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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof vol.14 no.1 São Paulo jun. 2013
ARTIGO
Estudos sobre autoeficácia aplicada ao desenvolvimento de carreira no Brasil: Uma revisão
Studies of self-efficacy in career development in Brazil: A review
Estudios sobre autosuficiencia aplicada al desarrollo de carrera en Brasil: Una revisión
Ana Paula Kalil PriscoI; Cíntia Ribeiro MartinsII; Maiana Farias Oliveira NunesIII
IPsicóloga, Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
IIPsicóloga, Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba. Coordenadora e Professora da Faculdade Nobre de Feira de Santana
IIIPsicóloga, Doutora em Psicologia com ênfase em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. Professora da Faculdade Avantis - Balneário Camboriú
RESUMO
Este estudo objetivou analisar a produção científica nacional de artigos, teses e dissertações sobre a autoeficácia em contextos de desenvolvimento de carreira. Realizou-se uma revisão sistemática de artigos científicos, teses e dissertações. Analisaram-se 15 trabalhos publicados entre 2005 e 2011, cujos primeiros autores estavam vinculados a instituições de ensino do Sudeste e Sul do país, sendo a maioria relatos de pesquisa, realizadas com adolescentes ou adultos jovens, com amostras selecionadas por conveniência. Os estudos sobre autoeficácia nesses contextos são recentes e escassos no Brasil, principalmente com relação aos instrumentos utilizados neste contexto. Discute-se as necessidades de incremento de pesquisas na área e ampliação das possibilidades de aplicação dos resultados das mesmas.
Palavras-chave: avaliação psicológica, teoria social cognitiva, autoeficácia, orientação profissional, desenvolvimento de carreira
ABSTRACT
This study aimed to analyze the scientific production of articles, theses and dissertations on self-efficacy in the context of career development. We performed a systematic review of scientific papers, theses and dissertations. We analyzed 15 studies published between 2005 and 2011, whose first authors were from educational institutions in the Southeast and South of the country, mostly consisting in empirical researches, conducted with adolescents or young adults, with samples selected by convenience. Studies of self-efficacy in this context are recent and scarse in Brazil, especially in relation to the instruments used. We discussed the need for increasing research in the area and expanding the possibilities for further application of the results.
Keywords: psychological assessment, social cognitive theory, self-efficacy, career guidance, career development
RESUMEN
Este estudio trató de analizar la producción científica nacional de artículos, tesis y disertaciones sobre la autosuficiencia en contextos de desarrollo de carrera. Se realizó una revisión sistemática de artículos científicos, tesis y disertaciones. Se analizaron 15 trabajos publicados entre 2005 y 2011, cuyos primeros autores estaban vinculados a instituciones de enseñanza del Sudeste y Sur del país, siendo la mayoría relatos de investigaciones realizadas con adolescentes o adultos jóvenes con muestras seleccionadas por conveniencia. Los estudios sobre autosuficiencia en esos contextos son recientes y escasos en Brasil, principalmente en relación con los instrumentos utilizados en este contexto. Se discute la necesidad de incremento de investigaciones en el área y ampliación de las posibilidades de aplicación de los resultados de las mismas.
Palabras clave: evaluación psicológica, teoría social cognitiva, autosuficiencia, orientación profesional, desarrollo de carrera
A ciência psicológica, especialmente no campo da avaliação psicológica, dispõe de informações sobre métodos e técnicas de observação e medida suficientes para capacitar o psicólogo - teórica e tecnicamente - na mensuração de fenômenos e processos psicológicos (Alchieri & Cruz, 2009). Sem dúvida, a avaliação psicológica é uma área da Psicologia que contribui significativamente para variados campos de aplicação profissional do psicólogo como, por exemplo, o da Orientação Profissional (OP) (Sparta, Bardagi, & Teixeira, 2006).
De acordo com Lehman (2010), a partir da década de 1990, com as transformações no mundo do trabalho, vivencia-se um esvaziamento do espaço vital e de subjetivação do sujeito por meio do seu trabalho. Observa-se, a partir de então, uma nova dinâmica na esfera laboral em que predomina a imprevisibilidade, a mecanização e a competitividade. Frente a esse novo panorama, a sociedade é convocada a se reorganizar e se qualificar enquanto mão de obra, assim como a atuação em orientação profissional também é transformada, passando a trabalhar com questões mais complexas. Observa-se uma migração do paradigma do desejo, da realização pessoal e da busca de identidade para o paradigma da sobrevivência. Frente a esse cenário de mudanças, novos fatores passam a ser analisados e considerados em processos de OP, uma vez que a escolha profissional não se encontra mais restrita a uma etapa da vida (passagem do ensino médio para o ensino universitário). Além da orientação voltada à escolha profissional dos jovens concluintes do ensino médio, é crescente a necessidade de se orientar, por exemplo, adultos empregados, desempregados e aposentados (Lehman, 2010).
No processo de OP, diferentes construtos podem ser investigados. A maioria da produção do conhecimento no campo da OP, no cenário brasileiro, está voltada para os interesses profissionais e sua possível contribuição na escolha profissional adequada (Noronha & Ambiel, 2008). De modo geral, percebe-se uma carência de pesquisas sobre outros fenômenos no campo da OP, assim como sobre o desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos de avaliação (Duarte, Bardagi, & Teixeira, 2011; Noronha, Freitas, & Ottati, 2003; Noronha et al., 2006; Sparta et al., 2006). Em outros países, como nos Estados Unidos e alguns países da Europa, verifica-se maior diversificação dos fenômenos estudados, com maior possibilidade de atender adequadamente pessoas com características e demandas variadas (Guindon & Richmond, 2005).
Em relação aos construtos psicológicos investigados no processo de orientação profissional, merece destaque a autoeficácia. De acordo com Teixeira e Gomes (2005), Teixeira (2008), Nunes (2008), e Nunes e Noronha (2009a), a autoeficácia é um construto bastante relevante no processo de OP, contudo, as publicações acerca desta temática nos contextos de orientação profissional no Brasil ainda são incipientes.
A crença de autoeficácia - confiança na capacidade pessoal para organizar e executar certas ações - representa um dos mais importantes mecanismos pelos quais a pessoa exerce influência sobre as suas ações. Mais especificamente, as pessoas tendem a se envolver nas atividades que acreditam ser capazes de executar e em que anteveem resultados positivos (Bandura, 1997).
As crenças de autoeficácia são provenientes de quatro fontes primárias de informação: experiências pessoais (tendem a fortalecer ou fragilizar as crenças de autoeficácia); aprendizagem vicária (comparação com o comportamento do outro); persuasão verbal (feedback avaliativo/ influência social); e indicadores fisiológicos (o estado emocional é utilizado como parâmetro, por exemplo, ansiedade ou estado de humor positivo) (Bandura, 1986). Para este autor, as fontes, geralmente, influenciam-se mutuamente, porém a fonte de experiência pessoal parece ter maior influência na formação da autoeficácia por se basear em uma experiência autêntica de sucesso ou insucesso.
Nessa perspectiva teórica, entende-se que, na escolha de carreira, mais importante que as habilidades possuídas, é como as pessoas as percebem e as usam, reforçando assim, a importância da autoeficácia no processo de orientação profissional (Hackett & Betz, 1981). Mais especificamente, a autoeficácia relaciona-se aos interesses profissionais, expectativas de resultados, traços de personalidade, metas de carreira e com os resultados obtidos no campo da escolha profissional (Lent, Brown, & Hackett, 1994). Adicionalmente, pesquisadores referem que o sentimento de falta de competência pode gerar expectativas negativas quanto à possibilidade de inserção no mercado de trabalho, o que pode dificultar a construção de metas profissionais e, consequentemente, um plano de ação em relação à carreira. Ou seja, expectativas e julgamentos negativos em relação aos próprios esforços podem gerar um ciclo de desmotivação e indecisão profissional (Teixeira & Gomes, 2005). Diante do exposto, o presente trabalho buscou avaliar a produção científica brasileira de artigos científicos, teses e dissertações sobre a autoeficácia, aplicada ao contexto do desenvolvimento de carreira e Orientação Profissional.
Deve-se destacar que estudos como este, dedicados a revisão da literatura, são importantes, visto que, a análise da produção científica permite a identificação dos temas estudados e dos que necessitam de uma maior exploração (Noronha et al., 2006).
Método
Realizou-se um levantamento bibliográfico dos artigos indexados nas bases de dados eletrônicas do Pepsic e Scielo, e também de teses e dissertações na Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações. A busca ocorreu em dezembro de 2012, com o uso dos termos: autoeficácia e orientação profissional; autoeficácia e orientação vocacional; autoeficácia e desenvolvimento de carreira. Esses termos deveriam constar no título, resumo ou palavra-chave do trabalho para que os artigos fossem incluídos na presente revisão. Adicionalmente, usou-se outro critério de inclusão, de que, no caso de artigos empíricos, a coleta de dados ter sido realizada no Brasil. O critério da coleta ter sido realizada no Brasil se deve ao intuito de relatar o estado da arte das pesquisas feitas no país, uma vez que revisões de produções estrangeiras são mais frequentes e retratam outras realidades. Foram analisadas as seguintes informações em cada estudo: a) título; b) ano da publicação; c) filiação institucional do 1º autor; d) natureza do estudo (teórico ou empírico); e) objetivo do estudo; f) temática do estudo.
Resultados
Foram encontrados 16 artigos em periódicos científicos nacionais que apresentavam os termos utilizados na busca, sendo que destes, quatro publicações não atendiam ao critério estabelecido para inclusão na amostra (no caso dos artigos empíricos), correspondente a coleta dos dados ter sido realizada no Brasil. Neste sentido, a amostra do presente estudo foi composta por 12 artigos que abordavam a interface entre Orientação Profissional/Desenvolvimento de Carreira e Autoeficácia. Já a busca de teses e dissertações permitiu a recuperação de três trabalhos, sendo todos dissertações. Assim, 15 documentos (somando os 12 artigos e três dissertações) foram analisados no presente artigo.
Os trabalhos foram publicados entre os anos de 2005 e 2012, cujos primeiros autores estavam vinculados à instituições da região Sudeste (seis artigos e duas dissertações), em especial em São Paulo, e no Sul do país (seis artigos e uma dissertação), sendo 13 produções empíricas (cujas coletas foram realizadas em meios urbanos) e duas teóricas. Assim, verificou-se a predominância de produções empíricas em comparação com as teóricas.
Quanto à temática, os artigos e dissertações que relatavam pesquisas foram classificados em duas categorias, a saber, aqueles que abordavam a Interface entre Autoeficácia, aspectos da Orientação Profissional/Desenvolvimento de Carreira e outras variáveis e os artigos voltados para a análise de Instrumentos de avaliação da autoeficácia. No que se refere ao estudo da aplicação da autoeficácia na OP, oito publicações foram categorizadas nessa temática, das quais seis (Bardagi & Boff, 2010; Nunes & Noronha, 2011; Ourique, 2010; Ourique & Teixeira, 2012; Pelissoni, 2007; Teixeira & Gomes, 2005) buscavam avaliar possíveis relações entre autoeficácia, fundamentado na Teoria Social Cognitiva, e outros construtos como o autoconceito, interesses e variáveis relacionadas ao desenvolvimento de carreira. Além disso, um artigo visava analisar diferenças na autoeficácia em função de variáveis sócio-demográficas (gênero, tipo de escola, idade e série escolar) em contextos de Orientação Profissional (Nunes & Noronha, 2009a) e outro (Nunes, Noronha, & Ambiel, 2012) relatava um processo de devolutiva de resultados oriundos de uma pesquisa que voltou-se para a construção de uma escala de autoeficácia para atividades ocupacionais, realizada com estudantes de Ensino Médio, de modo a estimular a busca pelo autoconhecimento no processo de escolha profissional. Estes dados podem ser visualizados na Tabela 1.
A análise desse material permite observar que, no Brasil, a publicação de artigos e dissertações sobre a Autoeficácia aplicada ao desenvolvimento de carreira se iniciou na década de 2000, em poucos estados brasileiros, com a participação de um público que tradicionalmente busca serviços de OP (adolescentes e adultos jovens). Apesar de haver uma grande diversidade de aplicações da autoeficácia à OP e ao estudo do desenvolvimento de carreira, percebe-se uma restrição das temáticas dos estudos feitos no Brasil, ao compará-los com o que é feito em outros países (Betz, 2007; Lent, 2004; Lent & Brown, 2006). Nesse sentido, seria interessante, no futuro, abordar pessoas com características sócio-demográficas variadas (população urbana versus rural, pessoas com variadas orientações sexuais, pessoas de classes populares, entre outros) e em diferentes momentos do desenvolvimento de carreira.
Por sua vez, os demais trabalhos (cinco) foram categorizados na temática Construção e Validação de Instrumentos sobre autoeficácia em contextos de Orientação Profissional (ver tabela 2), referindo-se a estudos que objetivavam elaborar e validar instrumentos, em especial escalas, sobre autoeficácia para uso em Orientação Profissional, destacando-se os seguintes elementos: Atividades Ocupacionais (Nunes & Noronha, 2008; Nunes & Noronha, 2011), Decisão de Carreira (Borges, 2009), Formação Superior (Polydoro & Guerreiro-Casanova, 2010) e Escolha Profissional (Ambiel & Noronha, 2011).
Os dados encontrados quanto a construção e validação de instrumentos mostram uma produção tímida, uma vez que seria interessante possuir mais instrumentos disponíveis para uso do psicólogo para avaliar a autoeficácia aplicada a diferentes habilidades (exemplo: autoeficácia para a escolha de carreiras não tradicionais, autoeficácia para atuação em áreas específicas (tecnologia, esportes, entre outras) relacionadas ao desenvolvimento de carreira. No entanto, os dados observados mostram um pequeno investimento na construção e análise psicométrica de instrumentos para avaliação desse fenômeno.
De modo geral, percebe-se que, nos trabalhos de pesquisa, nenhum deles abordou a avaliação da autoeficácia em clientes de OP, mas sim em estudantes selecionados por conveniência para participar das pesquisas. Assim, não houve nenhum relato, por exemplo, da utilidade de intervenções voltadas para o aumento da autoeficácia em áreas específicas, sendo que a avaliação da eficácia das intervenções tem sido destacada como um foco importante para o desenvolvimento da área de OP (Melo-Silva, 2011). Adicionalmente, as amostras foram compostas por estudantes que eram adolescentes ou adultos jovens, evidenciando a carência de estudos que abordem pessoas mais jovens (crianças, por exemplo) ou mais velhas (adultos em transição de carreira, desempregados, entre outros).
Por fim, as duas publicações de cunho teórico (Nunes, 2008; Nunes & Noronha, 2009b) buscaram, respectivamente, apresentar aspectos pertinentes à Teoria Social Cognitiva, mais especificamente sobre autoeficácia e discutir aplicação dessa teoria no desenvolvimento de carreira; apresentar os elementos inerentes à Teoria Social Cognitiva para o desenvolvimento de carreira, e discutir os achados de investigações realizadas em diferentes contextos. Assim, esse resultado sugere a necessidade de ampliar os documentos teóricos produzidos sobre o tema, assim como dar continuidade à discussão sobre a aplicabilidade dessa teoria na realidade brasileira e aos aspectos próprios do desenvolvimento de carreira da nossa população.
Discussão
Apesar de diversos autores concordarem com a relevância constructo autoeficácia no processo de OP (Nunes, 2008; Nunes & Noronha, 2009a; Teixeira & Gomes, 2005), o número de produções acerca deste constructo nos contextos de orientação profissional no Brasil ainda é escasso. Os 15 trabalhos encontrados são provenientes das regiões Sul e Sudeste, evidenciando a carência de pesquisa em outras regiões, conforme já observado em outros estudos (Noronha & Ambiel, 2006; Noronha et al., 2006; Ribeiro, Melo-Silva, & Silva, 2011).
Com base nos resultados, pode-se observar também que as publicações, além de escassas e concentradas em ambientes urbanos das regiões Sul e Sudeste, são recentes. A maioria das produções ocorreu entre os anos de 2008 e 2011. Este dado aponta para uma recente investigação do constructo autoeficácia no contexto da Orientação Profissional brasileira, diferentemente do que se vê em outros países, cujas pesquisas se iniciaram na década de 1980 (exemplos Hackett, 1985; Hackett & Betz, 1981; Lent, Brown, & Larkin, 1984, 1986).
Como apontado por autores como Noronha et al. (2003), Noronha e Ambiel (2006) e Sparta et al. (2006), o campo da Orientação Profissional necessita de mais pesquisas, tanto no que concerne à compreensão de diferentes construtos quanto no desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos de avaliação. Percebe-se, no Brasil, um discreto aumento no interesse dos pesquisadores em compreender como os fatores sociais e cognitivos podem influenciar o comportamento dos indivíduos em seu desenvolvimento de carreira.
Quanto a instrumentalização para avaliar a autoeficácia aplicada ao desenvolvimento de carreira, observa-se uma carência ainda maior de produções científicas. Este dado sugere que, mesmo existindo uma ampliação no interesse dos pesquisadores nessa área, suas publicações ainda são incipientes. Dos quatro instrumentos que foram alvo dos artigos analisados na presente revisão, apenas um deles foi submetido ao Conselho Federal de Psicologia e encontra-se com parecer favorável para uso profissional do psicólogo pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia- CFP, 2012), a saber, a Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE-EP). Apesar de possuir parecer favorável, a mesma ainda não está disponível para uso dos psicólogos (Ambiel, no prelo1), ou seja, os psicólogos que desejem utilizar instrumentos para avaliar a autoeficácia em sua atuação profissional (e não em contextos de pesquisa) não possuem recursos disponíveis no momento presente.
Percebe-se a necessidade de desenvolvimento de pesquisas no campo da Avaliação Psicológica aplicada a Orientação Profissional, destacando-se a ampliação de alguns aspectos, quais sejam, idade da população estudada (crianças, adolescentes, adultos e idosos); local de residência (urbano ou rural) e região do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste ou Sul) no qual é desenvolvido o estudo. Como se observou no presente estudo, todas as publicações encontradas são das regiões Sudeste e Sul, de ambientes urbanos e realizadas principalmente com adolescentes estudantes do Ensino Médio. É interessante observar que mesmo que a Orientação Profissional (OP) tenha ampliado seus espaços de atuação (Lehman, 2010), as pesquisas ainda tendem a estar restritas a contextos escolares e a abordar a transição da escola para a universidade.
Assim, sugere-se que novos campos de pesquisa em Orientação Profissional e desenvolvimento de carreira, especialmente enfocando o construto da autoeficácia, sejam explorados, considerando o benefício potencial para pessoas com diferentes características e em diferentes fases de desenvolvimento de carreira. Pode-se destacar, além da orientação voltada à escolha profissional dos jovens concluintes do ensino médio, a orientação profissional em contextos de trabalho, tendo como público-alvo adultos empregados, focando o desenvolvimento de carreira e mudança de cargos ou funções; desempregados; profissionais liberais; aposentados, entre outros.
Por fim, destaca-se a importância da publicação de mais trabalhos teóricos sobre a temática, de modo a subsidiar a prática dos psicólogos, uma vez que observou-se apenas dois artigos teóricos e, no que se refere aos livros ou capítulos sobre a temática, há pouco material disponível em português, o que dificulta a atualização dos psicólogos que atuam na área. Alguns exemplos que podem auxiliar a formação do psicólogo nessa fundamentação teórica são os livros Teoria Social Cognitiva (Bandura, Azzi, & Polydoro, 2008) e um capítulo no livro Avaliação psicológica nos contextos educativo e psicossocial (Boruchovitch, Santos, & Nascimento, 2012).
Considerações finais
Este trabalho teve como objetivo avaliar a produção científica nacional de artigos, teses e dissertações sobre a autoeficácia em contextos de Orientação Profissional e desenvolvimento de carreira. O presente estudo revelou que a temática ainda é pouco estudada, apesar de pesquisadores da área concordarem com a relevância de abordar o constructo autoeficácia relacionado ao desenvolvimento de carreira. Observou-se que as publicações referentes a temática supracitada, além de escassas e concentradas nas regiões Sul e Sudeste, são recentes, uma vez que a maioria das produções ocorreu entre os anos de 2008 e 2011.
Os resultados aqui apresentados devem ser vistos com cautela, uma vez que os critérios de busca e inclusão na amostra utilizados podem ter contribuído para uma superestimação ou subestimação dos resultados. Nesse sentido, recomenda-se a continuidade de investigações na área.
De um modo geral, este estudo revelou a carência de estudos e, consequentemente, a necessidade de realização de mais pesquisas em outras regiões do Brasil e com populações com características variadas, não apenas compostas por estudantes de Ensino Médio e Universitários. Sugere-se também a verificação da utilidade dos instrumentos construídos para a prática da Orientação Profissional, assim como a verificação da eficácia de intervenções com foco no desenvolvimento da autoeficácia.
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Recebido: 30/07/2012
1ª Revisão: 19/12/2012
Aceite final: 06/02/2012
1 Ambiel, R. A. M. (no prelo). Manual da escala de autoeficácia para escolha profissional (EAE-EP).