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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.50 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2018

 

EDITORIAL

 

 

O atual dossiê apresenta a contribuição de nove membros do Grupo de Trabalho intitulado Psicanálise e Clínica Ampliada, vinculado à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Fundada em 1983, a ANPEPP tem como objetivo principal fomentar e estimular a formação de profissionais para pesquisa no âmbito da pós-graduação em Psicologia no país. Em prol desse objetivo, seus grupos de trabalho congregam pesquisadores de diferentes regiões do país e de diferentes programas de pós-graduação com o intuito de formar uma ampla rede de pesquisas e estudos em torno de temas que perpassam os interesses gerais desses profissionais.

Particularmente, nosso GT, Psicanálise e Clinica Ampliada, foi constituído como um desdobramento do GT, fundado em 2010, intitulado Processos de subjetivação, clínica ampliada e sofrimento psíquico , cujo objetivo central era o de ampliar o objeto da clínica e refletir sobre os modos de intervenção nos sofrimentos psíquicos derivados dos processos atuais de subjetivação. Naquela ocasião, duas foram as produções cientificas efetivadas pelo grupo em formato de livros: Processos de subjetivação, clínica ampliada e sofrimento psíquico (Cia. de Freud/Faperj, 2012) e Psicanálise e clínica ampliada: multiversos (Appris, 2014).

Dessa última contribuição, ficou claro para o grupo que o interesse geral em torno do qual os pesquisadores se reuniam girava em torno da psicanálise e da clínica ampliada, motivo pelo qual o GT resolveu adotar tais descritores para se denominar como grupo. Com essa nomenclatura, pretendemos propor discussões que sublinham o quanto a psicanálise se configura como uma clínica ampliada em um sentido mais lato do que o que classicamente define esse conceito ao poder desvelar suas potencialidades como teoria e como prática em inúmeros contextos nos quais esteja presente. Objetivando manter nossa intenção em tornar nossas reflexões acessíveis ao público, os debates formulados em nosso primeiro Simpósio Nacional, ocorrido em 2015, em Belo Horizonte, sustentaram a produção de um livro intitulado O Que Pode a Psicanálise (Blucher, no prelo), no qual os autores discutem, cada um a seu modo, a potência da psicanálise em campos diversos de atuação.

Como desdobramento de nossas investigações, foi realizado, em 2017, o Segundo Simpósio Nacional do GT, em Fortaleza, intitulado Impasses da Clínica Ampliada: Apostas da Psicanálise, o qual, dando continuidade às questões propostas pelo GT, centralizou suas preocupações sobre as possibilidades encontradas pela psicanálise em se fazer presente no âmbito da Saúde Pública e da Assistência Social. Como nas ocasiões anteriores, o grupo achou que seria interessante reunir as contribuições apresentadas nesse Simpósio e publicá-las de forma a poderem ganhar maior visibilidade. Com esse objetivo, na última reunião da ANPEPP, ocorrida em Brasília em 2018, decidimos levar à Revista Tempo Psicanalítico a proposta de um Dossiê que reunisse em um mesmo número especial esses trabalhos. Proposta generosamente aceita pelos editores da Revista que logo iniciaram o processo de editoração em comum acordo aos membros do GT que se disponibilizaram a auxiliar nessa tarefa. Nele, as contribuições efetuadas foram divididas em três grandes eixos, cada um deles contendo as reflexões de três diferentes membros do GT e de seus co-autores.

No primeiro eixo, concentrando-se em estudos teóricos, encontram-se os artigos

"A Dupla Potencialidade do Irrepresentável e a Negatividade Necessária: Trauma e Pulsão de Morte", em que Monah Winnograd analisa a dupla potencialidade do não representado, da negatividade e do vazio psíquico, os quais, ao mesmo tempo em que apontam para um limite do aparelho psíquico, o lançam para o trabalho, contribuindo para a constituição e diferenciação da subjetividade.

Já Pedro Laureano, em "Verdade como clivagem: ideologia entre Hegel e Freud.", busca uma articulação entre algumas das ideias contidas na filosofia de Hegel e a psicanálise freudiana. Trata-se de investigar estas articulações através da ideia de que, para ambos, o reconhecimento da contradição seria fundamental ao psiquismo.

Em ""Formar-se" e "ser" mulher: um breve ensaio sobre a sexualidade", Rodrigo Sanches Peres, Neftali Beatriz Centurion e Maria Virginia Filomena Cremasco tecem considerações acerca dos debates atuais sobre a sexualidade, a partir do referencial psicanalítico. O artigo tem como pano de fundo a questão da violência contra a mulher tendo-se em vista o recente recrudescimento de uma mentalidade machista que enseja diversas formas de abuso e violência. Buscam, em um primeiro momento, circunscrever teses centrais sobre a "formação" da mulher conforme postuladas por Freud e, em um segundo momento, sintetizar um conjunto de proposições de autores contemporâneos entre os quais se pode estabelecer um diálogo.

Já o segundo eixo, organiza-se em torno de artigos que perpassam contribuições teórico-clínicas sobre a infância e a juventude, de tal forma que, em Ambiente e integração no processo de desenvolvimento emocional: reflexões a partir do trabalho com crianças em situação de risco psicossocial. Maira Brandão Benedito e Nadja Nara Pinheiro apresentam reflexões realizadas com base na teoria winnicottiana a partir da atuação da primeira autora como psicóloga no Núcleo Integrado de Apoio Psicossocial das Varas da Infância e Juventude (NIAPVIJ) do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.

Já no artigo "Desafios do enlace teórico/técnico na clínica do abuso sexual infanto-juvenil", Cassandra Pereira França, Danielle Pereira Matos Rabelo e Cynthia da Conceição Tannure, d escrevem o trabalho desenvolvido em um projeto de pesquisa e extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atende crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. As autoras relatam as conclusões de duas teses inspiradas na escuta dos pacientes acompanhados por esse Projeto, por meio das quais é possível destacar alguns limites presentes na construção da clínica da violência sexual: a realidade dos cuidados negligentes e violentos, aliada à atualização de elementos arcaicos provenientes das primeiras relações objetais, e que não tiveram chances de elaboração.

Por seu turno, em "Construção de dispositivos de escuta para jovens em busca de um futuro profissional: impasses e apostas da psicanálise em extensão", Perla Klautau e Manoela de Macedo apresentam os resultados parciais da pesquisa "Jovens em situação de vulnerabilidade social: entre o trauma e o reconhecimento", desenvolvida desde 2017, no âmbito do Programa de Iniciação Científica da Universidade Veiga de Almeida com financiamento da FAPERJ. São apresentadas algumas reflexões, tecidas após a realização do trabalho de campo, efetuado entre os meses de maio e setembro do corrente ano, com jovens moradores de comunidades do Rio de Janeiro com idades entre 15 e 24 anos.

Finalizando o Dossiê, o terceiro eixo, tratando de questões cuja proposta principal é a de apresentar uma clínica em extensão, traz as contribuições de:

No artigo, "A prática do psicanalista em um centro de tratamento de anomalias craniofaciais: o ideal educativo, os impasses e a questão do belo", Lucimara Lopes Rase e Vinicius Darriba, partem de reflexões suscitadas pela experiência no setor de psicologia de um centro de tratamento de anomalias craniofaciais na cidade do Rio de Janeiro. O questionamento incide sobre a possibilidade do trabalho do psicanalista em uma instituição hospitalar universitária, local historicamente estruturado em torno da transmissão e reprodução de preceitos educativos na área da saúde.

Já, Karla Patricia Martins, Beatriz Sernache de Castro Neves, Érika Teles Dauer e Iara Fernandes Teixeira, em "Angústia e vergonha na clínica psicanalítica em situações de pobreza e outras vulnerabilidades", se propõem a lançar questões sob as condições de possibilidade de um trabalho analítico em contextos de privações diversas, caracterizados como contextos de vulnerabilidade, mediante dois operadores teóricos – a angústia e a vergonha. Através da leitura freudiana da angústia, das novas proposições sobre uma metapsicologia da vergonha e da teoria do trauma de Ferenczi, as autoras buscam entender o que pode a psicanálise nesses contextos ditos vulneráveis.

Na sequência, Maria Virginia Cremasco, em "Quando a resiliência pode ser uma aposta para a psicanálise: ampliações clínicas do trauma e do luto", trata do conceito de resiliência buscando articulá-lo ao corpo teórico da psicanálise. Segundo a autora, Apesar de considerar que a resiliência não faz parte do corpo teórico da psicanálise por não se integrar na lógica de sua prática e conduzir a intervenções terapêuticas de uma natureza diferente, alguns autores consideram que ela estabelece relações com várias noções psicanalíticas elaboradas por Freud, como: traumatismo, mecanismos de defesa, sublimação e trabalho de luto que são exploradas neste artigo.

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