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Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.16 no.2 Juiz de Fora maio/ago. 2022

https://doi.org/10.34019/1982-1247.2022.V16.32816 

ARTIGOS

 

Processo de escolha profissional de adolescentes: uma perspectiva desenvolvimentista

 

Adolescents' process of career choice: a developmentalist perspective

 

El proceso de elección profesional de los adolescentes: una perspectiva de desarrollo

 

 

Letícia dos Santos FonsecaI; Cláudia Patrocinio Pedroza CanalII

IUniversidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: leticiaasfonseca@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8326-6514
IIUniversidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: claudia.pedroza@ufes.br ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2342-1302

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Na adolescência, o processo de escolha profissional se configura como um dos momentos importantes, no qual crenças de autoeficácia podem ter uma considerável influência. Este estudo teve o objetivo de verificar a influência das crenças de autoeficácia e de aspectos psicossociais no processo de escolha profissional de adolescentes concluintes do ensino médio. Participaram seis adolescentes entre 17 e 18 anos. Realizou-se a aplicação da Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional e entrevistas individuais. Os resultados encontrados sugerem que a autoeficácia e os aspectos contextuais atuaram como fatores de importante influência no processo de escolha profissional dos participantes.

Palavras-chave: Escolha profissional; Adolescência; Autoeficácia.


ABSTRACT

In adolescence, the career choice process is configured as an important moment in which beliefs of self-efficacy can have a considerable influence. This study aimed to verify the influence of self-efficacy beliefs and psychosocial aspects in the process of career choice of adolescents attending the last year of high school. Six adolescents between 17 and 18 years old participated. The Self-efficacy Scale for Professional Choice and individual interviews were applied. The results suggest that self-efficacy and contextual aspects acted as factors of important influence in the participants' career choice process.

Keywords: Career choice; Adolescence; Self-efficacy.


RESUMEN

En la adolescencia, el proceso de elección profesional se configura como uno de los momentos importantes, en el que las creencias de autoeficacia pueden tener una influencia considerable. Este estudio tuvo como objetivo verificar la influencia de las creencias de autoeficacia y de los aspectos psicosociales en el proceso de elección profesional de los adolescentes del último año del secundario. Seis adolescentes con edad entre 17 y 18 años participaron en este estudio. Se aplicó la Escala de Autoeficacia para la Elección Profesional y entrevistas individuales. Los resultados encontrados sugieren que la autoeficacia y los aspectos contextuales actuaron como factores de influencia importante en el proceso de elección profesional de los participantes.

Palabras clave: Elección profesional; Adolescencia; Autoeficacia.


 

 

As primeiras tentativas de descrever a adolescência datam do início do século XV (Ariès, 1981), entretanto, esse período do desenvolvimento humano somente se tornou um tema de interesse na história da Psicologia no século XX (Senna & Dessen, 2012). A fase da adolescência não é delimitada exclusivamente pela faixa etária, apesar disso, agências como a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2018) têm definido como adolescente o indivíduo com idade entre 10 e 19 anos. Os indivíduos nessa faixa etária representam atualmente mais de 16% da população mundial, o que corresponde a 1,2 bilhão de pessoas (UNICEF, 2018). No Brasil, referenciados pelo Estatuto da Criança do Adolescente (ECA), consideramos adolescentes as pessoas que possuem entre 12 e 18 anos de idade (Lei n.º 8.069, 1990).

De um modo geral, à medida que a adolescência se configurou como fato social, tornando-se mais visível e compreensível, a sociedade passou a dar significado a esse período, inclusive como objeto de estudo de interesse científico (Bock, 2007). Nos dias atuais, há um movimento tanto da psicologia quanto de outras áreas, como a antropologia, as artes, o jornalismo e diversos campos do conhecimento voltados para a saúde, tais como a medicina, a enfermagem, a fisioterapia, a fonoaudiologia e a nutrição, para se dedicar ao estudo da adolescência. Assim, esse período do desenvolvimento tem-se tornado, cada vez mais, um tema para o qual se tem criado um saber específico (Bock, 2007). As principais teorias do desenvolvimento buscaram explicar o fenômeno da adolescência com base em dois aspectos centrais: no primeiro, a adolescência é vista como um período distinto do desenvolvimento; no segundo, a adolescência é caracterizada por inevitáveis e crescentes turbulências, em sua maioria, de ordem cognitiva e social (Senna & Dessen, 2012).

Entre os autores clássicos que se dedicaram a explicar a adolescência como período distinto do desenvolvimento humano, destacam-se Erik Erikson (1982/1998), com a teoria do Desenvolvimento Psicossocial, Sigmund Freud (1905/1973), com a Psicanálise, e Jean Piaget (1964/2019), com a Epistemologia Genética. Este último fundamenta este trabalho, uma vez que sua teoria é de reconhecida importância para o estudo no campo do desenvolvimento humano e permite a compreensão acerca tanto de resultados quanto de processos de construção das condutas dos indivíduos. Assim, essa teoria será descrita melhor nos trechos que se seguem.

Entre os estágios do desenvolvimento propostos por Piaget, sujeitos na adolescência tenderiam a apresentar características do operatório formal e possuiriam pensamentos que não mais estão ligados apenas ao que é real ou palpável, mas a tudo o que é possível (Inhelder & Piaget, 1955/1976). Durante esse estágio, os sujeitos desenvolvem o raciocínio e a lógica necessários para a solução de todo e qualquer tipo de problema (Inhelder & Piaget, 1955/1976). Isso se deve ao fato de o pensamento formal ser "hipotético-dedutivo", o que permite aos sujeitos, nesse estágio, deduzir conclusões válidas, baseados apenas em hipóteses, não estando restritos, portanto, à necessidade de uma observação do real (Piaget, 1964/2019). Cabe ressaltar que, embora o estágio operatório formal tenha sido descrito por Piaget (Inhelder & Piaget, 1955/1976) como o último período do desenvolvimento, ele não encerra tal processo; pelo contrário, inaugura uma organização cognitiva e afetiva que será constantemente aprimorada ao longo de todo o ciclo de vida.

Desse modo, um adolescente com as operações formais plenamente desenvolvidas será cada vez mais capaz de refletir acerca dos pensamentos e sentimentos de si mesmo como se fossem objetos (Inhelder & Piaget, 1955/1976). Graças ao pensamento hipotético-dedutivo, ele consegue inferir consequências baseado apenas em verdades possíveis (Piaget & Inhelder, 1966/1978). Destaca-se, além disso, que a afetividade interfere nas operações da inteligência estimulando ou perturbando-as (Piaget, 1954/2014).

Assim, o pensamento hipotético-dedutivo interfere diretamente no modo com que adolescentes, que alcançaram o período formal, fazem suas escolhas e tomam suas decisões. Os indivíduos passam a enxergar uma série de alternativas, sua capacidade de lidar com a lógica combinatória e de considerar a totalidade de fatores possíveis fornece, então, a base para algumas reações consideradas como típicas dos adolescentes, quando estes buscam solucionar determinados problemas ou tomar decisões (Elkind, 1975). A esse respeito, Piaget (1954/2014) afirma que a adaptação do adolescente à sociedade apenas acontece, de fato, quando este se transforma de um reformador em um realizador e essa transformação ocorre depois do contato concreto, contínuo e bem definido com o mundo do trabalho.

Entre as muitas questões pertinentes à adolescência, a escolha profissional se destaca em virtude de expectativas acerca de sua repercussão em toda vida adulta dos indivíduos. Essa escolha pode ser entendida como uma decisão acerca do que se deseja fazer em termos ocupacionais e como a pessoa deseja ser no futuro (Sobrosa, Oliveira, Santos, & Dias, 2015). Muitas são as influências durante esse processo de escolha profissional na adolescência, sendo algumas das principais as relacionadas com a família e a escola (Silva, Fuzaro & Pacheco, 2016).

Entre os fatores que exercem influência no processo de escolha profissional, a família se destaca como uma instituição que pode tanto contribuir quanto dificultar tal decisão (Terruggi, Cardoso, & Camargo, 2019). Como a escolha de uma profissão ocorre em um processo ao longo da vida dos indivíduos, e não somente em um momento específico, a influência da família se torna algo inegável, uma vez que se trata de um grupo que participa da construção da identidade pessoal e profissional dos adolescentes (Terruggi et al., 2019).

Por outro lado, um fator que também merece destaque, no que tange à escolha profissional dos adolescentes, é o mercado de trabalho e sua influência no desenvolvimento das carreiras de interesse. Isso porque, conforme apontam Bartalotti e Menezes-Filho (2007), é esperado que os indivíduos escolham uma profissão que lhes garanta maior empregabilidade e retorno entre as suas opções.

O acesso a informações sobre profissões e até mesmo a conteúdos básicos, como o ensino de ciências nas escolas, também pode ser fundamental para o processo de escolha profissional, desde que aconteça de forma coerente, assertiva e acessível a todos os estudantes. Assim, o adolescente pode ter a oportunidade de considerar mais áreas de atuação profissional, ao fazer suas escolhas, diminuindo a possibilidade de frustrações futuras (Souza & Ramos, 2016).

Entretanto, um dos fatores que mais exercem influência durante a escolha profissional é a autoeficácia, ou seja, as percepções dos indivíduos acerca das próprias habilidades e capacidades, que proporcionam a base para a motivação humana, para as realizações pessoais e, também, para o bem-estar (Pajares & Olaz, 2008). A autoeficácia pode ser considerada como um determinante crítico para o modo de regulação do pensamento e do comportamento (Pajares & Olaz, 2008), pois as crenças afetam os caminhos que as pessoas escolhem e o que elas se tornam, ao organizarem, criarem e lidarem com situações diárias da vida (Bandura, 2008).

Assim, de forma mais específica, a autoeficácia para a escolha profissional se refere às crenças de um sujeito nas próprias capacidades de planejar e de se engajar em atividades relacionadas ao momento da escolha profissional (Ambiel & Noronha, 2012). Nesse sentido, o objetivo deste estudo é verificar a influência das crenças de autoeficácia e de aspectos psicossociais no processo de escolha profissional de adolescentes concluintes do ensino médio.

 

Método

Este estudo utilizou-se do método de estudo de caso, uma vez que se trata de uma investigação profunda que proporciona análise das informações de forma detalhada. Além disso, por meio do estudo de caso é possível obter uma visão global do objeto de pesquisa e reconhecer fatores que podem influenciar ou ser influenciados por ele (Gil, 2002).

Participantes

Participaram deste estudo seis estudantes que cursavam o terceiro ano regular do ensino médio em uma escola pública estadual de um município na região sul do Espírito Santo: Bento (17 anos), Elisa (18 anos), Manuela (18 anos), Melissa (17 anos), Sophia (17 anos) e Stephany (17 anos).

Instrumentos e Procedimentos

Na fase de triagem do estudo, 58 estudantes responderam a Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE-EP) que avalia a crença dos indivíduos na própria capacidade de se engajarem em atividades relacionadas à escolha profissional (Ambiel & Noronha, 2014). Ela é composta por duas seções: a primeira possui 68 itens para os quais o participante deve utilizar uma escala Likert de quatro pontos (em que 1 representa acredito pouco e 4 representa acredito muito) para responder à questão "quanto você acredita em sua capacidade de...". Já a segunda seção, também com respostas Likert de quatro pontos, é composta por um item que avalia o nível de dificuldade percebido pelo indivíduo quanto à escolha profissional no momento em que está respondendo ao instrumento (Ambiel, Noronha, & Santos, 2011).

Após correção da escala, seis participantes foram convidados a participar desta pesquisa, por terem obtido a classificação "alta" no escore geral ou classificação "baixa" em todos os fatores da EAE-EP. Assim, responderam a uma entrevista individual com roteiro semiestruturado, criada para esta pesquisa, com objetivo de investigar a percepção dos participantes quanto aos aspectos que influenciam em suas escolhas profissionais e conhecer as concepções dos adolescentes acerca de suas crenças de autoeficácia. Exemplos de itens que compõem o roteiro são estes: "Você acredita que é possível obter informações importantes sobre o mundo do trabalho mediante o convívio com outras pessoas?" e "Como você avalia a própria capacidade de se planejar e se envolver em atividades relacionadas à escolha profissional?"

Todos os aspectos éticos que envolvem pesquisa com seres humanos foram observados durante a realização deste estudo, conforme disposto na Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 466, 2012).

Análise dos Dados

Os resultados fornecidos pela EAE-EP se baseiam nos quatro fatores de autoeficácia que compõem a escala: Autoavaliação, Coleta de Informações Ocupacionais, Busca de Informações Profissionais Práticas e Planejamento de Futuro.

O fator Autoavaliação avalia as crenças das pessoas quanto às suas capacidades de fazer uma escolha profissional baseada no conhecimento que têm de suas características, como opiniões, interesses e habilidades. Coleta de Informações Ocupacionais avalia quanto o participante acredita na própria capacidade de buscar informações acerca das profissões de forma organizada e efetiva, usando diferentes estratégias e meios, como buscas na internet e participação em cursos (Ambiel & Noronha, 2014).

O fator Busca de Informações Profissionais Práticas avalia as crenças das pessoas na possibilidade de apreender importantes informações acerca do mundo do trabalho, por meio dos relacionamentos interpessoais, e se refere, principalmente, à aprendizagem mediante a observação direta de outras pessoas. Por fim, Planejamento de Futuro é o fator que avalia as crenças dos participantes em suas capacidades de levar em conta aspectos referentes ao futuro profissional, incluindo a formação e a atuação (Ambiel & Noronha, 2014).

Para cada um desses fatores, o participante tem, além do Escore Bruto gerado da pontuação obtida no instrumento, o percentil e a classificação (que pode ser alta, média ou baixa), com o Escore Geral de Autoeficácia para Escolha Profissional. Os resultados dos participantes foram organizados com base nos dados da tabela geral da escala.

Com a finalidade de análise das transcrições das entrevistas, foram elaboradas sete categorias. Para tanto, realizou-se a organização e o agrupamento por semelhança dos conteúdos citados pelos participantes do estudo. A elaboração das categorias se deu a partir da sistematização proposta por Delval (2002) que, baseado na teoria piagetiana, indica fundamentos para análise dos conteúdos obtidos com método clínico. Assim, a partir da transcrição completa de todas as entrevistas, foi realizada a leitura, a extração de conteúdos significativos, a elaboração de categorias iniciais, elaboração de categorias detalhadas e resumidas e, por fim, discussão para validação das categorias. Tais categorias estão descritas a seguir.

Categoria 1: possibilidade de mudança profissional.

A categoria "Possibilidade de mudança profissional" compreende todas as respostas que se referem à escolha de uma profissão como algo definitivo que não pode ser alterado futuramente, assim como as respostas que apontam uma preocupação com a possibilidade de tomar decisões equivocadas quanto ao futuro profissional. Exemplos de respostas incluídas nessa categoria são estas: "Porque é uma coisa, é uma escolha que eu vou levar pro resto da vida" (Melissa) e "Porque, tipo assim, você vai ter que trabalhar pelo resto da sua vida, né? Com uma profissão. Então, você seguir uma profissão que você não gosta é meio difícil" (Manuela).

Categoria 2: planejamentos para o futuro.

"Planejamentos para o futuro" é a categoria que abrange todas as respostas que consideram questões relativas à preparação para uma futura atuação profissional e se divide em duas subcategorias: "Preparação para o ENEM" e "Planejamento financeiro".

Subcategoria 2.1: preparação para o ENEM.

"Preparação para o ENEM" inclui respostas que se referem à preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou prova equivalente como um planejamento de futuro profissional, como os conteúdos apresentados pela participante Stephany, por exemplo:

Igual, tipo assim, eu vou começar sábado agora um cursinho de redação. Que é uma coisa que vai me ajudar, vai me ajudar a ser mais 100% na redação. . . . Porque no ENEM se tirar uma nota boa, é faculdade, daí já, pra mim já praticamente entrei (Stephany).

Subcategoria 2.2: planejamento financeiro.

"Planejamento financeiro" inclui respostas que apontam uma preocupação e/ou planejamento quanto a questões financeiras que influenciem o futuro profissional, e um exemplo de resposta incluída nessa subcategoria é a seguinte:

No momento eu quero conseguir isso mesmo pra mim conseguir a vaga, pra arranjar um trabalho e ter um dinheiro mesmo. Só pra ter o dinheiro, sabe? Pra depois, futuramente, eu fazer faculdade de Psicologia. . . . Pra ter dinheiro, pra ajudar a pagar a faculdade (Bento).

Categoria 3: influência do convívio social.

A categoria "Influência do convívio social", por sua vez, contém respostas que indicam a influência exercida, direta ou indiretamente, pelo convívio com profissionais ou estudantes de diferentes áreas no processo de escolha profissional. Refere-se à aprendizagem profissional de forma vicária, mediante a observação e de conversas diretas acerca do mundo do trabalho. Essa categoria também se divide em outras duas subcategorias: "Convívio com profissionais da área de interesse" e "Convívio com profissionais de áreas diferentes das de interesse".

Subcategoria 3.1: convívio com profissionais da área de interesse.

"Convívio com profissionais da área de interesse" inclui respostas que citam o convívio com profissionais e estudantes da área de interesse do participante como fator que influencia e/ou influenciou em sua escolha profissional. Segue um exemplo de conteúdo dessa subcategoria: "Na minha família também tem uns advogados, então eu sempre me interessei" (Manuela).

Subcategoria 3.2: convívio com profissionais de áreas diferentes das de interesse.

Diferentemente, a subcategoria "Convívio com profissionais de áreas diferentes das de interesse" inclui respostas que citam o convívio com profissionais e estudantes de áreas porque o participante não tem interesse atualmente como fator que influencia e/ou influenciou em sua escolha profissional:

Tipo o meu pai que é advogado, meu irmão também. . . . Mas aí eu vi que aquilo [Direito] não era realmente o que eu queria e vi que Psicologia se encaixava mais com meu perfil e resolvi optar pela Psicologia (Bento).

Categoria 4: busca por informações.

"Busca por informações" compreende todas as respostas que apontam iniciativas dos participantes na busca por informações sobre o mundo do trabalho e se divide em "Uso da internet" e "Visitas a faculdades".

Subcategoria 4.1: uso da internet.

"Uso da internet" contempla respostas que se referem a buscas realizadas através da internet, com o objetivo de conhecer mais sobre alguma profissão. Inclui uso de sites de buscas ou de notícias e o acompanhamento da rotina de alguns profissionais através de redes sociais, como uma resposta apresentada pela participante Manuela - "Eu sou a louca das coisas, assim quando eu coloco algo na minha cabeça, eu pesquiso. Aí, basicamente tudo, assim"- e outra apresentada por Stephany - "Na internet, vendo vídeo, vendo pessoas que é veterinária também, seguindo pessoas que é veterinária".

Subcategoria 4.2: visitas a faculdades.

"Visitas a faculdades" inclui as respostas que indicam a realização de visitas a faculdades ou universidades e a influência disso no processo de escolha profissional dos participantes, por exemplo: "Eu fui com a escola ano passado lá na UFES de Alegre. . . . Aí foi lá mesmo que eu mais me apaixonei, entendeu? Eu olhei assim e falei 'nossa, massa!'" (Sophia).

Categoria 5: aptidão profissional.

A categoria "Aptidão profissional" engloba as respostas que consideram a necessidade de ter características, habilidades ou interesses específicos que se relacionem com a escolha profissional a ser realizada. Inclui respostas que apontam a importância de saber reconhecer tais características em si mesmo como forma de prevenir escolhas equivocadas no futuro. Um exemplo de item dessa categoria é este:

Porque se você não tiver amor, tipo, no que você tá fazendo, você não vai fazer, tipo assim, você não vai realizar aquilo 100%, eu acho que quando a pessoa não quer e não gosta daquilo, não é nem pra ela estar ali fazendo o que ela tá fazendo (Stephany).

Categoria 6: incertezas.

A sexta categoria, "Incertezas", abrange respostas que apontam dúvidas e dificuldades quanto à realização da escolha profissional e se divide em duas subcategorias: "Dificuldade de planejar o futuro" e "Dificuldade de se autoavaliar".

Subcategoria 6.1: dificuldade de planejar o futuro.

"Dificuldade de planejar o futuro" compreende as respostas que remetem a uma dificuldade de fazer planos futuros no âmbito do mundo do trabalho, como:

Eu não consigo, tipo, tá difícil de pensar no futuro. . . . Tipo, pensar "ah, eu trabalhando em não sei o que, com emprego certo", eu não consigo imaginar porque tem que imaginar emprego e quando tiver trabalhando talvez eu consiga imaginar o que eu quero (Elisa).

Subcategoria 6.2: dificuldade de se autoavaliar.

"Dificuldade de se autoavaliar" inclui as respostas que apontam dificuldades dos participantes em identificar suas características, habilidades ou interesses que podem ter relação com seu processo de escolha profissional: "Mas mesmo assim, às vezes eu penso assim que eu não sou capaz de fazer aquilo e, é isso, sei lá. Fico meio na insegurança de tentar fazer o que eu quero e de não tentar também" (Melissa).

Categoria 7: experiência pessoal.

Por fim, a categoria "Experiência pessoal" abrange as respostas que citam experiências pessoais vividas pelos participantes e que podem influenciar em suas escolhas profissionais, como passatempos, cursos ou interesses. São exemplos de conteúdos dessa categoria: "Igual, ano passado eu fazia curso de farmácia, não é Medicina, mas já é um bom caminho pra isso, entendeu?" (Melissa); e "Porque desde criança eu tenho um, tipo assim, desde criança eu tenho cachorro e 'tals'. Aí eu comecei a pegar amor pelos bichos e 'tals', aí eu falei, aí tocou no coração, né, aquela vontade de ser veterinária" (Sophia).

 

Resultados e Discussão

Os resultados apresentados pelos participantes com base na Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE-EP) estão apresentados na Tabela 1. Para esse instrumento, quanto maior for a pontuação obtida, maior será o nível de autoeficácia para a escolha profissional percebida pelo participante (Ambiel, Noronha, & Santos, 2011). Cada participante obteve uma classificação em cada um dos quatro fatores e uma classificação no escore geral da escala.

Em relação às entrevistas, os participantes que apresentaram respostas incluídas na "Categoria 1: Possibilidade de mudança profissional" foram Bento, Elisa, Manuela e Melissa. Para esses participantes, a escolha profissional precisa ser feita mediante considerações acerca dos próprios interesses, sem a necessidade de preocupação com as opiniões de outras pessoas. Caso contrário, segundo eles, corre-se o risco de trabalhar em algo que não querem ou de se frustrarem futuramente, pois trata-se de uma decisão que devem seguir por toda a vida.

Tais resultados vão ao encontro dos achados de Costa, Oliveira e Dias (2017) que investigaram os projetos futuros de estudantes do ensino médio de uma escola pública. Ao questionarem os participantes acerca do que não gostariam de fazer, as autoras encontraram uma grande quantidade de respostas que se referiam ao medo de fracassar e ao medo de fazer aquilo que não gostam. Nesse sentido, defende-se que uma intervenção vocacional com os estudantes pode ser fundamental, já que pode auxiliá-los na identificação de recursos e significados que auxiliem na resolução de possíveis problemas futuros (Lopes & Teixeira, 2012).

A categoria 2: "Planejamentos para o futuro" se divide em duas subcategorias. Para a subcategoria 2.1: "Preparação para o ENEM", os participantes que apresentaram conteúdos incluídos foram Bento, Elisa, Manuela, Melissa, Sophia e Stephany; entretanto, apenas Manuela e Stephany demonstraram ter um planejamento mais específico quanto à preparação para esse exame que incluía curso de redação, rotina de estudos em casa e cursos pré-vestibular online e presencial.

Com exceção de Elisa, todos os outros participantes entrevistados demonstraram interesse em exercer profissões que exigem a realização de um curso superior. De forma semelhante, Costa, Oliveira e Dias (2017) obtiveram como resultado às sentenças "meus planos para o futuro" e "após a escola, eu desejo" altos índices de respostas dos participantes que gostariam de dar continuidade aos estudos em universidades ou cursos técnicos.

Atualmente os estudantes finalistas do ensino médio não são obrigados a realizar o ENEM. Entretanto, como a seleção para o ingresso no ensino superior é a principal função do exame, este, principalmente na última década, passou a assumir considerável importância na rotina de estudantes e professores (Messina & Dal Bello, 2016).

Os participantes que apresentaram conteúdos incluídos na subcategoria 2.2. "Planejamento financeiro" foram Bento e Manuela. Bento está se preparando para participar do concurso de um banco e almeja essa vaga de emprego com o objetivo de juntar dinheiro para futuramente pagar as mensalidades de um curso superior em Psicologia. Manuela, por sua vez, preocupa-se com possíveis dificuldades financeiras que possa enfrentar no futuro, quando espera morar em São Paulo. A adolescente não descarta a possibilidade de conciliar uma rotina de trabalho e estudo durante a graduação, mas no momento da pesquisa guardava uma pequena quantia de dinheiro todo mês, que recebia por fazer pequenos trabalhos, com o objetivo de se organizar para os gastos futuros.

De modo geral, há uma relação entre planejamentos de futuro e autoeficácia percebida, conforme afirmam Lopes e Teixeira (2012). As autoras analisaram os projetos vocacionais, as crenças de autoeficácia acadêmica e de desenvolvimento de carreira dos estudantes de uma escola de Lisboa. Parte dos resultados obtidos sugere também uma relação positiva entre as crenças de autoeficácia e a avaliação pessoal, uma vez que os participantes que apresentaram mais confiança em seu desenvolvimento de carreira e em seu rendimento escolar apresentaram planos mais ambiciosos para o futuro, demonstrando confiar mais em sua capacidade para o sucesso acadêmico (Lopes & Teixeira, 2012).

A categoria 3: "Influência do convívio social" também se divide em duas subcategorias. Bento, Manuela e Sophia abordaram conteúdos da subcategoria 3.1: "Convívio com profissionais da área de interesse". Bento relatou conviver com uma prima, graduanda do curso de Psicologia, e aprender bastante com ela, que, além de ajudá-lo a esclarecer suas dúvidas sobre o curso, o incentiva a conhecer melhor acerca das possíveis áreas de atuação de um psicólogo. Manuela relatou ter familiares que atuam como advogados a quem procura, quando deseja obter mais informações sobre a profissão. Além disso, a adolescente afirmou ter um amigo próximo, que ingressou recentemente no curso de graduação em Direito, que a incentiva a fazer o curso e lhe dá detalhes sobre a rotina na graduação. Sophia, por sua vez, citou uma amiga que cursa Medicina Veterinária e lhe fornece não somente informações sobre a faculdade como também materiais para ajudá-la a conhecer melhor o curso.

Bento, Elisa, Manuela, Melissa, Sophia e Stephany responderam conteúdos que foram incluídos na subcategoria 3.2: "Convívio com profissionais de áreas diferentes da que tem interesse". Bento relatou a influência exercida por seu pai na tentativa de convencê-lo a cursar Direito, e não Psicologia. O adolescente chegou a cogitar seguir a mesma profissão do pai, mas realizou mais pesquisas a respeito e optou pela Psicologia. Para esse participante, a influência do convívio se configura também como uma influência familiar, uma vez que Bento conviveu com seu pai durante toda a sua vida e a família participa da construção da identidade pessoal e profissional de seus membros, o que pode tanto contribuir quanto dificultar a escolha profissional (Terruggi et al., 2019).

Elisa citou influências mais gerais que a ajudaram a conhecer algumas profissões, mesmo que não lhe despertassem interesse. Mas a participante também citou, de forma mais específica, o convívio com sua tia que trabalha cuidando de sua avó acamada, como uma experiência que a levou a aprender um pouco sobre a profissão de cuidador de idosos, mas também a fez ter certeza de não querer seguir com essa ou nenhuma profissão semelhante no futuro. Manuela relatou, de forma breve, o convívio com a psicóloga da escola em que estudava como algo que a levou a aprender mais sobre algumas profissões. A participante disse que, à época, considerava também a possibilidade de cursar Psicologia, mas optou pelo Direito. Melissa mencionou sua mãe e suas tias como as pessoas que a ajudaram a compreender o mundo do trabalho, as dificuldades e as rotinas diárias que envolvem a vida de um trabalhador. Sua mãe trabalha como auxiliar de limpeza em uma escola, uma de suas tias como coletora de lixo e a outra em uma unidade de saúde. Sophia, de forma bem geral, associa seu conhecimento sobre o curso superior que escolheu ao convívio com outras pessoas. Por fim, Stephany descreve o convívio com outras pessoas como algo que a ajudou a conhecer novas profissões, ela destacou o exemplo da profissão de um engenheiro de Minas. Segundo a participante, esse tipo de conhecimento se fez importante para ajudá-la a ter certeza de profissões que ela não deseja seguir.

Os conteúdos da categoria "Influência do convívio" podem ser associados com a fonte de autoeficácia aprendizagem vicária, descrita por Pajares e Olaz (2008). Os referidos autores apontam que as pessoas não somente aprendem com as próprias experiências, mas também observam os erros e os acertos de terceiros. Ainda assim, a aprendizagem vicária se configura como uma fonte mais fraca do que a experiência pessoal do indivíduo, exercendo maior influência apenas em pessoas que não conhecem as próprias capacidades ou que tiveram poucas experiências pessoais anteriores (Pajares & Olaz, 2008).

A esse respeito, pode-se associar o relato do participante Bento com o que foi sugerido pelos referidos autores. O adolescente apresentou classificação alta na EAE-EP, o que indica que ele conhece e acredita em sua capacidade de se engajar em tarefas relacionadas à sua escolha profissional. Tal característica de Bento pode ter sido decisiva quanto ao modo que lidou com a influência exercida por seu pai, visto que o participante se refere a ela como importante por fazê-lo repensar sua escolha, realizar maiores pesquisas e, finalmente, fazer uma escolha profissional com mais certeza do que tinha antes. Com base nos escritos de Pajares e Olaz (2008), é possível inferir que um adolescente que não acredita na própria capacidade de fazer uma escolha profissional seria mais suscetível a mudar sua decisão em um contexto como o de Bento.

A categoria 4: "Busca por informações" também é dividida em duas subcategorias. Para a subcategoria 4.1: "Uso da internet" os participantes que apresentaram conteúdos foram Bento, Elisa, Manuela, Melissa, Sophia e Stephany. Bento afirmou que realiza buscas para entender mais sobre as profissões em geral, mas principalmente sobre a Psicologia. O participante alegou que costuma pesquisar sobre tudo aquilo que o deixa curioso. Além disso, descreve o uso da plataforma de vídeos Youtube para analisar a linguagem corporal e as expressões das pessoas, o que acredita ser um dos tipos de análise que um psicólogo faz. Elisa, diferentemente dos demais participantes, utiliza a internet principalmente para fazer buscas por trabalho e vagas de emprego e não necessariamente para conhecer mais sobre profissões. Manuela se refere a si mesma como "a louca do teste vocacional", pois realizava muitos desses testes de forma online, antes de escolher um curso superior. A participante afirmou que também utiliza a internet para conhecer melhor tudo aquilo que lhe desperta interesse. Melissa faz buscas na internet com o objetivo de conhecer universidades que ofertam o curso de seu interesse e também conhecer sobre a profissão que escolheu, como forma de diferenciar o que pode ser mito do que pode ser realidade sobre a rotina de trabalho de um médico. Sophia começou a fazer buscas através da internet, devido ao contato e à afinidade que possui, ao lidar com animais. Stephany utiliza as redes sociais para acompanhar a rotina de trabalho de médicos veterinários por meio de fotos e vídeos.

A internet foi único meio de acesso a informações sobre as profissões citadas pelos seis participantes. Todos eles têm acesso a telefone celular e internet em suas casas, além disso, Bento, Manuela e Melissa têm acesso a computador ou notebook. Entretanto, apesar da facilidade de acesso a informações úteis durante o processo de escolha profissional, a internet pode não ser o meio mais adequado para acessar tais informações. Isso porque se corre o risco de obter informações tendenciosas ou sem procedência confirmada (Barbosa & Lamas, 2012). Sendo assim, conversas com profissionais ou visitas a faculdades podem ser formas mais confiáveis de buscar informações sobre as profissões do que fazê-lo exclusivamente por meio da internet.

Em "Visitas às faculdades", incluem-se os conteúdos citados por Manuela, Melissa, Sophia e Stephany. Manuela descreveu seus planos de visitar a universidade em que deseja estudar em São Paulo e a importância de conhecer melhor, e de forma presencial, como é o funcionamento da instituição. Melissa se referiu com grande satisfação a uma visita, promovida pela sua escola, a uma instituição particular que oferece o curso de seu interesse. Sophia e Stephany mencionaram uma visita, também promovida pela escola, para um dos campi da Universidade Federal do Espírito Santo. O campus a que as participantes se referem oferta o curso de Medicina Veterinária, interesse de ambas as participantes. Sophia descreveu a visita como uma importante experiência que a ajudou a ter certeza do curso superior que escolheu, enquanto Stephany afirmou não ter feito a visita com grandes expectativas, mas que gostou de tudo o que conheceu.

À exceção do caso de Manuela, que deseja visitar a universidade por conta própria, nos demais casos citados nessa subcategoria, a decisão e o planejamento de visita às instituições partiram da escola . Assim, é importante destacar o papel significativo exercido pela escola no processo de escolha profissional, pois, conforme define a legislação vigente (Lei Nº 9.394, 1996), cabe à escola fornecer suporte para que os estudantes identifiquem suas potencialidades e possibilidades de inserção profissional. A escola em que os participantes se encontram matriculados realiza anualmente atividades de visitas a instituições de ensino superior do município e região adjacente, além de palestras com profissionais de diferentes áreas, na tentativa de favorecer a decisão profissional dos estudantes.

Além disso, o apoio do professor também pode ser fundamental para que o aluno se envolva em tarefas relativas à escolha profissional. Resultados encontrados por Lazarová, Hlaďo e Hloušková (2019) indicam que o apoio do professor pode influenciar a adaptabilidade de carreira e as perspectivas futuras dos adolescentes, assim a influência do educador pode levar o aluno a se preocupar mais com seu futuro profissional. Por esse motivo, os estudantes que percebem o apoio do professor e vivem uma transição entre a escola e o mercado de trabalho tendem a se engajar mais em atividades relacionadas à escolha profissional.

A respeito de "Aptidão profissional", todos os participantes apresentaram respostas dessa categoria. Bento afirmou que, na hora de escolher uma profissão, é preciso levar em conta se possui as habilidades necessárias para exercer as atividades diárias que a profissão exige. Além disso, o participante se referiu ao gosto por ajudar as pessoas como uma característica fundamental a todos os profissionais, principalmente aos psicólogos, e afirmou possuir essa característica. Elisa apontou que é preciso considerar os próprios limites na hora de escolher uma profissão. Para ela, a organização é uma característica necessária a todo trabalhador, mas afirmou que essa é uma característica que não possui. Para Manuela, é importante ter afinidade com área escolhida para trabalhar, escolher algo que seja compatível com suas habilidades. A adolescente apontou a ética como uma característica fundamental a todo profissional e afirmou possuir tal característica. Melissa afirmou que é "sentir ali que você tem que fazer aquilo", pois a escolha profissional depende do quanto quer algo e de como se sente em relação a isso. Sophia afirmou ser necessário que um profissional saiba trabalhar em equipe, interagindo bem com as outras pessoas, e garantiu que possui essa característica. Para Stephany, é preciso ter amor à profissão escolhida, ou não conseguirá realizar, de forma satisfatória, as atividades da profissão.

As respostas incluídas nessa categoria envolvem a forma com que os participantes avaliam a si mesmos em relação às profissões de interesse ou ao mundo do trabalho como um todo. A esse respeito, Noronha, Freitas, Piovezan e Joly (2013) indicam a importância de realização de orientação profissional, visando garantir que os adolescentes explorem, de forma efetiva, suas aptidões e características, o que pode aumentar sua confiança, ao se envolverem em atividades voltadas para o processo de escolha profissional.

A categoria 6 "Incertezas" se subdivide em "Dificuldade planejar o futuro" e "Dificuldade de se autoavaliar". Assim, para a subcategoria "Dificuldade de planejar o futuro", Elisa e Melissa apresentaram conteúdos que foram incluídos nessa subcategoria. Elisa descreveu uma dificuldade de pensar no futuro, tanto em curto prazo quanto em médio ou longo prazo, e não consegue se imaginar desempenhando atividades de alguma profissão futuramente. Melissa, apesar de apontar sua dificuldade de pensar no que pode influenciar seu futuro, não conseguiu explicar o motivo de se sentir dessa forma.

Em "Dificuldade de se autoavaliar", Elisa e Melissa também apresentaram conteúdos incluídos nessa subcategoria. Elisa tem dificuldade de identificar características, habilidades ou interesses seus que sejam associados a alguma profissão e associou tal dificuldade ao fato de não considerar nenhuma profissão específica como possibilidade de atuação no futuro. Melissa, por outro lado, afirmou ter certeza de sua escolha quanto ao curso de Medicina, mas se sente insegura quanto ao grau de exigência da profissão escolhida: "às vezes eu penso assim que eu não sou capaz de fazer aquilo e, é isso, sei lá. Fico meio na insegurança de tentar fazer o que eu quero e de não tentar também", apontou a estudante.

Elisa baseou seu processo de escolha profissional na busca por um emprego e afirmou que sua escolha depende de consegui-lo para então, a partir disso, saber se gosta ou não dele: "se eu gostar, aí é capaz de eu querer fazer aquilo, entende?". Assim, pode-se inferir que a participante considera apenas um tipo específico de experiência pessoal como fonte válida para o desenvolvimento de suas crenças de autoeficácia, o que faz com que Elisa dependa das oportunidades de emprego para se engajar em atividades relacionadas à escolha profissional.

Vale destacar que as participantes Elisa e Melissa apresentaram classificação baixa em todos os fatores da EAE-EP. A subcategoria "Dificuldade de planejar o futuro" pode ser associada com os resultados obtidos para o fator "Planejamento de Futuro", que indicam dificuldades para pensar e agir acerca de uma futura inserção no mercado de trabalho (Ambiel & Noronha, 2014). Já a subcategoria "Dificuldade de se autoavaliar" pode ser associada com o fator "Autoavaliação", cujos resultados apresentados pelas participantes indicam, entre outros aspectos, que ambas tendem a apresentar dificuldades para se descreverem (Ambiel & Noronha, 2014).

Pessoas com baixos níveis de autoeficácia tendem a classificar as atividades como difíceis, mesmo antes de executá-las, o que pode levar a hesitações, ao iniciarem uma tarefa por se considerarem incapazes de realizá-la (Pajares & Olaz, 2008). As crenças de autoeficácia influenciam diretamente na forma com que as pessoas se organizam e lidam com alguns aspectos da vida, o que pode afetar as escolhas que fazem e o que se tornam a partir delas (Bandura, 2008). Melissa, apesar de identificar seu interesse pela carreira médica, demonstra dúvidas quanto à própria capacidade de ingressar no curso superior de Medicina. Devido ao seu baixo nível de autoeficácia, a participante não se sente competente e confiante para investir em atividades que a direcionem a essa carreira, não conseguindo planejar seu futuro profissional.

Ambas as participantes identificaram seus processos de escolha profissional como insatisfatórios. Elisa admitiu que conhece pouco sobre as profissões e que deveria se informar mais sobre as possibilidades de atuação profissional. Melissa, por outro lado, apontou que gostaria de conversar com um profissional da área de seu interesse para diminuir suas dúvidas. Assim, a falta de informação sobre as profissões se apresenta como um aspecto de considerável influência para a escolha profissional das adolescentes.

Durante a entrevista, Elisa mencionou diversas vezes a profissão de professor, para exemplificar sua falta de afinidade com esse trabalho. A forma com que a participante se referiu somente ao trabalho do professor como possibilidade de atuação profissional pode também indicar um acesso restrito a informações por meio de uma única fonte sobre as profissões, uma vez que os professores são os profissionais com quem ela mais tem contato diário.

Por fim, para a categoria 7 "Experiência pessoal", Manuela, Melissa, Sophia e Stephany apresentaram conteúdos que foram considerados. Manuela descreveu a decisão de sua mãe em continuar a estudar como um fator de grande influência quanto às suas escolhas profissionais e afirmou que a mãe sempre a incentivou a estudar e buscar aquilo que deseja. A participante apontou também a influência dos seriados de televisão sobre investigação criminal a que assiste, pois, segundo ela, despertou seu interesse para a área de Direito e a levou a fazer pesquisas, a fim de conhecer mais sobre a profissão.

A experiência de Manuela junto de sua mãe vai ao encontro do que concluíram Magalhães, Alvarenga e Teixeira (2012) quanto à influência, mesmo que em pequena escala, dos estilos parentais no desenvolvimento vocacional, visto que a participante se referiu à sua mãe, também em outros momentos da entrevista, como alguém que a incentiva a cursar o ensino superior e a organizar suas metas e sonhos de forma mais tangível.

Melissa também citou seriados de televisão como fator que influenciou seu interesse profissional. Além disso, a adolescente falou de sua experiência, ao fazer um curso de auxiliar de farmácia que concluiu no último ano, o que a fez ter certeza de sua escolha de trabalhar futuramente na área de saúde. Sophia associou sua escolha profissional ao amor que sente pelos animais e ao seu desejo de cuidar deles, por já ter visto muita violência contra eles e também por ter convivido com cachorros durante a vida toda. De forma semelhante, Stephany afirmou que sempre gostou de animais, que sua mãe a autorizava a adotar e cuidar de cachorros abandonados e que outras pessoas sugeriram, desde a sua infância, a possibilidade de se tornar veterinária, o que a levou a conhecer melhor a profissão e a escolhê-la para desempenhar no futuro.

A experiência pessoal é a fonte de autoeficácia que exerce maior influência nos indivíduos (Pajares & Olaz, 2008). As pessoas interpretam os próprios resultados cada vez que realizam alguma atividade e, por meio deles, desenvolvem suas crenças acerca da capacidade de se engajarem em atividades subsequentes, agindo de acordo com as crenças que desenvolveram (Pajares & Olaz, 2008). Desse modo, os resultados interpretados como bem-sucedidos tendem a aumentar a autoeficácia, da mesma forma que aqueles interpretados como fracassos tendem a reduzi-la (Pajares & Olaz, 2008). As experiências descritas por Manuela, Melissa, Sophia e Stephany foram interpretadas pelas participantes como resultados bem-sucedidos, uma vez que as incentivou a se engajarem em atividades subsequentes que envolvem o processo de escolha profissional.

 

Considerações finais

Este estudo teve o objetivo de verificar a influência das crenças de autoeficácia e de aspectos psicossociais no processo de escolha profissional de adolescentes concluintes do ensino médio. Os resultados encontrados indicam que a autoeficácia atua como um fator de considerável influência no processo de escolha profissional.

As concepções dos participantes acerca das próprias capacidades de se engajarem em atividades relacionadas à escolha profissional vão ao encontro dos resultados obtidos por meio da EAE-EP. As participantes que apresentaram classificação baixa nesse instrumento demonstraram dificuldade de associar suas características e aptidões ao que é esperado de um profissional. Isso indica também a necessidade de maior acesso a informações sobre o mundo do trabalho e as possibilidades de atuação profissional.

Por outro lado, os participantes que apresentaram classificações altas na EAE-EP demonstraram mais segurança ao identificarem seus interesses profissionais e descreverem experiências pessoais que os ajudaram na decisão profissional. Visitas a faculdades e a influência do convívio foram aspectos citados por esses adolescentes como fundamentais ao processo de escolha profissional.

Foi possível identificar também a relação entre as experiências pessoais dos adolescentes e suas crenças de autoeficácia. Além disso, identificou-se a necessidade de fornecer informações sobre o mundo do trabalho de forma contínua, uma vez que o maior acesso à informação esteve vinculado a maiores níveis de autoeficácia para a escolha profissional. Assim, a inserção de práticas de orientação profissional dentro do ambiente escolar por meio de políticas públicas educacionais pode favorecer as decisões profissionais dos estudantes, ao garantir acesso a informações e o acompanhamento do processo de transição entre a escola e o mercado de trabalho.

Ademais, cabe à escola, enquanto um dos contextos privilegiados que podem favorecer o desenvolvimento dos adolescentes, a realização de atividades que propiciem a identificação, por parte dos estudantes, de suas possibilidades de atuação profissional de acordo com as próprias aptidões e interesses. Além disso, o papel da família se faz fundamental no fornecimento de informações, no apoio às decisões profissionais do adolescente e no esclarecimento de possíveis dúvidas.

Considera-se importante a realização de novos estudos com essa temática, tendo por participantes estudantes de escolas particulares, de outras séries do ensino médio ou com contextos sociais diferentes do que foi investigado neste estudo. Além disso, o uso de instrumentos que avaliem aspectos pessoais dos indivíduos, como a personalidade, pode ser interessante porque se trata de aspectos que interferem diretamente no desenvolvimento das crenças de autoeficácia.

 

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Endereço para correspondência:
Letícia dos Santos Fonseca
leticiaasfonseca@gmail.com

Recebido em: 16/11/2020
Aceito em: 26/02/2021

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