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Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.25 no.78 São Paulo 2008
RESENHA
Aprendizagem do adulto professor
Sílvia Regina Drudi
Coordenadora Pedagógica, graduada e licenciada em Letras, mestranda em Psicologia na linha de Desenvolvimento Humano e Processo de Ensino-Aprendizagem da Universidade São Marcos
Resenha: Sílvia Regina DrudiResenha do livro: Placo VMNS, Souza VLTS (orgs). Aprendizagem do adulto professor. São Paulo:Loyola;2006.
As organizadoras são Vera Maria Nigro de Souza Placco, que é pedagoga pela USP, Doutora e Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP e pós-doutorada pela École dês Hautes Études em Sciences Sociales, França, autora de vários livros sobre Formação de Professores; e Vera Lúcia Trevizan de Souza é psicóloga, Doutora e Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP, autora de Escola e Construção de Valores: desafios à formação do aluno e do professor pela Loyola.
Um grupo de pesquisadores, em sua maioria pedagogos e relacionados de alguma forma com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, apresentam uma produção coletiva que tem por objetivo investigar e compreender a aprendizagem de adultos, tentando teorizá-la a partir de suas próprias vivências e auto-reflexões dentro desse papel de aprendiz, a fim de tirar de suas experiências vividas durante essa pesquisa um maior entendimento de como adultos constróem o conhecimento.
O estudo foi feito por meio da apreciação e reflexão sobre a arte em geral, usando a literatura, a pintura, a música e o cinema com fonte de mediação do coletivo, tentando observar uma aprendizagem significativa e provocadora de mudanças através da reflexão.
"O dia é 27 de Junho de 2003", assim começa o capítulo, tentando situar o leitor não só no tempo, mas nos porquê e nas pessoas que decidiram pesquisar a aprendizagem de adultos por estarem de alguma forma envolvidos nesse panorama. Ao leitor são reveladas as perguntas, as angústias e as decisões do grupo que partia para um estudo sem ao certo sabe por onde iniciar.
Conceitos de aspectos psicossociais de motivação interna e externa, experiência de vida, e aspectos cognitivos da aprendizagem de adultos são discutidos, tendo como referenciais teóricos autores como Kolb (1983); Brookfield (1986); Garcia (1999); Dubar (1997); Vigostky (1987;1989;2000).
Dessas primeiras observações alguns pontos já podem ser tomados como características do aprendizado de adultos: o adulto aprende pela experiência. O conhecimento significativo se dá pela influência de conhecimento anterior; significativo significa interação de aspectos cognitivos e afetivos que resulta na motivação para nova produção de conhecimento; o aluno adulto é movido pelo desafio, mais especificamente na superação desse desafio; o ato de aprender é uma escolha deliberada do ato de construção do conhecimento por parte do aprendiz e o ato de conhecer é dialético.
"Trechos das sínteses, dos comentários, experiências e idéias compartilhados nos ajudaram a conceituar o que é a memória, seu conteúdo, seu contexto e sua força propulsora na aprendizagem do adulto."
A partir dessa observação, o livro conta como foi importante o registro, a retomada das notas e escritas que faziam durante o processo e recorrem a Ecléa Bosi, em "Memória e Sociedade" (1994), como fonte de debate para a compreensão dos processos da memória e também ao importante teórico Vygostky para entendimento da memória como papel essencial para o desenvolvimento das funções superiores.
O grupo descreve que revisitar a memória traz oportunidades para novas interpretações e construção do conhecimento.
No capítulo 3, os pesquisadores começam a definir o termo subjetividade fora do censo comum e chamam autores como Bock (2000) Araújo (2002) e Rey (2003) na procura do entendimento da definição e na busca de quanto a subjetividade interfere no processo de ensino-aprendizagem.
Depois de uma breve discussão sobre sentidos e significados, passando pela mediação descrita em Vygostky (1989), observa-se que, em se tratando de adultos, levar em conta a subjetividade e a atribuição de sentido e significado de cada aprendiz pode levar o processo de construção de conhecimento a vários caminhos e a vários resultados, fazendo com que o ensino não tome forma linear e com resultados previstos. Sendo assim, o papel do mediador é de fundamental importância, pois é ele quem mantém o foco e o rumo planejado.
Deixam relatado também que o próprio fato da pesquisa estar lidando com professores, ligados à formação de professores, já revela uma subjetividade especial que começa muito antes da própria formação profissional. O formador de professores é tanto mediador como construtor de novos sentidos para todo o processo de formação de conhecimento e de profissionais, porque este também está ligado à sua subjetividade e sofre influências das demais.
"Etimologicamente, a palavra metacognição significa além da cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer". Girando em torno dos conceitos de cognição e metacoginição dá-se início ao capítulo 4. O grupo de pesquisadores afirma que na aprendizagem de adultos o aspecto metacognitivo é um fator importante nesse processo porque faz com que o aprendiz reflita sobre o próprio processo em si, tendo até uma função de motivação à medida que regula e gera os processos mentais.
Nessa direção, o papel do mediador toma níveis importantíssimos, pois é ele quem instiga ao pensamento reflexivo através de várias técnicas docente.
Usando o filme "Mentes que Brilham" (Mentes que brilham. Direção: John N. Smith. Estados Unidos: Buena Vista Home Video, 1995. 99 min, Widescreen, Dolby Digital 2.0, Colorido.) como pano de fundo, o grupo começa a pensar sobre as expectativas profissionais dos professores em início de carreira e os problemas reais que esses são obrigados a enfrentar no dia-a-dia, como dificuldades com os alunos chamados problema, inadequação de material didático, incertezas, etc.
Por meio deste filme, chega-se à conclusão de que as práticas docentes utilizadas pela aquela professora interpretada no filme não condiziam em nada com a realidade dos alunos que ela deveria ensinar, causando imenso abismo entre eles. Conhecer a realidade do aluno é algo que o professor desenvolve na prática e acaba por fim descobrindo seus valores, anseios e necessidades, fazendo com a relação ensino-aprendizado seja mais significativa e relevante. Os saberes docentes passam por vários níveis de saberes, fazendo com que a atividade docente seja algo complexo que envolve além dos saberes acadêmicos, saberes de ordem nas relações sociais.
A leitura pode ser útil a pessoas interessadas em saber como o adulto se relaciona com o processo de ensino-aprendizagem ou para pessoas que queriam ter como modelo um tipo de pesquisa chamada participativa, em que o(s) pesquisador(es) faz(em) parte integrante da pesquisa, ele(s) é(são) o(s) próprio(s) objeto de pesquisa.
Correspondência:
Sílvia Regina Drudi
Rua Serra de Jurea, 465, casa 04. Tatuapé
São Paulo - SP - CEP 03322-020
E-mail: silvia_drudi@hotmail.com
Artigo recebido: 15/08/2008
Aprovado: 10/09/2008
Resenha realizada na Universidade São Marcos, São Paulo, SP.