ARTIGO

 

Ausência como urgência: o Plantão Psicológico em situações de perdas e luto

 

Absence as an emergency: the psychological duty in situations of loss and mourning

 

Ausencia como emergencia: la plantación psicológica en situaciones de pérdida y luto

 

 

Glendha Moreira^{1 I}; Jurema Barros Dantas^{2 I}; Adryssa Bringel Dutra^{3 I}

^I Universidade Federal do Ceará, Brasil

Endereço para correspondência

 

 

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RESUMO

O presente estudo procurou compreender o Plantão Psicológico como possibilidade de acolhimento e intervenção nesse contexto. O trabalho se caracterizou como um estudo descritivo exploratório, por meio de uma revisão sistemática da literatura, envolvendo tanto as produções sobre Plantão Psicológico realizada em duas bases de dados: Google Acadêmico e Periódicos da CAPES. Foram utilizados os seguintes descritores: Plantão Psicológico AND Clínica AND Fenomenologia e Perdas e Luto AND Clínica Psicológica AND Fenomenologia existencial. As buscas foram realizadas entre os meses de julho e outubro de 2019. Os critérios de inclusão foram: Artigos científicos publicados entre os anos de 2015 a 2019, que estivessem disponíveis em meio digital nas referidas plataformas, em português, que apresentassem a compreensão sobre Plantão Psicológico ou Perdas e Luto em um contexto clínico e a partir de uma concepção fenomenológica-existencial. Compreendemos que o Plantão Psicológico se constitui como um serviço potente de acolhimento ao sujeito enlutado.

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Perdas e Luto.

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ABSTRACT

The present study sought to understand the Psychological Duty as a possibility of reception and intervention in this context. The work was characterized as an exploratory descriptive study, through a systematic review of the literature, involving both productions on Psychological Duty held in two databases: Google Scholar and CAPES Periodicals. The following descriptors were used: Psychological duty AND Clinic AND Phenomenology and Losses and Mourning AND Psychological Clinic AND Existential Phenomenology. The searches were carried out between the months of July and October 2019. The inclusion criteria were: Scientific articles published between the years 2015 to 2019, which were available in digital media on these platforms, in Portuguese, which presented an understanding of Duty Psychological or Losses and Grief in a clinical context and from a phenomenological-existential conception. We understand that the Psychological Duty constitutes a powerful service of reception to the bereaved subject.

Keywords: Psychological duty; Losses and Grief.

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RESUMEN

El presente estudio buscó comprender el Deber Psicológico como posibilidad de recepción e intervención en este contexto. El trabajo se caracterizó como un estudio descriptivo exploratorio, a través de una revisión sistemática de la literatura, involucrando ambas producciones sobre el Deber Psicológico contenidas en dos bases de datos: Google Scholar y Periódicos de la CAPES. Se utilizaron los siguientes descriptores: Deber psicológico Y Clínica Y Fenomenología y Pérdidas y Duelo Y Clínica psicológica Y Fenomenología existencial. Las búsquedas se realizaron entre julio y octubre de 2019. Los criterios de inclusión fueron: Artículos científicos publicados entre los años 2015 a 2019, que estuvieran disponibles en medios digitales en estas plataformas, en portugués, que presentaran una comprensión del Deber Psicológico o Pérdidas y Duelo. en un contexto clínico y desde una concepción fenomenológico-existencial. Entendemos que el Deber Psicológico constituye un poderoso servicio para acoger al sujeto doliente.

Palabras clave: Deber Psicologico; Pérdidas y Duelo.

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Introdução

Podemos considerar que o Plantão Psicológico se caracteriza como espaço de oferta de escuta imediata diante de situações de sofrimento psíquico, sem tempo determinado e disponível a diversas demandas. No Brasil, tal modalidade surge em meados dos anos 70 propondo um rompimento com os padrões da clínica tradicional, visto seu modo próprio e flexível de operar (Mahfoud, 2012). Nesta prática, não há um tempo pré-determinado de duração do atendimento psicológico, nem agendamento prévio do cliente ou um conhecimento a priori da demanda que será trabalhada pelo terapeuta. O plantonista lida, necessariamente, com o inesperado a cada acolhimento. Compreende-se, dentro do escopo dessa modalidade, a realização de um acolhimento com o objetivo de promover uma ressignificação e ampliação da percepção do sujeito frente ao sofrimento que, naquele momento, ele vivencia. Por meio de uma postura disposta, acolhedora e ativa, o plantonista facilita a possível construção de novos sentidos por parte do cliente diante das situações adversas apresentadas por ele.

Considerando que são inúmeras as situações passíveis de gerar sofrimento, o Plantão Psicológico apresenta um amplo horizonte de atuação. No contexto desse estudo, será dada ênfase a atuação do mesmo frente às circunstâncias de perdas e luto, visto que estas situações podem vir a apresentar um potencial considerável no que se refere à possibilidade de desorganização e sofrimento por parte do sujeito que passa por uma perda significativa. No que se refere ao luto, concebe-se como a experiência resultante da perda, podendo ser um estado de rompimento irreversível de um vínculo em decorrência da morte de alguém. É válido ainda considerar que essa experiência pode ocorrer não apenas em situações decorrentes da morte concreta, mas na privação de algo considerado significativo e cuja ausência venha a gerar algum tipo de sofrimento para o cliente que busca a assistência psicológica.

Sabe-se que, no transcorrer da sua existência, o ser humano experiencia inúmeras perdas, sejam elas concretas ou simbólicas (Kovacs, 2015). Essas vivências convocam sentimentos, percepções e modos singulares de compreensão e enfrentamento. Em uma perspectiva fenomenológica existencial, a perda do outro apresenta ao sujeito enlutado um questionamento sobre o mundo que lhe é familiar, provocando a experiência de angústia e, nesse processo, a possibilidade da vivência de uma autenticidade diante da sua vida e da produção de sentidos (Rothschild E Calazans, 2008; Dantas, 2010). Apesar de se compreender que nem todas as experiências de perdas e enlutamento demandam acolhimento psicológico ou se constituem como processos que podem vir a gerar complicações psíquicas, também se entende que tais momentos possam vir a sentidos como de intenso sofrimento e desorganização, impulsionando o sujeito a uma busca por ajuda em meio a essa vivência.

Na contemporaneidade, de modo distinto de outros momentos históricos, o homem lida com a morte como algo distante, desconhecido e não natural. Àries (1977) apresenta um panorama acerca de tal mudança, apontando que a morte antes era considerada familiar, visto a ocorrência de grandes epidemias e dos poucos recursos de saúde disponíveis, e ocorria em casa, em torno dos entes queridos do moribundo, que participava ativamente do planejamento dos rituais. A tal modelo o referido autor denomina de Morte Domada. Contudo, posteriormente, com os grandes avanços na área da medicina e, consequentemente, do tratamento das enfermidades, a morte passa a ser encarada com sinal de fracasso e é afastada e evitada de vários modos pela sociedade. Os ritos de passagem sofrem modificações, a morte é transferida do ambiente familiar para ser contida e escondida nas paredes hospitalares e outras inúmeras tentativas de negação são postas em práticas. Assim, a relação do homem com a morte na sociedade contemporânea passa a ser intitulada como Morte Interdita.

O interdito referente à finitude alcança também o modo como o sujeito lida com a morte de alguém significativo. A sociedade que busca assimilar a morte como um evento acidental e possível de ser afastado, também tenta evitar e afastar o sofrimento decorrente dela. Em geral, desautoriza-se a vivência singular do processo de perda e até são estabelecidos critérios capazes de caracterizar o tempo normal que o sujeito tem para sofrer diante da morte de alguém, quais os sintomas que são permitidos sentir e quais são caracterizados como patológicos. A medicalização da dor aparece como possibilidade diante de uma sociedade que, sob um discurso de felicidade contínua, juventude eterna e produtividade sempre necessária, não suporta dar-se conta de sua impotência diante da morte e da vivência humana e inevitável do sofrimento (Veras & Soares, 2013; Dantas, 2011). Ao compreender o sofrimento como aspecto indispensável da existência do sujeito, o Plantão Psicológico, como modalidade de cuidado, oferta um espaço de assistência imediata ao usuário que se encontra em meio a essa vivência. Como destacado anteriormente, são várias as demandas que podem vir a gerar no sujeito o desejo por ajuda, sendo uma delas as situações de enlutamento. Desse modo, este trabalho tem por objetivo compreender o Plantão Psicológico como possibilidade de acolhimento e intervenção em situações de perdas e luto.

O interesse por tal temática surge a partir da averiguação de que, no contexto da Clínica Escola de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) observou-se que um total de 10% das demandas recebidas por este serviço estava relacionado com tais situações, o que se torna um número considerável, e que a maioria dessas demandas foi tratada em contexto de Plantão Psicológico sem a necessidade de acompanhamento clínico regular ou outro tipo de encaminhamento. Este estudo, de seu caráter descritivo exploratório, por meio de uma revisão sistemática da literatura, se propôs a investigação de produções publicadas nos últimos cinco anos que fizessem referência a tais temáticas. Dada a escassez de estudos que relacionassem o serviço de plantão psicológico ao manejo de situações de perdas e luto, foram elencados trabalhos que se relacionassem a tais questões separadamente e executada uma interlocução entre tais estudos de modo a alcançar o objetivo pretendido. Destaca-se que a relevância deste estudo diz respeito à inexistência de trabalhos que investiguem a relação entre essa modalidade clínica contemporânea e uma vivência tão representativa da condição humana ao qual são as perdas e o luto e, assim, aponta-se o caráter inovador de tal proposta. Pretende-se, com esta produção, conceber o Plantão Psicológico como uma prática de cuidado alinhada às demandas contemporâneas, sendo ele um serviço capaz de ofertar assistência imediata ao sujeito em sofrimento resultante da perda de alguém.

Compreende-se que o Plantão Psicológico, ao apresentar um caráter de urgência, oferta ao usuário uma imersão na vivência decorrente da dor que se coloca naquele momento mesmo diante da perda. É possível assinalar que essa oferta de cuidado pode ser possibilitada em um momento em que esse sofrimento se encontra em uma condição aguda e o usuário não precisará passar por um processo de, por vezes, longa espera para receber acolhimento e assistência adequados. Desse modo, essa modalidade clínica se apresenta como uma potência de cuidado dada a possibilidade de favorecer uma elaboração mais imediata e significativa da perda, facilitando a construção de sentido diante de tal circunstância.

 

Metodologia

Este artigo se caracteriza como um estudo descritivo exploratório, a partir de uma revisão sistemática de literatura, visando o acesso a publicações relacionadas à atuação do Plantão Psicológico em situações de perdas e luto. De acordo com Cordeiro et al (2007), a revisão sistemática se configura como um tipo de pesquisa científica que apresenta como finalidade reunir, realizar uma avaliação crítica e promover uma síntese dos resultados de estudos primários acerca de uma temática. Para a realização desse estudo, serão realizadas as seguintes etapas: elaboração da pergunta de pesquisa; identificação das bases de dados; estabelecimentos de critérios para a seleção dos trabalhos; busca e seleção de acordo com os critérios estabelecidos; avaliação crítica dos trabalhos; preparação das sínteses dos resultados e explanação e análise dos resultados.

Desse modo, inicialmente foi realizada a elaboração da pergunta de pesquisa para nortear a realização do estudo, a qual foi: É possível compreender o Plantão Psicológico como possibilidade efetiva de acolhimento e intervenção em situações de perdas e luto? Na etapa seguinte foi realizada a identificação das bases de dados, sendo elas: Google Acadêmico e Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Devido à constatação acerca da ausência de trabalhos referentes a essa temática específica, foi proposta a realização de busca por publicações referentes ao Plantão Psicológico sob um viés fenomenológico existencial e em contexto clínico e, posteriormente, produções sobre situações de perdas e luto em situação clínica regular sob a mesma perspectiva teórica. Deste modo, buscou-se fazer uma interlocução referente aos trabalhos encontrados e refletir sobre as possibilidades de atuação dessa modalidade de atendimento clínico em um contexto específico de crise.

Para executar busca nas referidas plataformas digitais foram usados os descritores: Plantão Psicológico AND Clínica AND Fenomenologia e Perdas e Luto AND Clínica Psicológica AND Fenomenologia existencial. As buscas foram realizadas entre os meses de julho e outubro de 2019. Posteriormente, foram definidos os critérios para a seleção dos trabalhos. Os critérios de inclusão são: Artigos científicos publicados entre os anos de 2015 a 2019, que estivessem disponíveis em meio digital nas referidas plataformas, em português, que apresentassem a compreensão sobre Plantão Psicológico ou Perdas e Luto em um contexto clínico e a partir de uma concepção fenomenológica-existencial. Com relação aos critérios de exclusão pontua-se que monografias, teses e dissertações foram desconsideradas, além de estudos que não estavam relacionados à temática proposta por este trabalho, publicações duplicadas e ainda produções referentes a situações muito específicas de luto e a atuação do Plantão Psicológico em outros contextos que não o clínico.

Após a escolha das bases de dados e dos critérios de inclusão e exclusão expostos acima, foram encontrados artigos relacionados à perdas e lutos sob uma perspectiva clínica e fenomenológica existencial. Na etapa posterior, foi realizada a busca e a seleção de acordo com os critérios a partir da leitura dos títulos dos resultados encontrados. Tal procedimento ocasionou a seleção de alguns estudos, sendo desconsiderados os trabalhos duplicados. Foi realizada, a partir de então, a leitura dos resumos dos artigos selecionados na etapa anterior visando sua consonância com as temáticas a serem trabalhadas por este estudo. Em decorrência disso, selecionou-se os artigos que diretamente foram contemplados neste trabalho. A partir de então, seguiu-se a avaliação crítica dos estudos selecionados por meio da leitura completa. Foi realizada a preparação da síntese dos resultados e, por fim, realizou-se a explanação e análise dos resultados das respectivas publicações. A partir desse processo de análise, foi proposto um diálogo referente às possibilidades do Plantão Psicológico enquanto estratégia de acolhimento e intervenção no âmbito dos processos de Perdas e Luto.

 

Resultados e Discussão

Diante das etapas expostas acima, foram encontrados um total de 587 (quinhentos e oitenta e sete) artigos referentes à Plantão Psicológico e 853 (oitocentos e cinquenta e três) artigos relacionados a perdas e luto sob uma perspectiva clínica e fenomenológica existencial. A partir da leitura dos títulos dos resultados encontrados obteve-se a seleção de 18 (dezoito) resultados referentes ao primeiro tema e 22 (vinte e dois) relacionados ao segundo, sendo desconsiderados os trabalhos duplicados.

Após a leitura dos resumos dos artigos, foram selecionados 13 (treze) artigos referentes aos objetivos da busca, sendo 7 (sete) versando sobre as possibilidades de atuação do Plantão Psicológico sob a perspectiva fenomenológica existencial em contexto clínico e 6 referentes à Perdas e Luto sob a mesma perspectiva. Nas tabelas a seguir são identificadas as produções encontradas. A Tabela 1 se refere categorização dos artigos acerca da temática do Plantão Psicológico quanto ao título, os autores e ano de publicação. Para melhor organização e visualização, cada um dos estudos foi identificado com um código.

A partir dos dados da Tabela 1 observa-se que o maior número de produções científicas que abordam essa temática sob o olhar da fenomenologia foi realizado nos anos de 2015 (P5 e P7) e 2016 (P1 e P2). Destaca-se também que a maior parte dos estudos versa sobre a experiência do serviço do Plantão Psicológico em clínicas-escolas de Psicologia (P1, P2, P3 e P4). Apresenta-se a Tabela 2, com características semelhantes à primeira, mas em referência a estudos que versam sobre perdas e luto.

Nos últimos cinco anos, observa-se que o ano com maior quantidade de publicações referentes à perspectiva fenomenológica-existencial e o contexto de perdas e luto foi 2017 (L1 e L4). Todas as produções inicialmente se propõem a pensar o modo como essa perspectiva teórica concebe a finitude por meio de revisões de literatura.

Diante do exposto, observa-se que a maior parte dos trabalhos encontrados referentes ao Plantão Psicológico se propõe a abordar o exercício dessa modalidade em instituições de ensino superior, seja por meio de relatos de experiência ou pesquisa com os usuários (P1, P2, P3, P4 e P5). É possível constatar que, desde a sua implantação, essa prática clínica, de fato, encontra uma maior receptividade nas clínicas escolas de psicologia, sendo o seu primeiro espaço a Universidade de São Paulo (USP), em 1969. Ao ter um papel de atuar junto a comunidade, a universidade torna-se um espaço que se propõe a ofertar um retorno na forma de um serviço que seja capaz de direcionar atenção a uma parcela considerável da população. Diferente dos atendimentos terapêuticos regulares, o plantão consegue ofertar escuta qualificada sem gerar um contingente de fila de espera. Além disso, essa prática possibilita a uma formação profissional do discente no contato direto com as demandas atuais e urgentes apresentadas pelo cliente. Em P1 e P7 é destacado que o caráter profissionalizante marca o plantão desde a sua implantação e, por meio dele, o futuro profissional de psicologia tem a possibilidade de uma qualificação a partir de uma atuação efetiva e de um repensar das suas intervenções, além de haver uma interlocução entre a sua formação e as necessidades que são apresentadas pela população na atualidade. Nessa atuação, pode-se afirmar que a identidade do futuro psicólogo acaba por ser marcada pelos aspectos da urgência e do inesperado, que são características fundamentais nessa modalidade clínica.

Nos artigos P4, P3, P6 e P5 são abordados os aspectos essenciais desse serviço, tais como o seu caráter emergencial e de atendimento imediato, ofertando ao usuário a possibilidade de acolhimento no momento mesmo do seu sofrimento e da sua urgência psíquica. A proposta da urgência é encontrada não apenas nesse aspecto do imediato, mas também se caracteriza pelo atravessamento da vivência do agora, pela experiência do sofrimento que se presentifica neste momento e pela possibilidade do tempo finito, visto que, caso seja suficiente, o atendimento nesta modalidade pode ocorrer em apenas um encontro. Aponta-se ainda para possibilidade e a efetividade de um vínculo constituído naquele encontro entre terapeuta e cliente, rompendo a ideia de que o vínculo terapêutico só é possível em um período maior de tempo e apenas em um acompanhamento regular.

O vínculo é uma condição essencial para a atuação do terapeuta, que se coloca em uma postura de intensa disponibilidade para encontrar com a urgência do outro que se apresenta, seja ela qual for. Mahfoud (2012) afirma que o próprio termo "plantão" se refere a essa atitude de disposição que é ofertada em um período estável de tempo e sem interrupção, de modo a lidar com o inesperado que pode vir a se apresentar. Nos trabalhos P5 e P6 os autores afirmam que o plantão vem a se constituir nessa postura terapêutica do que em um funcionamento previamente delimitado e sistematizado. Para além de aspectos teóricos, se constitui como uma prática comprometida com as ações concretas do terapeuta frente ao sofrimento eminente do cliente. O plantonista surge como um facilitador da enunciação dos sentidos, devendo ele ter disposição afetiva para realizar esse encontro, visto que é nessa relação terapêutica que se estabelece a possibilidade de uma abertura de sentido.

Outras características importantes nessa atuação apontadas pelos trabalhos recentes dizem respeito à consideração do horizonte histórico de sentido no qual o cliente se encontra, à necessidade de acompanhar a pessoa em um processo de ampliação e contextualização de si e do mundo e ao fato de que o plantão não é um espaço de apaziguamento ou ocultação do sofrimento, mas de uma abertura à experienciação do mesmo. A ênfase é dada na experiência do sujeito, constituindo assim um saber que é atravessado por essa experiência e não um saber já posto. Nesse espaço, ocorre a busca de uma libertação da cotidianidade impessoal, dos sentidos já prontos e distantes da condição de abertura do sujeito, ofertando a possibilidade de encontro de cada um consigo mesmo (P2, P1, P7 e P5).

A perspectiva fenomenológico-existencial tem se constituído como a abordagem teórica que atualmente mais tem publicado trabalhos referentes ao Plantão Psicológico, sendo tal fato afirmado pelos trabalhos P3, P6 e P7. É fato que, apesar de estar havendo uma receptividade das instituições de ensino superior à atuação por meio dessa modalidade, ainda são poucos os trabalhos produzidos acerca dessa temática. No artigo P7 discute-se que, ao realizar uma formação acadêmica na prática e na vivência cotidiana e não necessariamente na teoria, por meio de disciplinas, e na pesquisa, torna-se possível sugerir o motivo pelo qual isso ocorre. É possível apontar que maior parte dos trabalhos existentes focaliza na possibilidade e efetividade de uma formação não tradicional, relacionada com a perspectiva de clínica ampliada e em diálogo constante com outras instituições e a comunidade.

Nesse aspecto, é possível pensar acerca do compromisso social ao qual se compromete essa modalidade clínica. As produções abordam questões importantes relativas à diminuição de filas de espera e o acolhimento sendo ofertado a uma parte da população que, muitas vezes, não tem acesso a atendimento por outras vias. Destaca-se ainda que o Plantão busca atuar de modo integrado com a rede de saúde mental e de assistência social e objetiva não reforçar um cuidado que torne o sujeito dependente, mas autônomo. Alguns autores apontam que o cuidado ofertado por meio do Plantão Psicológico não se propõe a atuar de modo patologizante nem medicalizante e que tal aspecto encontra aporte em uma concepção do homem como um ser capaz de pensar suas questões e não como um cliente passivo apenas a determinados encaminhamentos feitos pelo terapeuta. Observa-se também a possibilidade de um favorecimento da autonomia do usuário frente a sua demanda, possibilitando um maior esclarecimento em relação a sua realidade social. Ademais, como destacado anteriormente, também é possibilitada uma contribuição importante na formação dos discentes, proporcionando a discussão de práticas adequadas ao contexto da sociedade atual. (P4, P3, P2 e P1).

O Plantão Psicológico se encontra nas novas formas de atuação do psicólogo, proporcionando uma rearticulação de práticas por meio da perspectiva da clínica ampliada e estando aberto a receber uma multiplicidade de demandas. Esse serviço aponta para uma prática preocupada com os novos desafios enfrentados pela psicologia no contexto contemporâneo no que se refere à saúde mental e que rompe a ideia de um fazer psicológico hegemônico, dual e em um ambiente confortável, como ocorre com a psicoterapia regular (P4, P2, P6 e P5). É possível perceber o caráter de flexibilidade na adequação do mesmo a uma série de diferentes públicos, campos e modos de atuação. O atendimento pode ser realizado de modo individual ou em grupo e existem serviços de plantão funcionando em equipamentos para além das clínicas-escolas tais como hospitais, escolas, serviços de saúde mentais, unidades básicas de saúde, dentre outros.

No artigo P4 é afirmado, em uma pesquisa realizada no serviço de Plantão Psicológico da clínica-escola de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, que quase metade das demandas (46,77%) encerra o atendimento no próprio serviço após um plano terapêutico sem precisar de algum tipo de encaminhamento para outro tipo de assistência. Tal evidência corrobora com Rosenthal (2012) que afirma que existem clientes que, ao serem atendidos nessa modalidade, poderiam se beneficiar de uma forma significativa no que se refere a uma escuta pessoal e ao reconhecimento de suas possibilidades frente a determinadas situações.

O Plantão Psicológico se coloca como um serviço disponível para atender qualquer tipo de sofrimento que emerge como urgência para o sujeito. Dentre esses, pode-se destacar o contexto de perdas e luto. Por meio da pesquisa bibliográfica realizada com relação a essa temática, observou-se que todos os artigos se propõem a travar uma discussão imprescindível sobre o modo como o homem lida com a finitude e como essa relação influi nos processos de luto.

É válido destacar que essa relação possui importantes atravessamentos históricos, com o passar do tempo são diversos os modos que o homem foi encontrando para encarar a morte. Na contemporaneidade, observa-se um processo de silenciamento e ocultamento da finitude da vida (ÀRIES, 1977). Os artigos L6 e L5 apresentam exemplos claros de práticas que corroboram com esse processo, tais como a ocorrência de funerais cada vez mais rápidos, a cremação sendo bastante utilizados, cemitérios cada vez mais afastados e que lembram jardins e a ascensão de práticas como a tanatopraxia e necromaquiagem, de modo a eliminar o máximo possível os vestígios da morte. Kovacs (2015) aponta que essas práticas podem vir a dificultar a experiência do luto e a possibilidade de ressignificação da perda. L1, L6, L5 e L3 são trabalhos que delineiam uma sociedade contemporânea que evita temas como a transitoriedade da vida, ansiando por uma juventude eterna, ditando a felicidade como uma condição indispensável de bem-estar, estabelecendo padrões de qualidade de vida e se afastando da finitude o máximo possível.

Os avanços da medicina tiveram influência nessa relação entre o homem e a finitude. Foi operada uma transferência de gestão da morte para o âmbito técnico e científico, e, em geral, para a medicina. A morte passa a se tornar um fracasso e a medicalização aparece como solução científica para o apagamento da dor e do sofrimento decorrentes desse processo. Para além da medicação dessa angústia, outros modos são ditados de forma a suplantar e categorizar tais experiências. A Psicologia e a Medicina, por meio dos seus manuais e descrições, por vezes, determinam como a dor da perda deve e pode ser sentida e expressada. São diversos os critérios apontados pelos manuais diagnósticos de modo a distinguir o que é um luto normal e patológico. Por meio dessa distinção, é possível indicar o melhor tratamento para evitar tais estados, visando o afastamento da angústia e a realização impossível da promessa contemporânea de extinção do sofrer. (L6, L2 e L5).

Veras e Soares (2013) e Dantas (2014) discutem tais questões abordando a ocorrência de um processo de patologização dos processos naturais da vida, o que antes era considerado algo inerente ao ser humano, como o sofrimento e o luto, agora se torna passível de categorização e tratamento medicamentoso. No artigo L5, a autora afirma que em uma sociedade de consumo tudo vira produto, até mesmo as pessoas e as suas subjetividades. A medicalização da tristeza surge como estratégia instantânea para lidar as questões referentes à morte, tal como o luto.

Contudo, apesar de todos esses esforços, a morte do outro nos coloca inevitavelmente frente a frente com o que queremos afastar e nos provoca angústia. Em uma perspectiva fenomenológico-existencial, a angústia é parte constitutiva do homem, não sendo possível fugir dela. A morte é uma parte intrínseca e inevitável da vida e, como afirma Dantas (2011), a morte de alguém acaba por abalar a impessoalidade e convoca o homem a repensar os sentidos já dados pelo mundo, coloca-o de frente com a própria experiência de ser si mesmo. Desse modo, entende-se que o homem, no contato com a possibilidade da morte, pode encontrar uma forma autêntica de existir. É no processo de entrar em contato com a morte enquanto condição concreta da vida que o Dasein pode apropriar-se da sua existência, experienciando o seu ser-lançado. Por meio dessa assimiliação da finitude enquanto parte da vida, é possível uma reformulação da sua existência, questionando os sentidos e repensando sua própria postura frente a ela (L3 e L6). Rothschild e Calazans (2008) delineiam essa questão afirmando que, ao se deparar com o processo de angústia em relação à morte, se apresenta ao homem a possibilidade de uma vivência autêntica e com a construção de novos sentidos.

Ao discutir a perda, no artigo L2 os autores a definem como sendo um apagamento abrupto da intercorporeidade do outro no campo existencial de quem perde. O luto se configura como a perda de um mundo que era compartilhado e também a perda de um pouco de si. Assim, essa experiência nova carece de sentido e demanda ressignificação. Freitas (2013) afirma que diante da ausência abrupta do outro, ocorre o questionamento de quem se é diante dessa ausência e em meio a esta nova configuração de mundo que se apresenta. O processo de enlutar-se diz respeito a uma relação específica existente, uma condição histórica particular do sujeito. Devido a esse caráter de singularidade, para alguns a elaboração é mais rápida, para outros ocorre de forma mais lenta e dolorosa. Na perspectiva fenomenológica-existencial não há uma "cura" do luto, mas sim uma assimilação dessa perda no existir do enlutado e a busca por uma autonomia frente a essa situação. (L4 e L2).

Desse modo, destaca-se a importância de trabalhar a perda, facilitando um processo de ressignificação da vida, como abertura a novos projetos, auxiliando a manutenção da presença de quem se perdeu por meio sua própria condição de ausência assimilada pelo novo modo de ser de quem sofreu a perda. A psicologia fenomenológico-existencial contribui na compreensão desse trajeto do homem de modo a ter como foco o fenômeno que se apresenta, a experiência da perda, considerando toda a sua singularidade (L2 e L4). Pompeia e Sapienza (2004) afirmam a necessidade de abordar esse processo de modo compreensivo, explorando o que foi vivido e o sofrimento sentido. Dantas (2010) e Freitas (2013) apontam que, diante da morte do outro, o enlutado é convidado a construir sentidos referentes à sua própria vida e à morte, sendo necessário ofertar a esse sujeito a possibilidade de realizar uma tematização particular dessa perda, concebendo-a como uma abertura à proximidade com a ideia de finitude e favorecendo a enunciação de sentidos sobre o outro e sobre si mesmo no seu horizonte existencial, favorecendo o seu processo de projetar-se enquanto ser-no-mundo.

Diante do exposto, compreende-se que a sociedade contemporânea atua na lógica de evitação e distanciamento desse evento tão inseparável da vida, o qual é a morte, anunciando um discurso de felicidade, de uma juventude sempre possível de ser prolongada e de ganhos sempre necessários e colocando a perda e a finitude como questões relativas ao fracasso, não legitimando, em geral, as experiências e o sofrimento advindo dessas condições, mas utilizando-se diversos meios para suplantá-los. Diferentemente dessa postura, o Plantão Psicológico atua como uma modalidade contemporânea de assistência ao sujeito que se apresenta em sofrimento. É válido destacar que, como exposto nos trabalhos anteriores, esse serviço, ao atuar em uma perspectiva fenomenológico-existencial, se coloca na contramão dessa lógica de evitação da angústia e, diante de diversas demandas, oferta um espaço de acolhimento em que o sofrimento humano é colocado em ênfase, propiciando cuidado e possibilidade de ressignificação diante do mesmo.

Entende-se que o processo de luto não é algo estático e vivenciado de forma padronizada por todas as pessoas, visto que é perpassado por aspectos históricos, culturais e pessoais. Desse modo, torna-se equivocada a ideia de que todos que passam por um processo de perda precisam necessariamente de uma assistência psicológica para a elaboração do luto. Entretanto, entende-se que, por vezes, o sujeito frente a uma situação tal como a apresentada, busca por ajuda psicológica, visto a dificuldade de lidar com os afetos aflorados e as modificações do cotidiano decorrentes disso. Como apresentado, o processo de perda envolve aspectos relativos não apenas à ausência física de alguém significativo, mas também a um questionamento sobre a finitude como parte da vida, a quem se é diante dessa perda e como lidar com o mundo que agora já não é o mesmo. Também é válido destacar que nem toda situação de luto resulta inevitavelmente em um adoecimento psíquico, cronificação e/ou em um processo psicopatológico, sendo assim necessário um acompanhamento psicoterapêutico de longo prazo ou mesmo a utilização de medicações. Desse modo, pode-se considerar que existem processos de enlutamento possíveis de serem acolhidos em caráter mais imediato e breve de acompanhamento.

Em meio a isso, é possível apontar que o Plantão Psicológico pode vir a se constituir como uma possibilidade de apoio nesses casos por alguns fatores aos quais podem ser elencados. Inicialmente, destaca-se o cunho de atendimento imediato ao qual se propõe essa modalidade clínica. O plantão pode ofertar ao sujeito enlutado uma escuta qualificada na vivência recente da perda e no momento agudo de experienciação do luto, que pode ser sentido como a urgência psíquica que surge a partir da ausência que agora se coloca no contexto de vida do sujeito.

Além disso, o usuário que busca ajuda diante de tal circunstância é atendido prontamente sem passar pela espera que, em geral, ocorre em um contexto de clínica tradicional. Ao se colocar em questão, por exemplo, os serviços gratuitos de oferta de serviço psicológico, é possível notar o tempo de espera como um fator considerável. O cliente que se encontra em processo de luto solicita a assistência naquele momento, pelo caráter de sofrimento que urge naquele momento, diante daquela situação específica de perda e de modificação no seu mundo. Talvez, em um atendimento que ocorra em outro período que não naquele da busca espontânea do sujeito por ajuda, a perda já não tenha mais a mesma intensidade e a mesma significância e os sentidos possíveis já serão outros.

Aponta-se que o plantonista se encontra em intensa disponibilidade para o cliente, de modo a favorecer a expressão do que ele apresenta como demanda, buscando facilitar o processo de compreensão no entorno dessa condição por ele apresentada, que, nesse caso, seria a perda sofrida e a sua circunstância de enlutamento. No Plantão Psicológico é ofertada a possibilidade do apoio imediato a quem experiência a situação concreta de perda, abandono e desamparo. Desse modo, é possibilitada uma concreta e efetiva escuta clínica. É oferecida ao sujeito a oportunidade de uma imersão no sofrimento e na angústia sentida, favorecendo uma elaboração mais significativa acerca daquilo que desloca o paciente da sua condição de familiaridade em relação ao mundo, de modo a possibilitar a construção de sentidos por ele e assim a sua possibilidade de elaboração da perda. No contexto desse estudo, apresentado sob um viés fenomenológico-existencial, essa atuação clínica considera a vivência da angústia como condição fundante para a experienciação de uma autenticidade promovedora de novas posturas diante das circunstâncias enfrentadas.

Ademais, destaca-se a consonância entre a urgência como característica elementar do Plantão e a urgência de quem busca por ajuda em decorrência da perda de alguém e das demandas apresentadas a partir disso. Ao proporcionar um pensar sobre aquilo que não está mais presente, sobre aquilo que rompe a previsibilidade do mundo, esse serviço se torna um espaço de oferta de um efetivo cuidado à dor e ao sofrimento no tempo em que se apresentam. Nesse sentido, é possível que esse acompanhamento possa ocorrer em mais de um encontro, caso seja necessário, se colocando em uma perspectiva de um acompanhamento breve.

Desse modo, observa-se que o Plantão pode se constituir como uma possibilidade efetiva de assistência nesses casos por se colocar na concepção de singularização dos processos de enlutamento, com vistas a não patologização, mas à compreensão dos sentidos que emergem diante da perda, ao ofertar um acolhimento imediato do sofrimento no seu momento mais agudo, não tendo como objetivo a supressão da dor, mas buscando realizar uma assistência necessária, compreendendo que o processo de angústia é desencadeador de novas possibilidades e de condições de enfrentamento, sendo o plantonista um acompanhante e facilitador de tal processo.

 

Considerações Finais

No âmbito de uma sociedade que anseia por evitar questões inevitáveis, tais como a morte, o Plantão Psicológico surge como uma modalidade contemporânea considerável de cuidado a demandas variadas, sendo uma delas a de perdas e luto. Tal fato se apresenta na oferta de um atendimento imediato que favorece o acolhimento do luto em seu momento agudo, na valorização da urgência e da experiência da perda, oportunizando a construção de novos sentidos e da elaboração das mudanças ocorridas em decorrência da ausência de um outro significativo e também no respeito à singularidade de cada processo de enlutamento. Nessa prática clínica, não se evita o sofrer, mas mergulha-se nele de modo a favorecer a significação e a autonomia do sujeito perante o seu luto.

O Plantão Psicológico aponta para uma prática não patologizante do luto, visa valorizar a experiência e não os sintomas que possam vir a caracterizar o que se conhece como um luto complicado. Na perspectiva desse estudo, não se desconsidera, entretanto, que, na singularidade do processo de cada um, possa vir a ocorrer a necessidade de encaminhamento para um processo de psicoterapia regular ou mesmo para outros equipamentos de assistência. Contudo, o que se propõe é apontar esse serviço como possibilidade efetiva para um contingente de pessoas que poderiam se beneficiar desse acolhimento na vivência de suas perdas.

 

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Endereço para correspondência
Glendha Moreira
E-mail: glendhamoreira16@gmail.com

Jurema Barros Dantas
E-mail: juremabdantas@gmail.com

Adryssa Bringel Dutra
E-mail: adryssa_bringel@hotmail.com

Recebido: 10/04/2022
Revisado: 10/05/2022
Aceito: 10/06/2022
Publicado: 06/08/2022

 

 

¹ Glendha Moreira: ORCID: https://orcid.org 0000-0001-5679-5955
² Jurema Barros Dantas: ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4183-0022
³ Adryssa Bringel Dutra: ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1990-3982