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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof vol.12 no.2 São Paulo dez. 2011
ARTIGOS ORIGINAIS
Escolha e interesses profissionais de talentosos: Análise cientométrica
Occupational choice and interests of talented people: Scientometric analysis
Elección e intereses profesionales de talentosos: Análisis cientométrica
Karen Cristina Alves Lamas1; Altemir José Gonçalves Barbosa
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
RESUMO
Com o objetivo de analisar a produção científica da última década (2000 - 2009) sobre escolha e interesses profissionais de pessoas com dotação e talento, recuperaram-se artigos científicos indexados nas bases de dados PsycNET e ERIC, utilizando os termos gifted and career choice ou gifted and vocational interests. Dentre os 28 artigos recuperados, predominaram as pesquisas empíricas que adotaram amostras compostas somente por pessoas talentosas, identificadas principalmente no domínio intelectual. Cognições, diferenças entre os sexos e influências sociais constituem os principais temas das publicações. Assim, é possível afirmar que a produção científica analisada, apesar de priorizar a obtenção de evidências empíricas, é restrita e enfatiza apenas parte das variáveis associadas ao desenvolvimento ocupacional de pessoas com dotação e talento.
Palavras-chave: superdotados, desenvolvimento profissional, pesquisa científica, aspirações profissionais
ABSTRACT
Aiming to analyze the scientific production of the last decade (2000 - 2009) on occupational choice and interests of people with giftedness and talent, this paper has recovered PsycNET and ERIC database indexed papers using the terms gifted and career choice or gifted and vocational interests. Empirical researches which have only adopted talented people samples mainly identified in the intellectual domain were predominant among the 28 articles retrieved. Cognitions, gender differences and social influences were the publications' main themes. Thus, it is clear that the analyzed scientific production, though prioritizing empirical evidence gathering, is limited and emphasizes only part of the occupational variables associated with the development of people with giftedness and talent.
Keywords: gifted, professional development, scientific research, occupational aspirations
RESUMEN
Con el objetivo de analizar la producción científica de la última década (2000 - 2009) sobre elección e intereses profesionales de personas con dotación y talento se recuperaron artículos científicos indexados en las bases de datos PsycNET y ERIC utilizando los términos gifted and career choice o gifted and vocational interests. Entre los 28 artículos recuperados predominaron las búsquedas empíricas que adoptaron muestras compuestas sólo por personas talentosas, identificadas principalmente por el dominio intelectual. Cogniciones, diferencias entre los sexos e influencias sociales constituyen los principales temas de las publicaciones. Por lo tanto, es posible afirmar que la producción científica analizada, a pesar de priorizar la obtención de evidencias empíricas, es restricta y enfatiza sólo parte de las variables asociadas al desarrollo ocupacional de personas con dotación y talento.
Palabras clave: superdotados, desarrollo profesional, investigación científica, aspiraciones profesionales
A transição escola-trabalho tem caráter desenvolvimental, ou seja, ocorre ao longo de vários anos do curso de vida, não se limitando ao momento da escolha profissional (Lent, Hackcett, & Brown, 2004; Super, 1980). Tem, também, caráter social e subjetivo, isto é, apresenta particularidades para diferentes grupos sociais e para cada indivíduo de um grupo. Assim, além dos adolescentes e universitários, os pesquisadores estão voltando sua atenção para as questões profissionais de aposentados (Duarte & Melo-Silva, 2009) e pessoas com necessidades especiais, sejam elas decorrentes de deficiência (Bastos, 2002) ou de características de dotação e talento (Sampson & Chason, 2008). Para o subgrupo de adolescentes dotados, é possível imaginar, ainda que equivocadamente, que os aspectos que envolvem a escolha, como interesses e habilidades, estejam claros e, portanto, a tarefa seja mais simples (Sampson & Chason, 2008). Contudo, possuir dotação e talento não implica, necessariamente, na facilitação da decisão profissional (Sampson & Chason, 2008).
Dentre as várias concepções sobre dotação e/ou talento (Sternberg & Davidson, 2005), ressalta-se a perspectiva de Gagné (2005, 2009). Nela, pessoas com características de dotação são aquelas que possuem alguma capacidade natural e espontânea, enquanto as pessoas talentosas são aquelas que desenvolveram domínio elevado em, pelo menos, uma área da atividade humana (intelectual, da criatividade, social, perceptual, muscular e/ou motora), por meio do desenvolvimento sistemático de habilidades. Assim, os termos dotação e talento têm características comuns, pois ambos se referem à capacidade humana e visam indivíduos que manifestam comportamentos que expressam alguma capacidade acima da média de seu grupo de pares. Salienta-se, nesse modelo, a influência de variáveis ambientais, cognitivas e de aprendizagem no processo de transformação dos dotes em talento, que pode ser caracterizado pelo alto nível de desempenho no uso de habilidades específicas em qualquer campo profissional (Gagné, 2009).
Para muitas pessoas, ser considerado talentoso pode ocasionar obstáculos no momento da escolha ocupacional (Kerr & Sodano, 2003; Sampson & Chason, 2008). Por exemplo, os indivíduos com características de dotação e talento tendem a ser perfeccionistas (Kerr & Sodano, 2003; Peterson, 2009; Sampson & Chason, 2008), o que pode comprometer o desenvolvimento de crenças de autoeficácia e, consequentemente, ter implicações negativas para o desenvolvimento de interesses e para a tomada de decisão, uma vez que as pessoas tendem a rejeitar atividades para as quais imaginam que não produzirão o resultado desejado (Pajares & Olaz, 2008).
Outro aspecto relevante para a decisão profissional desses indivíduos, citado por Sampson e Chason (2008), é a autopercepção que se tem dos recursos e da oportunidade de fazer uma escolha satisfatória. Assim como Wilgosh (2001), esses autores incluem, entre os recursos, as fontes de informação sobre as opções profissionais, além do apoio de pessoas significativas. Enquanto que oportunidade se refere à disposição para finalmente fazer uma escolha após ter recebido incentivo de pessoas mais próximas. Guenther (2006) indica que muitos estudantes talentosos de escolas públicas, quando estão no ensino médio, almejam o ingresso em uma universidade pública. No entanto, devido às limitações econômicas e às limitações do sistema educacional a que eles têm acesso, tal objetivo não é atingido.
Sabe-se que no contexto brasileiro o processo de identificação e desenvolvimento de alunos talentosos não vem recebendo atenção suficiente (Alencar, Feldhusen, & French, 2004). Por conseguinte, pesquisas sobre a escolha profissional dessa população são praticamente inexistentes, embora sejam de grande importância para o processo de desenvolvimento de talentos. Todavia, verifica-se crescente interesse pelo desenvolvimento profissional/vocacional de pessoas talentosas na literatura internacional desde o início do século XX.
Tendo em vista que investigações bibliográficas, classificadas como cientométricas (Macias-Chapula, 1998; Spinak, 1998), são relevantes à medida que explicitam o que já foi pesquisado sobre determinado problema, facilitando o planejamento de futuras investigações (Merlin & Merlin, 2007), o objetivo geral deste trabalho foi descrever o estado atual da arte sobre a escolha e os interesses profissionais de pessoas com características de dotação e talento. Para tanto, realizou-se uma análise da produção científica, mais especificamente artigos, da última década que foi indexada em bases de dados internacionais. Os objetivos específicos foram identificar o ano de publicação, o tipo de artigo (pesquisa ou revisão de literatura), as características das amostras utilizadas em trabalhos empíricos, os domínios de dotação investigados e os temas prevalentes.
Método
A recuperação dos artigos foi realizada na PsycNET (American Psychological Association [APA], 2010), que abrange as bases de dados PsycINFO e PsycARTICLES, e no Education Resources Information Center - ERIC (Institute of Education Sciences [IES], 2010), que disponibiliza a base homônima. Essas fontes foram escolhidas devido à relevância que elas possuem para as áreas de Psicologia e Educação respectivamente. A PsycNET indexa boa parte dos periódicos, livros e outras comunicações científicas mais relevantes da área. A ERIC, por sua vez, é mantida pelo governo estadunidense por meio do Institute of Education Sciences (IES), órgão do U.S. Department of Education. Ela tem caráter internacional e indexa grande parte da produção científica mais relevante no campo educacional.
Ao empregar os termos 'gifted and career choice' ou 'gifted and vocational interests' e delimitar o intervalo do ano de publicação entre 2000 e 2009, foram recuperados, no total, 32 artigos em 16 de março de 2010. Quatro deles foram excluídos, porque não se relacionavam aos termos de busca. Foram analisadas, portanto, 28 publicações. Destaca-se que foram incluídos todos os artigos, mesmo aqueles cujos textos completos não puderam ser obtidos, dos quais foram usados, então, apenas o resumo e outras informações disponibilizadas pela base de dados. Ressalta-se, também, que na ERIC os termos foram usados como descritores e na PsycNET eles foram buscados em qualquer campo indexado.
As variáveis escolhidas para essa análise foram tabuladas diretamente em uma planilha eletrônica, sendo que, no caso do tema, foi efetuada uma análise de conteúdo. Nesse procedimento, um dos autores efetuou a análise e o outro foi juiz, sendo obtido concordância superior a 75%. Quando houve divergência, chegou-se, posteriormente, a um consenso quanto à categoria mais adequada. Para análise quantitativa, adotou-se um nível de significância de 0,05 por convenção.
Resultados e Discussão
Foi identificado pelo menos um artigo em todos os anos analisados (Tabela 1). Como o escore de textos analisados é relativamente pequeno, não é adequado o uso de estatística inferencial para essa variável, mas parece existir uma tendência de maior publicação no início da década, mais precisamente nos três primeiros anos.
Entre os artigos analisados, a maioria relata pesquisa empírica (n = 22; 78,6%; Χo2 = 9,143; gl = 1; p < 0,01) e somente seis (21,4%) são revisões de literatura. Isso denota, por um lado, a importância desse tipo de atividade na ciência contemporânea e, por outro lado, que os pesquisadores têm buscado evidências empíricas sobre as variáveis que afetam a escolha e os interesses profissionais de pessoas com dotação e talento.
Embora prevaleçam as pesquisas empíricas (n = 22), apenas quatro (18,2%) delas tiveram suas amostras compostas por pessoas talentosas e não-talentosas, as demais investigações se detiveram à população com dotação e talento. Evidencia-se, assim, a escassez de estudos que tenham como objetivo comparar o desenvolvimento ocupacional desses dois grupos. Essas investigações são fundamentais para compreender o desenvolvimento dos indivíduos talentosos e, consequentemente, para que políticas públicas voltadas para a educação e a saúde deles sejam elaboradas e implantadas.
Ainda que não se possam fazer inferências, foi possível verificar uma tendência de as pesquisas priorizarem participantes que estão na adolescência (n = 9; 40,9%) ou na vida adulta (n = 8; 36,4%). Isso fica ainda mais evidente quando se considera os escores referentes às fases de desenvolvimento de forma combinada, isto é, em conjunto com participantes de outras fases de desenvolvimento (p.ex. infância). Desse modo, 54,5% (n = 12) das investigações tiveram participantes adolescentes e 45,5% (n = 10) contaram com adultos em suas amostras. Esse resultado retrata uma característica tradicional desse campo de estudo, ou seja, investigar o desenvolvimento ocupacional somente a partir da adolescência, negligenciando possíveis desenvolvimentos que, de acordo com Pasqualini, Garbulho e Schut (2004), podem ocorrer na infância.
Houve também a prevalência de pesquisas que tiveram amostras compostas por ambos os sexos (n = 13; 59,1%; Χo2 = 18,000; gl = 3; p < 0,01). Ressalta-se que 31,8% (n = 7) delas investigaram somente o sexo feminino e que uma (4,5%) teve apenas participantes do sexo masculino. Há, dessa forma, uma preocupação evidente com a carreira das mulheres, devido à falta de oportunidades iguais para ambos os sexos e às influências do contexto social, que em geral apresenta o homem em profissões de status mais elevado. Tais discussões podem ser verificadas, por exemplo, nos trabalhos de Hook e Ashton (2002), Mendez e Crawford (2002) e Wilgosh (2001).
Verificou-se, também, que a produção científica sobre escolha e interesses profissionais de pessoas com dotação e talento enfatiza o domínio intelectual (n = 17; 60,7%; Χo2 = 18,087; gl = 2; p < 0,01). Tal ocorrência pode ter sido gerada pela tradicional associação existente entre dotação e inteligência, sendo que não é incomum o processo de identificação de alunos dotados e talentosos ser baseado somente em testes que determinam quocientes de inteligência (Guimarães & Ourofino, 2007).
Quanto aos temas abordados, a análise de conteúdo revelou que os artigos recuperados podem ser classificados em sete categorias (Figura 1): (a) cognições; (b) diferenças entre os sexos; (c) influências sociais; (d) educação/desenvolvimento de talentosos; (e) concretização dos talentos; (f) orientação profissional para talentosos; e (g) traços de personalidade. Destaca-se que o tamanho dos círculos é proporcional à frequência dos temas e que os percentuais descritos nas setas representam o quanto os temas aparecem juntos. As três primeiras classes temáticas aparecem concomitantemente em 46,4% (n = 13) e isoladamente em 85,7% (n = 24) da produção científica analisada, denotando:
1. A importância dos processos cognitivos, do contexto social e das diferenças sexuais nas escolhas e nos interesses profissionais de pessoas com dotação e talento;
2. O caráter social das cognições e das diferenças sexuais envolvidas nas decisões ocupacionais dos indivíduos talentosos; e
3. A necessidade de se considerar as particularidades cognitivas de cada sexo quando se trata das opções e aspirações laborais de sujeitos dotados.
O tema cognições apareceu em 75% (n = 21) dos artigos e abrange o conteúdo dos processos cognitivos ou de pensamento. Assim, incluíram-se artigos que abordaram crenças, valores, atitudes, entre outras características cognitivas. Os trabalhos abarcados por essa classe temática foram os de Casey e Shore (2000), Feist (2006), Ferriman, Lubinski e Benbow (2009), Grant, Battle e Heggoy (2000), Hébert (2000), Hook e Ashton (2002), Kerr e Kurpius (2004), Kogan (2002), Maltby e Devlin (2000), Maxwell (2007), Mendez e Crawford (2002), Mendez (2000), Nelson e Smith (2001), Peterson (2002), Sajjadi, Rejskind e Shore (2001), Stamm e Niederhauser (2008), Subotnik, Stone e Steiner (2001), Tirri e Koro-Ljungberg (2002), Vendel e Michno (2001), Wilgosh (2001) e Willard-Holt (2008).
Como exemplo da categoria cognições, destaca-se a pesquisa de Hébert (2000) que apresentou um estudo de caso com seis universitários identificados com características de dotação e talento, que optaram por uma carreira pouco comum quando se trata desses indivíduos, professor de ensino fundamental. Segundo o autor, o que fez com que esses jovens persistissem em suas escolhas foi, primeiramente, uma forte crença em si mesmos, acompanhada de empatia, que contribuiu para o trabalho com crianças, favorecendo a crença de ser um homem e um profissional melhor. A crença em si mesmo se referia às habilidades e às capacidades necessárias para exercer a profissão, bem como às ações adotadas. Ela foi construída a partir da superação de experiências anteriores difíceis, exposição a modelos (professores homens bem sucedidos de ensino fundamental) e suporte parental e familiar.
Investigação semelhante e que também ilustra a categoria cognições foi realizada por Willard-Holt (2008). Em uma pesquisa com mulheres dotadas intelectualmente que se tornaram professoras, verificou-se que, mesmo diante da falta de apoio dos amigos e familiares, principalmente pela falta de prestígio da profissão, as mulheres escolheram e seguiram a carreira por causa das experiências anteriores com crianças, do valor que a profissão tem para elas, da confiança em suas habilidades e não pelas expectativas de sucesso.
Acrescenta-se, ainda como exemplo de artigos que compuseram a categoria cognições, o trabalho de Mendez (2000). Em uma amostra de adolescentes, com idade média de 12,7 anos, a autora comparou meninas dotadas que participavam de um programa para alunos talentosos e meninas do ensino regular, da mesma escola, quanto ao estereótipo relacionado ao sexo e às aspirações profissionais. A autora constatou que as meninas talentosas possuíam maior autopercepção de instrumentalidade, ou seja, acreditavam-se detentoras de qualidades como independência, assertividade e confiança, possuíam, também, níveis mais elevados de motivação para a realização e se interessavam mais por profissões não-tradicionais para o sexo feminino, com maiores prestígio e nível educacional. Além disso, as meninas com características de dotação e talento apresentaram atitudes mais liberais em relação aos direitos e papel das mulheres, indicando que esse grupo tem menor probabilidade de aderir aos estereótipos relacionados ao sexo do que seus pares da educação geral.
O conflito no momento da escolha profissional foi discutido por vários autores de textos classificados na categoria cognições. Para Maxwell (2007), um dos fatores que levam à indecisão é a presença de multipotencialidade. De acordo com Kerr e Sodano (2003), os alunos dotados com multipotencialidade são aqueles que possuem um nível elevado de capacidade geral e, assim, são capazes de desempenhar com competência muitas atividades que exigem esforço intelectual, ampliando, assim, as possibilidades dentro do campo profissional. Sajjadi et al. (2001), em uma pesquisa de seguimento, fizeram uma análise longitudinal e não encontraram efeitos negativos da multipotencialidade para aspectos relacionados à carreira em estudantes com média de idade de 20 anos.
A categoria diferenças entre sexos englobou 64,3% (n = 18) dos artigos. Nela foram incluídas as publicações de Feist (2006), Ferriman et al. (2009), Kerr e Sodano (2003), Maltby e Devlin (2000), Maxwell (2007), Mendez e Crawford (2002), Nelson e Smith (2001), Stamm e Niederhauser (2008), Sparfeldt (2007), Webb, Lubinski e Benbow (2002), e Wilgosh (2001). Também foram inseridos neste grupo temático artigos que discorriam apenas sobre o sexo masculino ou apenas sobre o sexo feminino como o de Hébert (2000), Mendez (2000) e Willard-Holt (2008), descritos anteriormente, e os de Grant et al. (2000), Hook e Ashton (2002), Kerr e Kurpius (2004) e Tirri e Koro-Ljungberg (2002).
O trabalho de Sparfeldt (2007) foi incluído somente na categoria diferenças entre sexos. Ele investigou o interesse profissional entre talentosos e não-talentosos em ambos os sexos, fundamentando-se na Teoria Tipológica de Holland (1996). Participaram da pesquisa 106 indivíduos com capacidade intelectual elevada (QI > 129) e 98 com capacidade média. Segundo o autor, o grupo com capacidade elevada demonstrou maior interesse para as atividades do tipo investigativo e menor interesse por atividades do tipo social que as pessoas com capacidade média. Quanto ao sexo, não foi encontrada diferença entre os grupos, mas, de modo geral, os participantes do sexo feminino tiveram menor interesse investigativo, o que sugere a necessidade de realizar intervenções que aumentem a motivação das meninas com e sem dotação e talento para a área científica. Feist (2006) e Webb et al. (2002) identificaram que jovens talentosas intelectualmente, que possuem interesse pela área de ciências e/ou matemática, tendem a migrar para outras áreas no momento de escolher a profissão, enquanto os homens tendem a permanecer.
Stamm e Niederhauser (2008) investigaram as diferenças entre os sexos no processo de formação profissional de pessoas talentosas. Concluíram que os participantes do sexo feminino constituem um grupo específico em relação às escolhas profissionais, sendo influenciadas pelos familiares, pares e expectativas sociais. Elas possuíam, também, mais características de estresse, mas, ao final do processo, apresentavam melhor desempenho perante seus coordenadores. Além de reforçar e estimular o talento feminino é preciso haver mudanças no meio social e educacional, de forma que ambos os sexos tenham as mesmas oportunidades, seja na área acadêmica ou em profissões de elevado status social (Feist, 2006; Webb et al., 2002; Wilgosh, 2001). A revisão de literatura realizada por Wilgosh (2001) aborda esse tema, inclusive destacando o papel da mídia.
Ainda no que se refere à categoria diferenças entre os sexos, Ferriman et al. (2009), ao investigarem estudantes de pós-graduação, constataram que a preferência ocupacional e os valores de vida se modificam de forma diferente entre os sexos, ao longo do tempo, principalmente quando se tornam pais. Os participantes do sexo feminino acabavam privilegiando o cuidado dos filhos e as amizades, enquanto o sexo masculino continuava investindo na vida profissional, o que pode explicar, em parte, a disparidade dos sexos em profissões de alto nível. A importância das relações familiares para as talentosas também foi encontrada por Grant et al. (2000). Eles verificaram a influência dos papéis sexuais, dos valores e expectativas relativas ao trabalho nas decisões relacionadas à carreira. Contudo, os autores concluíram que, de modo geral, as experiências vividas pelas estudantes talentosas não são muito diferentes das vivenciadas pelas demais estudantes.
A categoria influências sociais abarca trabalhos que abordam o impacto das relações interpessoais, dos fatores socioeconômicos, da mídia e dos padrões e valores socioculturais. Este tema foi identificado em 60,7% (n = 17) dos artigos: Casey e Shore (2000), Feist (2006), Ferriman et al. (2009), Grant et al. (2000), Hébert (2000), Hook e Ashton (2002), Kogan (2002), Maltby e Devlin (2000), Maxwell (2007), Mendez e Crawford (2002), Mendez (2000), Nelson e Smith (2001), Peterson (2002), Subotnik et al. (2001), Tirri e Koro-Ljungberg (2002), Wilgosh (2001) e Willard-Holt (2008).
A fim de exemplificar essa categoria, citam-se os trabalhos de Mendez e Crawford (2002) e Hook e Ashton (2002). Mendez e Crawford (2002) realizaram um estudo com 227 adolescentes com características de dotação e talento e constataram que as meninas são mais flexíveis em suas aspirações profissionais e possuem um universo de opções mais amplo. Os garotos, por sua vez, continuam preferindo profissões com maior nível educacional e prestígio. Isso ocorreria devido ao fato de os meninos se limitarem a profissões de domínio masculino, geralmente as que possuem maior nível de instrução e status social, e as meninas manifestarem interesse tanto por carreiras de domínio masculino quanto feminino. Embora esteja ocorrendo um processo de transição, ainda há preconceitos e estereótipos que influenciam a escolha dos adolescentes. Em relação às talentosas, Hook e Ashton (2002) destacam que a forte influência das expectativas sociais, incluindo aquelas relacionadas ao sucesso, à etnia e, especialmente, ao gênero, é fonte de indecisão e conflito no momento de escolher uma profissão.
A escolha profissional do indivíduo com características de dotação e talento pode ser facilitada pela educação e pelo programa de desenvolvimento ofertado (Casey & Shore, 2000). Entre as publicações analisadas, 39,9% (n = 11) abordaram o tema educação/desenvolvimento de talentosos. Os textos de Cannon, Broyles, Seibel e Anderson (2009), Casey e Shore (2000), Gentry, Hu, Peters e Rizza (2008), Kogan (2002), Mendez (2000), Nelson e Smith (2001), Peterson (2002), Stamm e Niederhauser (2008), Stamm (2005), Subotnik et al. (2001) e Wilgosh (2001) foram classificados nessa categoria.
Alguns estudos dessa classe, por exemplo, os artigos de Gentry et al. (2008) e Cannon et al. (2009) focaram atividades que poderiam favorecer o desenvolvimento de talentos. Gentry et al. (2008) investigaram as percepções e experiências de alunos identificados como talentosos por seus professores, bem como o conteúdo e as oportunidades que uma escola técnica oferecia. Os participantes da pesquisa estavam seguros e capacitados para prosseguir os estudos ou fazer sua inserção no mercado de trabalho. Os autores perceberam quatro componentes que favoreciam o desenvolvimento de talentos:
1. A individualização da aprendizagem - São propostos desafios aos indivíduos talentosos, podendo ocorrer a compactação e a aceleração do currículo.
2. A possibilidade de escolhas significativas - Perante várias oportunidades, permite-se que os alunos aprendam a escolher e façam escolhas, entre estágios ou disciplinas, de acordo com as suas necessidades.
3. O uso do instrutor ou mentor como um promotor de talentos - O educador não transmite apenas informação, desenvolve competências e habilidades, favorecendo a existência de expectativas e objetivos.
4. A participação em organizações estudantis - Ao participar de grêmios e outras instituições compostas e organizadas por pares, o estudante talentoso pode se envolver direta e ativamente em situações que auxiliam no planejamento da profissão.
Cannon et al. (2009) apresentaram um estudo sobre a influência de um programa de enriquecimento educacional sobre a área agrícola oferecido a estudantes com dotação e talento de diferentes escolas. Constatou-se que a atividade teve efeito sobre os conhecimentos e percepções dos alunos em relação ao setor agrário, mas não influenciou as escolhas profissionais, uma vez que a medicina e não uma profissão da área teve o maior número de adeptos.
Outros estudos da categoria educação/desenvolvimento de talentos enfatizaram a relação entre desenvolvimento educacional e desenvolvimento profissional. Peterson (2002) apresentou um estudo que acompanhou 14 adolescentes dotados com risco para resultados educacionais insatisfatórios. Após quatro anos de acompanhamento, os fatores de risco investigados, tais como falta de autonomia e ausência de relacionamentos maduros, e presença de conflitos familiares, foram superados. Além disso, a maior parte dos participantes possuía uma carreira profissional.
Stamm (2005) investigou o desempenho educacional e as escolhas profissionais de alunos com capacidade intelectual acima da média. A amostra foi composta por 99 adolescentes que tiveram desempenho excelente em leitura e/ou matemática quando estavam na pré-escola. A autora verificou que os alunos dotados tiveram uma trajetória educacional bem sucedida, mesmo quando houve pausas. Verificou, também, que parte dos alunos optou por um curso técnico em detrimento do ensino tradicional, sendo essa opção explicada por fatores sociais e educacionais.
Segundo Nelson e Smith (2001), o ambiente educacional, os familiares e os pares são variáveis externas que afetam o desenvolvimento ocupacional, principalmente da aluna com características de dotação e talento. O professor detém a capacidade de perceber essas influências e pode aconselhar os pais sobre como auxiliar na vida profissional e acadêmica dos filhos, bem como promover um ambiente educacional que favoreça o desenvolvimento do talento.
A concretização de talentos, isto é, desenvolver as capacidades identificadas transformando-as em desempenho profissional socialmente reconhecido e valorizado, constituiu uma categoria que abarcou 25% (n = 7) dos trabalhos. Foram incluídos nela os artigos de Feist (2006), Peterson (2002), Stamm (2005), Stamm e Niederhauser (2008), Subotnik et al. (2001), Tirri e Koro-Ljungberg (2002) e Webb et al. (2002).
Webb et al. (2002), por exemplo, monitoraram 1110 adolescentes com características de dotação na área científico-matemática e que possuíam, também, aspirações profissionais nesse domínio quando tinham 13 anos de idade. Em um estudo longitudinal, eles constataram que os estudantes do sexo masculino tenderam a permanecer na área inicial, isto é, científico-matemática, enquanto as alunas tenderam a migrar para outras. Em geral, mesmo aqueles estudantes que cursaram uma graduação fora da área de domínio exerciam profissões relacionadas. Independentemente do nível de estudo ou sexo, todos os grupos atingiram níveis elevados de realização e satisfação no trabalho.
Outro estudo longitudinal da categoria concretização de talentos foi realizado por Subotnik et al. (2001) com alunos que foram finalistas de prêmios científicos no ensino médio. Os autores identificaram que a falta de um mentor, a opção por conviver mais com a família, a restrição do mercado para cientistas nos EUA, a decepção com o ritmo de vida acadêmico e o interesse por outra área são os principais fatores que levam pessoas com talento científico a não seguir carreira nessa área. Assim como Webb et al. (2002) e outros autores, Subotnik et al. (2001) também destacam que maior número de talentosos do sexo feminino abandona a área científica.
Ainda como ilustração dessa categoria, apresenta-se o trabalho de Tirri e Koro-Ljungberg (2002). Eles realizaram um estudo de caso múltiplo com 11 talentosas cientistas de várias áreas, da sociedade finlandesa. Segundo os autores essas cientistas realizaram, ao longo da vida, escolhas pessoais e profissionais, bem como possuíam crenças e valores que favoreceram seu sucesso profissional. Houve, também, destaque para as influências sociais do meio finlandês.
A orientação profissional como facilitadora do processo de desenvolvimento de talentos foi o assunto de 25% (n = 7) dos artigos: Cannon et al. (2009), Casey e Shore (2000), Kerr e Kurpius (2004), Kerr e Sodano (2003), Hook e Ashton (2002), Maltby e Devlin (2000) e Maxwell (2007). Os autores apresentaram temas e/ou intervenções importantes para o trabalho com o público que apresenta características de dotação e talento.
Kerr e Kurpius (2004), por exemplo, descreveram os resultados de uma intervenção implantada em várias escolas para promover o desenvolvimento profissional de adolescentes do sexo feminino com potencial acadêmico em ciências e matemática, mas que estavam expostas a fatores de risco que poderiam comprometer a realização profissional. O objetivo do programa foi reforçar crenças autorreferentes, como autoestima e autoeficácia, discutir valores, reduzir comportamentos de risco e promover um comportamento profissional exploratório. Durante a intervenção, foram aplicados vários instrumentos, realizaram-se alguns exercícios e, posteriormente, houve uma discussão a fim de se estabelecer metas. Os autores identificaram que a autoestima e autoeficácia escolar e em relação ao futuro aumentaram significativamente, sendo que a autoeficácia profissional se manteve estável. Houve, também, aumento da busca por informação e redução do risco para suicídio.
Maltby e Devlin (2000) apresentaram em seu artigo um programa australiano que visou auxiliar as meninas talentosas a superarem barreiras ocupacionais. Promoveram-se atividades para conscientizá-las, para aumentar a autoconfiança e para desenvolver estratégias adequadas que facilitassem a inserção profissional.
Merece destaque, também da categoria orientação profissional, o ensaio teórico de Kerr e Sodano (2003). Eles ressaltam que, no processo de aconselhamento profissional de estudantes com dotação e talento, deve ser dada atenção às características de multipotencialidade e perfeccionismo. Segundo os autores, a multipotencialidade influi na escolha e no planejamento profissional de pessoas talentosas, uma vez que a ampla variedade de opções aumenta a dificuldade de tomada de decisão. O perfeccionismo, por sua vez, pode deturpar a percepção sobre as reais competências e gerar ansiedade pela busca de uma escolha perfeita. Esses aspectos também foram alvos da revisão de literatura efetuada por Maxwell (2007). Porém, esse autor destacou, ainda, a importância do aconselhamento de carreira, principalmente para adolescentes dotadas e defendeu que ele deve fazer parte do programa de desenvolvimento. Além disso, estratégias para orientação profissional são recomendadas.
A análise da influência dos traços de personalidade na escolha e nos interesses profissionais foi foco de apenas dois trabalhos (7,1%). A revisão de literatura de Kogan (2002) - o único do domínio criatividade - salienta que as teorias sobre personalidade explicam de forma limitada o desenvolvimento do talento artístico, grande relevância é dada para as experiências de socialização na infância, para os padrões motivacionais que influenciam e sustentam a escolha da carreira e para o apoio dos pais. Com base em uma perspectiva mais tradicional, a pesquisa de Larson e Borgen (2002) verificou a convergência entre interesses profissionais e personalidade em uma amostra de estudantes talentosos, empregando os instrumentos de personalidade NEO Personality Inventory-Revised e Multidimensional Personality Questionnaire e uma medida de interesse fundamentada na teoria de Holland (1996), chamada Strong Interest Inventory. Os autores corroboraram que interesse e personalidade se sobrepõem, ou seja, interesses específicos e traços de personalidade se correlacionaram. No entanto, houve uma diferença entre os resultados obtidos com essa amostra - composta por adolescentes - e os de outros estudos que contaram com participantes adultos. A correlação entre interesse artístico e o fator abertura para experiências foi maior, e interesse social teve nível de correlação mais alto com o fator extroversão do que com o interesse empreendedor. Os interesses pelos domínios empreendedor, social, artístico e investigativo tiveram maior correlação com os principais construtos de personalidade, o que pode ocorrer, de acordo com os autores, devido ao fato de esses interesses abordarem envolvimento com pessoas e estilos próprios de pensamento.
Considerações Finais
Não obstante as limitações deste estudo (p.ex. restringir-se a duas bases de dados, não incluir teses e dissertações, não conseguir recuperar todos os textos completos e, consequentemente, efetuar a análise a partir de títulos, resumos e indexadores), é possível afirmar que a produção científica sobre escolha e interesses profissionais de talentosos é pequena e concentrada no início da década analisada. A presente análise cientométrica revelou, também, que a pesquisa empírica é priorizada, que faltam estudos comparando amostras de pessoas com e sem dotação e talento, que a adolescência e a adultez constituem as etapas do curso de vida mais enfatizadas e, consequentemente, faltam investigações sobre esse processo na infância e na velhice, que há uma preocupação com a carreira das talentosas e que vários domínios de talento têm sido negligenciados.
Ainda no que se refere às limitações da presente investigação, menciona-se que a PsycNET (APA, 2010) adota os termos 'vocational interests' como sinônimo de 'occupational interests' e 'career choice' como equivalente a 'occupational choice'. Já que a ERIC não adota 'occupational interests' e 'occupational choice' como descritores, optou-se por usar termos iguais nas duas fontes de busca, mas, no caso da PsycNET, considerando a presença deles em qualquer campo. Isso fez com que alguns artigos não fossem incluídos na análise (Bleske-Rechek, Lubinski, & Benbow, 2004; Garnett, Guppy, & Veenstra, 2008; Gentry, Peters, & Mann, 2007; Lubinski, Webb, Morelock, & Benbow, 2001; Park, Lubinski, & Benbow, 2007; Wai, Lubinski, & Benbow, 2005; York, 2008). Porém, a inclusão desses trabalhos não alteraria de forma significativa os resultados desta investigação, pois a maioria deles é pesquisa empírica que aborda indivíduos de ambos os sexos, adolescentes ou adultos, e talentosos no domínio intelectual. Além disso, os resultados desses estudos são consistentes com os obtidos nas pesquisas que foram alvo desta análise de produção científica.
Ademais, esses artigos não modificariam substancialmente a análise de conteúdo apresentada na Figura 1, seja em função do número reduzido - sete - ou devido aos temas pesquisados. Assevera-se que, nesse último caso, não seria criada nenhuma nova categoria e, ainda, que não seria aumentada de forma significativa a frequência de nenhuma das classes temáticas.
Portanto, no que se refere aos temas que caracterizam a produção científica analisada, verificou-se um grande número de trabalhos que abordam assuntos tradicionais do campo da orientação profissional, como fatores sociais e cognitivos, associando-os à escolha e aos interesses profissionais de pessoas com dotação e talento. Constatou-se, também, diferentemente da literatura nacional da área, grande ênfase em questões relacionadas ao sexo/gênero, tais como características sociocognitivas e sub-representação do sexo feminino em carreiras de alto prestígio social e remuneração. Há que se destacar que o momento histórico atual é um período de transição em que os estereótipos estão diminuindo (Mendez & Crawford, 2002) e as atenções estão sendo voltadas para empreender estratégias de encorajamento para o desenvolvimento ocupacional do sexo feminino (Keer & Kurpius, 2004). Ao mesmo tempo, alguns autores afirmam que somente isso não é suficiente, é necessário equidade entre os sexos, bem como uma mudança de atitude da sociedade em relação ao papel feminino (Feist, 2006; Webb et al., 2002; Wilgosh, 2001).
Verifica-se que as pesquisas sobre a escolha e os interesses profissionais de pessoas talentosas às vezes não apresentam resultados completamente discrepantes daqueles apresentados por investigações realizadas com indivíduos que não apresentam essa característica. O estudo de Grant et al. (2000) constitui um exemplo. Não obstante, há outras (ver, por exemplo, Mendez, 2000; Sparfeldt, 2007) que identificam diferenças entre os grupos. Assim, é preciso continuar produzindo conhecimento científico sobre as diferenças entre esses grupos quando se trata da escolha e dos interesses profissionais. Dessa produção científica poderão ser derivadas tecnologias de orientação profissional capazes de atender as necessidades de sujeitos com e sem dotação e talento.
Os adolescentes com características de dotação e talento constituem um grupo que não pode prescindir de atenção quando se trata de escolha ocupacional. Foi possível verificar que intervenções em orientação profissional, por exemplo, mentoria ou grupos de intervenção, são importantes para o desenvolvimento profissional da pessoa talentosa. Constatou-se, ademais, que o próprio sistema educativo ou programa de desenvolvimento no qual o aluno está inserido pode promover o desenvolvimento ocupacional desses indivíduos. Entretanto, são poucos os trabalhos voltados para o desenvolvimento de talentos e a orientação profissional.
Assim, é possível afirmar que a produção científica sobre escolha e interesses profissionais de talentosos carece de pesquisas tanto em quantidade quanto em diversidade de conteúdo. Quanto a esse último aspecto, há uma evidente centralização em determinadas variáveis, mais especificamente cognições, influências sociais e diferenças entre os sexos. Ainda que elas - especialmente os dois primeiros temas - sejam bastante amplas, existem outras dimensões a serem mais exploradas pelas pesquisas que têm como foco escolha e interesses profissionais de pessoas talentosas, tais como os processos de intervenção e a concretização de talentos na esfera laboral. Além disso, há que se diversificar os domínios investigados para além do intelectual, pesquisando, por exemplo, dotação e talento social, perceptual, muscular e motor. Desse modo, mais trabalhos teóricos e pesquisas, descritivas e experimentais, devem ser realizados a fim de auxiliar os mais capazes nessa tarefa de desenvolvimento (Kerr & Sodano, 2003).
No Brasil, a situação é ainda mais crítica, uma vez que a produção científica sobre escolha e interesses profissionais de pessoas talentosas é praticamente inexistente. Assim, psicólogos e educadores brasileiros não dispõem de literatura com elevada validade ecológica que sirva como base para a elaboração de programas de orientação profissional para indivíduos com características de dotação e talento reconhecidas.
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Recebido: 24/01/2010
1ª Revisão: 03/05/2011
2ª Revisão: 03/07/2011
Aceite final: 28/07/2011
Sobre os autores
Karen Cristina Alves Lamas é Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFJF e bolsista da FAPEMIG.
Altemir José Gonçalves Barbosa é Doutor em psicologia pela PUC-Campinas, professor adjunto do departamento de psicologia da UFJF e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFJF.
1 Endereço para correspondência: Rua Aristóteles Braga, 85, aptº201, São Pedro, 36037-010, Juiz de Fora-MG, Brasil. Fone: 32 35712256. E-mail: karen_lammas@yahoo.com.br