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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.18 no.2 Rio de Janeiro dez. 2015

 

EDITORIAL

 

O valor da interdisciplinaridade em Psicologia Hospitalar

 

 

Prezado leitor,

Se tem algo que torna específico o trabalho do psicólogo que trabalha na instituição de saúde é o fato de que ele se dá, simultaneamente – ou seja, ao mesmo tempo - na vertente clínica e na vertente institucional. Na vertente clínica ele oferta, por meio de atendimento clínico, atenção e cuidado a pacientes e familiares. Na vertente institucional, ele participa, como membro de equipe, não apenas das decisões relativas aos casos clínicos, mas também contribui para a construção de diretrizes e políticas que norteiam o trabalho institucional de modo mais amplo.

Nos quatro primeiros trabalhos deste número da Revista da SBPH apresentamos ao nosso leitor uma seleção de artigos que tomam como eixo central o interesse dos pesquisadores na interlocução entre as diferentes áreas, tomando-a como oportunidade profícua para enfatizar a contribuição da Psicologia na construção de dispositivos clínico-institucionais para o enfrentamento propriamente interdisciplinar de problemas comuns às diferentes áreas.

No primeiro artigo, intitulado "Sofrimento Psíquico e Corpo: Perspectivas de Trabalho Multidisciplinar no Tratamento de Pacientes com Transtornos Somatoformes", as autoras Julia Catani (Universidade de São Paulo) e Maria Abigail de Souza (Universidade de São Paulo) apresentam os resultados do trabalho realizado com pacientes diagnosticados com transtorno somatoforme, atendidos por equipe multiprofissional em um hospital público, e discutem tanto as possibilidades quanto as limitações existentes para os profissionais que atendem estes pacientes, indicando o valor da participação tanto da Psiquiatria quanto da Psicanálise no atendimento prestado a estas pessoas que, mesmo sem terapêuticas específicas, se beneficiam, indubitavelmente, do estabelecimento de bons vínculos entre elas e os profissionais que as atendem, no tocante à transformação dos sintomas.

O segundo artigo, de autoria das colegas de Fortaleza, Rebecca Holanda Arrais (Instituto do Câncer do Ceará e Universidade de São Paulo) e Sabrina Leite Cardoso dos Santos Jesuino (Instituto do Câncer do Ceará), "A vivência psicológica da comunicação sobre diagnóstico e tratamento por pacientes oncológicos: uma Perspectiva da Psicologia Analítica", abordam e discutem tema de suma importância: a comunicação do diagnóstico e do tratamento entre equipe e paciente oncológico, a partir de uma perspectiva teórica da Psicologia Analítica, constatando que privar o paciente da possibilidade de falar sobre sua situação difícil não o protege das consequências emocionais do adoecimento e pode dificultar a integração de informações sobre seu novo momento de vida. Por outro lado, a simples emissão de informações por parte dos profissionais não garante que estas serão integradas pelo paciente, podendo, dependendo do modo com que isso é feito, ser iatrogênica.

Em "Síndrome do cromossomo X frágil: uma possível articulação entre psicanálise e genética médica?", Andréa Sousa Varela (Université Paris-Diderot Sorbonne Paris-Cité, Paris), Manoel Luce Madeira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e Maria Lívia Tourinho Moretto (Universidade de São Paulo), propõem a articulação entre psicanálise e genética médica a partir da síndrome do cromossomo X frágil (SXF), indicando que a Epigenética surge como via de tessitura entre as disciplinas, ao pensar a influência do ambiente sobre os genes, concluindo que se as trocas com o Outro são componente primordial da noção de ambiente, estão colocadas as possibilidades de inclusão do sujeito no discurso da genética médica, sugerindo, assim, suas articulações potenciais com a psicanálise.

No quarto artigo, os autores Ana Merzel Kernkraut, Ana Lucia Martins da Silva, Christiane Hegedus Karan e Thiago Amaro Machado, todos psicólogos do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, apresentam "Resultado de um estudo piloto e reflexões sobre aperfeiçoamentos necessários sobre o desenvolvimento de um indicador de qualidade do serviço de psicologia multiprofissional/interdisciplinar do envelhecimento humano para uma compreensão integral da saúde do idoso.

No último artigo desse número, "A Morte no Contexto Hospitalar: Revisão de Literatura Nacional sobre a Atuação do Psicólogo", os pesquisadores Jeane Silva Carvalho (Faculdade Ciências da Vida – Sete Lagoas – Minas Gerais) e Alberto Mesaque Martins (Centro de Pesquisas René Rachou e Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais) apresentam estudo de revisão bibliográfica com o objetivo de identificar e analisar a produção científica nacional, publicada no período de 2009 a 2013, acerca da atuação do psicólogo no atendimento a pacientes terminais e/ou em cuidados paliativos e concluem que os achados ressaltam a importância da presença e da atuação do psicólogo hospitalar dentro nas equipes multidisciplinares que atuam junto aos pacientes terminais, especialmente pelo seu potencial de proporcionar aos pacientes, cuidadores familiares e equipe de saúde, um novo olhar e novos sentidos acerca da terminalidade, indicando a necessidade de investimentos na educação para a morte.

Esperamos que o nosso esforço para a construção constante de uma revista consistente e com qualidade seja recompensado pelo bom proveito que o nosso caro leitor extraia da leitura dos trabalhos aqui apresentados.

 

Profa. Dra. Maria Lívia Tourinho Moretto
Editora-Chefe da Revista da SBPH

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