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Aletheia
versão impressa ISSN 1413-0394
Aletheia vol.54 no.2 Canoas jul./dez. 2021
https://doi.org/DOI10.29327/226091.54.2-3
DOI 10.29327/226091.54.2-3
RELATOS DE PESQUISA
Climatério e menopausa: relação da imagem corporal e sintomas associados em mulheres ribeirinhas na Amazônia
Climacteric and menopause: relationship between body image and associated symptoms in riverside women in the Amazon
Chirlene de Souza Campos1; Ana Maria Pujol Vieira dos Santos2; Maria Isabel Morgan Martins3
Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Canoas/RS, Brasil.
RESUMO
O climatério/menopausa é caracterizado por intensas alterações morfofisiológicas e comportamentais. O objetivo foi identificar os sinais e sintomas do climatério/menopausa e a sua relação com a Imagem corporal de mulheres ribeirinhas de uma região da Amazônia Brasileira. Estudo incluiu 100 mulheres de seis comunidades ribeirinhas de Itaituba/Pará. Os instrumentos utilizados foram: o questionário sociodemográfico, a Escala dos Sinais e Sintomas da Menopausa (MRS) e a Escala de Silhuetas de Stunkard. Para avaliar as associações entre as variáveis categóricas, o teste qui-quadrado de Pearson e teste exato de Fisher foram utilizados, (p≤0,05). Os resultados indicaram que 76% das mulheres estavam insatisfeitas com a sua imagem corporal, seja porque queriam ter corpos menores ou corpos maiores. Em relação aos sintomas do climatério/menopausa, estes são percebidos de forma moderada pelas mulheres. Conclusão: Se faz necessário levar as mulheres o conhecimento desta fase da vida e assim promover saúde neste importante período da vida.
Palavras-chave: Imagem Corporal; Climatério/Menopausa; População Ribeirinha.
ABSTRACT
The climacteric / menopause is characterized by intense morphophysiological and behavioral changes. The objective was to identify the signs and symptoms of climacteric / menopause and their relationship with the body image of women from the riverside of a region of the Brazilian Amazon. A study included 100 women from six riverside communities in Itaituba / Pará. The instruments used were: the sociodemographic questionnaire, the Menopause Signs and Symptoms Scale (MRS) and the Stunkard Silhouettes Scale. To assess associations between categorical variables, Pearson's chi-square test and Fisher's exact test were used (p≤0.05). The results indicated that 76% of women were dissatisfied with their body image, either because they wanted to have smaller bodies or larger bodies. Regarding the climacteric / menopause symptoms, these are moderately perceived by women. Conclusion: It is necessary to bring women the knowledge of this phase of life and thus promote health in this important period of life.
Keywords: Body Image; Climacteric/Menopause; Riverside Population.
Introdução
Em todo contexto de vida, a mulher passa por várias etapas de transformação que refletem diretamente na sua Imagem Corporal (IC). O início da idade reprodutiva, que inicia com a menarca, caracteriza o início da puberdade, com intensas mudanças morfofisiológicas e comportamentais. Esta traz as características de um corpo moldado pela ação hormonal, da mesma forma, o climatério/menopausa, também é marcada por intensas transformações no corpo físico e no comportamento, porém é caracterizada pela cessação na secreção dos hormônios ovarianos: estrogênio e progesterona. A fase de transição que antecede a menopausa e continua alguns anos após é conhecida como climatério. Esta imprime ao corpo inúmeros quadros de queixas e sintomas que alteram a qualidade de vida e o bem-estar da mulher madura (Morais, 2018; Selbac, et al., 2018).
O climatério corresponde à fase de transição entre o início da queda de estrogênio e a infertilidade feminina (menopausa), mesmo com o ciclo menstrual preservado como na fase da vida reprodutiva. Segundo o Ministério da Saúde (MS), o período em que o corpo da mulher passa por essa fase de transição está entre os 40 aos 60 anos de idade, dividido em pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa (Ministério da Saúde, 2008).
Embora seja uma fase natural pela qual a mulher vai passar quando atinge essa idade, ela é caracterizada por sintomas vasomotores, mudança de características sexuais, disfunções sexuais, ressecamento vaginal, surgimento de doenças cardiovasculares, osteoporose, ondas de calor, cefaleia, além de fatores biopsicossociais que podem influenciar na alteração de humor como ansiedade, irritabilidade, depressão, cansaço e diminuição da libido (Mota, Haikal, Magalhães, Silva & Silva, 2020).
As mulheres no climatério percebem de modo diferente essa fase da vida, umas podem sentir a extremidade dos sintomas, outras compreendem que este é um período fisiológico e podem passar por ele como qualquer outra etapa da vida (Nogueira, Oliveira, Mamede & Silva, 2018). Outro fator associado a esse período é o envelhecimento feminino, que envolve o declínio fisiológico natural humano, além das alterações hormonais sofridas pela mulher, ocorre a diminuição da força com a perda gradativa de massa muscular e o aumento da gordura corporal, portanto, o corpo físico começa a decair, interferindo fortemente na Imagem Corporal feminina (Morais, 2018).
O conceito de Imagem Corporal (IC) pode ser definido com a percepção que uma pessoa tem de si, ou seja, a experiência psicológica sobre a aparência e o funcionamento do corpo, a representação mental do corpo para si. Estudos demonstram que a insatisfação da IC afeta diretamente na qualidade de vida e o bem-estar emocional por estar atrelada a pensamentos e sentimentos negativos (Skopinsk, Resende & Schneider, 2015).
As comunidades ribeirinhas possuem uma estruturação social diferenciada, o ritmo das águas (cheias e vazantes) conduz a forma de vida, a floresta ao redor permite a prática de extrativismo, o contato direto com a natureza permite o uso e hábitos alimentares mais naturais (Gama, Fernandes, Parente & Secoli, 2018). A natureza, portanto, é um componente basilar quando se refere à diversidade da Amazônia, principalmente na compreensão do modo de vida e das identidades das populações ribeirinhas.
A mulher ribeirinha da mesorregião do sudoeste paraense precisa criar condições favoráveis para obter melhores formas de vida, pois a distância entre as localidades ao acesso a saúde, a educação ou a qualquer tipo de serviço urbanizado está sempre do outro lado da margem do rio ou a quilômetros de distância destas localidades. Bem como, as águas do Rio Tapajós, foram decisivas no processo de ocupação dessa região, através do seu potencial de navegabilidade, garantindo as suas comunidades acesso ao centro urbano mais próximo, neste caso o Itaituba (Amaral et al., 2013). O comportamento diferenciado pode ser justificado a partir dos pensamentos de Langdon e Wiik (2010), pois as atividades socioculturais dependem de três elementos importantes, a aprendizagem, o compartilhamento e a padronização da cultura, para o entendimento do contexto que envolve as comunidades ribeirinhas na Amazônia. A cultura quando aprendida, modela as necessidades e características biológicas e corporais, já quando é compartilhada e padronizada pelos formadores de uma sociedade, permite potencialidades em atividades específicas, diferenciadas e simbólicas através de interações resultantes de experiências em determinado contexto e espaços específicos.
O contexto cultural em que as mulheres ribeirinhas estão inseridas é diferente de mulheres urbanas, o que pode influenciar diretamente no hábito, nas práticas, saberes e valores relacionados ao cuidar, a educação e a saúde. Outros fatores influenciadores são o nível de isolamento e exclusão social, por se tratar de locais de difícil acesso, a inclusão das demandas de políticas públicas, sem a consideração do modo de vida na várzea, distancia da realidade urbana (Maia & Silva, 2012).
As distorções da percepção dessa imagem corporal ao longo da existência podem alterar o processo saúde-doença e as escolhas de comportamento e atitude em saúde, principalmente ao se tratar de mulheres ribeirinhas da Amazônia que, em sua maioria, recebem de forma deficitária as informações de saúde devido ao modo de vida, distanciamento social dos grandes centros, onde estão concentrados os serviços de saúde, e pelo fator cultural.
Desse modo o estudo teve por objetivo identificar os sinais e sintomas do climatério/menopausa e sua relação com a imagem corporal de mulheres ribeirinhas da Amazônia.
Método
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório com 100 mulheres climatéricas com idade de 40 a 60 anos, moradoras de seis comunidades ribeirinhas circunscritas do município de Itaituba no Estado do Pará, são elas: Parnamirim, Pauini, Barreiras, São Luiz do Tapajós, Filadélfia e Moreira.
O município de Itaituba está inserido na mesorregião do Sudoeste do Pará, à margem esquerda do Rio Tapajós, principal rio que banha a região oeste e sudoeste. A população estimada, em 2018, é de 101.097 habitantes. Localiza-se no norte brasileiro, a uma latitude 04º16'34 sul e a uma longitude 55º59'01 oeste, na Amazônia brasileira. É o décimo quarto município mais populoso do estado e um dos principais centros econômicos do oeste paraense. Possui o décimo terceiro maior produto interno bruto no estado. A cidade é considerada de médio porte, é uma das cidades que apresentam crescimento econômico acelerado no interior do Brasil (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2019).
A coleta de dados ocorreu nos meses de outubro a dezembro de 2019 diretamente nas comunidades. A amostragem foi por conveniência, convidando as mulheres que participaram de atividades de Educação em saúde promovidas pelo Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF). Foram excluídas mulheres com incapacidade de responder aos questionários. Os locais de encontro foram nas Unidades Básicas de Saúde da Família – UBS das comunidades. Quando a localidade não tinha UBS, os encontros foram realizados em barracão comunitário ou escolas. As participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o projeto foi aprovado no Comitê de Ética da Universidade Luterana do Brasil, CAAE 86378818.1.0000.5349.
Instrumentos
As mulheres responderam três instrumentos: questionário sociodemográfico, Escala de Classificação de Menopausa-MRS e Escala de Silhuetas de Stunkard.
Para caracterização da amostra o questionário sociodemográfico incluiu questões de idade, escolaridade, estado civil, atividade remunerada, histórico de aborto, idade da menarca e idade que entrou na menopausa.
Para avaliar os sintomas do climatério foi selecionada a Escala de Avaliação da Menopausa (MRS), um instrumento validado para o português (Heinemann, Potthoff & Schneider, 2003). É composta de 11 questões que abordam sintomas divididos em domínios somatovegetativos, psicológicos e urogenitais. Para cada questão, as mulheres podem escolher entre cinco possibilidades, ausente, leve, moderado, severo e muito severo (Heinemann et al., 2003; Heinemann et al., 2004).
A Escala de Silhuetas de Stunkard (Stunkard, Sorensen & Schulsinger, 1983) compreende nove figuras corporais, que variam de uma mulher muito magra a uma obesa. As participantes escolheram a figura que melhor as representavam no momento (silhueta atual) e qual gostaria de parecer (silhueta desejada). A insatisfação corporal foi representada pela discrepância entre essas silhuetas assinaladas.
Análise estatística
As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão ou mediana e amplitude interquartílica. As variáveis categóricas foram descritas por frequências absolutas e relativas. Para comparar médias, a Análise de Variância (ANOVA) foi aplicada. Em caso de assimetria, o teste de Kruskal-Wallis foi utilizado. Para avaliar a associação entre as variáveis numéricas, o teste da correlação de Spearman foi aplicado. Para avaliar as associações entre as variáveis categóricas, o teste qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher em conjunto com a análise dos resíduos ajustados foi utilizado. O nível de significância adotado foi de 5% (p≤0,05) e as análises foram realizadas no programa SPSS versão 21.0.
Resultados
Foram avaliadas 100 mulheres de seis comunidades ribeirinhas do município de Itaituba-PA, entre outubro a dezembro de 2019, no período de vazante dos rios. A média de idade foi de 49,0±6,1 sendo a mais nova com 39 anos e a mais velha com 61 anos, destas 82% tiveram partos normais, 67% das mulheres considerou-se pardas, a maioria possui, como escolaridade máxima, o ensino fundamental representando 65% da amostra. 76% trabalham na subsistência familiar, portanto não configurando vida profissional ativa, mas a uma vida voltada aos afazeres domésticos e da roça. A maioria das mulheres está na menopausa (51,9%), faz consultas periódicas na UBS (83%) e fez exame no último ano (54%). A média de idade da primeira menstruação foi 12,9 ± 1,7 anos e a da última menstruação foi 46,5 ± 7,5 anos (Tabela 1).
A Tabela 2 apresenta os resultados dos sinais e sintomas do climatério/menopausa através da Escala de Avaliação da Menopausa. Neste instrumento, a mulher escolhia um parecer relativo a cada sintoma, que variava de ausente até muito severo. A intensidade geral da sintomatologia climatérica referida pode ser ainda categorizada segundo a severidade dos sintomas climatéricos que compõem cada domínio do MRS em: sintomatologia ausente ou ocasional (0-4 pontos), leve (5-8 pontos), moderada (9-15 pontos) ou severa (> 16 pontos). A mediana dos sintomas total foi de pontuação 9, classificando em moderada a sintomatologia das mulheres ribeirinhas da região em estudo.
A Figura 1 apresenta os resultados da Avaliação da Imagem Corporal das mulheres ribeirinhas. A maioria está insatisfeita, destas 65 gostariam de ser menores e 11 gostariam de ser maiores. Apenas 23 estão satisfeitas com a sua imagem corporal.
Quando as características sociodemográficas foram associadas com a com a imagem corporal, verificou-se que as mulheres com satisfação corporal fizeram significativamente mais exames de mamografia quando comparadas com as insatisfeitas (p=0,037). Mesmo não sendo significativo, é importante ressaltar que as mulheres insatisfeitas (para mais ou menos) são aquelas que já estão na menopausa do que aquelas satisfeitas (tabela 3).
Ao associar os sintomas psicológicos, somatovegetativos e urogenitais do climatério/menopausa com a imagem corporal, não foi encontrada associação estatisticamente significativa nesta amostra (Tabela 4). Entretanto, o sinal/sintoma "falta de concentração" (em nível de moderado a muito severo) apresentou associação estatisticamente significativa (p=0,042) com mulheres que estão insatisfeitas com a sua imagem corporal, desejando ser maiores, conforme apresenta a Figura 2.
Discussão
O presente estudo avaliou a percepção da imagem corporal em associação às características sociodemográficos e aos sinais e sintomas do climatério/menopausa em mulheres ribeirinha da Amazônia. Pesquisas relacionadas a esse tema e população são pouco exploradas, escassas e até mesmo inexistentes no Brasil. A maioria dos estudos restringe-se a grupos específicos, tais como indivíduos com sequelas pós-câncer, em indivíduos que de alguma forma sofreram alterações da IC em decorrência de uma doença, o que dificulta a comparação e discussão dos resultados, por serem restritas apenas a um tipo específico de população.
A IC torna-se importante ao longo da vida, por ser ela o mecanismo de transmissão de imagem positiva e do modo como as mulheres são acolhidas por outras pessoas. É um mecanismo crucial na identidade pessoal, ou seja, quando não está bem elaborada pode levar as mulheres a apresentar certos transtornos psicológicos e sociais (Skopinsk et al., 2015). Nas comparações entre figura ideal e a figura percebida pelas mulheres, o estudo mostrou que a magreza era a imagem corporal mais desejada entre as participantes. A prevalência de insatisfação corporal nesse estudo foi 76% no total, sendo 65% gostariam de ser menores e 11% de ser maiores. Estes resultados foram consistentes com o estudo de Mota et al. (2020), que avaliou 633 mulheres do município de Montes Claros, Minas Gerais, e constatou que a Insatisfação Corporal está mais evidente em mulheres idosas, que já tinham filhos e mulheres com estilo de vida insatisfatório. Em trabalhadoras rurais do interior do Rio Grande do Sul a prevalência de insatisfação corporal foi identificada em mulheres com sobrepeso e obesidade, que desejavam como ideal uma silhueta menor quando comparado com o IMC real (Couto et al., 2018).
O processo de envelhecimento feminino tem forte influência no desenvolvimento da obesidade em decorrência da queda hormonal, levando a diminuição do gasto energético (Gonçalves, Silveira, Campos & Costa, 2016). Na cultura do país, o acúmulo de gordura corporal tornou-se altamente desvalorizado esteticamente, e, ter um corpo bonito é fator primordial (Maia, Sousa, Tolentino, Silveira & Tolentino, 2011). A insatisfação com a sua imagem corporal estava presente na maioria das mulheres ribeirinhas. O apelo estético, pode ter sido um dos motivos da maioria das mulheres desejarem serem mais magras nesse estudo.
No estudo de revisão de Selbac et al. (2018) mostra diferentes estudos que trazem evidências do aumento do peso no climatério/menopausa. Sabe-se que este aumento se deve principalmente a baixa estrogênica e, isso acarreta alterações nos hormônios que regulam a saciedade. A leptina é um componente complexo do sistema fisiológico que regula o armazenamento, o equilíbrio e o uso de energia pelo organismo, modulando e sinalizando o estado nutricional do organismo para os sistemas fisiológicos. Com as alterações hormonais oriundas da baixa estrogênica ocorre um desequilíbrio na regulação da leptina que passa a não sinalizar o estado nutricional levando a um aumento da ingesta alimentar desencadeando o sobrepeso e obesidade, tão comuns nesta fase. Portanto, o sobrepeso e a obesidade estão muito além do que um descuido, mas é oriundo das alterações hormonais que desencadeiam mudanças fisiológicas (Negrão & Licinio, 2000).
O estudo de Sales-Peres et al. (2019) investigou 30 mulheres eutróficas e 30 obesas, no climatério (perimenopausa), mostrou que os níveis de letptina estavam relacionados diretamente ao IMC, mostrando níveis aumentado da leptina salivar nas obesas, resultado da resistência central a este hormônio peptídico, a semelhança da resistência insulínica (Panazzolo, Silva, Leão & Aguiar, 2014). Esse desequilíbrio hormonal, induz a mulher a comer mais, e muitas vezes, as escolhas dos alimentos não são os melhores, o que induz ao sobrepeso e obesidade.
O aumento da adiposidade no climatério/menopausa que é explicado porque o estrogênio tem ações no Sistema Nervoso Central (SNC), nos hormônios reguladores da fome e da saciedade, isto altera o gasto energético com alteração concomitante na ingestão de calorias o que resulta em hipertrofia dos adipócitos. O sobrepeso e a obesidade induzem as alterações nas lipopreteínas hepáticas, LDL, HDL e VLDL. As alterações nos níveis destas lipoproteínas relacionam-se diretamente as doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial, aumento de Acidente Vascular Encefálico (AVE) e o diabete. Por isso, a necessidade da mulher estar atenta aos sinais desta fase (Panazzolo et al., 2014), não apenas pela imagem corporal, mas por que podem desencadear doenças crônicas diminuindo a qualidade de vida.
Além disso, a imagem corporal também expressa o estado de saúde ou de doença no indivíduo, podendo modificar o modelo e o esquema corporal em relação às funções desempenhadas pelo organismo (Silva & Lange 2010). Os mesmos autores reforçam, ainda, que mulheres obesas não tem noção da sua própria identidade feminina, identificando-se com valores masculinos e engordam com o medo de ser transformada em objeto sexual, ou seja, tendem a seguir estereótipos impostos socialmente. A frustração de não alcançar esses valores pode levar a perda da autoestima e insegurança, aumentado o sentimento de culpa e ansiedade nas mulheres.
Com relação aos sinais e sintomas da menopausa/climatério, as mulheres ribeirinhas deste estudo apresentaram percepção moderada, sendo os mais altos os sintomas psicológicos e os somatovegetativos. É reconhecido que as mulheres respondem de forma diferente aos sinais e sintomas do climatério/menopausa, dentre as alterações neuropsíquicas mais percebidas compreendem os fatores emocionais, ansiedade, tristeza e depressão (Curta & Weisshelmer, 2020). Os sintomas psicológicos percebidos nessa fase da vida podem ser relacionados às alterações e flutuações dos níveis de hormônios, associados a aspectos sociais e emocionais dessa faixa etária. Em um estudo realizado com mulheres de Porto Alegre, região Sul do Brasil foi identificado que a graduação da intensidade dos sintomas climatéricos psicológicos, segundo mulheres cardiopatas, tem predomínio de sintomas muito intensos como a angústia e ansiedade, representando 33,9% da amostra. Ainda, 27,6% apresentaram esgotamento físico e mental, 24,4% identificaram estado de ânimo depressivo, ainda tiverem mulheres que apresentaram nervosismo e insônia, 26,7% e 20,4%, respectivamente (Nogueira et al., 2018). Nesta pesquisa, quando os sintomas do climatério/menopausa foram associados com a imagem corporal das mulheres ribeirinhas, houve associação estatisticamente significativa apenas entre a falta de concentração (em nível de moderado a muito severo) com a insatisfação por querer ser maior. Ou seja, as mulheres que desejavam ser mais magras, apresentaram o sintoma de falta de concentração.
Assim, o estado de ânimo na menopausa é bastante alterado em função da falência ovariana, pode-se afirmar que está relacionada ao período pré-menstrual quando os níveis de estrogênios declinam e marcam os sintomas de maior tensão e depressão. Durante o ciclo menstrual feminino os picos dos níveis de estrogênio e do hormônio luteinizante, no período ovulatório, determinam a maior sensação de bem-estar. Por isso, que o climatério também é marcado pelas alterações comportamentais, em função de que os receptores estrogênicos localizados em regiões corticais, cerebelares, no hipocampo, no hipotálamo, no sistema límbico e na amígdala, a ligação do estrogênio com seus receptores no SNC regulam a síntese de neurotransmissores e que modulam receptores do fator de crescimento neural, bem como, na modulação de sistemas que regulam a secreção de serotonina, noradrenalina e a dopamina (Fernandes & Rozenthal, 2008).
O estudo desenvolvido por Freeman, Sammel, Lin e Nelson (2006), reforçou a teoria da maior vulnerabilidade das mulheres aos sintomas depressivos e à depressão maior no climatérico (perimenopausa). Este foi comprovado no estudo de Fernandes e Rozenthal (2008), onde o histórico depressivo estava presente em grande parcela do grupo (72%) investigado. Estes achados apontam para a diminuição do autocuidado pelo estado depressivo e alterações na imagem corporal me mulheres no climatério/menopausa. Portanto, é necessário estar atentos aos sinais e sintomas do climatério para promover o autocuidado.
Assim, também, foi possível constatar que as mulheres que fizeram mais exames de mamografia estão mais satisfeitas com a imagem corporal, indicando que a maior compreensão das mudanças corporais pode induzir ao autocuidado. Por isso, é importante promover o reconhecimento, pela mulher das diferentes fases pelo qual o corpo feminino vivência.
Considerações Finais
Os resultados revelam que 76% das mulheres ribeirinhas do município de Itaituba, participantes deste estudo, estavam insatisfeitas em relação a sua imagem corporal, seja para corpos menores ou corpos maiores. Com relação aos sintomas do climatério/menopausa, estes são percebidos de forma moderada pelas mulheres.
O climatério/menopausa é uma fase natural da vida feminina, e sensações e mudanças corporais são atreladas a esse período, podendo trazer efeitos indesejados às mulheres. Consequentemente o não entendimento dessas alterações, por falta de conhecimento e principalmente pelo distanciamento das comunidades ribeirinhas dos núcleos de saúde pode alterar a qualidade de vida e bem-estar dessas mulheres.
A comunidade ribeirinha são povos tradicionais de grande influência no aspecto demográfico da Amazônia, contudo, ainda são escassos estudos que averiguam essas populações, sugerindo estudos futuros para promover a saúde dessa população.
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Endereço para correspondência
E-mail:maria.morgan@ulbra.br
Recebido em: novembro de 2020
Aceito em: maio de 2021
1 Chirlene de Souza Campos: Discente do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Humano e Sociedade na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Canoas/RS, Brasil.
2 Ana Maria Pujol Vieira dos Santos: Docente do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Humano e Sociedade na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Canoas/RS, Brasil.
3 Maria Isabel Morgan Martins: Docente do Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Humano e Sociedade na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, Canoas/RS, Brasil.