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Revista Brasileira de Orientação Profissional

versão On-line ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.12 no.2 São Paulo dez. 2011

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Interesses profissionais: Análise correlacional entre dois instrumentos de avaliação

 

Professional interests: correlational analysis between two assessment instruments

 

Intereses profesionales: Análisis de correspondencia entredos instrumentos de evaluación

 

 

Camélia Santina Murgo Mansão; Ana Paula Porto Noronha1; Fernanda Ottati

Universidade São Francisco, Itatiba-SP, Brasil

 

 


RESUMO

O presente estudo buscou evidências de validade para o teste Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland (ATPH), por meio da comparação com o Teste de Fotos de Profissões (Berufisbild Test, BBT-Br) de Achtnich. A amostra da pesquisa foi composta por 119 estudantes do Ensino Médio de duas escolas localizadas no interior do Estado de São Paulo, uma da rede pública e outra do sistema particular de ensino. Predominantemente os adolescentes frequentavam o 2º ano do Ensino Médio, sendo 60 do sexo feminino e 59 do sexo masculino. A idade variou entre 14 e 18 anos. Os dados obtidos na análise indicaram várias correlações significativas entre o modelo RIASEC e os fatores do BBT-Br, confirmando a esperada convergência entre os resultados dos dois instrumentos.

Palavras-chave: orientação profissional, avaliação psicológica, adolescentes, interessses


ABSTRACT

This study investigated validity evidence for the test Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland (ATPH, Holland's Occupational Types Assessement), through comparisons with the Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br, Job Photograph Test) de Achtnich. The sample consisted of 119 high school students from two schools located in the State of São Paulo, one public and one private. Sixty female adolescents and 59 male attended mainly the 2nd grade of high school. The age ranged between 14 and 18 years old. The data analysis indicated several significant correlations between the RIASEC model and BBT-Br factors, thus confirming the expected convergence between the results of the two instruments.

Keywords: professional counseling, psychological assessment, adolescents, interest


RESUMEN

Este estudio buscó evidencias de validez para el test Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland (ATPH), por medio de la comparación con el Test de Fotos de Profissões (Berufisbild Test, BBT-Br) de Achtnich. La muestra de la investigación se compuso con 119 estudiantes de la Enseñanza Media de dos escuelas localizadas en el interior del Estado de São Paulo, una de la red pública y otra de la enseñanza privada. Los adolescentes frecuentaban, predominantemente, el 2º año de la Enseñanza media. De ellos 60 de sexo femenino y 59 masculino. La edad varió entre 14 y 18 años. Los datos obtenidos en el análisis indicaron varias correlaciones significativas entre el modelo RIASEC y los factores del BBT-Br confirmando la esperada convergencia entre los resultados de los dos instrumentos.

Palabras clave: orientación profesional, evaluación psicológica, adolescentes, intereses


 

 

Em processos de Orientação Profissional (OP) é indispensável a compreensão de variáveis diversas que interferem na tomada de decisão, uma vez que maior integração e desenvolvimento na carreira se dão quando são considerados aspectos da personalidade, habilidades e interesses (Primi et al., 2002; Super, Savickas, & Super, 1996). Ao lado disso, a inserção profissional em um ambiente adequado aos interesses e características de personalidade favorece a obtenção de satisfação pessoal (Guichard & Huteau, 2001; Holland, 1975).

Enquanto modalidade de intervenção psicológica, a OP deve ser concretizada como apoio sistemático à construção de projetos de carreira de modo que seja dada a oportunidade ao jovem de, no transcorrer de sua trajetória educativa, explorar, direcionar e (re) direcionar sua relação com o mundo do trabalho. Nesse sentido, o uso de instrumentos e técnicas psicológicas nesses processos presta-se a facilitar o conhecimento sobre o sujeito no que diz respeito a seus interesses e características de personalidade, auxiliando na busca de uma identidade profissional (Duarte, 2008; Melo-Silva, Lassance, & Soares, 2004; Teixeira & Lassance, 2006). Ainda, no que se refere à avaliação, Duarte (2008) acredita que ela deve ser entendida como um processo integrador entre aspectos situacionais e características individuais, de modo que o processo avaliativo se constitua como um auxílio aos indivíduos em relação às suas escolhas.

Para Leitão e Miguel (2004), a avaliação dos interesses profissionais ocupa papel de destaque desde as primeiras referências aos processos de OP, o que trouxe como conseqüência a preocupação com a construção de instrumentos de medida do construto. Embora os testes psicológicos possam trazer importantes contribuições para os indivíduos em relação ao seu futuro profissional (Bohoslavsky, 1993; Melo-Silva, Noce, & Andrade, 2003), especificamente em relação aos interesses, há um número restrito de instrumentos disponíveis no Brasil. Segundo o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2011), do total de 125 testes com parecer favorável, apenas quatro são para este tipo de avaliação, a saber: Escala de Aconselhamento Profissional - EAP (Noronha, Sisto, & Santos, 2007) o Teste de Fotos de Profissões BBT-Br, formas masculina (Jaquemin, 2000) e feminina (Jaquemin, Okino, Noce, Assoni, & Pasian, 2006), Avaliação dos Interesses Profissionais - AIP (Levenfus & Bandeira, 2009) e SDS - Questionário de Busca Autodirigida (Primi, Mansão, Muniz, & Nunes, 2010).

No que se refere à conceituação de interesses, Martin Achtnich, psicólogo e orientador profissional suíço, a partir de 1970 desenvolveu sua concepção de interesses profissionais e trouxe significativas contribuições para a sua compreensão. Para o autor, quando a profissão escolhida não corresponde às inclinações motivacionais do indivíduo, tem-se uma escolha profissional discordante, a qual pode ocasionar insatisfação pessoal e profissional e, por conseguinte, uma ineficaz atuação no trabalho (Achtnich, 1991). Ele partiu do pressuposto de que o rendimento profissional depende diretamente da satisfação e do interesse que se dedica ao trabalho bem como da clarificação das inclinações profissionais.

Foi Achtnich (1991) quem elaborou o Teste de Fotos de Profissões (Berufsbilder Test), conhecido como BBT, cuja proposta teórica está relacionada a uma concepção psicodinâmica de personalidade, na qual as necessidades e interesses motivacionais são vistos como elementos constituintes do processo de seleção de certas atividades ocupacionais. Assim, o instrumento tem por objetivo a clarificação das inclinações profissionais, promovendo um processo de sensibilização relativo às motivações internas, diante de uma específica realidade sócio-cultural vivenciada (Pasian & Okino, 2008). Nesta técnica projetiva, as estruturas de inclinação motivacional do indivíduo poderiam ser investigadas por meio de escolhas e rejeições de atividades, ambientes, instrumentos de trabalho, apresentados em fotografias de indivíduos em situação de trabalho. A combinação entre esses fatores descritos por Achtnich (1991) reflete a estrutura de interesses do indivíduo (Welter, 2007).

De forma sintética, os oito fatores componentes da personalidade e das motivações humanas são: W, K, S, Z, V, G, M, O. O fator W representa a necessidade de tocar, ternura, sensibilidade; K a força física, agressividade, obstinação; S é subdividido em Sh, necessidade de ajudar, cuidar, interesse pelo outro e Se, dinamismo, ousadia, energia psíquica, capacidade para se impor; Z indica necessidade de mostrar, estética; V é a razão, conhecimento, e objetividade, ao passo que o G representa intuição, idéia, imaginação, criatividade; M indica a necessidade de reter e lidar com fatos passados, matéria (substâncias, dinheiro, terra) e possessividade (material e afetiva). Por fim o O é subdividido em Or, necessidade de falar, comunicar e On, necessidade de nutrir, alimentar (Jacquemin, 2000; Jacquemin et al., 2006).

No que diz respeito a pesquisas com o BBT no Brasil, as produções têm sido expressivas (Okino, 2009; Okino et al., 2003; Ottati, 2009; Pasian, Okino, & Melo-Silva, 2007; Welter, 2007 dentre outras). A seguir serão destacadas as que mais se relacionam com o presente estudo.

Contando com uma amostra composta por 61 adolescentes e 143 adultos, Welter (2007) comparou os resultados do desempenho no BBT-Br dos dois grupos. Os achados apontaram que os adultos tiveram mais escolhas positivas em relação aos adolescentes, o que de acordo com a autora pode estar associado ao fato de que com o decorrer do desenvolvimento da pessoa pode haver um aumento no número de escolhas. A estrutura da inclinação profissional também foi analisada e os escores comparados entre os sexos. As mulheres parecem querer se destacar por meio do seu trabalho e com isso obter aprovação e reconhecimento social, enquanto os homens demonstram preferir situações profissionais nas quais possam sentir-se úteis produzindo algo concreto para a sociedade.

Noce (2008) propôs uma investigação para verificar as relações entre o grau de maturidade para a escolha profissional e o desempenho no BBT-Br, em uma amostra de 93 estudantes do terceiro ano do Ensino Médio. Por meio da aplicação da Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP), os sujeitos foram separados em dois grupos contrastantes (elevada e baixa maturidade) e, após, foi aplicado o BBT-Br, sendo que os resultados mostraram diferenças quanto ao número de escolhas positivas, negativas e neutras em razão do nível de maturidade. Os sujeitos com alta maturidade revelaram ter mais abertura para as possibilidades profissionais. Em contrapartida, os sujeitos cujos resultados na EMEP indicaram baixa maturidade apresentaram menos escolhas positivas e maior rejeição de fotos, acabando por restringir as possibilidades de conhecimento para suas escolhas profissionais.

A busca de correlações entre o BBT-Br e a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) foi objetivo da pesquisa de Ottati (2009) com uma amostra 196 universitários divididos entre os cursos de Pedagogia, Ciência da Computação e Odontologia. Os resultados evidenciaram correlações positivas e significativas entre todos os fatores do BBT-Br e dimensões da EAP, com a variável sexo controlada na análise. Destacam-se os resultados encontrados na dimensão ciências agrárias e ambientais, com correlações acima de r = 0,30 com todos os fatores do BBT-Br, exceto com o fator Z (r = 0,23).

Ainda no que se refere à avaliação de interesses profissionais, o Self-Directed Search Career Explorer - SDS de Holland (1975) tem recebido destaque na literatura nacional e estrangeira. O autor propôs a Teoria da Personalidade Vocacional, composta por seis tipos de personalidade e seis modelos ambientais, que possuem um construto e uma descrição comum e podem ser classificados com terminologias iguais. Para Holland (1975), os interesses profissionais estão intimamente relacionados com a personalidade do indivíduo e a congruência entre personalidade e ambiente tende a promover satisfação e realização no trabalho.

Para Holland (1975), tipo é um modelo que serve para medir a pessoa "real". Cada tipo é uma interação entre uma herança determinada e uma variedade de fatores culturais e pessoais que incluem as outras pessoas semelhantes, pais, adultos significativos, cultura e ambiente físico. As heranças biológica e social, unidas à história pessoal, ensejam uma série de capacidades, habilidades perceptivas e pontos de vista, como metas, valores, autoconceito e condutas de enfrentamento (estratégias específicas para resolver os problemas cotidianos). Um tipo é, portanto, uma síntese de características pessoais.

O modelo hexagonal ou modelo RIASEC, como é chamada a proposta de Holland (1997), traz a definição dos seis tipos como segue, Realista (R): estilo pessoal prático e concreto, resolutivo de problemas; Investigativo (I): marcado por estilo analítico, investigativo, reflexivo e intelectualizado; Artístico (A): estilo pessoal onde predomina a expressão criativa de idéias, emoções e sentimentos; Social (S): centrado na sociabilidade, em humanitarismo e interesse por relações interpessoais de ajuda ao outro, empatia; Empreendedor (E): caracterizado pela energia, dinamismo, habilidade verbal, capacidade persuasiva e de liderança nas relações; Convencional (C): estilo pessoal conformista, consciencioso, prudente e mantenedor de regras e rotinas ordenadas, e que valoriza o poder nas relações sociais.

Vários são os relatos encontrados na literatura brasileira nos últimos dez anos que trazem estudos com o SDS (Mansão & Yoshida, 2006; Nunes & Noronha, 2009; Noronha & Otatti, 2010; Primi, Mogi, & Cassellato, 2004; Sartori, Noronha, Godoy, & Ambiel, 2010), dentre outros. A título de exemplo, Mansão e Yoshida (2006) realizaram um estudo que objetivou verificar as características psicométricas do Self-Directed Search Career Explorer - SDS, a partir da versão adaptada por Primi et al. (2000). Para a medida de consistência interna foi utilizado o coeficiente alfa de Cronbach sendo encontrados índices de precisão com variação entre 0,87 e 0,90, em cada uma das tipologias. A fidedignidade foi também verificada através do procedimento de Teste-Reteste, sendo reaplicado o SDS em intervalo de 7 a 10 dias, numa amostra de 122 participantes. Os resultados obtidos foram Artístico (0,91), Investigativo (0,87), Social (0,86), Realista (0,85), Empreendedor (0,83) e Convencional (0,82). O SDS apresentou boa precisão na população estudada tanto no que diz respeito à consistência interna, quanto à estabilidade temporal. Já a validade de construto, por meio da Análise Fatorial, pelo método dos componentes principais, mostrou correspondências com as seis tipologias profissionais propostas na versão original do instrumento. Os autovalores revelaram fatores bastante robustos, que explicam 94,42 % da variância.

Para verificar a correlação entre os itens da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) com os da escala Atividades do Self-Directed Search (SDS), Noronha e Ambiel (2008) aplicaram os instrumentos em uma amostra de 122 universitários dos cursos de Psicologia, Educação Artística e Veterinária. Os resultados indicaram que alguns itens do EAP se correlacionaram positivamente com a escala de Atividades, revelando coerência entre eles. O item nove do EAP (cuidar de princípios e normas relativos à arrecadação de impostos, taxas e obrigações tributárias), por exemplo, correlacionou-se com atividades no tipo Convencional que tem como características o gosto por atividades passivas e bem organizadas. Para o tipo Realista o maior índice foi o item 56 (Promover a instalação de hotéis) (r = 0,30), o que pode representar a visão econômica do sujeito Realista e suas características técnicas. Com base nos resultados, foi possível concluir que o EAP é instrumento para avaliar os interesses por meio de atividades profissionais que detém boas qualidades psicométricas.

Com vistas a correlacionar SDS e BBT-Br, Okino e Pasian (2010) aplicaram os testes em uma amostra brasileira de 497 estudantes da 3ª série do Ensino Médio. No grupo masculino puderam ser destacadas associações entre os fatores fator K (r = 0,53), marcado pela objetividade, com o tipo Realista, representante do interesse por atividades racionais e o fator S (r = 0,41) que expressa interesse por atividades que englobam relações interpessoais de ajuda, focadas no cuidado com o outro e na sensibilidade, com o tipo Social caracterizado pela empatia, sociabilidade e interesse pelas relações interpessoais de ajuda ao outro. Em relação ao fator Z, houve correlações significativas com o tipo Artístico (r = 0,55), e o tipo Social (r = 0,39). Essas correlações podem ser explicadas pela associação de Z a características de apuro estético e apreciação do belo, uso da criatividade e intuição, no que também está implicando em contatos interpessoais e, a possibilidade de reconhecimento social. O fator G apresentou moderadas correlações significativas com os tipos Investigativo (r = 0,43), Social (r = 0,42) e Artístico (r = 0,42).

No grupo feminino, os resultados foram semelhantes, ou seja, quanto ao fator K, observou-se moderada correlação (r = 0,52) com o tipo Realista e o fator S mostrou moderada correlação significativa com o tipo Social (r = 0,51). Já o fator Z mostrou-se correlacionado com três tipos de Holland, a saber: Artístico (r = 0,39), Realista (r = 0,34) e Empreendedor (r = 0,32). Essas associações apontam para a convergência entre as características atribuídas ao fator Z do BBT-Br como interesses estéticos, criatividade e necessidade de reconhecimento de si ou de seu trabalho. Também entre as mulheres foi identificada correlação significativa entre o fator G com os tipos Investigativo (r = 0,47), Realista (r = 0,31), Social (r = 0,36) e Artístico (r = 0,31).

Os instrumentos de verificação de interesses fundamentados na perspectiva de Holland que vem sendo construídos no Brasil, quando submetidos a estudos de validação tem apresentado resultados promissores (Balbinoti, 2003; Balbinotti, Valentini, & Cândido, 2006; Teixeira, Castro, & Cavalheiro, 2008, entre outros). Ao propor a construção do ATPH (Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland), apoiados no modelo Hexagonal de Holland (1997), os autores vislumbraram a possibilidade de contribuir com mais uma ferramenta de intervenção em OP (Primi, Muniz, Nunes, & Mansão, 2008).

Um primeiro estudo acerca do ATPH foi realizado com o objetivo de buscar evidências de validade convergente-discriminante para o teste, a partir da verificação das relações com a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP). A amostra foi composta por 42 estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares. Foram observadas correlações significativas entre as dimensões do EAP e as tipologias, sendo que Realista (r = 0,45) e Investigativo (r = 0,40) correlacionaram-se significativamente com a dimensão Ciências Exatas. A dimensão Artes e Comunicação correlacionou-se positivamente com o tipo Artístico (r = 0,60) indicando coerência na combinação do caráter criativo, imaginativo e intuitivo. As tipologias Investigativo (r = 0,62) e Social (r = 0,50) normalmente apresentadas por sujeitos que buscam ocupações na área das ciências da saúde e pesquisa, e preocupação com o outro, apareceram associadas expressivamente com a dimensão Ciências Biológicas que representa tais ocupações na EAP. Já o Investigativo apresentou correlação com a dimensão Ciências Agrárias e Ambientais (r = 0,55).

Ademais, a dimensão Atividades Burocráticas correlacionou-se positivamente com as tipologias Convencional (r = 0,67), Empreendedor (r = 0,45), Investigativo (r = 0,42) e Realista (r = 0,40). A dimensão Ciências Humanas e Sociais aplicadas com os tipos Artístico (r = 0,48), e Social (r = 0,44) apresentaram correlações significativas. Por fim, a dimensão Entretenimento do EAP correlacionou-se positivamente com o tipo Empreendedor (r = 0,44) do ATPH. O estudo piloto de evidências de validade do ATPH por meio de comparação com a EAP revelou que há associações entre os instrumentos. Pode-se afirmar que o ATPH apresentou validade, ou seja, ele possui evidências de que avalia interesses profissionais (Noronha, Mansão, Silva, Freitas, & Pereira, no prelo).

Nesse estudo foram realizadas duas análises, comparação de média entre sexos e correlação entre as dimensões dos instrumentos, não tendo sido encontradas diferenças de médias em nenhuma das dimensões da EAP. Já nas dimensões do ATPH foram encontradas médias mais altas no tipo Social para o sexo feminino, e no tipo Realista para sexo masculino.

Dada a importância da verificação dos interesses profissionais quando da realização dos processos de OP, e da necessidade da adequação dos instrumentos, o presente estudo tem como finalidade buscar evidências de validade para o ATPH (Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland), comparando-o a outro instrumento de avaliação dos interesses, o Teste de Fotos de Profissões BBT-Br.

 

Método

Participantes

Integraram a amostra da pesquisa 119 estudantes do Ensino Médio de duas escolas localizadas no interior de São Paulo, uma da rede pública e outra do sistema de ensino particular. Predominantemente os adolescentes freqüentavam o 2º ano do Ensino Médio (94 alunos) e os demais participantes eram alunos do 1º ano (25 alunos). Quanto ao número de participantes e o sistema de ensino, 64 eram estudantes de escola pública e 55 estudantes de particular. Em relação ao sexo, 60 estudantes eram mulheres e 59 homens. A idade variou entre 14 e 18 anos (DP = 1,34; M = 15,6).

Instrumentos

Para a realização do estudo foram utilizados dois instrumentos cujas descrições estão a seguir.

ATPH - Avaliação dos Tipos Profissionais de Holland - (Primi et al., 2008).

O ATPH foi elaborado a partir do SDS - Self Directed Search - de Holland (1975) e tem como objetivo verificar interesses e preferências profissionais. É composto por 154 itens que representam os seis tipos de Holland, a saber, Realista, Intelectual, Artístico, Social, Convencional e Empreendedor. As respostas mostram a intensidade do interesse do sujeito pelas atividades profissionais descritas nos itens. Cada item é avaliado por uma escala de quatro pontos, do tipo Likert correspondendo a "nenhum interesse" (resposta 1) a "muito interesse" (resposta 4). No estudo de Noronha e Mansão (no prelo) foram apresentados os resultados da verificação da estrutura interna dos itens do instrumento. A amostra foi composta por 462 estudantes do Ensino Médio com idades entre 14 a 27 anos, sendo a média de 16 anos (DP = 1.34).

A Análise Fatorial, por meio do método de componentes principais, mostrou seis fatores correspondendo à idéia original das tipologias do modelo RIASEC. Foram considerados os índices de saturação superiores a 0.40. A análise da precisão do ATPH também foi avaliada sendo utilizado o índice de consistência interna de cada um dos tipos do modelo RIASEC. Foi calculado o Alfa de Cronbach (α) e os resultados revelaram que os itens em conjunto reproduzem os seis componentes do modelo teórico de Holland sugerindo a representação dos interesses pelos tipos: Realista (α = 0,95), Investigativo (α = 0,93), Artístico (α = 0,94), Social (α = 96), Empreendedor (α = 0,95) e Convencional (α = 0,96). O ATPH apresentou evidências de validade mostrando ser funcional sua utilização em Orientação Profissional e que há pertinência na aplicabilidade da tipologia de Holland em adolescentes e jovens brasileiros.

BBT-Br - Teste de Fotos de Profissões - Forma masculina (Jacquemin, 2000) e forma feminina (Jacquemin et al., 2006).

O BBT-Br é um instrumento projetivo que permite a apreensão não apenas dos aspectos conscientes, mas também explicita as escolhas e rejeições inconscientes do indivíduo, uma vez que revela o princípio interno que influencia o comportamento de escolha, fornecendo diretrizes afirmativas, neutras e negativas da relação entre as motivações, tal como descrito em seu manual (Achtnich, 1991). Os estudos com esse instrumento no Brasil tiveram início na década de 1980 (Jacquemin & Pasian, 1991), sendo o BBT-Br resultado de sua adaptação à realidade sócio-cultural brasileira, nas formas masculina (Jacquemin, 2000) e feminina (Jacquemi et al., 2006).

O teste constitui-se de 96 fotos representando atividades ocupacionais e os aspectos característicos de uma profissão (atividade, objeto, instrumento, local e objetivo), com vistas à clarificação das inclinações profissionais. As fotos do instrumento são organizadas em oito fatores motivacionais (W, K, S, Z, G, V, M, O). A aplicação consiste na solicitação que o sujeito classifique as fotos da seguinte forma: fotos que agradam, desagradam ou são indiferentes. Por meio da análise quantitativa verifica-se como o avaliando organiza afetivamente suas escolhas e assim é possível elaborar a sua estrutura de inclinação motivacional.

Quanto aos parâmetros psicométricos, alguns trabalhos podem ser citados como os de validade preditiva (Bernardes, 2000), validade de critério (Noce, 2008) e validade e precisão (Okino, 2009). Em relação à precisão, Sbardelini (1997) examinou a estabilidade das estruturas motivacionais identificadas pelo Teste de Fotos de Profissões, encontrando bons resultados nesta direção. Com relação aos parâmetros normativos do BBT-Br no Brasil têm-se os estudos desenvolvidos por Jacquemin (2000) e Jacquemin et al. (2006).

Procedimento

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco e posteriormente, a pesquisadora em encontro com os participantes, esclareceu a natureza da pesquisa e solicitou que os jovens assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido como requisito para participação. Para os estudantes menores de idade, que compõem a maioria da amostra, foi requerida também a autorização dos pais para participação na pesquisa. Os instrumentos foram aplicados coletivamente em grupos de aproximadamente 25 adolescentes, na própria escola, em horário pré-determinado pela direção. A aplicação do BBT-Br exigiu a separação dos sujeitos em razão do sexo, sendo colocados em salas separadas e por isso, teve o apoio de pesquisadores auxiliares, devidamente treinados para a coleta. As fotos foram projetadas em forma de slide, utilizando como recurso computador e projetor multimídia. Todos os participantes responderam primeiro ao BBT-Br e em seguida ao ATPH. A aplicação durou cerca de 50 minutos.

No que se refere à análise dos dados foi realizada a análise da correlação de Pearson, para verificar as convergências entre os dois instrumentos, objetivo principal deste estudo. Foram utilizadas as escolhas positivas do BBT-Br e as preferências pelos tipos psicológicos (RIASEC) do ATPH.

 

Resultados e Discussão

Conforme já explicitado, o presente estudo objetivou verificar as correlações (p < 0,05) entre os instrumentos de medida de interesse ATPH e o Teste de Fotos de Profissões - BBT-Br. Foram encontrados coeficientes significativos entre fatores positivos primários do BBT-Br e tipologias do ATPH, os quais são apresentados na Tabela 1. Tendo em vista que o instrumento BBT-Br possui duas formas diferentes, masculina e feminina, considerou-se imprescindível esclarecer que a análise dos resultados separados por sexo não foi apresentada uma vez que foram encontrados coeficientes baixos e nulos e, não significativos.

Foram encontrados coeficientes significativos de correlação, na amostra estudada, entre todos os tipos do ATPH e fatores do BBT-Br, no entanto, as magnitudes variaram de baixas a moderadas (Sisto, 2007). Para a apresentação e discussão dos resultados serão consideradas as correlações com os coeficientes maiores de 0,30. O tipo Realista correlacionou-se significativamente com os fatores K (r = 0,50) que representa a força física e mental, com o fator V (r = 0,40) que representa a razão e lógica. O tipo Realista indica inclinação profissional para profissões que favoreçam a manipulação de objetos, ferramentas, máquinas e atividades que envolvam pensamento prático, concreto e objetivo. Tais características aproximam-se das representantes do fator K, quanto à força física e rudeza, também associadas à objetividade e manipulação de ferramentas e objetos, bem como as do fator V, (necessidade de objetividade, clareza no pensamento, racionalidade e precisão).

No estudo de Ottati (2009), quando correlacionadas as dimensões do EAP e os fatores positivos do BBT-Br, foi possível verificar correlações significativas, de baixas a moderadas, entre todas as dimensões e fatores, assim como encontrado na presente investigação. Especificamente a dimensão Ciências Exatas correlacionou-se significativamente com os Fatores V (Objetividade) e G (imaginação criativa) indicando que o gosto por atividades que envolvam análise e interpretação de dados numéricos, desenvolvimento de programas de computadores, equipamentos de monitoramento, além de projetos que envolvam o planejamento e implantação de linhas de produção, estudo de condições ambientais e de propriedades físicas do solo e atmosfera, corroboram as características do Fator V, assim como, os resultados encontrados.

O tipo investigativo correlacionou-se com os fatores K, S, Z, V, G e M, merecendo destaque os índices com os fatores M (r = 0,35) que representa inclinações para lidar com fatos passados, limpeza, matéria, posse material e K (r = 0,30) que representa a força física e mental. Okino e Pasian (2010) nos estudos realizados com amostras brasileiras e portuguesas, encontraram correlações positivas entre o tipo Investigativo e os fatores G (imaginação criativa, intuição, inspiração e idéia) e V (racionalidade) na amostra de homens. Na amostra portuguesa, o tipo Investigativo se associou ainda ao fator M (lidar com fatos passados, limpeza, matéria, posse material e afetiva) e, com S (senso social). Os achados são consensuais com os aqui apresentados, discordando apenas da correlação com o fator Z (estar em evidência).

Em relação ao tipo Artístico, houve correlações significativas com seis fatores, K, S, Z, G, M e O do BBT-Br. Optou-se por realizar uma análise mais detalhada das correlações com os fatores K (r = 0,32), Z (r = 0,34) e M (r = 0,36), por serem as com coeficiente acima de 0,30. Entre as características que definem o tipo Artístico podem ser citadas criatividade, uso dos sentimentos, emoções, imaginação e aptidões verbais. Estas características associam-se ao fator Z no que se refere à necessidade de se mostrar, de estar em evidência, de representar, de apresentar-se e valorização e a apreciação de tudo que é esteticamente belo. Em contrapartida, não eram esperadas associações entre as características do tipo artístico com os fatores K e M por serem descritores respectivamente de indivíduos com inclinação para atividades que exigem força física e contato com substâncias químicas, dinheiro, terra, excrementos, secreções. Corroborando em partes estes achados, nas duas amostras estudadas por Okino e Pasian (2010) e Okino (2009) o tipo Artístico mostrou-se em associação com os fatores Z e G, apontando inclinação para a apreciação estética e a criação, ao passo que o tipo Social relacionou-se com a sensibilidade (W), a sociabilidade (S), a estética (Z) e a oralidade (O). Pode-se afirmar ainda, em relação ao tipo Artístico, que as correlações encontradas no presente estudo são próximas às de Ottati (2009), que encontrou na dimensão Artes e Comunicação do EAP associações com todos os fatores e, de forma mais expressiva, com Z (evidência), G (imaginação criativa) e S (social), respectivamente.

Já o tipo Empreendedor associou-se de modo significativo, com os fatores V (r = 0,40), O (r = 0,39), Z (r = 0,34) e K (r = 0,35). O estudo de Okino (2009) traz resultados que favorecem a confirmação das correlações encontradas no presente estudo para o tipo Empreendedor. Agrupados por gênero, os participantes do estudo de Okino (2009) apresentaram correlações significativas com os fatores O e V no grupo masculino e V e Z no feminino.

Por fim, o tipo Convencional, associou-se ao fator V (r = 0,49) e também ao fator O (r = 0,41). No estudo de Okino (2009) os grupos masculino e femino dessa tipologia igualmente obtiveram bons índices de correlação com o Fator V indicando a necessidade de objetividade, conhecimento, organização, clareza no pensamento, racionalidade e precisão. Indivíduos com predominância nesse fator tendem a buscar atividades de planejamento, controle, organização, administração. Esse fator pode se associar o tipo Convencional, cujas características predominantes são inflexibilidade, rigidez, gosto por atividades passivas, bem organizadas, de registro e controle.

 

Considerações Finais

Os dados obtidos indicaram várias correlações significativas entre os instrumentos de avaliação de interesses, o que pode confirmar a hipótese de convergência entre seus resultados. Outros estudos apontaram na mesma direção (Okino, 2009; Okino & Pasian, 2010; Ottati, 2009). Podem ser mencionados como exemplos de correlações positivas entre os seis tipos profissionais e os oito fatores primários do BBT, o tipo Realista com fatores K, V e, tipo Investigativo com os fatores M, K, G e V, tipo Artístico com fatores K, Z, M e G , tipo Social com W e V, tipo Convencional com o fator V e O e o tipo Empreendedor também com os fatores V e O.

Pode-se afirmar pois, que investigações têm revelado associações significativas entre o modelo RIASEC proposto por Holland (1997), e o modelo de inclinações motivacionais proposto por Achtnich (1991). Além disso, evidencia-se que o instrumento ATPH tem boas propriedades psicométricas, no que se refre à sua validade, visto que houve convergência com os fatores do BBT-Br. Desta forma, afirma-se que o presente estudo alcançou seu objetivo, que era buscar evidências de validade para o ATPH por meio da correlação com o BBT-Br, pois confirma-se que tanto o BBT-Br quanto o ATPH podem revelar dados interessantes quando aplicados em processos de OP.

Convém salientar a necessidade e importância de novas investigações que permitam a ampliação dos estudos do ATPH com outros instrumentos e construtos a fim de que o instrumento possa tornar-se utilizável em processos de Orientação Profissional como ferramenta de verificação do perfil tipológico. Ainda, quanto ao presente estudo, é recomendável cautela na generalização, uma vez que os achados são resultantes de uma amostra restrita.

 

Referências

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Recebido: 14/04/2011
1ª Revisão: 17/09/2011
2ª Revisão: 24/09/2011
Aceite final: 28/09/2011

 

 

Sobre as autoras
Camélia Santina Murgo Mansão é Psicóloga, Doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente das Faculdades Integradas de Jaú. Bolsista de Pós-doc pelo CNPq.
Ana Paula Porto Noronha é Psicóloga, Doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista Produtividade em Pesquisa pelo CNPq.
Fernanda Ottati é Psicóloga, doutoranda e Mestre em Avaliação Psicológica pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista de Apoio Técnico - Nível Superior do CNPq.
1 Endereço para correspondência: Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, 13 253 231, Itatiba-SP, Brasil. Fone: 11 45348118. E-mail:Ana.noronha@saofrancisco.edu.br

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