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Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.28 no.87 São Paulo 2011
RESENHA
Adolescência: as contradições da idade
Luiza Elena L. Ribeiro do ValleI; Maria José Viana Marinho de MattosII
IDoutora em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de São Paulo; Psicóloga; Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia das Organizações e do Trabalho (SBPOT)
IIDoutora em Educação na área de Políticas, Administração e Sistemas Educacionais pela Faculdade de Educação/Unicamp. Professora na Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas. Cursando Pós-doutorado no Departamento de Educação: Currículo na PUC - SP
Resenha do livro: Valle LELR, Mattos MJVM. Adolescência: as contradições da idade. 2ª ed. Rio de Janeiro:Wak Editora;2010.
A impressão de que a nova ordem social (capitalista, democrática, liberal) e suas conquistas tecnológicas não iriam desprezar nenhum segmento da população e que a juventude seria, naturalmente, atendida nas suas necessidades demonstrou-se equivocada. Agora, o problema em relação aos "jovens", tratado quase sempre como um problema social e econômico, acrescenta-se de uma dimensão existencial e sociocultural que não constava dos estudos e pesquisas, das políticas do Estado e das instituições voltadas para a educação desses jovens. Indiscutivelmente, mais uma vez, a sociedade e o Estado estão diante de grande dilema e novos desafios: mudanças na estrutura familiar; crescimento da violência urbana; do convite às drogas; dos problemas de depressão e ansiedade; das exigências da escola, da escolha profissional e do mercado de trabalho. É um momento, portanto, de grandes mudanças e incertezas em relação ao futuro.
A adolescência é uma fase complexa e dinâmica do ponto de vista físico e emocional na vida do ser humano. É neste período em que ocorrem várias mudanças no corpo, que repercutem diretamente na evolução da personalidade e na atuação pessoal da sociedade. Há muita preocupação com essa etapa, especialmente com os seus aspectos comportamentais e adaptativos, alertados já em 1904, quando Stanley Hall, um dos primeiros estudiosos sobre o tema, definiu a adolescência como um período de tempestade e tensão negativas.
Uma grande dificuldade surge até mesmo quando tentamos enquadrar a adolescência cronologicamente e, portanto, faz-se necessária essa caracterização. A Organização Mundial de Saúde (1975), no plano internacional, define adolescência pelo referencial cronológico como um período da vida que vai dos 10 a 19 anos, envolvendo, assim, a puberdade, que é um fenômeno universal e tem um ritmo que varia de indivíduo para indivíduo, mas previsível de acordo com os parâmetros próprios da espécie. Hoje se fala em adolescência precoce, quando está anterior ao aparecimento das características indicadas da puberdade, e também se define uma adolescência tardia, que se observa pela manutenção desse período, quando, pelos critérios biológicos, o indivíduo já um adulto. As definições cronológicas esbarram na realidade cultural e temporal.
A proposta do livro "Adolescência: as contradições da idade" é tratar das dificuldades enfrentadas por educadores, pais e profissionais que trabalham diretamente com adolescentes e jovens em seus momentos de busca, de conflitos, em um período com tantas indagações. Essa relação lida com a complexidade de situações desafiadoras.
O livro foi organizado com 14 capítulos, elaborados por psicólogos, professores e pesquisadores. Estudiosos do assunto, os colaboradores buscam articulação e aprofundamento entre os capítulos. Os três primeiros capítulos recuperam conceitos e princípios básicos sobre "adolescência" e "juventude", buscando referências no campo da Psicologia, Sociologia e Educação, sem perder de vista a noção de cultura nas Ciências Sociais. Essas reflexões trazem para o campo do debate um tema importante na sociedade contemporânea, que é a responsabilidade com a formação e educação de jovens na atualidade.
Nesta direção, os capítulos seguintes, de quatro a oito, buscam centrar a discussão na fase da adolescência considerada como um momento crucial para o desenvolvimento humano, marcada pelas significativas alterações corporais, bioquímicas, sociais e emocionais. Assim, esta parte do livro preocupa-se com os estudos e as reflexões sobre conflitos, embaraços e distúrbios, próprios desta fase da vida humana. No entanto, são temas desafiadores para atuação de instituições e profissionais que lidam, incansavelmente, com situações de atendimento e encaminhamento desses problemas, tais como: psicólogos, médicos e educadores. Além disso, questões como a formação de uma nova identidade, a ansiedade, a depressão e o sentimento de fracasso são temas tratados nesses capítulos. Assumir novos papéis gera no adolescente uma grande ansiedade, que configura na adolescência como um período de risco para o surgimento de sintomas de depressão, isolamento social e outras consequências, requerendo, assim, apoio social e psicológico.
Assim, os autores refletem e tecem orientações para lidar com as dificuldades que a fase da adolescência impõe e devem ser valorizadas como prioridade. Elaboram reflexões sobre o assunto sempre na perspectiva de que a adolescência é uma fase da vida humana, que traz dificuldades peculiares e apresenta dificuldades de relacionamento. Por outro lado, as dificuldades são enriquecedoras e devem ser valorizadas como uma forma de manifestação em uma sociedade jovem, promissora economicamente, com a criação e unificação de políticas públicas voltadas, especificamente, para os adolescentes e a juventude.
Os transtornos, os conflitos e outras manifestações que acometem os jovens nesta fase de transição para a vida adulta merecem ser compreendidas como ações preventivas. A abordagem dos demais capítulos do livro considerou estes elementos como prioridade. Essas manifestações são complexas, pois são decorrentes de vários fatores e necessitam de intervenções, uma vez que geram consequências nas mais diversas áreas da vida, como no funcionamento social, familiar, escolar e ocupacional.
Ao considerar que a adolescência é um período da vida de mudanças peculiares nos aspectos físicos e psicológicos, então, é uma fase que merece atenção especial às demandas desse processo. É nessa direção que psicólogos, educadores e pesquisadores, de diferentes áreas, buscam compreender o universo da adolescência e juventude sempre em uma perspectiva de melhor atendimento, mesmo em meio às incertezas, aos avanços científicos e tecnológicos. Esse atendimento agrega saberes referentes à prevenção e aos riscos da saúde física, psicológica e de formação, em sua amplitude como um ser humano em formação. O livro recupera e apresenta uma visão do estado atual das abordagens necessárias ao processo de atendimento, acompanhamento e orientações necessários, a uma fase importante da vida humana.
Houve um tempo em que cada um nascia condenado a um destino determinado na sociedade, com base no berço, na cor da pele ou nas características pessoais globais ou específicas. O desenvolvimento social nos trouxe a possibilidade da conquista do próprio destino como direito de todas as pessoas e é regido pela Educação, que se volta para a Saúde, entendida como bem estar físico e mental. O desenvolvimento científico investigou os caminhos para que esse direito se imponha para além dos limites impostos por dificuldades ou características pessoais, mas a sociedade tornou-se responsável pela possibilidade de utilizar esses avanços em favor da qualidade de vida das pessoas. Os adolescentes constituem um grupo que dá início a uma nova cultura, que a sociedade atual ajuda a construir, enfrentando as contradições e planejando esse futuro, ao lado deles. dolescência é uma idade de contradições e este livro busca não fugir delas, nem usar a crítica como afastamento daqueles que são a promessa de mudanças melhores, desde que encontrem valorização de seu potencial, direção, respeito e oportunidade na própria sociedade.
Correspondência:
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
Rua Goiás, 77 - Centro
Poços de Caldas, MG, Brasil - CEP 37701-005
E-mail: valle@pocos-net.com.br
Artigo recebido: 8/11/2011
Aprovado: 12/11/2011
Resenha realizada na Pontifícia Universidade Católica (PUC) Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil.