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Revista Psicopedagogia
versão impressa ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.38 no.115 São Paulo abr. 2021
EDITORIAL
Complexidade - incerteza, necessidade de coragem, proteção à vida
O Brasil vive hoje a dúvida sobre o futuro: quais serão as consequências do coronavírus? Como será a reconstrução da vida? De que forma somos afetados pela pandemia de COVID-19? É preciso que se tenha coragem para enfrentar a complexidade da emergência nacional de saúde pública frente à crise sanitária que o país vive.
Sabemos que o avanço científico é motor de desenvolvimento e fonte de progresso. O cuidado com a vida é diário e permanente, requer disciplina e participação de todos, sobretudo neste momento em que vivemos, marcado pelo medo, pela angústia, pela dor, pelo isolamento. Atualmente, a humanidade é assolada pela pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). Para enfrentar essa pandemia, mais do que nunca precisamos da participação de todos. Em tempos sombrios, precisamos mais do que nunca nos comprometer com a defesa da vida e manter a esperança.
Vivemos um tempo que nos provoca a refletir sobre a nossa vida, a nossa existência, os nossos valores, a nossa missão neste mundo. Enfrentamos, é verdade, o desconhecido, mas em cada um de nós existe algo que nos move a perseverar.
Nessa persistência publicamos a Edição 115, que abre o ano de 2021. Temos na primeira seção os Artigos Originais, sendo:
- "Elaboração de uma lista de palavras no âmbito da ortografia para escolares com dislexia: 'dyslexic sight words'", de Luciana Cidrim, Nadia Pereira Gonçalves de Azevedo e Francisco Madeiro. Este estudo contempla a criação de uma lista de palavras frequentemente escritas de modo incorreto por disléxicos. A proposta é inspirada na metodologia que utiliza listas de 'sight words' no ensino de palavras de alta frequência na língua inglesa.
- "Descompassos e relações entre leitura e escrita em crianças falantes do português: um teste parcial da teoria de Uta Frith", cujas autoras são Carolina Saito Mochizuki e Patrícia Silva Lucio, trata-se da teoria do desenvolvimento de Uta Frith que prevê descompassos entre a leitura e a escrita, sendo que em alguns pontos da aquisição dessas habilidades a leitura mostra-se mais sofisticada e favorece o desenvolvimento da escrita, enquanto em outras fases ocorre o contrário. Investigações longitudinais devem ser conduzidas no futuro para esclarecer as relações entre a leitura e a escrita nas fases mais avançadas.
- O artigo "Formação e atuação profissional do psicopedagogo nos municípios da Região Sul do Brasil", de Caroline Elizabel Blaszko e Evelise Maria Labatut Portilho, apresenta dados referentes aos psicopedagogos atuantes na rede pública municipal em três estados da Região Sul do Brasil. Objetivou-se mapear o serviço psicopedagógico oferecido nas redes públicas municipais de educação do sul do Brasil e investigar a formação dos profissionais psicopedagogos.
- Outro artigo é "A percepção da família sobre o nível de atividade física e o comportamento sedentário nos pré-escolares: consequências para o desenvolvimento físico e cognitivo", de Luan Pereira Lima, Erika da Silva Maciel, Rute Estanislava Tolocka e Vitor Antonio Cerignoni Coelho, que realizaram uma pesquisa de campo (design ecológico) com 26 pais de pré-escolares. Nos resultados evidencia-se a baixa frequência de atividades físicas oferecidas pelos pais nos dois principais microssistemas da criança, tanto em casa (13%) quanto na escola (9%) e mais de 50% das crianças foram classificadas como pouco ativas e com alta exposição a televisão.
- Na sequência tem-se "Nível de atividade física em estudantes ouvintes e surdos de uma escola em Teresina-PI", de Kelly Araújo Caldas Gomes, Larisse Ferreira da Silva e Dionis de Castro Dutra Machado. Trata-se de uma pesquisa de cunho quantitativo com amostra de 28 voluntários, do sexo masculino e feminino, com idades entre 12 a 30 anos, estudantes de uma Unidade Escolar na cidade de Teresina-PI. Para coleta dos dados, foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). Os resultados demostraram que, embora as variáveis referentes ao tempo despendido por dia em atividades moderadas e ao número de dias na semana que os voluntários praticavam atividades vigorosas tenham mostrado diferença significativas, no contexto geral a deficiência não comprometeu o nível de atividade física na amostra estudada.
Na seção de Artigos de Revisão, temos:
- "A Psicopedagogia na (re)inserção escolar de crianças e adolescentes com leucemia", de Maria Luiza Mallmann, Rosely Maria Danin Souza e Maria Luiza Rheingantz Becker. As autoras apresentam um ensaio teórico sobre (re)inserção escolar de crianças com leucemia, sob a perspectiva teórica da Epistemologia Genética de Jean Piaget, a respeito de caminhos possíveis para a atuação da Psicopedagogia. Destacam da teoria as trocas sociais entre pares, nas quais estão presentes o respeito mútuo, a colaboração, a cooperação e a solidariedade, por serem fatores essenciais para o desenvolvimento intelectual, afetivo e moral do aluno. O resultado deste ensaio teórico aponta possíveis caminhos para a atuação do psicopedagogo no acompanhamento do processo de aprendizagem e como interlocutor da tríade família-equipe de saúde-escola.
- No artigo "Contribuições da neurociência na aprendizagem da leitura na fase da alfabetização", de Daiane Marques Silva e Gustavo de Val Barreto, os autores abordam a aprendizagem da leitura salientando que envolve vários processos visuais, fonológicos, semânticos e linguísticos, ativando diversas partes do cérebro da criança. Para entender como isso ocorre, realizou-se um estado do conhecimento, estudo de caráter bibliográfico, no campo da neurociência em diálogo com a educação.
- Na sequência temos "Revisão sistemática integrativa sobre métodos e estratégias para promoção de habilidades socioemocionais", de Patrícia Vieira de Oliveira e Mauro Muszkat. O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura no recorte de 2008-2019, em busca de estudos que apresentem métodos e estratégias para promoção de habilidades socioemocionais na infância e adolescência. Foram utilizadas as bases de dados SciELO, LILACS e PePSIC. Em todos os estudos os resultados do pós-teste indicaram diminuição de comportamentos antissociais e aumento de comportamentos pró-sociais.
- Na seção Relato de Experiência, temos "A influência de mídias multissensoriais na aprendizagem de crianças com transtorno de leitura", de Ellen Paixão Silva, Glauco Amorim, Gustavo Guedes, Joel dos Santos e Renata Mousinho. Os autores retratam que pesquisas publicadas na literatura indicam que o uso de conteúdos multimídia melhoram o desempenho de leitura de escolares com dislexia. No entanto, a maioria das aplicações multimídia usam apenas dois dos cinco sentidos humanos: a visão e a audição.
- Outra seção traz Relato de Pesquisa, sendo: "Competencias genéricas de/la profesional psicopedagogo/a. Análisis transmetodológico para la actualización del perfil profesional por medio de una experiencia de investigación acción participativa", de Javiera Carrasco Cursach, Rodrigo Espinoza Vásquez, Paulina Rivera Estefanía, Cristian Flores Silva, César Villegas Gálvez. O grupo relata os principais achados gerados a partir do projeto de pesquisa "Perfil do psicopedagogo profissional: contribuições de uma revisão epistemológica para a prática no Chile", realizado pela Associação de Profissionais de Psicopedagogos do Chile no período 2019-2020.
Fechando a edição, temos uma Resenha, apresentada por Emellyne Lima de Medeiros Dias Lemos e Cibele Shírley Agripino-Ramos, cujo título é "Relações fraternas: uma história atravessada pelo transtorno do espectro autista". O trabalho trata do livro "How to be a sister - a love story with a twist of autism", escrito por uma autora norte-americana em sua fase adulta, já casada e residindo em uma cidade diferente de sua irmã com TEA, Margaret, que, adulta, mora em uma residência coletiva. Traduzido para o Brasil como "Eu, minha irmã e seu universo particular: uma história de amor e autismo", e publicado no país no ano de 2019, a narrativa é dividida em 11 capítulos, abordando a desafiadora e edificante trajetória de uma família (constituída por pai, mãe e cinco filhos) atravessada pelo autismo.
Convidamos o leitor a aproveitar essa edição 115 e que ela nos sirva como travessia entre a incerteza e a construção de alternativas possíveis, entre o enfrentamento do medo por meio da coragem de ir adiante respeitando os limites da vida. Se assim agirmos, estaremos colaborando com a ciência e protegendo a sua vida, a minha vida e a vida de quem queremos ter perto de nós na compreensão da complexidade inserida em nosso contexto científico e cultural.
Cuidemo-nos!
Luciana Barros de Almeida
Editora Revista Psicopedagogia 2020/2022
Associação Brasileira de Psicopedagogia