, e tenta traçar um panorama sobre a produção científica a respeito arrolada no banco de dados da Capes, tão como no capítulo primeiro. Foi considerado o período de 1991 a 2003, sendo que o período mais produtivo corresponde a 2002-2003. Assim sendo, nota-se um aumento quanto ao interesse sobre o assunto, sobretudo nos estudos derivados de mestrado com cerca de 89%. Verifica-se uma atuação predominantemente feminina, independente do nível do curso (mestrado ou doutorado). O mesmo ocorre para as pesquisa teóricas. Os autores sugerem comparar estes resultados com pesquisas de meta-análise internacionais, a fim de verificar o desenvolvimento nacional na área.

O capítulo quatro introduz outra temática, “Hospitalização no PsycINFO (2003-2006)”, e é assinado por Geraldina Porto Witter e Andrieli Bianca Rodrigues Camilo. Além de articular a problemática da hospitalização e a importância de se conhecer a produção científica a respeito, buscam na base de dados internacional PsycINFO da American Psychological Association um mapeamento quanto a vários aspectos inerentes à pesquisa de estado da arte. Deste modo, citam os países mais produtivos na área (Estados Unidos da América, Canadá, Eslovênia e Japão), e a necessidade de periódicos específicos para aglutinar os trabalhos afins. Curiosamente, ao contrário dos estudos citados nos capítulos anteriores a este, este estudo mostrou atuação mais efetiva por parte da população masculina, tanto em autoria individual (63,90%) quanto em autoria múltipla (53,84).

De duas autoras, Silvia Aparecida Costa e Adriana Aparecida Ferreira, o capítulo cinco, “Depressão em adolescentes na Psycinfo (2004)”, discute a população adolescente acometida pela depressão, que consta da base de dados internacional Psycinfo (American Psychological Association). Aponta satisfatoriamente para uma crescente produção em múltipla autoria (87,50%), com a questão de gênero homogênea. Ainda sinaliza para os trabalhos publicados em formato de artigos (98,24%). As pesquisas de natureza quantitativas (83,16%) também “marcaram presença”.

No capítulo seis, “Autismo: análise da produção científica arrolada na PsycINFO (2004)”, as autoras Priscila de Oliveira e Adriana Aparecida Ferreira, além de argumentar sobre a importância de se conhecer a produção científica a respeito do autismo, buscaram nessa base de dados internacional, assim como no estudo anterior, traçar um perfil sobre a produção científica no ano de 2004. Contrariamente ao estudo anterior, as autoras encontraram predomínio de autoria feminina, tanto para estudos de autoria individual como de autoria múltipla. Ainda quanto à autoria múltipla, os estudos são assinados por cerca de oito autores cada. Configura predomínio de estudos de pesquisa do que teóricos. As autoras consideraram que a área apresenta um nível de produção satisfatório.

O capítulo denominado de “O normal e o patológico na teoria de D. W. Winnicott: análise de produção científica”, sétimo desta obra, é de autoria de Alessandra dos Santos de Farias, Daniella Silva Martins, Flávio Del Matto Faria e Carla Witter. Os autores discutem a questão da normalidade e da patologia, do que é considerado saudável ou doente, inserido na teoria winicotiana. Buscam traçar um panorama da produção no período de 2003 a 2005, em três revistas específicas da Psicologia (Psicologia: Reflexão e Crítica, Psicologia & Sociedade, e Psicologia: Teoria e Pesquisa). Os autores encontraram prevalência de autoria do gênero feminino, e também de estudos de autoria múltipla. E do que foi discutido e proposto, o conceito predominante foi: saúde.

O oitavo e último capítulo, “Depressão pós-parto: produção científica nacional entre 1999 e 2005”, é autoria de Adriana Meneghetti Gouvêa, Edielson Lemes Modesto, Tatiana Morel dos Reis e Ana Lúcia Gatti. Além de discutir aspectos relacionados ao conceito e à classificação dos transtornos depressivos, os autores se propõem a mapear a produção a respeito constantes na Lilacs, no período de 1999 a 2005. Os autores notaram maior produção em uma instituição do Rio Grande do Sul e, diante disso, sugerem maior incentivo em outras regiões como o norte e nordeste brasileiro. Também sinalizam a existência de pesquisas que pouco contribuem para o crescimento de conhecimento a respeito; o que demanda que a comunidade científica fique em alerta.

Ao final desta obra, o leitor pode conhecer um pouco de seus organizadores e demais autores participantes da mesma. Vale a pena citar que, todos os capítulos são escritos em co-autoria, o que por si só já revela uma preocupação com a ciência. Visto que o conhecimento científico é um bem público, e desta forma, qualitativamente melhor se as idéias, as reflexões, os ‘achados’ forem compartilhados com outros pensadores e pesquisadores, a fim de enriquecer o produto final. O leitor tem à disposição uma obra com vários “pontos de vista” e de fácil compreensão.

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