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Revista da SBPH
versão impressa ISSN 1516-0858
Rev. SBPH vol.18 no.1 Rio de Janeiro jun. 2015
EDITORIAL
Escutando pessoas, enfrentando problemas...
Caro leitor,
Está em debate, como se diz, está "na pauta do dia" dos psicólogos da saúde o compromisso com o aprimoramento e com a atualização constante dos métodos clínicos e assistenciais que viabilizem, com eficácia, o cuidado ao sofrimento de pacientes e equipes nas Instituições de Saúde.
Faz parte do aprimoramento do escopo metodológico que fundamenta o nosso trabalho a atenção à experiência dos atores envolvidos nas situações com as quais trabalhamos - tal como por eles relatada -, pois uma escuta atenta que privilegie a singularidade das situações, não apenas nos possibilita um diagnóstico mais seguro das mesmas, como também favorece aos profissionais da saúde a construção de estratégias interventivas que se enriquecem por considerarem as especificidades dos problemas envolvidos.
Neste número da Revista da SBPH apresentamos ao nosso leitor uma seleção de artigos que apresenta como eixo central o interesse dos pesquisadores na investigação profunda dos problemas com os quais se deparam em seu cotidiano de trabalho, com vistas ao enfrentamento dos mesmos.
O primeiro artigo aborda a perspectiva futura de adolescentes tratados e o segundo aborda a experiência de idosos em processo de adoecimento. No primeiro, "Perspectivas de adolescentes cardiopatas e suas mães após transplante", as autoras Bárbara Catarina da Cunha Prado (ACTC – Casa do Coração – São Paulo, SP), Juliana Stella Sant'Ana (Hospital A.C. Camargo – São Paulo, SP) e Sandra Ribeiro de Almeida Lopes (Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo, SP) escutaram adolescentes que passaram pela experiência de transplante cardíaco e suas compreender o sentido subjetivo do adoecimento e finitude para o cuidadorfamiliar de uma idosa dependente, e apontar possibilidades de atuação do psicólogo hospitalar junto a essa população.
Os três artigos seguintes abordam, cada um ao seu modo, temas ligados à Oncologia. No quinto artigo deste número, intitulado "Psicologia e musicoterapia: uma parceria no processo psicoativo dos pacientes do Serviço de Transplante de Medula Óssea", a equipe de profissionais de saúde do Hospital das Clínicas da Universidade do Paraná - composta pelos autores Maribel Pelaez Doro (psicóloga), Julita Maria Pelaez (psicóloga e psicanalista), Carlos Antonio Dóro (músico e musicoterapeuta), Aline Cristina Antonechen (psicóloga), Marister Malvezzi (Médica e Diretora do Serviço de Transplante de Medula Óssea), Carmem Maria Sales Bonfim (Médica) e Vaneuza Moreira Funke (Médica) – apontam, com precisão, por meio de sua pesquisa, que unidades de transplante de células-tronco hematopoiéticas são locais de tratamentos de alta complexidade com incidência relevante de morbidade, e que, por isso, são necessárias intervenções terapêuticas que contemplem não apenas a doença, mas também o doente enquanto sujeito da própria história. Após a intervenção da psicologia em parceria com a musicoterapia, concluíram que a integração dos recursos da musicalidade e da palavra viabilizou ações favoráveis em relação ao paciente.
No artigo que apresenta a pesquisa de Ana Ruth B. Martins (Psicóloga residente multiprofissional em Oncologia e Cuidados Paliativos pela Universidade do Estado do Pará), Thamara A. do Ouro (Psicóloga, pósgraduanda em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade Católica Dom Bosco – Jacobina – Bahia) e Marília Neri (psicóloga e docente do curso de Direito da Faculdade de Ciências Empresariais e do curso de Psicologia da Universidade Federal do Recôncavo Baiano - Santo Antônio de Jesus – BA), intitulado "Compartilhando vivências: contribuição de um grupo de apoio para mulheres com câncer de mama", as autoras indicam a importância das contribuições do grupo de apoio oferecido por psicólogos às mulheres com câncer de mama, principalmente no que se refere aos efeitos do grupo no enfrentamento do câncer e das transformações vivenciadas, na medida em que este, para além de um espaço de acolhimento, é um espaço que favorece a circulação das informações, além de gerar envolvimento em atividades preventivas e sociais.
E para ressaltar a importância que a Psicologia Hospitalar confere à assistência ao sofrimento dos trabalhadores das Instituições de Saúde, em "As estratégias de enfrentamento/autocuidado utilizadas pelos trabalhadores de limpeza em um centro oncológico pediátrico", as colegas pesquisadoras de Fortaleza, Ceará, Maria Juliana Vieira Lima (Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará) e Cinthia Mendonça Cavalcante (Doutora em Saúde Coletiva e Professora da Universidade Federal do Ceará) escutaram os trabalhadores de limpeza de um centro oncológico pediátrico e identificaram, com sensibilidade, o modo pelo qual estes trabalhadores se vinculam com a problemática das crianças doentes e o sofrimento psíquico que desse vínculo resulta, apontando, ao mesmo tempo, a importância da oferta de um espaço de cuidado desses profissionais e a falta do mesmo.
No último artigo desse número, "O serviço de psicologia no hospital: modelo assistencial de cuidado na busca pela promoção de saúde", Andréia Mutarelli (Doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo psicóloga do Hospital Infantil Sabará – São Paulo), por meio da apresentação de situações clinico-institucionais, amplia a compreensão da prática do psicólogo no hospital revelando alguns de seus fundamentos, tais como tomar o paciente na sua integralidade enquanto um indivíduo biopsicossocial e, baseada nisso, demonstra que em Psicologia Hospitalar é fundamental a criação de modelos assistenciais de cuidado em prol da promoção de saúde.
Esperamos que o nosso esforço para a construção constante de uma revista consistente e com qualidade seja recompensado pelo bom proveito que o nosso caro leitor extraia da leitura dos trabalhos aqui apresentados. Boa leitura!
Prof.ª Dra. Maria Lívia Tourinho Moretto
Editora-Chefe da Revista da SBPH