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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.17 no.2 Rio de Janeiro dez. 2014

 

EDITORIAL

 

 

Prezado leitor,

A presença do psicólogo nas Instituições de Saúde é uma realidade que nos convida, de modo desafiador, não apenas ao enfrentamento das dificuldades inerentes ao trabalho, mas à revisão crítica e construtiva de nossa formação permanente.

A escrita que emerge da experiência é sempre uma excelente via de articulação teórico-clínica que favorece, sobremaneira, a abertura para a criação rigorosa de metodologias que considerem a especificidade de cada situação-problema que compõe o nosso cotidiano de trabalho.

Neste número de nossa Revista da SBPH apresentamos ao nosso caro leitor uma seleção de artigos que testemunham o compromisso de seus autores com a experiência do sofrimento, seja dos pacientes e de suas famílias, seja dos profissionais da saúde.

O tema do enfrentamento, ou melhor, do modo singular por meio do qual cada pessoa enfrenta o processo do adoecimento, é o eixo central que articula os três primeiros artigos, cada um em situação distinta.

No primeiro, "A ausência de sintoma e sua relação com o processo de enfrentamento de pacientes cardiopatas cirúrgicos", as colegas do Hospital do Coração em São Paulo, Júlia Fernandes Caldas Frayha, Juliana dos Santos Batista, Simone Kelly Niklis Guidugli e Silvia Maria Cury Ismael, avaliaram a relação entre a ausência de sintoma e o processo de enfrentamento de pacientes cardiopatas cirúrgicos frente ao diagnóstico, à intervenção cirúrgica e ao pós-operatório; no segundo artigo, "Influência da espiritualidade em pacientes pós transplante hepático: um estudo transversal", uma equipe de pesquisadores composta por alunos e professores da Faculdade Pernambucana de Saúde em Recife (PE) - Monique Thaíse dos Santos, Leopoldo Nelson Fernandes Barbosa, Carlos Eduardo Souza dos Santos, Sara Maria Teles Lima, Priscilla Machado Moraes e Fábio Mesquita Moura – indica a relação da espiritualidade com o enfrentamento da doença de pacientes que realizaram transplante hepático, ressaltando que a compreensão da relação entre espiritualidade e enfrentamento no tratamento pode trazer subsídios importantes para o manejo dos pacientes de forma integral pelas equipes de saúde.

Ainda na esteira do tema do enfrentamento, o terceiro artigo, "O processo do morrer inserido no cotidiano de profissionais da saúde em Unidades de Terapia Intensiva", de autoria das pesquisadoras da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo, Clarissa Pires Pereira e Professora Sandra Ribeiro de Almeida Lopes, entrevistaram profissionais da Medicina e da Enfermagem que trabalham em UTIs a fim de escutar suas percepções e atitudes acerca da morte e das estratégias de enfrentamento utilizadas no cotidiano profissional e nos mostram que, na medida em que o tema da morte permanece sendo pouco abordado no trabalho, nota-se a importância da criação de espaços de oferta de escuta, dentro dos hospitais, para o enfrentamento das vivências e das dificuldades dos trabalhadores da saúde em seu cotidiano.

A discussão a respeito da importância da consideração ao sofrimento de pacientes por parte das equipes de saúde nas instituições está presente nos dois artigos seguintes.

Em "Vergonha de ser, vergonha de ter: relatos de puérperas soropositivas para o HIV" as colegas Milena Mendonça dos Santos e Iassodara Collyer Soares Trindade, em pesquisa realizada no Hospital da Fundação da Santa Casa de Misericórdia do Pará, em Belém do Pará (PA), por meio de uma escuta sensível enquanto psicólogas, reconhecem o sofrimento relativo ao sentimento de vergonha de puérperas soropositivas para HIV, ao mesmo tempo em que expressam, com delicadeza, os agravos possíveis desse sofrimento quando ele não é reconhecido pela equipe de saúde; e em "Depressão em idosos institucionalizados: as singularidades de um sofrimento visto em sua diversidade", os pesquisadores de Pernambuco José Antônio Spencer Hartmann Júnior e Giliane Cordeiro Gomes propõem uma discussão que objetiva compreender as singularidades da depressão senil no âmbito institucional, indicando que a atitude de pensar, a priori, que a depressão é normal ou previsível com o envelhecimento pode resultar em subdiagnósticos e elevados índices depressivos, principalmente na realidade das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

O três últimos trabalhos se articulam por apresentarem, cada um ao seu modo, a temática da intervenção.

No trabalho intitulado "Intervenção psicoeducativa com uso de jogos eletrônicos: um estudo com familiares de pacientes oncológicos", de modo muito interessante as pesquisadoras da Universidade de Brasília, Tathiane Barbosa Guimarães e Professora Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira Araújo, atentas à possibilidade do uso de ferramentas eletrônicas em programas de intervenção psicoeducativa em saúde, apresentam sua pesquisa realizada com familiares de pacientes oncológicos, na qual constatam os efeitos positivos de tais intervenções, sobretudo no que diz respeito à ampliação de recursos para lidar com a experiência oncológica de um familiar.

Em "Expectativas de resultados relacionados ao efeito do uso do crack/cocaína em pacientes internados para desintoxicação", importante pesquisa realizada pela equipe composta por profissionais no Rio Grande do Sul - Partinobre Brito Freitas, Rosemeri Siqueira Pedroso, Maria da Graça Tanori de Castro, Katiane Secco, Paula Carvalho Gonçalves, Gabriel Soares Ledur Alves, Marcelo Rossoni da Rocha, Letícia Leite, Paola Lucena dos Santos e Renata Brasil Araujo – eles nos mostram, com clareza, a importância de que as equipes de saúde levem em conta, sobretudo no que tange aos projetos interventivos, a análise das expectativas dos pacientes internados em unidades de desintoxicação, com relação aos resultados por eles esperados do uso que fazem de crack e cocaíana.

Por fim, temos o relato de experiência de Janice Dombrovski dos Santos, Sandra Yvonne Spiendler Rodriguez e Eliane Moreira Fay em "Grupoterapia com pacientes psicóticos: relato de uma experiência", no qual as autoras apresentam o trabalho de psicoterapia grupal como estratégia de intervenção junto a pacientes psicóticos internados, com o objetivo de apresentar as possibilidades de promoção da saúde mental destes pacientes, considerando as características da psicose e as peculiaridades de seu manejo.

Esperamos que o nosso leitor faça um excelente proveito de nosso trabalho!

 

Profa. Dra. Maria Lívia Tourinho Moretto
Editora-Chefe da Revista da SBPH

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