SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.9 número1Aspectos contextuais e pessoais influenciadores do consumo de chocolateEmpregabilidade do psicólogo: análise da percepção de alunos, ex-alunos, professores universitários e selecionadores índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Psicologia em Pesquisa

versão On-line ISSN 1982-1247

Psicol. pesq. vol.9 no.1 Juiz de Fora jun. 2015

https://doi.org/10.5327/Z1982-1247201500010005 

ARTIGOS

DOI: 10.5327/Z1982-1247201500010005

 

A produção científica sobre o cyberbullying: uma revisão bibliométrica

 

Scientific production on cyberbullying: a bibliometric review

 

 

Júlia Custódio Carelli de Oliveira; Lélio Moura Lourenço; Luciana Xavier Senra

Universidade Federal de Juiz de Fora (Juiz de Fora), Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O cyberbullying é um ato agressivo e intencional, realizado por um grupo ou por um indivíduo por meio de contatos eletrônicos. O presente artigo teve como objetivo realizar um levantamento bibliométrico sobre o tema, a partir de artigos acadêmico-científicos indexados em bases de dados. Foram selecionados trabalhos publicados entre 2008 e 2013. Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram selecionados 63 artigos. Os resultados apontaram 2012 como o ano de maior produtividade nessa temática, além da Espanha e dos Estados Unidos como os países com o maior número de publicações. Os periódicos com maior quantidade de artigos publicados foram "School Psychology International" e "Computers in Human Behavior". Rosário Ortega-Ruiz, Peter Smith e Sheri Bauman aparecem como os autores mais produtivos.

Palavras-chave: violência; cyberbullying; revisão bibliométrica; artigos acadêmico-científicos.


ABSTRACT

Cyberbullying is an aggressive and intentional act performed by a group or an individual through electronic means. This paper aimed at conducting a bibliometric survey on the topic, based on academic and scientific articles indexed in databases. Articles published between 2008 and 2013 were selected. After applying the exclusion criteria, 63 articles were chosen. The results showed 2012 as the year of increased productivity in this theme, as well as Spain and the United States as the countries with the highest number of publications. The journals with the largest amount of articles were "School Psychology International" and "Computers in Human Behavior". Rosário Ortega-Ruiz, Peter Smith and Sheri Bauman were the most productive authors.

Keywords: violence; cyberbullying; bibliometric review; academic and scientific articles.


 

 

Nos últimos anos, mudanças radicais e constantes vêm ocorrendo com relação aos modos de comunicação, visto que, rapidamente, novos dispositivos eletrônicos vinculados à Internet e aos celulares são desenvolvidos, permitindo trocas de informação e de dados de maneira mais simples e ágil (Sticca & Perren, 2012). Tais transformações favorecem as interações inclusive dos adolescentes e jovens, por meio de ambientes virtuais mediados pelas redes sociais (Ahn, 2011). Entretanto, pelo fato de que as tecnologias de informação e comunicação estão difundidas a um número cada vez mais amplo de pessoas, seus usuários tornam-se mais expostos à violência interpessoal, às perseguições e às agressões que ocorrem no meio virtual, o que caracteriza as ocorrências de cyberbullying, fenômeno que também tem sido denominado como "on-line bullying" (Nansel et al., 2001) ou "electronic bullying" (Raskauskas & Stoltz, 2007).

A definição mais difundida acerca do fenômeno caracteriza o cyberbullying como um ato agressivo e intencional, realizado por um grupo ou um indivíduo pelos contatos por meios eletrônicos (Smith et al., 2008), tais como world wide web (por exemplo, e-mails, sites, mensagens instantâneas, blogs, redes sociais), telefonia móvel (mensagens de texto, mensagens multimídia e demais aplicativos) e outras tecnologias de informação e comunicação, as chamadas TICs (Barbosa & Farias, 2011). Destaca-se o caráter intencional do cyberbullying (Hinduja & Patchin, 2012), cujas vítimas não têm chances de se defenderem facilmente (Smith et al., 2008).

Segundo a definição de Li (2008), o cyberbullying é uma tipologia de bullying por meio de ferramentas de comunicação eletrônica. Ybarra, Boyd, Korchmaros, and Oppenheim (2012) ressaltaram que a amplitude de conceitos e suas diferentes operacionalizações nos estudos geram inconsistências nos resultados das pesquisas, dificultando as comparações dos resultados e limitando o progresso do conhecimento na área.

Em relação às formas de ocorrência do cyberbullying, Willard (2007) propõe oito tipologias distintas que serão apresentadas com traduções livres, a saber:

flaming (discussão 'acalorada'), que são brigas realizadas por meio de mensagens eletrônicas, marcadas pela raiva e pelo uso de linguagem vulgar;

harassment (assédio) – envio repetido de mensagens desagradáveis e insultos;

denigration (difamação) – transmissão ou postagem de rumores ou fofocas sobre uma pessoa com o objetivo de prejudicar sua reputação e relações sociais;

impersonation (representação ou substituição) – quando simula-se ser outra pessoa por meio do envio de mensagens e materiais

on-line, no intuito de gerar problemas à pessoa agredida;

outing (exposição de informação ou imagem) – compartilhamento de informações e imagens íntimas ou embaraçosas;

trickery (enganação) – consiste em fazer com que uma pessoa conte seus segredos e/ou informações embaraçosas para depois compartilhá- los on-line;

exclusion (exclusão) – exclusão cruel e intencional de uma pessoa de um grupo on-line;

cyberstalking (discurso agressivo via Internet) – assédio e difamação intensos e repetidos, incluindo ameaças, que acarretam medo na vítima, por meio dos meios de comunicação virtual.

O cyberbullying compartilha algumas características com o bullying, tais como a conduta repetitiva ao longo do tempo, intencional, hostil e com o objetivo de gerar danos às vítimas (Buelga, Musitu, & Murgui, 2009; Katzer, Fetchenhauer, & Belschak et al., 2009; Smith et al., 2008). Assim, os problemas associados ao bullying no contexto escolar teriam continuidade no ambiente virtual (Li, 2007; Buelga, Cava, & Musitu, 2010). No entanto, as características próprias dos meios tecnológicos conferem ao cyberbullying uma potencialidade de dano ainda maior, posto que amplia os atos de violência e perseguição pelo maior alcance proporcionado pela Internet, aumentando, portanto, os prejuízos psicológicos das vítimas (Buelga & Pons, 2012).

É possível identificar traços que distinguem o cyberbullying do bullying face a face, os quais se referem à ausência de agressão física, ao anonimato dos agressores (associado à separação física entre o agressor e a vítima), à rápida disseminação das informações com conteúdo de difamação e maior audiência (espectadores) de tais atos de violência.

A impossibilidade de agressão física no contexto do cyberbullying (Vandebosch & Van Cleemput, 2009) permite que qualquer indivíduo seja um cyberbullie (Barbosa & Farias, 2011), sem importar o tamanho e o porte físico do agressor. Esta característica possibilita a discussão quanto à real ocorrência de um desequilíbrio de poder nessas formas de relação, tendo em vista que qualquer pessoa pode se utilizar de meios eletrônicos para causar danos ao outro, inclusive as próprias vítimas de bullying podem tornar-se agressoras no cyberbullying.

Outro aspecto relevante e que não apresenta consenso na literatura diz respeito à questão do anonimato, pois os agressores podem facilmente permanecer anônimos no espaço virtual (Kowalski, Limber, & Agatston, 2008; Li, 2007). Contudo, alguns estudos apontam que grande parte das vítimas sabe ou suspeita sobre a identidade de seus agressores (Huang & Chou, 2010; Juvonen & Gross, 2008). Associado ao anonimato, há o processo de desinibição que a Internet provoca, por meio da liberação de elementos mais íntimos (Chishlom, 2006). Assim, muitos se utilizam dos meios eletrônicos para dizer ou fazer aquilo que não teriam coragem no ambiente real, como ofender, perseguir ou humilhar.

Pode-se observar ainda que o espaço cyber favorece a rápida disseminação das informações e amplia o número de possíveis observadores dos atos de violência, fazendo com que a vítima se sinta insegura de forma constante e em todos os lugares, diferentemente do bullying, que é mais contextual e restrito ao ambiente escolar.

Dessa forma, o presente estudo apresenta os dados de uma revisão bibliométrica que teve o objetivo de identificar como o tema referente ao cyberbullying vem sendo abordado e investigado no âmbito científico. A bibliometria, enquanto área de estudo que emprega métodos matemáticos e estatísticos para investigar e quantificar os processos de comunicação escrita (Guedes & Borschiver, 2005), apresenta-se como uma alternativa útil e eficaz para a descrição do processo de construção do conhecimento, permitindo identificar o volume de conhecimento produzido, os autores de maior relevância e produtividade, dentre outros aspectos. Mugnaini, Jannuzzi e Quoniam (2004) também ressaltam que a produção de indicadores quantitativos em ciência vem se consolidando no Brasil na última década, visto que há um maior reconhecimento da necessidade de se dispor de instrumentos para definição de diretrizes e programas, bem como a avaliação de atividades ligadas aos desenvolvimentos científico e tecnológico no país.

 

Métodos

Com o objetivo de investigar a produção científica na temática referente ao cyberbullying, a pesquisa bibliométrica buscou encontrar artigos indexados em bases de dados do Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que é uma conhecida biblioteca virtual que reúne e disponibiliza às instituições de ensino e pesquisa no Brasil as produções científicas nacional e internacional.

Assim, realizou-se uma busca eletrônica em quatro bases de dados, a saber: PePSIC, PsycINFO, Redalyc e Web of Science. O PePSIC é um portal da Biblioteca Virtual em Saúde da União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (BVS-Psi ULAPSI). A base PsycINFO é considerada referência nas publicações em Psicologia, área da saúde e ciências humanas de forma geral. A Redalyc é uma base de dados de acesso aberto, abarcando a produção científica de países latino-americanos, da Espanha e de Portugal. Web of Science é multidisciplinar e reúne periódicos de maior impacto nas diversas áreas do conhecimento. As buscas em cada uma das bases citadas foram feitas por meio da utilização do termo "cyberbullying". Foram selecionados estudos apresentados em formato de artigos científicos publicados no período compreendido entre 2008 a 2013 (até o mês de julho deste último ano).

Como resultados da busca inicial, foram obtidas 595 publicações. A partir disto, houve uma seleção dos artigos, baseando-se nos seguintes critérios de inclusão: modalidades textuais em formato de artigos/papers; artigos com texto completo disponibilizado gratuitamente; trabalhos publicados em português, inglês e espanhol; estudos empíricos e referências pertinentes à temática em questão. A sistematização para inclusão/ exclusão dos estudos se deu pela leitura preliminar na seguinte ordem: 1) título; 2) resumo; 3) introdução e 4) considerações finais.

Após a organização de todo o material obtido, as referências de cada artigo (autor, título, fonte e ano de publicação) foram catalogadas em uma planilha do software Microsoft Excel Web App. Foram descartados os textos repetidos, os artigos teóricos, as revisões de literatura, os comentários de artigos e editoriais, os trabalhos publicados em alemão e francês e os estudos que, apesar de serem reconhecidos com o descritor durante as buscas, não apresentavam relação direta com cyberbullying. Dessa forma, chegou-se a um total de 63 trabalhos, número que correspondeu à amostra do estudo.

Os artigos foram analisados por meio de leitura do texto completo e sua sistematização em indicadores bibliométricos elencados em variáveis, tais como: base de dados; periódico; ano de publicação; país de publicação e analisado; nome do primeiro e do último autor; palavras-chave; tipo de estudo (metodologias de coleta e análise de dados); dados sobre a amostra; definições de cyberbullying; tipologias de cyberbullying descritas; instrumentos; prejuízos ao desenvolvimento e estratégias de prevenção/intervenção.

 

Resultados

Com relação à produção por bases de dados indexadas, observou-se um predomínio de publicações na Web of Science (39 artigos), enquanto que as bases Redalyc e PsycINFO apresentaram 14 e 10 artigos, respectivamente. Quanto ao PePSIC, foram encontrados somente dois artigos que foram, posteriormente, excluídos, pois abordavam tópicos que se distanciavam da temática proposta. Como exemplos, temos um estudo que discutia mais especificamente o bullying, não investigando diretamente o cyberbullying, e um artigo que explorava, de modo geral, os padrões de uso da Internet.

Dentre os periódicos analisados, aqueles com maior frequência de publicações foram: School Psychology International (nove artigos) e Computers in Human Behavior (sete artigos), conforme analisado na Tabela 1. Já em relação à produção por ano, observou-se 2012 como o mais produtivo, com 23 publicações. A Figura 1 apresenta a distribuição por ano.

 

 

 

A análise de frequência das publicações por país foi subdividida da seguinte forma: país responsável pela publicação (local sede dos periódicos; quando esta informação não estava disponível nos endereços eletrônicos das próprias revistas, considerou-se o país de referência do editor chefe) e país em que foi realizada a coleta de dados. Assim, em relação às indexações por países, os Estados Unidos (28 artigos, 44,3%), a Espanha (12 artigos, 19%), a África do Sul (9 artigos, 14,3%) e a Alemanha (6 artigos, 9,5%) se destacaram com as maiores frequências de produções. Outros países apresentaram os seguintes percentuais de publicação: Reino Unido (três estudos, 4,8%); Taiwan (dois estudos, 3,2%); Peru, Colômbia e Suécia (um artigo de cada país, 1,6%). No que se refere aos locais em que foram conduzidas as coletas de dados, Estados Unidos, Espanha e amostras multiétnicas (nas quais ela foi realizada em mais de um país) apresentaram as maiores frequências, conforme demonstrado na Tabela 2.

 

 

Quanto aos autores, foram catalogados os nomes do primeiro e do último autor. Assim, os pesquisadores mais rendosos no período analisado foram: Ortega-Ruiz, R (cinco publicações); Smith, P. (quatro); Bauman, S. (quatro); Del Rey, R. (três), entre outros, conforme apresentado na Tabela 3.

 

 

Dentre os 63 artigos analisados, 55 incluíam palavras-chave, as quais perfazem um total de 281. Destas, as mais utilizadas nos artigos foram: cyberbullying; bullying; adolescents/adolescence; victimization; cybervictimization; aggression, entre outras, como pode ser observado na Tabela 4.

 

 

A análise dos artigos também indicou um maior número de pesquisas com metodologia quantitativa (85,7%), em comparação às metodologias qualitativas (7,9%) e quanti-qualitativas (6,3%). O delineamento mais utilizado foi o transversal, frequente em 87,3% dos artigos, ao passo que o longitudinal foi empregado em 11,1% dos estudos; somente um deles lançou mão tanto do delineamento transversal quanto do longitudinal. De um modo geral, as principais técnicas e instrumentos de coleta e análise de dados citados nos estudos foram: survey (on-line e/ou presencial); aplicação de questionário; entrevista semiestruturada; grupo focal; etnografia; análise de prevalência; análise de conteúdo; modelagem de equações estruturais, entre outros.

No que se refere às características amostrais dos estudos analisados, observou-se que grande parte das pesquisas (55 artigos) serviu-se de amostras compostas de estudantes (níveis primário e secundário), sendo o contato feito diretamente com as escolas. Dentre os artigos analisados, 21 deles relataram que a amostra foi formada por escolas situadas em áreas urbanas, ao passo que seis ampliaram o estudo para as zonas rurais. Além disso, 24 artigos explicitaram o uso de técnicas de amostragem probabilística, enquanto que 11 relataram a composição de amostras por conveniência. Foi verificado que três estudos investigaram o fenômeno do cyberbullying junto a professores, três pesquisas abordaram diretamente os adolescentes usuários de Internet e três utilizaram como informantes de suas pesquisas estudantes universitários, dois dos quais investigaram a referida problemática junto a estudantes dos cursos de psicologia.

Com relação aos elementos teóricos, grande parte das pesquisas (90,5%) apresenta uma definição objetiva acerca do fenômeno em questão, sendo a definição proposta por Smith (2006; 2008) a mais difundida, citada em 49,2% dos textos analisados. Quanto às tipologias, 23 (36,5%) pesquisas abarcam, em sua fundamentação teórica, as principais formas pelas quais o cyberbullying se manifesta, sendo a divisão proposta por Willard (2007) a mais citada, uma referência em 10 dos 23 artigos que indicam essa delimitação própria do tema.

A respeito dos instrumentos utilizados para investigação do cyberbullying, observou-se que, em alguns casos, os autores lançaram mão de estudos de levantamento cujos itens foram criados para estudos específicos; adaptaram escalas preexistentes para o contexto das pesquisas; desenvolveram novas escalas com base em itens encontrados em outros instrumentos ou aplicaram-nos em sua configuração original, sendo que os mais utilizados foram: "Cuestionario Cyberbullying" (Ortega, Calmaestra, & Mora Merchán, 2007), em quatro estudos; "Cyber Aggressions Scale" (Smith, Mahdavi, Carvalho, & Tippett, 2006), também em quatro pesquisas; a subescala de cyberbullying de "The Olweus Bully/Victim Questionnaire" (Olweus, 1989; 1996), em dois estudos; a "Escala de victimización a través del teléfono móvil y a través de Internet" – CYBVIC (Buelga, Cava, & Musitu, 2010), em duas pesquisas; o "Cyberbullying Questionnaire" (Ang & Goh, 2010), em dois trabalhos; e a "Cyberbullying Scale" (Patchin & Hinduja, 2011; 2013), em duas.

No que tange aos possíveis prejuízos ao desenvolvimento decorrentes das práticas de cyberbullying, 31 artigos relacionaram essas ocorrências a consideráveis impactos negativos nas saúdes física e mental das vítimas. Os principais prejuízos apresentados nos estudos foram: emoções e sentimentos negativos, manifestos pelo aumento dos níveis de estresse, ansiedade, depressão e ideação suicida; baixa autoestima; sentimentos de impotência, frustração, raiva, solidão e tristeza; altos níveis de ansiedade social e outros tipos de fobias, como sair de casa, ir à escola, medo de ter a privacidade invadida ou a própria segurança comprometida; prejuízos no desenvolvimento de relacionamentos interpessoais; possível aumento dos níveis de agressividade (reativa ou instrumental); uso de álcool e outras drogas, dentre outros. No entanto, vale ressaltar que ainda não se sabe se tais ocorrências são antecedentes ou consequentes ao cyberbullying, dada a possível causalidade bidirecional (Lindfors, Kaltiala- Heino, & Rimpelä, 2012).

Com relação às formas de se intervir sobre o fenômeno, 70% dos artigos apontaram possibilidades de prevenção/intervenção, tais como: extensão de programas anti-bullying existentes ao contexto do cyberbullying; informações consistentes a pais e professores, permitindo que os mesmos estejam cientes das práticas e possam prestar suporte aos adolescentes; promoção de atitudes positivas e comportamentos cooperativos entre os adolescentes (por exemplo, por meio do desenvolvimento de empatia e assertividade), visando à competência social; prevenção, por meio de abordagens que integrem os níveis individual, familiar, escolar e comunitário, promovendo a autorregulação emocional; promoção de comportamentos pró-sociais dos observadores das práticas de cyberbullying, de modo que esses sejam mais ativos diante do fenômeno; instrumentalização dos jovens com ferramentas para o uso positivo e seguro da Internet e demais tecnologias; ações de promoção de habilidades de tomada de perspectiva, por parte dos agressores, em relação às práticas de cyberbullying, de modo que possam entender o impacto de seus comportamentos sobre os estudantes vitimados, entre outros.

 

Discussão e Considerações Finais

A partir dos resultados obtidos, pôde-se observar um maior predomínio de publicações vinculadas à base de dados Web of Science, possivelmente em função de sua característica multidisciplinar, que inclui periódicos de maior impacto. Já os dados relativos à produção por ano refletem um aumento da produção acadêmica na temática do cyberbullying a partir de 2012, o qual apresentou continuidade em 2013.

Tendo em vista que os 63 artigos analisados estão distribuídos em 29 periódicos distintos, verificase uma grande diversidade de revistas, sob diferentes abordagens. Esses periódicos situam-se tanto no campo da Psicologia Escolar como também se direcionam ao estudo de violência, adolescência, computação e mídias, estas últimas associadas à educação e ao comportamento humano.

A análise baseada no país de publicação demonstra uma maior concentração da produção acadêmica nos Estados Unidos e na Espanha, o que evidencia um maior investimento na produção destes países. O grande número de publicações da Espanha pode estar associado ao dado de que 85,7% dos artigos analisados da base Redalyc são provenientes deste país. Com relação ao Brasil, a inexistência de artigos analisados nessa revisão bibliométrica reforça a necessidade de se investir mais no estudo do tema (Wendt, 2012), expandindo-se as investigações direcionadas ao bullying para o contexto virtual.

Quanto à análise do primeiro e do último autor, observou-se que a produção está proporcionalmente distribuída entre diferentes pesquisadores. Após a revisão de trabalhos dos autores que mais publicaram, Ortega-Ruiz, R, Smith, P., Bauman, S. e Del Rey, R., notou-se que os mesmos se preocuparam em diversificar os periódicos de suas publicações; dessa forma, o fenômeno que é bastante específico pôde ser abordado desde diferentes perspectivas.

A verificação relativa às palavras-chave permitiu que fossem destacados os termos cyberbullying, bullying e adolescents/adolescence, os quais indicam os principais focos de interesse dos pesquisadores, ou seja, as possíveis intercessões entre as práticas de bullying tradicional e o cyberbullying no contexto das interações entre os adolescentes.

Os dados referentes às metodologias empregadas apontam o maior predomínio de metodologias quantitativas. Assim, futuras investigações poderiam utilizar-se de métodos qualitativos de coleta e análise de dados, de modo a diversificar a produção de conhecimento na área. Um dado relevante observado se refere à associação entre o uso de desenhos qualitativos em investigações cujos informantes eram professores; uma hipótese que pode explicar tal ocorrência refere-se ao dado de que os instrumentos padronizados acerca do cyberbullying são destinados quase que exclusivamente a amostras de estudantes, inexistindo escalas destinadas à investigação desse constructo junto a professores. Ainda com relação às metodologias empregadas, enfatiza-se a reduzida utilização do delineamento longitudinal. A hipótese para este número reduzido é a de que as tecnologias de informação passam por rápidas e constantes transformações, o que torna difícil a comparação dos resultados obtidos ao longo do tempo (Shapka & Law, 2013), além da dificuldade de acesso aos mesmos participantes mais de uma vez (Del Rey, Elipe, & Ortega-Ruiz, 2012).

Em relação aos tipos de amostra utilizados, em muitos estudos, elas foram compostas por adolescentes e estudantes, sendo a coleta de dados vinculada ao contexto escolar; houve um maior número de pesquisas que se utilizaram de seleção por amostragem probabilística, o que demonstra uma tendência em priorizar metodologias mais criteriosas. Quanto aos instrumentos utilizados, os trabalhos analisados refletem o movimento atual dos pesquisadores em construir novas formas de avaliação e mensuração do cyberbullying, visto que novos instrumentos vão sendo criados a partir de construções anteriores e/ou são adaptados para novos contextos.

Ainda que não seja objetivo do presente estudo apresentar uma síntese dos resultados das pesquisas analisadas, notou-se que, pelo fato de o cyberbullying ainda ser um tema recente na literatura, os pesquisadores têm se dedicado a descrever o fenômeno, por meio de estudos exploratórios e descritivos, coleta de dados de prevalência, entre outros. Além disso, uma discussão bastante presente questiona se o cyberbullying seria uma extensão do bullying (Vandebosch & Van Cleemput, 2009) ou se ele se configura como fenômeno independente, dadas as suas características singulares e distintivas (Kowalski, Morgan, & Limber, 2012).

Dessa forma, os resultados de alguns dos estudos analisados relacionam ambas as formas de violência; outras pesquisas associam o cyberbullying aos seguintes temas: habilidades sociais, empatia, depressão/ideação suicida, clima escolar, ansiedade social, estratégias de coping, uso de substâncias, saúde mental, cybergrooming, comportamentos de ajuda, estilos parentais, dentre outros.

Por fim, é válido destacar que as análises apresentadas neste estudo estão longe de esgotar a infinidade de possibilidades de se estudar o cyberbullying. Futuras investigações podem tentar identificar as características deste tema em artigos indexados em outras bases de dados, associando o cyberbullying a outras formas de violência interpessoal, por exemplo. Com base na literatura que vem se dedicando a este tópico, bem como nos artigos analisados, corrobora-se a afirmação de Menesini e Nocentini (2009) de que futuros estudos teórica e empiricamente fundamentados são necessários para superar algumas das dificuldades presentes na área, visando uma melhor compreensão com relação ao significado dos problemas presentes no mundo virtual e de como os mesmos afetam os adolescentes da era digital.

Referências

Ahn, J. (2011). Digital divides and social network sites: which students participate in social media? Journal of Educational Computing Research, 45(2), 147-163. doi:10.2190/EC.45.2.b        [ Links ]

Ang, R. P., & Goh, D. H. (2010). Cyberbullying among adolescents: the role of affective and cognitive empathy, and gender. Child Psychiatry & Human Development, 41(4), 387-397. doi:10.1007/s10578-010-0176-3        [ Links ]

Barbosa, A. J. G., & Farias, E. S. (2011).Ciberbullying. In: A. J. G. Barbosa, L. M. Lourenço, & B. Pereira. (Orgs.), Bullying: conhecer e intervir (pp. 69-81). Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora.         [ Links ]

Buelga, S., Cava, M. J., & Musitu, G. (2010). Cyberbullying: victimización entre adolescentes a través del telefono móvil y de internet. Psicothema, 22, 784-789.         [ Links ]

Buelga, S., Musitu, G., & Murgui, S. (2009). Relaciones entre la reputación social y la agresión relacional em la adolescencia. International Journal of Clinical and Health Psychology, 9, 127-141.         [ Links ]

Buelga, S., & Pons, J. (2012). Agresiones entre adolescentes a través del telefono móvil y de Internet. Psychosocial Intervention, 21(1), 91-101.         [ Links ]

Chishlom, J. L. (2006). Cyberspace: violence against girls and adolescent females. The Annals of the New York Academy of Sciences, 1087, 74-89.         [ Links ]

Del Rey, R., Elipe, P., & Ortega-Ruiz, R. (2012). Bullying and cyberbullying: Overlapping and predictive value of the co-occurrence. Psicothema, 24(4), 608-613.         [ Links ]

Guedes, V. L. S., & Borschiver, S. (2005). Bibliometria: uma ferramenta estatística para agestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica. Proceedings CINFORM – VI Encontro Nacional de Ciência da Informação, Salvador, BA, Brasil.

Hinduja, S., & Patchin, J. W. (2012). School climate 2.0: reducing teen technology misuse by reshaping the environment. Thousand Oaks, CA: Sage.         [ Links ]

Huang, Y., & Chou, C. (2010). An analysis of multiple factors of cyberbullying among junior high school students in Taiwan. Computers in Human Behavior, 26(6), 1581-1590. doi:10.1016/j.chb.2010.06.005        [ Links ]

Juvonen, J., & Gross, E. F. (2008). Extending the school grounds? Bullying experiences in cyberspace. The Journal of School Health, 78, 496-505.         [ Links ]

Katzer, C., Fetchenhauer, D., & Belschak, F. (2009). Cyberbullying: who are the victims?: a comparison of victimization in internet chatrooms and victimization in school. Journal of Media Psychology: Theories, Methods, and Applications, 21(1), 25-36. doi:10.1027/1864-1105.21.1.25        [ Links ]

Kowalski, R. M., Limber, S. P., & Agatston, P. W. (2008). Cyberbullying: bullying in the digital age. Malden, MA: Blackwell.         [ Links ]

Kowalski, R. M., Morgan, C. A., & Limber, S. P. (2012).Traditional bullying as a potential warning sign of cyberbullying. School Psychology International, 33(5), 505-519. doi:10.1177/0143034312445244        [ Links ]

Li, Q. (2007). New bottle but old wine: a research of cyberbullying in schools. Computers in Human Behavior, 23, 1777-1791.         [ Links ]

Li, Q. (2008). A cross-cultural comparison of adolescents' experience related to cyberbullying. Educational Research, 50(3), 223-234. doi:10.1080/00131880802309333        [ Links ]

Lindfors, P. L., Kaltiala-Heino, R., & Rimpelä, A. H. (2012). Cyberbullying among Finnish adolescents – a population-based study. BMC Public Health, 12(1), 1027. doi:10.1186/1471- 2458-12-1027

Menesini, E., & Nocentini, A. (2009). Cyberbullying: Definition and measurement: some critical considerations. Zeitschriftfür Psychologie / Journal of Psychology, 217(4), 230-232. doi:10.1027/0044-3409.217.4.230        [ Links ]

Mugnaini, R., Jannuzzi, P., & Quoniam, L. (2004). Indicadores bibliométricos da produção científica brasileira: uma análise a partir da base Pascal. Ciência da Informação, 33(2), 123-131.         [ Links ]

Nansel, T. R., Overpeck, M., Pilla, R. S., Ruan, W. J., Simons-Morton, B., & Scheidt, P. (2001). Bullying behaviors among US youth: prevalence and association with psychosocial adjustment. Journal of the American Medical Association, 285, 2094-2100.         [ Links ]

Olweus, D. (1989). Prevalence and incidence in the study of antisocial behavior: definitions and measurements. In: M. W. Klein (Ed.), Cross-national research in self-reported crime and delinquency (pp.187-201). Dordrecht, The Netherlands: Kluwer.         [ Links ]

Olweus, D. (1996). The Revised Olweus Bully/ Victim Questionnaire. Bergen, Norway: Research Center for Health Promotion (HEMIL Center), University of Bergen.         [ Links ]

Ortega, R., Calmaestra, J., & Mora-Merchán, J. (2007). Cuestionario Cyberbullying. Córdoba: Universidade de Córdoba.         [ Links ]

Patchin, J. W., & Hinduja, S. (2011). Traditional and nontraditional bullying among youth: a test of general strain theory. Youth and Society, 43(2), 727-751.         [ Links ]

Raskauskas, J., & Stoltz, A. D. (2007). Involvement in traditional and electronic bullying among adolescents. Developmental Psychology, 43(3), 564-575. doi:10.1037/0012-1649.43.3.564        [ Links ]

Shapka, J. D., & Law, D. M. (2013). Does one size fit all? Ethnic differences in parenting behaviors and motivations for adolescent engagement in cyberbullying. Journal of Youth and Adolescence, 42(5), 723-738. doi:10.1007/s10964-013-9928-2        [ Links ]

Smith, P. K., Mahdavi, J., Carvalho, M., Fisher, S., Russell, S., & Tippett, N. (2008). Cyberbullying: its nature and impact in secondary school pupils. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 49(4), 376-385. doi:10.1111/j.1469-7610.2007.01846.x        [ Links ]

Smith, P. K., Mahdavi, J., Carvalho, M., & Tippett, N. (2006). An investigation into cyberbullying, its forms, awareness and impact, and the relationship between age and gender in cyberbullying. Research Brief No. RBX03-06. London: DfES.         [ Links ]

Sticca, F., & Perren, S. (2012). Is cyberbullying worse than traditional bullying? examining the differential roles of medium, publicity, and anonymity for the perceived severity of bullying. Journal of Youth and Adolescence, 42(5), 739-750. doi:10.1007/s10964-012-9867-3        [ Links ]

Vandebosch, H., & Van Cleemput, K. (2009). Cyberbullying among youngsters: profiles of bullies and victims. New Media & Society, 11(8), 1349-1371. doi:10.1177/1461444809341263        [ Links ]

Ybarra, M. L., Boyd, D., Korchmaros, J. D., & Oppenheim, J. (2012). Defining and measuring cyberbullying within the larger context of bullying victimization. Journal of Adolescent Health, 51(1), 53-58. doi:10.1016/j.jadohealth.2011.12.031         [ Links ]

Wendt, G. W. (2012). Cyberbullying em adolescentes brasileiros. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. Recuperado de http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000003/0000034B.pdf        [ Links ]

Willard, N. (2007). Educator's guide to cyberbullying and cyberthreats. Recuperado de http://www.cyberbully.org/cyberbully/docs/cbcteducator.pdf        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência

Júlia Custódio Carelli de Oliveira
Rua Engenheiro José Carlos de Morais e Sarmento,
435/201
CEP: 36036-100 – Santa Catarina
Juiz de Fora/MG
E-mail: juliaccarelli@gmail.com

Recebido em 29/04/2014
Revisto em 02/02/2015
Aceito em 15/03/2015

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons