SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.9 número2Grupos de apoio amplo: ancoragem e apoio psicológico em grupos terapêuticosReorganização familiar após a enfermidade fatal de um filho: o pai como cuidador índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Revista da SPAGESP

versão impressa ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.9 no.2 Ribeirão Preto dez. 2008

 

ARTIGOS

 

Possíveis intervenções e avaliações em grupos operativos

 

Possible interventions and evaluations in operative groups

 

Las posibles intervenciones y las evaluaciones en grupos operativos

 

 

Isabel Cristina Carniel 1

Universidade Paulista - UNIP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo aborda algumas possibilidades de realizar intervenções e avaliações de processos grupais e de resultados obtidos com estas práticas. A autora apresenta algumas modalidades de atendimento grupal em psicologia, como os grupos realizados na área da educação, clínica e trabalho, destacando os grupos focais como uma prática pertinente aos diferentes campos de atuação da psicologia. Após uma visão geral dos grupos em psicologia, a autora discorre sobre a aplicabilidade dos grupos operativos nos mais diferentes contextos anteriormente considerados, destacando sua importância como método de coleta e análise de dados em pesquisa e exemplificando com sua experiência com o referido método no trabalho com pacientes com desordens temporomandibulares.

Palavras-chave: Avaliação de processos; Grupos operativos; Pesquisa.


ABSTRACT

This study approach some possibilities to carry through interventions and evaluations of group processes and results obtained with these practical. The author presents some modalities of group attendance in psychology, as the groups carried through in the area of the education, clinic and work, detaching the focal groups as one practical pertinent one to the different fields of performance of psychology. After a general vision of the groups in psychology, the author discourses on the applicability of the operative groups in the most different contexts previously considered, detaching its importance as method of collection and analysis of data in research and exemplifying with its experience with the related method in the work with patients with temporomandibular disorders.

Keywords: Process assessment; Operative groups; Research.


RESUMEN

Este estudio acerca del algunas posibilidades para llevar con intervenciones y evaluaciones de los procesos y de los resultados del grupo conseguidos con éstos prácticos. El autor habla de algunas modalidades de la atención del grupo en psicología, como los grupos llevados a través en el área de la educación, de la clínica y del trabajo, separando a los grupos focales como un una pertinente práctica a los diversos campos del funcionamiento de la psicología. Después de una visión general de los grupos en psicología, los discursos del autor en la aplicabilidad de los grupos operativos en los contextos más diversos considerados previamente, separando su importancia como método de colección y de análisis de datos en la investigación y exemplificando con su experiencia con el método relacionado en el trabajo con los pacientes con desordens temporomandibulares.

Palabras clave: Evaluación de proceso; Grupo operativo; Investigacion.


 

 

Dependendo do referencial teórico-metodológico escolhido e dos motivos pelos quais foram constituídos os grupos, também serão realizadas as suas intervenções e avaliados seus resultados e/ou processos.

Se para alguns estudiosos o processo grupal não está em primeiro plano, para outros, é essencial e ponto de partida para a compreensão do ser humano, este considerado como ontologicamente – e até instintivamente – social.

O coordenador de grupos será assim chamado aqui, tendo em vista que, dependendo da abordagem teórica e prática, poderá receber diferentes denominações. Por exemplo: diretor, no Psicodrama; facilitador, em abordagens humanistas; analista, na Psicanálise.

O integrante ou participante dos grupos receberá estas denominações porque, ora poderá ser o paciente, num contexto da saúde; ora poderá ser o candidato a uma vaga numa empresa.

De modo geral, o coordenador terá como função primordial, favorecer o trabalho do grupo, tendo em vista os objetivos constituintes do mesmo. Questões operacionais, como o cumprimento do contrato inicial e regras estabelecidas pelo próprio grupo em andamento, bem como “lembrar” o grupo os motivos que reuniu os participantes, são atribuições do coordenador, que poderá contar com a ajuda de auxiliar(es) nesta função.

Uma das possibilidades de intervenções grupais pode ser a constituição de um grupo com a finalidade de selecionar um candidato, dentre outros, a um cargo em determinada empresa. Os resultados serão avaliados a partir de intervenções do coordenador, visando a expressão de características que melhor correspondam ao cargo a ser ocupado.

Através de atividades grupais, os chamados exercícios de dinâmica de grupos ou reflexões sobre temas específicos, são avaliados os integrantes em suas mais diversas manifestações: verbais, corporais, afetivas, inter-relacionais.

Uma forma interessante de realizar este trabalho pode ser através dos chamados grupos focais.

Como o próprio nome sugere, o grupo focal é realizado com a focalização em determinados aspectos e não em outros, conforme a necessidade de quem o propõe.

Em um artigo da revista da SPAGESP, os autores falam sobre a utilização dos grupos focais, afirmando que estes favorecem a observação dos processos de interação entre os participantes, ao mesmo tempo em que “minimizam a influência” do coordenador sobre os participantes. O que propicia uma coleta de dados mais adequada (BORGES; SANTOS; BALIEIRO, 2005).

Através de um roteiro a ser seguido, podem ser realizadas entrevistas grupais e analisados os resultados a partir de gravações das sessões grupais, que, sendo transcritas, podem ser valiosas como instrumentos de avaliação dos conteúdos abordados.

Num contexto clínico, os grupos focais podem estar voltados para o trabalho de queixas específicas, trazidas logo de início pelos integrantes. Estes grupos são mais indicados para queixas homogêneas entre os integrantes.

Na área da educação, podem ser realizados grupos focais para a discussão e reflexão de temas que interessem a determinada população e também no trabalho de orientação sobre possíveis escolhas profissionais.

 

AVALIAÇÃO DE RESULTADOS

A avaliação dos resultados de intervenções em grupo podem se dar por meio de estudos longitudinais, nos quais profissionais das mais diferentes abordagens teóricas e práticas descrevem como evoluem os grupos por eles acompanhados. A maioria dos estudos sobre atendimentos clínicos, em que se afirmam características de funcionamento grupal – fases esperadas, maiores avanços, momentos em que os abandonos ou estagnações são mais esperados – são frutos de estudos realizados após longos períodos de observação e análise.

Existem modalidades de trabalhos grupais em que as intervenções e os resultados destas são avaliados com base na relação coordenador-integrante (como em alguns grupos de orientação analítica); outros onde predominam a relação coordenador-grupo, cujas intervenções são nas inter-relações dos participantes (como alguns grupos derivados da Psicologia da Gestalt), vistos como constituindo um todo indissociável; também existem grupos em que a ênfase das intervenções se dá entre o coordenador e a tarefa grupal (como nos grupos operativos).

 

GRUPOS OPERATIVOS

Pichon-Rivière (1994) dedicou boa parte dos seus estudos à compreensão da dinâmica presente nas relações do indivíduo com o mundo, descrevendo o processo grupal (título de uma das suas mais importantes obras) como constituindo os indivíduos e sendo por estes constituído.

Como em qualquer avaliação e intervenção que se faça sobre o ser humano, é necessário que se tenha uma clara concepção deste último, Pichon-Rivière (1994) descreve o homem como um ser cujas necessidades só são satisfeitas socialmente, em relações que determina e que, ao mesmo tempo, é por elas determinado. Daqui também deriva a concepção de saúde, proposta por este autor, como estando diretamente ligada à capacidade do ser humano agir de modo “ativamente adaptado”, transformando o mundo e ao mesmo tempo sendo por este transformado, numa relação dialética.

Tendo estes pontos de partida, é necessário também falar sobre a noção de tarefa grupal para, em seguida abordarmos a avaliação dos processos e resultados nestes grupos.

Segundo Pichon-Rivière (1994) todo grupo operativo se reúne em torno de uma tarefa, que constitui seu principal motivo de existência.

Por exemplo: um grupo de psicoterapia tem como principal tarefa a realização do processo de autoconhecimento e compreensão das relações dos integrantes entre si e com o mundo.

Contrária à noção de tarefa, temos a pré-tarefa que seria uma espécie de “não-tarefa”.

Em termos de processos grupais, a tarefa e sua realização levariam o grupo a se transformar, crescer, evoluir. A pré-tarefa seria uma manifestação das resistências do grupo, motivadas por medos básicos de ataque e perda (KLEIN, 1975), inconscientes, que estagnariam as possíveis mudanças e favoreceriam a cristalização de papéis em determinados integrantes.

Os resultados das intervenções, bem como dos processos grupais, podem ser avaliados (e são) pela equipe de coordenação no momento do acontecer grupal e através dos registros feitos por um ou mais observadores que compõem a equipe de coordenação.

Os registros realizados pelo observador são anotações literais das falas dos participantes – e da coordenação – que, em geral, não são gravada eletronicamente. Estas anotações são discutidas pela equipe de coordenação, avaliando o motivo do grupo, segundo critérios abordados por Pichon-Rivière (1994) quanto ao clima grupal, a comunicação entre as pessoas, a realização ou não da tarefa.

Após discutir sobre o movimento ocorrido em determinado grupo, a equipe de coordenação deve organizar uma “crônica” do mesmo, onde ficam explícitos os chamados “vetores” que Pichon-Rivière (1994) afirma estarem presentes em todo processo grupal. Estes vetores apontam para alguns dos aspectos anteriormente mencionados, como a comunicação, a afiliação, a pertinência, a tele (clima grupal) e a aprendizagem.

Na crônica dos grupos também são explicitados os conteúdos que surgem antes (pré-grupo), no início, no decorrer e ao final dos grupos, articulando-os como uma totalidade.

Além da avaliação do processo grupal através das crônicas de cada encontro e da articulação entre todas as realizadas, os registros literais das sessões nos permitem analisar conteúdos manifestos pelos participantes sobre temas que, porventura, queiramos desenvolver.

 

UMA EXPERIÊNCIA DE GRUPOS OPERATIVOS EM PESQUISA

Em meu trabalho de doutorado (CARNIEL, 2001) optei pela utilização dos grupos operativos com pacientes em tratamento para disfunções temporomandibulares (DTMs), onde realizei doze sessões, ao longo de um semestre letivo, com a tarefa de compreender os aspectos psicológicos associados às tais DTMs.

Esta tarefa atendia a várias demandas: dos dentistas, com dificuldades de avançar no tratamento dos pacientes sem atendimento psicológico; dos pacientes que, nem sempre compreendiam as causas, mas sofriam com as conseqüências das DTMs e a minha demanda, como pesquisadora e interessada em compreender um problema pouco conhecido, porém mais comum do que se imagina.

Ao longo das sessões de grupos operativos, foram surgindo falas que abordavam temas interessantes e que puderam ser desenvolvidos através de uma análise de conteúdo temática, apontando para uma maior compreensão das DTMs e as questões psicológicas a elas associadas.

Este é um exemplo em que foi feita a opção pelo estudo das falas dos participantes ao invés do estudo do processo grupal. Este foi cogitado, porém, seria necessário um tempo muito maior para realizá-lo e tornaria o trabalho por demais extenso.

 

A APLICAÇÃO DOS GRUPOS OPERATIVOS

Os grupos operativos podem e são utilizados nos mais diversos contextos: clínica, escola, empresa, comunidade e nas diferentes instituições, variando, principalmente, com relação à tarefa grupal. Portanto, não são necessariamente de tarefa terapêutica.

Pichon-Rivière (1994) afirma que os grupos operativos atendem basicamente a duas dimensões: aprendizagem e terapêutica. E conclui dizendo que, mesmo privilegiando uma das dimensões, a outra estará presente, uma vez que não concebe a terapia sem a aprendizagem de novas maneiras de existir e nem a aprendizagem sem alguma mudança de caráter terapêutico.

Mesmo com estas considerações, a tarefa grupal não precisa ser concebida privilegiando uma e/ou outra dimensão. Estas são intrínsecas ao processo grupal, segundo o referido autor.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as intervenções grupais podem ter seus resultados avaliados, seja pelo coordenador, seja pelos participantes. Tais avaliações podem ser realizadas no ato do acontecer grupal, através da observação do mesmo ou através de registros escritos ou gravados eletronicamente. Sempre, é claro, com o consentimento dos participantes.

Minha escolha pelos grupos operativos é pela ampla visão que nos permite ter dos processos grupais e pelos instrumentos propostos para realizar tanto as intervenções, como a avaliação dos resultados ocorridos nos referidos grupos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, C. D.; SANTOS, M. A.; BALIEIRO, M. Aplicações da técnica do grupo focal: fundamentos metodológicos, potencialidades e limites. Revista da SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 6, n. 1, p. 74-80, 2005.         [ Links ]

CARNIEL, I. C. O acompanhamento psicológico no tratamento das desordens temporomandibulares: uma proposta de grupos operativos no atendimento a pacientes. 2001. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2001.

KLEIN, M. Psicanálise da criança. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1975.         [ Links ]

PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.         [ Links ]

PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Isabel Cristina Carniel
E-mail: carniel.cris@terra.com.br

Recebido em 17/09/08.
1ª Revisão em 20/10/08.
Aceite Final em 05/11/08.

 

 

1 Docente da Universidade Paulista (UNIP), campi Ribeirão Preto e Araraquara. Especialista. Mestre e Doutora pelo Programa de pós-graduação em Psicologia Social da Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto. Formada em Coordenação de Grupos Operativos pelo Instituto de Psicologia Social de Ribeirão Preto.