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Revista do NUFEN
versão On-line ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.4 no.2 São Paulo dez. 2012
ARTIGO
Ciência e pesquisa centradas na pessoa: três modelos e seus efeitos na condução da investigação acadêmica
Person-centered science and research: three models and its effects on conducting academic investigation
Yuri de Nóbrega SalesI; André Feitosa de SousaI; Francisco Silva Cavalcante JuniorII
I Universidade Autónoma de Lisboa
II Universidade Federal do Ceará-UFCE
RESUMO
Este artigo busca delinear, em uma perspectiva conceitual que se vale de aportes históricos, três modelos metafórico-imagéticos de ciência que são distintos e que podem ser derivados da teoria de Carl Rogers. Enquanto os dois primeiros foram consolidados antes de 1987, ano do seu falecimento, o terceiro, aqui apresentado apenas de forma introdutória, pode ser considerado um desafio póstumo originado do conceito de Tendência Formativa, proposto pelo autor já na década de 1970. Parte-se da compreensão que a Abordagem Centrada na Pessoa herdou uma dimensão científica e uma postura acadêmica que devem ser atualizadas na contemporaneidade ou descartadas enquanto elementos defasados. Para realizar tal julgamento, entretanto, é preciso conhecer a racionalidade imagética que embasa estes dois modelos consolidados de ciência, tarefa brevemente realizada neste artigo, e conceber as possibilidades metodológicas provindas do conceito de tendência formativa.
Palavras-chave: terapia centrada no cliente; ciência; métodos de pesquisa; construção de conhecimento;
ABSTRACT
This article aims at discussing three distinct metaphorical-imagetic models for describing scientific activity, based in an approach which recovers historical references as to provide conceptual framework inspired on Carl Rogers´ theory. While the first two were developed before his death in 1987, the third was mentioned here in an introductory view, considered a post-mortem challenge inherited by the concept of Formative Tendency as conceived during the 1970s. Understanding the Person Centered Approach as the heir of a particular scientific dimension and academic posture the authors argue how to actualize those templates for contemporary days as to avoid dismissing those elements completely. In order to apply adequate criterias, it is urgent to acknowledge the imagetic rationally supporting those two previous scientific models and imagine the methodological possibilities related with the concept of Formative Tendency.
Keywords: Client-Centered Therapy; Science; Research Methods; Knowledge Building;
Resumen
Este artículo intenta esbozar, desde una perspectiva conceptual que se nutre de aportaciones historicas , tres modelos metafóricos de la ciencia que son distintos y se pueden derivar de la teoría de Carl Rogers. Mientras que los dos primeros se consolidaron antes de 1987, año de su muerte, el tercero, que aquí se presenta sólo de manera introductoria, se puede considerar un desafío póstumo originado del concepto de tendencia formativa, ya propuesta por el autor en los años 1970. Se inicia con el entendimiento de el enfoque centrado en la persona hereda una dimensión cientifica y una postura acadêmica que deben ser actualizadas en la contemporaneidad o retrasado como elementos obsoletos. Para hacer tal juicio, sin embargo, se debe conocer la racionalidad imagética que subyace de estos dos modelos consolidados de la ciencia; una tarea que se realiza brevemente en este artículo, y concebir posibilidades metodológicas del concepto de tendencia formativa.
Palabras clave: terapia centrada en el cliente; ciencia; construción de conocimiento; métodos de investigación.
Contextualizando Imagens
Para os historiadores da Psicologia no Século XX, é inegável a contribuição do pesquisador e psicoterapeuta norteamericano Carl Rogers para o desenvolvimento e difusão da Psicologia científica, tanto pelos métodos de pesquisa desenvolvidos por este pensador, como por suas descobertas no campo da psicoterapia, processos grupais, mediação de conflitos e outras atividades do campo psicológico.
Rogers está, portanto, localizado na genealogia dessa Psicologia Moderna, como um cientista de percurso acadêmico notável que fez avançar os pressupostos que herdou da ciência que lhe foi anterior, ao tempo em que contribuiu para formulações e demandas do seu tempo. Entretanto, para o próprio Rogers, como podemos constatar por meio da sua biografia, a relação com a ciência sempre foi caracterizada por certo traço de ambiguidade e tensão.
Nas décadas mais recentes, este "desconforto" originalmente herdado de Rogers, migra para uma desvinculação de profissionais da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) aos cenários e disputas acadêmicas. No que diz respeito especificamente ao caso do Brasil, parece que esta abordagem está perdendo sua vitalidade científica e inserção nas atividades da vanguarda de pesquisa e atualização de conhecimentos.
Acreditamos que uma parcela desta "diáspora acadêmica" deve-se à incompreensão da herança científica da ACP, bem como à dificuldade de contribuir, transformar e subverter este modo histórico de relacionar-se com a ciência, quiçá empoeirado de afetos enrijecidos e ideias residuais daquela curiosidade endêmica que Rogers e seus companheiros outrora encontravam na prática da pesquisa científica.
Buscando, por conseguinte, desvendar alguns pontos conceituais dos modelos de ciência apoiados e/ou praticados por Rogers nas décadas passadas e motivados com a possibilidade de vislumbrar uma nova experiência científica e de pesquisa na contemporaneidade, pretendemos neste artigo discorrer sobre três modos de expressões ou metáforas científicometodológicas de pesquisa utilizadas na tradição da Psicologia Humanista, especialmente aquelas vinculadas à história da Abordagem Centrada na Pessoa.
Cada metáfora é um conjunto imagético e estruturante de pressupostos sobre o que é a natureza do ser humano e o conhecimento produzido por ele. Estas imagens formam o território implícito, numa combinação de afetos, ideias e crenças, de toda concepção metodológica. As duas primeiras referem-se às racionalidades e aos modelos já estabelecidos na tradição da Terapia Centrada no Cliente, sendo a terceira, para efeito desse trabalho, apenas indicada enquanto esboço de uma trajetória surgida a partir de desafios teóricos e metodológicos engendrados pelas experiências e conceitos presentes na última fase do pensamento de Rogers1.
A Metáfora do Minerador
A mineração, de acordo com Bauman (2005), tornou-se o símbolo da postura humana durante a Modernidade. Nesta atividade,
O novo é criado no curso de uma meticulosa e impiedosa dissociação entre o produto-alvo e tudo mais que se coloque no caminho de sua chegada. Preciosos ou de pouco valor, metais puros podem ser obtidos apenas removendo-se a escória e o borralho do minério. E só se pode chegar ao minério removendo-se e depositando-se camada após camada do solo que impede o acesso ao veio – tendo-se primeiro cortado ou queimado a floresta que impedia o acesso ao solo [...] A mineração é um movimento de mão única, irreversível e irrevogável. A crônica da mineração é um túmulo de veios e poços repudiados e abandonados. A mineração é inconcebível sem o refugo (p.31, grifo nosso)
A ciência tomou uma forma particular da atividade humana ocidental, da qual até hoje somos herdeiros, em certa medida cúmplices de uma visão de Modernidade. René Descartes, eminente filósofo do pensamento Ocidental, buscou concretizar, com ímpeto e destreza conceitual, o ideal de uma verdade universal, capaz de garantir um conhecimento seguro, formulando, para tanto, um método com essa finalidade.
Esta cognição experimental, seguindo o significado etimológico da palavra (método enquanto "caminho"), visava a uma descrição dos pressupostos e dos procedimentos necessários para alcançar-se o conhecimento verdadeiro.
Para Descartes, "filosofia e pensamento metódico coincidem, o que equivale a dizer que na maioria dos casos a verdade não se revela espontaneamente, mas, antes, deve ser garimpada por toda parte pelo entendimento" (Silva, 2004, p. 12, grifo nosso). Obviamente, dado o esforço de todo trabalho de mineração, é preciso produzir o refugo (separar a impureza) para chegar-se ao objetivo almejado.
Ainda no caso de Descartes, os elementos humanos que se tornaram refugo desta empreitada em nome da verdade, no que concerne especificamente a prática científica, foram: o papel da corporalidade na produção do conhecimento, os pensamentos e sentimentos pessoais do pesquisador no processo de pesquisar, a metáfora de um objetivo científico estável a ser alcançado.
A partir deste marco de fundação da ciência moderna, deste horizonte, portanto, na produção de refugos, forjado principalmente por Descartes e, ato contínuo, aprimorado em Newton, novos desenvolvimentos científicos e metodológicos foram sendo gestados e difundidos. Um destes é o Positivismo (dito clássico), bastante conhecido na história da ciência. Apesar das diferenças existentes entre os postulados de Descartes e do Positivismo, o primeiro traz para si os princípios de uma verdade universal, configurada a partir de interações mecanicistas, capaz de ser apreendida em sua ordenação natural, por um conhecedor "purificado" de seus elementos subjetivos, derivando, em grande medida, estes componentes de uma Filosofia Cartesiana.
No caso do Positivismo, entretanto, o método para obter-se essas condições é científico e não propriamente filosóficometafísico, concluindo que, através da observação e da explicação, "tudo que pudesse ser provado por meio de experiências seria científico" (Chaves Filho & Chaves, 2000, p.72). É importante fazer esse pequeno retrospecto sobre o papel de Descartes e do Positivismo na ciência moderna, ainda que bastante sucinto e superficial, já que foi no contexto de uma ciência psicológica de orientação positivista e de cunho funcionalista, amplamente difundida nas universidades norte-americanas, que Rogers primeiramente utilizou o método científico para corroborar a sua inovadora abordagem em aconselhamento, então denominada de não-diretiva, no surgir dos anos 1940.
Discorrendo sobre a teoria da Terapia Centrada no Cliente, Messias & Cury (2006) afirmam que a racionalidade conceitual desta prática preservou "elementos de uma visão positivista sobre as relações interpessoais, compreensíveis à luz da formação acadêmica de Rogers, fortemente sustentada em pilares de uma tradição anglo-saxônica funcionalista" (p.355).
As várias descrições das pesquisas feitas por Rogers, guiadas por referenciais positivistas, estes, por sua vez, alicerçados na metáfora do minerador, demonstram que ideias como objetividade e neutralidade do pesquisador estavam presentes nas suas primeiras incursões científicas, principalmente nas investigações que concernem ao estudo da psicoterapia.
As pesquisas com a Técnica Q, adaptadas por Rogers para compreender as relações entre o self e a sua imagem idealizada, possuíam uma base explicitamente positivista, semelhante às várias outras pesquisas desenvolvidas no campo da Psicologia norte-americana, o que possibilitou que a Terapia Centrada no Cliente adquirisse um status de cientificidade em seu ambiente acadêmico da época (Hall & Lindzey, 1984).
Entretanto, já em 1953, no clássico texto "Pessoa ou ciência: uma questão filosófica", posteriormente inserido no livro Tornar-se pessoa (Rogers, 1997), Rogers explicita o confronto que vivenciava entre uma perspectiva científica, baseada nesta metáfora do minerador, e a sua experiência direta como psicoterapeuta, sustentada em outro campo relacional.
Na verdade, este modelo de ciência aplicado por Rogers à época anula a experiência, elemento chave da sua Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers, 1997) e da atividade do psicoterapeuta- Sherpa (Bowen, 2004), tornando-a meramente um dos refugos liberados. Não casualmente, Rogers vivia este conflito entre duas partes de si mesmo (os compromissos do terapeuta e do cientista): uma vez terapeuta, sua experiência era marcada por momentos de inteira disponibilidade para com o outro, abandono de si na relação interpessoal e o sentimento de interconexão/integração; enquanto, por outro lado, a partir de suas próprias premissas e requisitos de rigor metodológico, seu papel de cientista exigia controle, análise, repetição, observação e experimentação.
A interpretação de Rogers sobre esta dualidade é que ela apenas se torna possível quando a Ciência é grafada com letra maiúscula, como uma entidade metafísica, ou uma instituição por si, depositário abstrato de toda a verdade do mundo – que é justamente o que faz a metáfora do minerador.
A "verdadeira" ciência, entretanto, aquela com letra minúscula e de qualidades congruentes, é feita por pessoas-cientistas e, deste modo, qualquer conhecimento produzido em seu território de transparência surge a partir da própria experiência do pesquisador. Esta conclusão pode ser observada até mesmo nas formas mais sutis de comportamentos do pesquisador, em vista, por exemplo, de optar por um método de investigação e não outro.
Dito de outra maneira, o processo de terapia e a produção de verdades científicas estão encarnados no homem através de experiências concretas e dependem da abertura/disponibilidade dele para adentrar a sua própria existência. Como afirma Rogers (2008), "ciência não é uma coisa impessoal, mas simplesmente uma pessoa vivendo uma outra face de si mesma" (p. 141). Obviamente, esta reconsideração sobre a atividade científica desloca Rogers para outro território imagético e metafórico de ciência que não aquele tradicionalmente positivista. Simultaneamente a este desconforto em relação à "estreiteza experiencial" da ciência, novos conceitos e racionabilidades foram emergindo na ACP, alterando drasticamente, no âmbito propriamente teórico, essa relação entre um positivismo científico e uma perspectiva de trabalho profundamente centrada na pessoa:
Apesar de confirmar a validade do método Positivista, Rogers iniciou gradativamente questionamentos com relação a sua utilização e às opções dentro das quais ele é praticado, tendo como referência a sua experiência como terapeuta e a dimensão múltipla, complexa e paradoxal do processo terapêutico [...] À medida que Rogers vai abrangendo toda a amplitude dos temas que vem trabalhando, vai gradativamente formulando conceitos mais amplos que, vinculados ao seu processo experiencial, vai transformando, ainda que de forma bastante inicial, segundo ele próprio, sua visão de mundo, de realidade e de ciência. Este processo vai sendo descrito através de novas formulações que demonstram uma tentativa de libertação dos postulados positivista e fundacionistas, como é o caso da formulação do conceito de Tendência Formativa (Barreto, 1999, p.35 e 38, grifo nosso)
Neste sentido, referindo-se ao surgimento de várias metodologias de pesquisa inovadoras que então foram desenvolvidas na segunda metade do século XX e que pretendiam inserir a experiência do pesquisador e do sujeito pesquisado no cerne dos métodos vigentes, o próprio Rogers afirmou que o embate entre os positivistas e os pós-positivistas fora encerrado (O´Hara, 1985). Contudo, sem o obstáculo do positivismo e de sua correspondente metáfora do minerador, em que direção a interseção entre ciência e a Abordagem Centrada na Pessoa estava encaminhando-se à época?
A Metáfora do Agricultor
Um teórico importante nesse processo de mudança de concepções científicas e metodológicas na ACP foi Michael Polanyi (Coulson & Rogers, 1973). A partir de sua conceituação sobre a presença ubíqua de uma dimensão humana tácita em toda forma de conhecimento, ou seja, de aspectos do saber que não são passíveis de descrições ou explicações2, esse filósofo do conhecimento sublinhou a importância do pesquisador, enquanto elemento ativo do processo de conhecer, inclusive, e sobretudo, no empreendimento científico.
Polanyi afirmava que também o nosso corpo exercia um papel essencial na produção do saber, atuando como elemento da dimensão tácita a partir da atividade de indwelling, ou seja, a atividade de subsidiariamente residir e deslocar-se, a partir de uma qualidade corporal, na experiência do outro (Cavalcante Junior, 2008).
De uma forma prática, sua teoria teve conseqüências ao defender o papel essencial do pesquisador na ciência, tanto no que concernem as escolhas referentes às etapas de pesquisa, quanto ao próprio processo de descoberta científica. Polanyi buscava construir uma teoria do conhecimento que comprovasse a presença de valores pessoais na ciência, permitindo a formação de uma sociedade de exploradores seguindo tacitamente suas intuições como elementos legitimados do conhecimento, desmantelando, assim, a premissa ilusória de um conhecimento científico puramente objetivo (Gill, 2000) – leia-se, aqui, a metáfora do minerador.
A partir de uma filosofia da ciência póscrítica elaborada por Polanyi (1962), dentre outros movimentos de contestação epistemológica daquele momento do século XX, ocorridos particularmente no bojo das ditas ciências naturais, pesquisadores humanistas puderam elaborar métodos de pesquisas qualitativos que buscassem compreender os fenômenos a partir da perspectiva pessoal dos sujeitos investigados onde a experiência do próprio pesquisador, em maior ou menor grau, também exercesse um papel ativo neste processo de investigação.
Muitos destes métodos já foram utilizados inúmeras vezes e possuem aplicações suficientemente descritas, além de pesquisas que discutem acerca da pertinência e validade, capazes de comprovar sua eficácia (Marques-Teixeira, 2004). Utilizando em grande parte as teorias e pensamentos de Michael Polanyi, juntamente com a teoria de Eugene Gendlin, um renomado psicólogo humanista, que teve participação ativa na fundação deste movimento, criou o Método Heurístico (Moustakas, 1990). Tendo como critério sua utilização pelos acadêmicos de Psicologia Humanista, podemos afirmar que o método heurístico de Clark Moustakas tornou-se um dos mais consistentes nos objetivos da Psicologia Humanista. De acordo com Douglas & Moustakas (1985),
A pesquisa heurística é uma busca pela descoberta do sentido e da essência em experiências humanas significativas. [O método] instala um processo subjetivo de reflexão, exploração, peneiramento e elucidação da natureza do fenômeno sob investigação. Seu propósito último é clarificar um problema, questão ou tema escolhido (p.40, tradução nossa).
Apesar de Moustakas (1990) referir-se ao Método Heurístico mais como uma atitude do que um método, basicamente o caminho heurístico oferece um trajeto sistematizado para o engajamento num processo de autodescoberta que possibilita descrição e análise dos dados produzidos: toda pesquisa heurística parte de uma pergunta ou dilema existencial, apreendido e delineado por meio dos difusos elementos da experiência presentes na consciência, para, então, alcançar a resolução ou a compreensão dessa questão.
Por ser um método baseado em princípios autobiográficos que buscam delinear os significados de determinada experiência humana pessoal, a prioridade de sua epistemologia está em permitir, em termos metodológicos, a liberdade do pesquisador, ao invés de impor regras ou mecanismos que impediriam o fluxo de autodescoberta.
O método heurístico não busca um fim específico ou a priori considerado como universalmente válido, na medida em que se apresenta como um guia técnico para potencializar a emergência da autocompreensão de um fenômeno. Ainda para o Método Heurístico, é nas imediações do self, enquanto espaço de mobilização afetiva e intuitiva, que irão ser desenvolvidas as atitudes de auto-exploração e auto-diálogo, buscando compreender camadas pessoais significativas de determinado fenômeno pesquisado.
É necessário para isso um movimento constante de apreensão do fenômeno e de retorno ao (auto-)diálogo – seja este feito pelo pesquisador consigo mesmo ou deste com os co-pesquisadores3 – para verificar os novos elementos que emergiriam durante o encontro com o fenômeno pesquisado. Nessa circularidade, busca-se descrever novos sentimentos, pensamentos e sensações que foram registrados no decorrer do processo de pesquisa.
Para Sela-Smith (2002), o objetivo do método heurístico é uma espécie de jornada interior (self-search) com finalidade metodológica, produzindo um mapeamento fluído dos sentimentos e processos experienciais do próprio pesquisador. Holanda (2006) parece concordar com este entendimento, quando afirma que a principal característica do referido Método é o seu foco na auto-descoberta, ou seja, no papel do self do pesquisador no decorrer de todo o processo científico4.
O método heurístico é, portanto, uma plataforma atitudinal que visa ao aprofundamento da relação de si (self do pesquisador) consigo mesmo e de si com os outros, sempre partindo do ponto de referência interno do pesquisador. Trata-se de um processo primordialmente de crescimento, a partir de uma jornada por excelência para descoberta de novos significados, que, por sua vez, possibilitariam a emergência de significados adicionais no futuro.
Há uma premissa implícita, neste método, de um processo de crescimento progressivo em que, paulatinamente, ocorreria maior apreensão dos significados da experiência do pesquisador e dos copesquisadores. Toda mudança, ou insight, é abalizada, avaliada e integrada a partir de elementos do próprio self que servem como demarcadores processuais.
Em termos imagéticos, poderíamos comparar este processo a um alpinista subindo uma montanha: cada nova descoberta é um calço encravado na fenda da rocha, dificultando uma queda brusca, ou não programada, e auxiliando o escalador a seguir seu caminho mais ou menos planejado.
Ainda que mudanças de percurso possam ocorrer – e elas realmente ocorrem, muitas vezes produzindo espanto, medo e insegurança – estas sempre serão delimitadas e referenciadas pelos aspectos significativos (calços) fixados e estabelecidos anteriormente pelo self (do alpinista); ou seja, trata-se de um movimento orgânico em que o processo anterior, se não determina, pelo menos conduz fortemente o movimento posterior, a partir da exigência de integração num todo inter-relacionado.
Neste sentido, o self do pesquisador é o ator, diretor, palco e o próprio cenário de atuação neste que é um processo de autoconstrução, como identifica o próprio criador do Método Heurístico:
Como pesquisador, eu sou a pessoa que é desafiada a apreender o significado das coisas e a dar a estes significados um movimento vital. Eu ofereço a luz que guia a explicação de algo e o conhecimento deste algo. Quando entendo seus elementos constituintes algo emerge como sólido e real (Moustakas, 1990, p.12, tradução nossa)
Em termos metafóricos, esta expressão heurística poderia, em muitos pontos, aproximar-se da postura do agricultor sedentário, no exercício de cultivar a terra, em um processo sempre conectado e crescente de integração com a natureza. Nessa atividade de cultivo, pode haver mudanças no plantio, como pressupõe o modelo de rotatividade, porém de forma integrada e de acordo com a situação do solo e necessidades do agricultor.
Se o modelo de mineração é caracterizado por uma unidirecionalidade, o modelo de agricultura apoia-se na perspectiva de um movimento integrado e orgânico. Bauman (2005), discorrendo sobre a postura do agricultor, afirma que a agricultura:
Devolve deliberadamente o que extrai da terra [...] representa a continuidade: um grão é substituído por outros grãos, uma ovelha dá luz a mais ovelhas. O crescimento como ratificação e reafirmação do ser ... um crescimento sem perdas ... nada se perde no caminho. À morte segue-se o renascimento. Não admira que as sociedades de agricultores tivessem como certa a eterna continuidade dos seres (p. 30-31, grifos nossos).
No método heurístico, o trânsito de mudanças, reguladas por abalizadores do self, numa apropriação crescente da vida a partir dos significados atribuídos pelo pesquisador, fomenta um crescimento e continuidade que se assemelha a do agricultor, em eterno processo de integração: significados dão origem a novos significados, que alteram os antigos, que criam novos significados e assim sucessivamente, seguindo um caminho de atualização dos potenciais.
Trata-se de um circuito de movimento onde não há propriamente perdas ou mortes, já que o organismo exerce sua capacidade de produzir sentido, este sendo nada mais que um vínculo que ata elementos díspares, de forma contextualizada e integrada, a partir de uma auto-referência (organísmica, no caso).
De fato, o método heurístico, por meio da fundação de uma metáfora da agricultura como processo de conhecimento, possibilitou a criação de etapas metodológicas e conceitos para o andamento de uma pesquisa que se interesse pelos significados sempre moventes (atualizantes) de caminhos experienciais no self. Essa perspectiva parece estar intimamente relacionada, conforme denominações da ACP, aos aspectos da personalidade5.
Entretanto, desde o final da década de 1970, Rogers já havia formulado o conceito de tendência formativa, ampliando e modificando uma premissa de alteridades geológicas que já estava implícita no conceito de tendência atualizante, embora muitas vezes esquecida: a experiência não está circunscrita a personalidade, possuindo, na verdade, laços de co-constituição com outros arranjos vitais dentro e fora do organismo, processos com expressões mais amplas e seus modos complexos de constituir relações. Como afirma Sousa (2008),
Muito embora conteúdos, demandas, dificuldades e bloqueios da personalidade estejam inseridos nos processos de atualização pessoal e de auto-realização, a expressão total (ou funcionamento pleno) da natureza humana e seu potencial de Vida não estão restritos as configurações, às motivações e às exigências dessa personalidade (p.97)
É preciso, então, contextualizar a importância do conceito de tendência formativa e os desafios e possibilidades que ele apresenta às questões metodológicas em pesquisa na ACP, já que Rogers afirmou explicitamente que a tendência formativa e a tendência atualizante eram as pedras basilares da Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers, 1983).
Para o criador da ACP (Rogers, 1983),
Quando criamos um clima psicológico que permite que as pessoas sejam – sejam elas clientes, estudantes, trabalhadores ou membros de um grupo – não estamos participando de um evento casual. Estamos tateando uma tendência que permeia toda a vida orgânica – uma tendência para se tornar toda a complexidade que um organismo é capaz. Em uma escala ainda maior, creio que estamos sintonizando uma tendência criativa poderosa, que deu origem ao nosso universo, desde o menor floco de neve até a maior galáxia, da modesta ameba até a mais sensível e talentosa das pessoas [...] Este tipo de formulação é, para mim, uma base filosófica para a Abordagem centrada na Pessoa. Ela justifica meu engajamento com um jeito de ser que é afirmativo da vida (p.134).
A partir da elaboração deste conceito, Rogers (1983) menciona: "nossas experiências na terapia e nos grupos, está claro, lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual" (p. 131). Fala-se, então, de posturas mais abertas ao desconhecido, ao mistério, à ambiguidade, às incertezas (Wood, 2008); de abertura ao fluxo vital da Vida e intumescência (Sousa, 2008); de presença, silêncio e flexibilidade para novas criações da vida (Sales, 2008); de aspectos orgânicos/humanos e inorgânicos/nãohumanos previstos no conceito de tendência formativa, refletindo sobre como ultrapassar a percepção da personalidade e das fronteiras do corpo programado (Neville, 1999); de múltiplos sistemas e sua complexidade (Kriz, 2006); fala-se sobre interdependência (Cornelius-Whyte, 2007); enfatiza--se, enfim, sobre o humano como resultado de interações e processos vitais amplos e constantes (Ellingham, 2006).
Richard Bryant-Jefferies (2005) interpela-nos com a experiência concreta, sob um prisma eminentemente da Tendência Formativa:
O quão amplo podemos conduzir a abordagem centrada na pessoa em suas aplicações? (...) O que significa ter uma sensibilidade empática em relação às árvores e os pássaros, os oceanos, as montanhas? O que mudaria se os seres humanos em um grande número sentissem, genuinamente, um apreço positivo incondicional de coração inteiro a respeito do reino animal? O que aconteceria se permitíssemos a nós mesmos, em massa, experienciar abertamente o que está presente dentro de nós quando enxergamos uma floresta ser derrubada, ou um vazamento químico lançado em nossos rios e oceanos, permitir a nós mesmos sentir a solidariedade intrínseca que temos porquanto, nós, também, somos produtos da natureza e dirigidos a frente pelo aspecto humano de tendência formativa universal? (...) Esse é, para mim, o coração do centramento na pessoa (p. 8, tradução nossa).
Essas qualidades da experiência formativa acima descritas trazem-nos um sentido de multi-direcionalidade da experiência, reconhecendo que essas inúmeras direções não apenas partem do self, como uma tentativa de apreender as marcas feitas em si (simbolizadas) a partir do mundo, mas da própria vida que marca e diretamente estabelece trocas com o organismo.
Na verdade, o organismo pode ser compreendido como a vida em uma configuração singular e específica de múltiplas interações passíveis de mudanças. Daí as descrições que versam sobre incerteza e amplitude como elementos constituintes da ACP, pois as experiências formativas não restringem seu escopo aos limites da pessoalidade e sua estrutura (personalidade): novas formas e movimentos são criados a cada momento relacional-experiencial, trazendo novas formatividades, novas expressões de configurações diferentes da anteriormente apresentada; enfim, novos tablados experienciais que arregimentam condições distintas para a atualização de potenciais totalmente imprevisíveis.
Portanto, de acordo com os conceitos e objetivos do Método Heurístico, anteriormente apresentados, pode-se afirmar que as experiências formativas não podem ser investigadas por este método, já que seu escopo é a dinâmica muito específica da personalidade, dentro de uma matriz metafórica do orgânico e da agricultura.
É preciso, então, outra postura que não seja exclusivamente a do agricultor. Propomos, então, uma terceira metáfora/imagem para pensarmos um modelo de ciência que leve em consideração o conceito de tendência formativa: uma postura de "jardineiro que contempla a harmonia preconcebida para além da barreira do seu jardim privado" (Bauman, 2009, p.2).
Em busca da metáfora das jardinagens formativas na ciência
A partir das noções metodológicas já consolidadas na ACP, e diante dos desafios apresentados pelo conceito de Tendência Formativa, faz-se mister discorrer sobre uma potencial nova concepção de ciência pautada por uma lógica investigativa particular às demandas epistemológicas desse pensamento transversal de Carl Rogers.
Um primeiro desafio desta perspectiva, que aqui denominamos de "jardinagens formativas", pois o jardineiro é aquele "situado num ponto intermediário entre o mundo dos humanos e o mundo dos vegetais" (Bastos, 2007, p. 81), é delinear o conceito de experiência no interior do complexo estrutural e teórico que surge junto com a noção de tendência formativa; ou seja, se a experiência não é mais aquela localizada ou identificada no self do cliente, ou do colaborador da pesquisa, cabe agora apontar quais as características e modos de funcionamento desta experiência formativa, para assim ser possível vislumbrar a criação de um plano metodológico de pesquisa capaz de "apreender" este fenômeno.
Isso significa, na prática, a criação de racionalidades metodológicas novas, mas também a inovação de procedimentos de coletas e análises de dados que, até o presente momento, não foram desenvolvidos com essa intencionalidade. Esta tarefa mostra-se urgente, haja vista que, no âmbito da ciência, é a capacidade metodológica de investigação que possibilita o desenvolvimento de teorias e o avanço de práticas, provendo novas constatações férteis à produção de conhecimento.
Não há dúvida de que o conceito de tendência formativa provoca abalos profundos nos pressupostos que alicerçavam os modelos científicos das duas metáforas anteriores. O sentido, este umbigo antropocêntrico, é radicalmente questionado na metáfora do jardineiro, já que a ligação entre organismo e "ambiente" torna-se muito mais complexa do que um vínculo significativo e de sentido pode permitir.
Este laço pressupõe a capacidade humana de derivar de uma relação apenas aquilo que é significativo, qualidade atribuída pelo próprio organismo no campo do valor, enquanto uma experiência formativa é uma pluralidade de feixes vitais constitutivos que ultrapassam a capacidade humana de fornecer uma ordem ou funcionalidade a partir das necessidades particulares do organismo.
Isto significa que a noção básica que perpassa os métodos de pesquisa utilizados na ACP, qual seja, a da representação, é dramaticamente insuficiente para esta metáfora metodológica, já que o que se representa é sempre um duplo do sentido. O pressuposto de que marcas, pontes ou resquícios dos sentidos estão presentes no self do entrevistado e que podem ser captados pela sua fala infere antecipadamente que sendo o sentido uma produção do organismo, este pode também dizer ou exteriorizá-lo, explicá-lo ou apontálo.
Na experiência formativa, porém, a linguagem não é um referente para dado sentido experiencial gestado no organismo, mas o veículo para expressar as colisões múltiplas do homem com a vida. Não há direção e não há sentido que possa ser organizado pelo homem num fluxo formativo onde as esferas orgânicas e inorgânicas entrelaçam-se em modos de expressão singular.
Da mesma forma ocorre com outro pressuposto básico das metodologias de pesquisa centrada na pessoa: a concepção de que a experiência pertence ao indivíduo pesquisado e cabe ao pesquisador coletá-la, com o máximo de neutralidade possível. Está implícito nesta lógica de pesquisa que, antes mesmo da experiência, já há um indivíduo que possa ser detentor ou responsável pelo movimento experiencial.
Em uma concepção formativa, todavia, o que se denomina "indivíduo" (um fenômeno emergente da personalidade e seus laços) passa ser apenas uma conjunção de fluxos vitais móveis que não se constituem, necessariamente, como facetas privilegiadas da experiência. Só há individualidade e organicidade no campo dos processos formativos e estes são uma composição plural de temporalidades e fatores. Na prática, isso significa que no processo de pesquisa não há uma experiência a ser relatada para o pesquisador, mas apenas uma experiência a ser forma(tiviza)da com o pesquisador.
Estas e outras revisões teóricas realizadas através do conceito de tendência formativa exigem, também, uma série de adequações metodológicas para os procedimentos de pesquisa em Abordagem Centrada na Pessoa.
Ainda que não possamos apresentar, neste artigo, metodologias práticas de pesquisa advindas da metáfora do jardineiro, desafio que já iniciamos em outros trabalhos (Sales, 2010; Sales & Cavalcante Junior, no prelo), pretendemos elencar quatro teses, ainda de cunho mais imagético do que lógico, que possam esculpir, pelo prisma da metáfora das jardinagens formativas, um primeiro esboço desse rosto epistemológicometodológico ao fazer que caracteriza uma Abordagem Centrada na Pessoa.
Antes de ser um programa de consolidação desta metáfora, as quatro teses a seguir formulam uma tentativa de suscitar indagações, experiências e colisões especulares capazes de dinamizar a discussão sobre a investigação no campo da ACP. Neste prisma, não será priorizado o rigor das afirmações, este que sempre gera a solidez a partir do passado, mas sim o vigor semiótico nas proposições, ou seja, a capacidade de projetar um mundo novo, ainda que fluido, a partir das palavras. Trata-se muito mais de um manifesto sonhado, ou de um sonho manifestado, compartilhado em voz alta na busca de uma ciência formativa.
Manifesto para uma Ciência Centrada nos Jardins: quatro teses em movimento
Primeira tese: abdicar da estratégia metodológica usual que busca representar, através de gravação de entrevistas ou outra forma de suporte de captação da fala, o fluxo da experiência. Partimos da ideia de que toda representação é apenas uma imagem da experiência, já que representar é desacelerar o presente tornando-o passado imobilizado, fato que sugere a preocupação das metodologias representativas em apenas investigar os fantasmas pálidos que caricaturam a experiência no seu processo mesmo, isso que, afinal, realmente importa à ACP. Ao invés de enfocar a representação, então, a pesquisa neste modelo de ciência aponta como diretriz uma qualidade de presentificação (Heron, 1996), conduzida por corpos situados na presença (Cavalcante Junior, no prelo).
Segunda tese: Conceber como "objeto" de investigação um panorama de experiência que não esteja restrita à personalidade humana, legitimando elementos constituintes da experiência que estejam localizados muito mais em um campo formativo circundante do que em qualquer esfera personalizada de um processo de atualização individual. Neste sentido, o interesse de uma pesquisa centrada na pessoa, gestada no interior da metáfora do jardineiro e da experiência formativa, não deveria apreender os significados ou sentidos da experiência, estes sempre metabolizados no self, segundo o enfoque centrado na pessoa, mas localizar arquiteturas experienciais capazes de dinamizar a própria experiência do pesquisador, dos co-pesquisadores e dos potenciais leitores da pesquisa; fazê-las, por assim dizer, colidir em Instalações Experienciais (Sales, 2010).
Terceira tese: Abdicar das tentativas de compreender e de interpretar a experiência, posturas ainda contaminadas pela perspectiva cognitivista e pela postura dominadora do logos tipificado na ciência moderna. Neste sentido, enfatiza-se que, na metáfora do jardineiro, os verbos que regem a atividade científica são "intumescer" e "implicar", designações compatíveis à atividade de um jardineiro, afinal, este não compreende a vida vegetal. Embora se relacionando com esta sabedoria orgânica e inorgânica, em termos simbólicos e míticos, o jardineiro é por ela tomado e acalentado. Nesta perspectiva, pode-se dizer que toda pesquisa que tenha como foco determinada experiência formativa, no sentido atribuído pela ACP, está destinada a produzir uma nova experiência que não se dirige à atualização de conteúdos imediatos da personalidade. O que significa que uma pesquisa centrada na pessoa é sempre uma pesquisa "experienci-ação"6.
Quarta tese: Sendo, então, toda pesquisa centrada na pessoa uma espécie de enzima experiencial, na medida em que potencializa novas experiências e forma novos tablados experienciais, o critério principal de validade de uma pesquisa, vista pelo olhar do jardineiro-pesquisador, é a criatividade que esta engendra e a capacidade de transformar uma experiência-objeto, um movimento que circunscrito a uma hipótese racional elaborada pelo pesquisador, numa experiência-sujeito, categoria que pode ser avaliada através da complexidade que reside nesta nova experiência – complexidade entendida aqui no seu sentido etimológico de "tecer juntos". Se na experiência-objeto o self delimita seus contornos, na experiênciasujeito todos os participantes da pesquisa são tomados e conduzidos por processos 6"Experienci-ação" aqui não faz alusão ao conceito de Eugene Gendlin, mas brinca com a palavra "experiência" para demonstrar a aproximação desta proposta com a da pesquisa-ação, no sentido de que ambas buscam modificar o seu próprio objeto de pesquisa. formativos experienciais que os perpassam, mas são mais amplos do que a personalidade e até mesmo a organicidade dos envolvidos. Portanto, mais do que confirmar ou invalidar hipóteses, esta forma de pesquisa pretende confundi-las e, assim, permitir a emergência de um frescor estésico capaz de envolver os "sujeitos" e os "objetos" da pesquisa num mesmo vórtice de formatividade, onde o imprevisível, tantas vezes abordado por John Wood (Rogers, Wood, O´Hara & Fonseca, 1983), possa fazer-se presente.
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Sobre os autores
Yuri de Nóbrega Sales
Doutorando em Psicologia pela Universidade Autónoma de Lisboa, Psicólogo e Mestre em Psicologia (UNIFOR),
Psicoterapeuta, Professor de Psicologia das Faculdades Nordeste e de Psicologia Jurídica da UniChristus.
e- mail: yurisnobrega@yahoo.com.br.
André Feitosa de Sousa:
Doutorando em Psicologia pela Universidade Autónoma de Lisboa, Psicólogo e
Psicoterapeuta (La Vie Studio, Fortaleza), Mestre em Relação de Ajuda e Intervenção Terapêutica.
e-mail: andre_feitosa@msn.com
Francisco Silva Cavalcante Junior:
Mestre e Doutor pela Universidade de New Hampshire (Estados Unidos),
Professor de Psicologia na Universidade Federal do Ceará.
e-mail: fscavalcantejunior@gmail.com
Recebido em: 22/09/2012
Aceito em: 01/12/2012
1 Aqui utilizamos uma divisão histórica e conceitual entre TCC (Terapia Centrada no Cliente) e ACP, ainda que entendamos, junto com John Wood (2008), que não se tratam de abordagens intrinsecamente distintas.
2 A filosofia do conhecimento tácito, que remonta ao diálogo entre Sócrates e Meno, escrito por Platão, afirma que nós sabemos mais do que podemos comunicar (Polanyi, 1962).
3 Co-pesquisador é um nome utilizado por Moustakas (1990) para substituir antigas denominações, como sujeito pesquisado. A premissa que perpassa esta mudança de vocabulário é de que existe uma ambientação relacional entre os atores da pesquisa heurística.
4 É importante apenas salientar que Sela Smith (2002) acredita que há uma ambigüidade no método heurístico que provoca rupturas internas. De acordo com ela, muitas vezes Moustakas parece afirmar que o objetivo do método não é a auto-descoberta dos sentidos de uma determinada experiência para o pesquisador, mas a busca por uma essência desta experiência, potencialmente desconectada do seu self. Esta última postura ela entende como sendo representativa do método fenomenológico. Neste sentido, existem muitos pontos obscuros relacionados as diferenças e similaridades entre dois métodos – fenomenológico e heurístico. Apesar disso, Douglas & Moustakas (1985) afirmam categoricamente serem métodos distintos. Pesquisas nessa área, ainda que incipientes, já foram iniciadas (Castelo Branco et al., 2009). 5 Historicamente podemos definir que a Terapia Centrada no Cliente (TCC) possuía seu foco na personalidade enquanto a Abordagem Centrada na Pessoa ultrapassa esse escopo ao levar a radicalidade o conceito de tendência atualizante e formular o conceito de tendência formativa (Sales, 2010). Na concepção de Castelo Branco (2010), a Abordagem Centrada na Pessoa se caracteriza pela transição de uma perspectiva funcionalista para uma perspectiva sistêmica. Uma demonstração da conexão e equivalência entre TCC e Método heurístico foi a utilização deste método em algumas pesquisas relacionas a este modelo de terapia (Moustakas, 1990), mas isto não inclui exatamente pesquisas envolvendo a ACP
6 "Experienci-ação" aqui não faz alusão ao conceito de Eugene Gendlin, mas brinca com a palavra "experiência" para demonstrar a aproximação desta proposta com a da pesquisa-ação, no sentido de que ambas buscam modificar o seu próprio objeto de pesquisa.