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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof v.6 n.1 São Paulo jun. 2005

 

ARTIGOS

 

 

Avaliação de um programa comportamental de orientação profissional para adolescentes

 

Evaluation of a behavioral professional guidance program for adolescents

 

Evaluación de un programa de conducta, de orientación profesional para adolescentes

 

 

Cynthia Borges de Moura1 *; Ana Claudia Paranzini Sampaio**; Kelly Regina Gemelli***; Ligia Deise Rodrigues****; Mirtes Viviani Menezes*****

Universidade Estadual de Londrina, Londrina

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a efetividade de um programa de Orientação Profissional segundo os pressupostos da Análise do Comportamento quanto à produção de mudanças comportamentais que indicassem avanços nas etapas de resolução do problema de escolha profissional. O programa constou de sessões estruturadas, focalizadas no desenvolvimento do autoconhecimento e do conhecimento das profissões. O repertório de entrada e saída dos adolescentes foi avaliado, assim como os componentes do programa. Os resultados mostraram que o programa propiciou redução no número de opções consideradas, assim como significativa melhora na maturidade para escolha e nas habilidades de tomada de decisão. Pôde-se concluir que o modelo proposto mostrou-se efetivo para auxiliar adolescentes a avançarem em seu processo de decisão profissional. A efetividade da adoção do enfoque behaviorista na proposição e implementação de um programa de Orientação Profissional parece promissora para a consolidação de uma nova forma de entender e atender a esta questão.

Palavras-chave: Orientação profissional, Análise do comportamento, Adolescentes.


ABSTRACT

The purpose of this paper was to evaluate the effectiveness of a Professional Guidance Program according to what Behavior Analysis states about behavioral changes that indicate progress in the stages of career choice. The program consisted of structured sessions, focused on the development of self-knowledge and knowing about different occupations. The repertory of adolescents that started and finished the program was evaluated as well as the program´s components. The results showed that the program helped to decrease the number of initial options, to enhance choice maturity and decision making skills. We concluded that the program is effective to help adolescents improve their professional choice. The behavioral approach used in the implementation of a Professional Guidance Program seems promising to consolidate a new way of acting and understanding the issues involved.

Keywords: Professional guidance, Behavior analysis, Adolescents.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo fue evaluar la eficacia de un programa de Orientación Profesional según las bases teóricas del Análisis de la Conducta en producir cambios de comportamiento que indicasen avances en las etapas de resolución del problema de elección profesional. El programa constó de sesiones estructuradas, dirigidas al desarrollo del conocimiento de uno mismo y del conocimiento de las carreras. Fueron evaluados el repertorio de entrada y salida de los adolescentes y los componentes del programa. Los resultados mostraron que el programa favoreció la reducción del número de opciones de profesiones consideradas, y una significativa mejoría en la madurez para elección y en las habilidades de toma de decisión. Se pudo concluir que el modelo propuesto se mostró eficaz para ayudar a los adolescentes a avanzar en su proceso de decisión profesional. La eficacia de la adopción de la teoría conductista en la proposición e implementación de un programa de Orientación Profesional parece promisoria para la consolidación de una nueva manera de comprender y atender esta cuestión.

Palabras clave: Orientación profesional, Análisis de la conducta, Adolescentes.


 

 

A Orientação Profissional hoje tem sido vista como um importante e cada vez mais necessário recurso para auxiliar o jovem a escolher uma profissão. Muitas das atuais mudanças educacionais, por um lado, beneficiam o processo pedagógico do adolescente e por outro, trazem dificuldades ao seu processo de escolha profissional (Macedo, 1998). Tais mudanças têm “forçado” uma decisão cada vez mais cedo na vida do jovem, sem dar a ele o tempo e os recursos necessários para que avance no processo de tomada de decisão.

A preocupação de orientar adequadamente os jovens nesta importante decisão tem permeado atualmente o contexto escolar, o qual tem disponibilizado vários recursos na tentativa de atender tais necessidades dos estudantes. Porém, muitos dados sugerem que tais recursos são insuficientes para auxiliar todos os jovens a superarem suas dificuldades com esta questão (Chapman & Katz, 1983). A partir desta constatação, programas clínicos têm sido desenvolvidos com o objetivo de fornecer aos adolescentes recursos apropriados à tomada de decisão profissional (Lucchiari, 1993; Carvalho, 1995).

Tais programas assumem várias formas, por partirem de diferentes pressupostos teóricos, porém, pouco se sabe sobre como a Orientação Profissional poderia ser conceitualizada e operacionalizada dentro dos conhecimentos atuais da Análise do Comportamento (Moura, 2001). Até o momento, alguns poucos estudos foram conduzidos com a preocupação de sistematizar uma forma de atuação em Orientação Profissional coerente com os pressupostos comportamentais (Azrin & Besalel, 1980; Moura, 2000; 2001; Moura & Silveira, 2002).

Dentro desta perspectiva, este estudo na área de Orientação Profissional foi realizado na tentativa de aprimorar a sistematização metodológica proposta por Moura (2001) para a intervenção comportamental com adolescentes em situação de primeira escolha profissional. O programa de intervenção proposto por Moura (2001) foi reformulado com base nas sugestões da própria autora a partir dos resultados obtidos na primeira pesquisa (descritos por completo em Moura, 2000; 2001) e submetido a nova avaliação, seguindo-se a mesma metodologia do estudo anterior. Assim, o presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da avaliação da efetividade deste segundo formato do programa para o fortalecimento do repertório de análise e escolha profissional de adolescentes em situação de primeira escolha.

Princípios Gerais da Orientação Profissional sob o Enfoque Comportamental

A proposta de um modelo teórico e prático para a Orientação Profissional dentro do enfoque comportamental é recente (Moura, 2001). Poucos estudos antes desta data foram encontrados que pudessem fornecer subsídios para a atuação nesta área e com esta problemática. Dentro do enfoque comportamental, dois estudos de Azrin e colaboradores (Azrin, Flores e Kaplan, 1975; Azrin e Besalel, 1980) foram encontrados, mas com uma população diferente: pessoas desempregadas que buscavam recolocar-se no mercado de trabalho. Segundo estes autores, a Orientação Profissional comportamental tem várias características que a diferencia de outras abordagens: a) estratégias prioritariamente orientadas para o resultado; b) foco da intervenção na aprendizagem como determinante do comportamento ao invés das habilidades ou predisposições inatas; c) treinamento adequado para o alcance das habilidades necessárias ao exercício profissional; e d) uso do reforçamento de múltiplas fontes para obtenção de mudanças comportamentais e fortalecimento dos comportamentos de autodescoberta e busca de informação.

Segundo Moura e Silveira (2002), um procedimento de intervenção comportamental em Orientação Profissional deve: l) arranjar condições para que o indivíduo discrimine as variáveis dos diferentes contextos de controle (familiar, social, cultural e econômico) às quais seus comportamentos de escolher e decidir estão expostos; 2) proporcionar informação relevante sobre as profissões de interesse, relacionando- as aos dados de autoconhecimento; e 3) aumentar a probabilidade de ocorrência de comportamentos relacionados à escolha e/ou à tomada de decisão.

Moura (2001) afirma que a situação de escolha profissional envolve a consideração de três grandes grupos de variáveis: 1) as pessoais, às quais o adolescente normalmente já se encontra exposto (controle e expectativas dos pais, influência de amigos, professores, meios de comunicação, história de reforçamento para determinada atividade por modelagem ou modelação etc); 2) as profissionais, às quais ele precisará se expor para ser capaz de analisar as informações obtidas relacionando-as com suas capacidades, interesses e habilidades pessoais e; 3) as ligadas à tomada de decisão (seleção de critérios de escolha e restrição de opções profissionais), às quais o adolescente também precisará se expor. A intervenção pode fornecer contingências específicas para análise desses três conjuntos de variáveis e aquisição das respostas necessárias.

Com base nesta compreensão, Moura (2001) propõe um modelo de Orientação Profissional comportamental em três etapas: 1) Autoconhecimento; 2) Conhecimento da Realidade Profissional; e 3) Apoio à Tomada de Decisão. Assim, como mostra a Figura 1, a orientação deve primeiramente proporcionar a aprendizagem das respostas de autoconhecimento visando a uma ampliação do repertório pessoal circunscrito às características de relevância para a escolha profissional para, em seguida, proporcionar ampliação semelhante no repertório de consideração de opções profissionais. Essas duas etapas têm como objetivo promover a análise do maior número de possibilidades pessoais e profissionais, cujos dados obtidos auxiliarão no refinamento dos critérios sob os quais a escolha deve se apoiar. Apenas quando tais repertórios estiverem ampliados, e com eles a capacidade de análise do indivíduo, é que a orientação deve avançar para a terceira e última etapa e promover situações de restrição e exclusão de opções e critérios de escolha, facilitando assim a ocorrência da tomada de decisão.

 

 

Figura 1 – Classes de respostas a serem aprendidas para facilitação da ocorrência do comportamento de tomada de decisão profissional

 

Avaliação de Programas de Orientação Profissional

Embora as propostas de trabalho em Orientação Profissional (OP) nas diversas abordagens dentro da Psicologia sejam inúmeras, vê-se um pequeno número de trabalhos que buscam uma validação científica dos programas aplicados. Marocco (1997) assinala a importância da realização de estudos de natureza avaliadora, dada a escassez de trabalhos que examinam a eficácia dos programas educacionais, e dentre eles, os de Orientação Profissional.

Estudos brasileiros que avaliam programas de intervenção em OP, normalmente constituem-se em estudos de caso, como os agrupados por Levenfus e Nunes (2002). Apesar de serem encontrados trabalhos que relatam a avaliação de intervenções em grupo, como os de Carvalho (1995) e Melo-Silva e Jacquemim (2001), parecem poucos os que o fazem, quando se considera o contingente de atendimentos realizados.

Revisões qualitativas de resultados de pesquisas internacionais na área de Orientação Profissional (Whiston, Brecheisen & Stephens, 2003), têm indicado que tanto o aconselhamento quanto as intervenções clínicas são efetivas e produzem diferenças positivas no desenvolvimento profissional e de tomada de decisão dos clientes. Mas que as revisões quantitativas não são claras quanto aos parâmetros utilizados para avaliar a efetividade e o “tamanho do efeito” (effect size) das intervenções propostas.

Segundo Melo-Silva e Jacquemim (2001) as avaliações devem verificar as condições envolvidas com a eficácia dos programas, o que funciona, como, com quem e em que condições. Estes autores afirmam que, estudos comprometidos com a avaliação, contribuem com o conhecimento necessário para se planejar uma intervenção, porque avaliam os procedimentos empregados em relação ao alcance dos objetivos propostos. Segundo Whiston, Brecheisen e Stephens (2003), a validação empírica de um programa tem sido cada vez mais requerida porque indica que uma modalidade de tratamento ou aconselhamento é efetiva e produz diferenças positivas no desenvolvimento pessoal e profissional dos clientes.

(Re)Avaliação de um Programa Comportamental de Orientação Profissional

Trabalhos de Orientação Profissional na Análise do Comportamento também têm sido pouco realizados, considerando-se que este enfoque teórico poderia contribuir com esta área de conhecimento, através de uma proposta diretiva de abordar o problema, de procedimentos específicos de aprendizagem em tomada de decisão e de mensuração dos avanços dos sujeitos ao longo do processo de escolha profissional.

Dando início a uma sistematização teórica e metodológica das contribuições da Análise do Comportamento para a atuação no campo da Orientação Profissional, Moura (2000; 2001) estruturou um programa de forma a proporcionar a aprendizagem de classes de respostas facilitadoras da ocorrência do comportamento de tomada de decisão profissional.

A efetividade da primeira versão do programa foi avaliada pela produção de mudanças comportamentais indicativas de avanço nas etapas de resolução de problemas relativos à escolha profissional. A avaliação de seus componentes indicou que modificações necessitavam ser feitas para melhorar o processo de inserção dos procedimentos ao longo da intervenção, conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1 – Descrição sumária dos objetivos e estratégias da versão original do programa e as principais reformulações implementadas

 


 

Tais reformulações foram implementadas e uma segunda versão do programa foi testada (Anexo A; ver também Moura, Sampaio, Rodrigues & Menezes, 2003; Moura, 2004). Estas modificações visavam corrigir falhas na linearidade da inserção dos procedimentos ao longo da intervenção, o que estava levando os adolescentes a abandonarem prematuramente o programa. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar a efetividade deste segundo formato do programa para o fortalecimento do repertório de análise e escolha profissional de adolescentes em situação de primeira escolha.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram desta pesquisa 18 adolescentes com idades entre 15 e 17 anos, sendo 13 do sexo feminino e 5 do sexo masculino, alunos da 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, provenientes tanto de escolas públicas quanto particulares, da cidade de Londrina – Paraná. Estes adolescentes procuraram espontaneamente o serviço de Orientação Profissional da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina e foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: o Grupo A, composto por 10 adolescentes, e o Grupo B, composto por 8 adolescentes. Os únicos critérios para participação nos grupos eram: estar em condição de primeira escolha profissional e não ter experiência anterior com o vestibular.

Orientadores

A equipe de orientadores era composta por cinco pessoas: quatro estagiárias, alunas dos últimos anos do Curso de Psicologia da UEL e a docentesupervisora. O Grupo A foi atendido por duas alunas que já tinham experiência prévia com atendimento clínico e com Orientação Profissional, enquanto a docente e demais alunas assistiram a todas as sessões em sala-espelho. O Grupo B foi atendido pelas duas alunas que fizeram o treino observacional em sala-espelho, enquanto a docente e orientadoras do Grupo A assistiram a todas as sessões em sala-espelho (o procedimento de observação em sala-espelho teve como objetivo padronizar ao máximo a forma de condução das sessões, para reduzir a influência da variável “estilo pessoal dos orientadores” na condução dos grupos). As supervisões eram realizadas logo após as sessões, e toda a equipe estava presente para discussão e planejamento da condução dos grupos, dado que a estrutura das sessões, em termos de objetivos e estratégias, se manteve a mesma para ambos os grupos.

Instrumentos

Os instrumentos de avaliação utilizados durante as fases de desenvolvimento da pesquisa estão especificados a seguir:

1. Instrumento de Pré e Pós-Orientação: elaborado e adaptado a partir de Vasconcellos, Oliveira e Carvalho (1976), de forma a avaliar o repertório do adolescente quanto à escolha profissional.

2. Escala de Maturidade para a Escolha Profissional – EMEP, de Neiva (1999), que avalia o nível de maturidade para escolha profissional através de várias sub-escalas, como determinação, responsabilidade, independência, autoconhecimento e conhecimento da realidade educativa e socioprofissional.

3. ISC - Inventário de Satisfação do Consumidor: adaptado do Therapy Attitude Inventory (TAI), de Eyberg (1993). Consta de nove questões sobre o impacto do programa no aumento do autoconhecimento, conhecimento das profissões e habilidades de tomada de decisão.

4. Questionário de Avaliação do Programa: elaborado para avaliar pontos específicos do programa e detectar quais aspectos foram mais ou menos relevantes para promover avanços no processo de tomada de decisão. Consta de questões abertas e fechadas para o adolescente expressar sua opinião sobre os itens do programa e avaliar o quanto cada atividade, exercício ou situação realizada em cada sessão de grupo contribuíram para os avanços na decisão profissional.

Procedimento

A pesquisa foi desenvolvida em três etapas:

ETAPA 1: Avaliação Pré-Orientação

Todos os adolescentes foram entrevistados individualmente antes do início dos grupos. Nesta entrevista eram esclarecidos os objetivos e o formato geral do programa de Orientação Profissional, e obtinha-se consentimento dos adolescentes quanto à participação na pesquisa. Todos os adolescentes responderam ao Instrumento de Pré-Orientação e à Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP) para o levantamento preliminar de sua situação em relação à escolha da profissão.

ETAPA 2: Orientação

O programa de Orientação Profissional (em anexo) constou de 08 (oito) sessões estruturadas para discussão da problemática vocacional do adolescente e divididas em três fases: FASE 1: desenvolvimento do autoconhecimento quanto a interesses e habilidades – sessões de 1 a 3; FASE 2: informação sobre profissões, cursos, carreiras e mercado de trabalho – sessões de 4 a 6, e FASE 3: apoio ao processo de tomada de decisão – sessões 7 e 8. As sessões eram semanais com duas horas de duração.

ETAPA 3: Avaliações Pós-Orientação

Após o encerramento dos grupos, realizou-se com cada adolescente nova entrevista individual na qual responderam aos instrumentos de avaliação final: Instrumento de Pós-Intervenção, EMEP, Inventário de Satisfação do Consumidor e Questionário de Avaliação do Programa.

 

RESULTADOS

Os dados provenientes dos instrumentos de pré e pós-intervenção foram analisados estatisticamente adotando-se o índice de significância de 0,05. Os dados dos dois grupos de intervenção, A e B, foram agrupados porque a análise estatística de comparação entre os grupos (Teste de Mann-Withney – para comparação entre amostras independentes) mostrou que os mesmos não apresentavam diferenças significativas (Tabela 1), sendo, portanto, provenientes de amostras semelhantes, o que justifica tal agrupamento.

Tabela 1 – Escores médios do Grupo A e B quanto ao número de opções de entrada e de saída, escores obtidos no EMEP e valores auto-atribuídos de segurança e decisão quanto à escolha

 

 

A partir deste agrupamento, os dados quantitativos das avaliações pré e pós-intervenção foram comparados através de uma análise intragrupos (Teste do Sinal – para comparação entre amostras dependentes). Para todos os fatores avaliados observouse diferença estatisticamente significativa da condição pré para a pós-orientação, conforme mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Escores médios quanto ao número de opções, escores do EMEP e grau de segurança e decisão quanto à escolha na condição pré e pós-orientação

 

 

Após o término do programa de orientação, o número de opções profissionais consideradas sofreu significativa redução, indicando possível melhora no repertório de critérios de seleção e exclusão de opções. Em relação ao EMEP, os resultados mostram diferença altamente significativa quanto à maturidade dos sujeitos para efetuar sua escolha profissional ao final da intervenção. Os valores auto-atribuídos quanto ao sentimento de segurança para efetuar a escolha e de decisão quanto às opções selecionadas, também demonstram que os adolescentes se sentem mais preparados para efetuar sua escolha com os recursos disponibilizados pela intervenção.

Resultado da Satisfação com o Programa

Os resultados provenientes do Inventário de Satisfação do Consumidor indicaram alta satisfação dos sujeitos com o programa. A grande maioria dos sujeitos (94,5%) atribuiu escores na faixa dos 36 aos 45 pontos. Destes, 72,2% pontuaram entre 41 e 45 pontos sua satisfação com o programa, indicando que os participantes, em sua maioria, apresentaram alta satisfação com o programa, provavelmente em função do avanço alcançado no processo de escolha profissional.

Vale ainda salientar que 100% dos adolescentes concluíram o programa, sendo que a porcentagem média de participação nas sessões foi de 83,8%. No caso de ausência do encontro, o adolescente poderia marcar reposição com uma das orientadoras e acompanhar a sessão seguinte. A média de sessões repostas foi de 1,2 sessões por sujeito.

Resultados da Avaliação do Programa

A seguir estão apresentados os resultados provenientes da aplicação do Questionário de Avaliação do Programa. Este instrumento, aplicado após o término do programa, continha questões abertas e fechadas para avaliação de aspectos específicos de maior ou menor relevância para a promoção de avanços no processo de tomada de decisão. A Tabela 3 apresenta a porcentagem de citações dos adolescentes referente ao que mais gostaram nas sessões de Orientação Profissional.

Tabela 3 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto ao que mais gostaram nas sessões de Orientação Profissional

 

 

Observa-se na Tabela 3 que as respostas dos participantes puderam ser divididas em três categorias: respostas referentes à satisfação geral com o programa, respostas referentes à satisfação com as atividades realizadas e respostas referentes à condução do programa de Orientação Profissional. Em termos gerais, observa-se que os adolescentes tenderam a relatar mais aspectos relativos às atividades realizadas durante os encontros (52,9%), seguidos dos aspectos de satisfação geral (28,1%) e da condução do programa (18,6%). É interessante notar que muitos adolescentes (40,4%) destacaram as atividades de busca de informações sobre as profissões como as que mais gostaram no decorrer dos encontros. A Tabela 4 apresenta a porcentagem de citações dos participantes referente ao que menos gostaram nas sessões do programa.

Tabela 4 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto ao que menos gostaram nas sessões de Orientação Profissional

 

 

Com relação aos aspectos que os participantes menos gostaram nos encontros, podem-se extrair duas categorias: aspectos dependentes da estrutura do programa (75%) e aspectos independentes da estrutura do programa (25%). Dentro destas categorias, a subcategoria com maior porcentagem de citações referiu-se às redações que eram solicitadas no início e no final do programa (37,5%). A Tabela 5 apresenta os escores médios atribuídos pelos sujeitos a cada sessão do programa, avaliando o quanto cada atividade, exercício ou situação realizada na referida sessão auxiliaram no processo de decisão.

Tabela 5 – Média dos escores atribuídos às sessões pelos adolescentes quanto à contribuição fornecida para a decisão profissional

 

 

* Valores Atribuídos: 0=não participei da sessão; 1= contribuiu quase nada; 2=contribuiu pouco;
                               3=contribuiu o suficiente; 4=contribuiu bastante; 5=contribuiu demais

Observa-se que em quase todas as sessões, a nota média atribuída pelos adolescentes aproximouse ou foi acima de quatro. A homogeneidade observada nas pontuações atribuídas às sessões indica que o programa assumiu um formato mais linear quanto aos procedimentos empregados. De acordo com os dados já descritos na Tabela 1, a maior nota média foi atribuída para as Sessões 4 e 5, onde os adolescentes realizaram pesquisa sobre as profissões nos materiais oferecidos, indicando ser uma atividade atraente além de exercer importante papel no processo de escolha profissional. A Tabela 6 apresenta a categorização das respostas dos participantes quanto à avaliação que fizeram de sua própria participação no programa, em relação aos aspectos que interferiram na motivação para a participação.

Tabela 6 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto à auto-avaliação de participação e aproveitamento no programa

 

 

Na Tabela 6 pode-se ver que mais da metade dos participantes (63,59%) avaliaram como boa e suficiente sua participação, usufruindo ao máximo das atividades propostas. Em relação às dificuldades citadas pelos adolescentes, quanto ao aproveitamento do programa, a maior parte destas referiam-se a dificuldades pessoais, como a dificuldade de exporse no grupo (21,16%) e de comparecimento às sessões (15,1%). A Tabela 7 apresenta a porcentagem de citações dos adolescentes referente à existência de duas sessões de pesquisa nos manuais e guias sobre as profissões.

Tabela 7 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto à existência de duas sessões de pesquisa nos manuais e guias

 

 

Vê-se na Tabela 7 que a maioria dos adolescentes (83,3%) considerou ser de extrema importância a existência de duas sessões de pesquisa em manuais e guias, alegando ser esta uma atividade importante na tomada de decisão, principalmente por desmistificar preconceitos sobre as profissões. A Tabela 8 mostra a porcentagem de citações dos adolescentes referentes à opinião sobre a realização da entrevista com profissionais.

Tabela 8 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto à opinião sobre a realização da entrevista com profissionais

 

 

Observa-se que a maioria dos adolescentes (61,5%) considerou interessante a entrevista com profissionais, o que teria lhes proporcionado uma visão das profissões sob outra perspectiva. Para 23,1% dos adolescentes, a entrevista com o profissional foi decisiva para a tomada de decisão, possivelmente por ter viabilizado o contato direto do adolescente com o local de trabalho, e o esclarecimento de dúvidas com um profissional da área. A Tabela 9 mostra a avaliação que os adolescentes fizeram do desempenho das orientadoras. Eles foram solicitados a relatar em que elas auxiliaram no processo de escolha profissional, e quais foram os pontos positivos e negativos de sua atuação.

Tabela 9 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto à avaliação do desempenho das orientadoras

 

 

A porcentagem de adolescentes que analisaram as orientadoras como tendo desempenho ótimo – ajudando muito – foi de 48,3 (note-se que 51,7% não opinaram). Dentre os aspectos positivos, citados pelos que responderam, destaca-se a promoção de reflexão, através de questionamentos e discussões (35,4%). A Tabela 10 apresenta as sugestões dos adolescentes em relação ao que poderia ser mudado ou alterado nos grupos de Orientação Profissional para que a qualidade do programa e a participação dos adolescentes fossem melhoradas.

Tabela 10 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto às sugestões para melhoria da qualidade e participação nos grupos de Orientação Profissional

 

 

A maioria dos adolescentes (55,5%) afirmou que nada precisaria ser mudado. Das poucas alterações apontadas, os adolescentes afirmaram que o programa poderia ser melhor se houvesse a inclusão de visitas ao Campus Universitário, palestras com profissionais (27,7%), e um aumento no número de sessões de pesquisa em manuais e guias (11,1%), além de um incremento do número de atividades manuais, como a confecção de cartazes (5,5%).

A avaliação feita em relação à adequação do tempo de duração do programa, evidenciou que para 94,4% dos participantes o tempo de duração do programa foi suficiente/adequado. A Tabela 11 mostra a categorização das respostas dos sujeitos à questão: “Valeu a pena ter participado deste programa de Orientação Profissional? Por que?”, que visava a verificar de modo geral os efeitos do programa sobre seus participantes.

Tabela 11 – Porcentagem de citações dos adolescentes quanto a ter sido proveitosa a participação no programa de Orientação Profissional e o por quê.

 

 

Grande parte (46,1%) dos adolescentes relatou que valeu a pena participar do grupo de orientação profissional e afirmou que o programa os auxiliou a ter autoconfiança e repertório de análise para a tomada de decisão, com conseqüente sentimento de segurança preparo para a escolha profissional. Com igual porcentagem (19,2%) os adolescentes citaram uma ampliação do conhecimento sobre si, e um fortalecimento de seu repertório de enfrentamento. Cerca de 11,5% dos adolescentes reconheceram ter mudado seus conceitos sobre cursos e profissões, através do conhecimento da realidade profissional.

 

CONCLUSÕES

As principais conclusões que podem ser extraídas dos resultados apresentados quanto aos efeitos do programa sobre o repertório dos adolescentes e quanto à adequação da reformulação realizada ao atendimento dos objetivos propostos foram:

1) O programa se mostrou efetivo na promoção de mudanças comportamentais nos adolescentes, pois os resultados foram indicativos de melhora na capacidade de tomada de decisão dos mesmos: os participantes reduziram significativamente o número de opções consideradas, melhoraram consideravelmente seus escores de maturidade para escolha; e obtiveram o fortalecimento dos sentimentos de segurança e confiança quanto à decisão a ser tomada.

2) Os adolescentes relataram alta satisfação com o programa do qual participaram, o que pode ser relacionado tanto à melhoria na seleção e condução dos procedimentos implementados, quanto à seqüência de inserção gradual dos mesmos ao longo do processo. Tais ajustes no programa também mostraram ter impacto sobre a adesão dos participantes, uma vez que não ocorreram desistências.

3) A obtenção de informação profissional continua sendo um dos aspectos melhor avaliados pelos adolescentes no programa. Isto permite concluir que introduzir a informação mais cedo no programa foi efetivo para manter a motivação, aumentar a adesão e prevenir desistências. Isto não significa que o valor do autoconhecimento na orientação possa ser subestimado, uma vez que o trabalho de base com o autoconhecimento parece aumentar o efeito do fornecimento de informação na composição dos critérios de escolha ao final do programa.

4) Os adolescentes apontaram que os comportamentos das orientadoras que mais os auxiliaram a avançar no processo foram aqueles ligados à elaboração das bases da escolha: perguntas, esclarecimentos, questionamentos específicos, avaliação de prós e contras, promoção de discussões e reflexões. Isto indica que a habilidade das orientadoras tem papel importante, e que um programa estruturado, como o testado neste estudo, pode auxiliar orientadores inexperientes a atuarem com mais segurança.

5) A aprendizagem em tomada de decisão parece ser o resultado mais relevante da orientação, e não necessariamente a escolha de uma profissão. Embora o programa tenha propiciado redução no número de opções consideradas ao final da orientação, nem todos os adolescentes saíram com uma única opção profissional. A significativa melhora na maturidade para escolha e os 46,1% que relataram espontaneamente melhora nas habilidades de tomada de decisão, indicam que o programa, da forma como está estruturado, enfatiza o processo mais do que o resultado, e provavelmente, proporciona instrumental necessário para o avanço posterior dos sujeitos que não definiram sua opção.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pôde observar, as conclusões acima estão fortemente apoiadas nos resultados mais significativos obtidos na avaliação do programa em relação aos aspectos que facilitaram o processo de escolha profissional para os adolescentes participantes do estudo. As conclusões deste estudo permitem uma melhor distinção dos aspectos efetivos dos procedimentos empregados para a produção das mudanças observadas.

Com a identificação dos procedimentos relacionados à aquisição das melhoras observadas, podese compreender melhor o processo pelo qual a aprendizagem do complexo repertório de tomada de decisão pode ser promovida por meio de uma intervenção programada. Podem-se ainda obter os parâmetros iniciais sob os quais estudos posteriores que abordem a avaliação de efetividade de programas de orientação possam ser realizados, visto que pesquisas neste sentido ainda são escassas.

Com o delineamento e a avaliação de um modelo de intervenção em Orientação Profissional coerente com a postura teórica e os pressupostos behavioristas, esperava-se demonstrar que a Análise do Comportamento pode dispor de um instrumental teórico-prático útil a esta área de conhecimento. Avaliando os resultados desta pesquisa, percebe-se que este objetivo parece ter sido atingido, uma vez que o modelo proposto mostrou-se efetivo para auxiliar adolescentes, mesmo que apenas os da amostra estudada, a avançarem em seu processo de decisão profissional.

Assim, espera-se que o presente estudo possa servir como estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de instrumental próprio à atuação dos analistas do comportamento que têm se envolvido nesta tarefa. A demonstração da efetividade da adoção do enfoque behaviorista na proposição e implementação de um programa de Orientação Profissional demonstra que um passo promissor foi dado para a consolidação de uma nova forma de entender e atender a esta questão, e da possibilidade de aproximar ambas as áreas na construção de objetivos e conhecimentos comuns.

 

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Recebido: 11/03/04
1ª Revisão: 08/06/04
2ª Revisão: 16/06/05
Aceite final: 11/07/05

 

1 Endereço para correspondência: Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento, Campus Universitário, Caixa Postal 6001, 86051-990, Londrina, PR. Fone: (43) 3371 4227. E-mail: cbmoura@conectway.com.br

 

Sobre os autores
* Cynthia Borges de Moura é docente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Autora do livro: “Orientação Profissional sob o enfoque da Análise do Comportamento”, Editora Alínea. Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo.
** Ana Claudia Paranzini Sampaio é psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Mestranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), São Paulo.
*** Kelly Regina Gemelli é psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Paraná.
**** Ligia Deise Rodrigues é psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Paraná.
***** Mirtes Viviani Menezes é psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Mestranda em Educação pela mesma universidade.

 

 

ANEXO A

Descrição do programa de orientação profissional

 




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