EDITORIAL

A rPOT tem cumprido, ao longo da sua curta existência, um importante papel na institucionalização da Psicologia Organizacional e do Trabalho como domínio científico e profissional no Brasil. Apesar das dificuldades que cercam qualquer empreendimento nos seus momentos iniciais, a revista tornou-se um veículo para divulgação da produção científica nacional, cumprindo o seu principal objetivo de difundir estudos, reflexões, análises que permitam uma maior compreensão e capacidade de intervenção frente aos problemas e desafios que cercam as organizações e os trabalhadores.

Neste período, uma importante mudança buscou consolidar a r POT, ampliando a sua vinculação institucional e fortalecendo a infra-estrutura que lhe assegure uma efetiva regularidade. Importante dimensão desta mudança é o estreitamento do vínculo entre a revista e a Sociedade Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho - SBPOT, que passou a distribuíla para todos os membros associados. Outra importante mudança consiste na ampliação do seu corpo de editores. Passamos, agora, a ter três editores, vinculando a revista a três diferentes programas de pós-graduação que possuem a Psicologia Organizacional e do Trabalho entre as suas linhas de pesquisa. A partir de 2005, o trabalho de elaborar, produzir e distribuir a rPOT passou a ser compartilhado entre a Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade de Brasília e a Universidade Federal da Bahia. Com esta ampliação, temos a expectativa de uma melhor divisão da pesada carga de trabalho envolvida na produção da revista, condição para que possamos caminhar em direção à meta de transformá-la em uma publicação trimestral e, sobretudo, aprimorar os processos e a qualidade dos resultados, pela interação avaliativa de três editores. Resultou desta mudança uma grande ampliação do número de consultores ad hoc o que, em médio prazo, irá conferir maior agilidade aos processos de avaliação dos manuscritos submetidos. Queremos, em síntese, uma revista mais freqüente, mais ágil nos seus procedimentos, preservando os rigorosos critérios de avaliação da qualidade científica daquilo que divulga. Sabemos que a comunidade científica voltada para organizações e trabalho ainda é reduzida quantitativamente, embora o número de profissionais que atuam na área seja muito maior. Não existe, por outro lado, uma cultura que leve os profissionais a utilizarem a sua prática como elemento de reflexão e produção de conhecimento capaz de ser divulgada por veículos científicos.

Um outro grande desafio, também, é fazer com que a rPOT passe a ser um veículo de divulgação da produção científica de outros profissionais que atuam em estreita interface com a Psicologia, como é o caso da Administração. As revistas de Administração foram e continuam sendo espaços para a divulgação de muitos dos estudos conduzidos por psicólogos. Precisamos, em contrapartida, contar com a contribuição de profissionais de outras áreas que possam enriquecer a nossa compreensão dos fenõmenos organizacionais e do trabalho.

Examinando a trajetória da rPOT, vemos, por outro lado, que ela tem cumprido o papel de revelar a grande diversidade de interesses e temáticas que são objeto de investigação, especialmente no Brasil. Este rico painel do que se pesquisa hoje em POT pode ser visto no presente número. Ele reúne seis trabaI 7 lhos originais vindos de oito diferentes instituições e cinco distintas unidades da federação, revelando o nível de abrangência nacional atingido pela revista.

Os dois primeiros artigos disponibilizam instrumentos confiáveis e válidos de mensuração sobre importantes fenômenos organizacionais e, com isso, contribuem para ampliar a qualidade da pesquisa científica. O primeiro deles, de autoria de Héden Cardoso Rodrigues Fischer e Suzana Maria Valle Lima, toma como foco um dos mais complexos e estudados fenômenos organizacionais - a questão da mudança. Mais precisamente, relata a validação de um instrumento para avaliar as condições facilitadoras da mudança organizacional, ferramenta que pode ser um auxiliar importante no diagnóstico, planejamento e avaliação dos processos de mudança organizacionais. O segundo, de autoria de Katia Puente-Palacios e Bruno Pereira Carneiro relata o processo de adaptação de uma escala de avaliação do clima social ao contexto de equipes de trabalho. Mais uma vez, estamos diante de um desafio atual para pesquisadores e profissionais - compreender a dinâmica e os fatores que facilitam o trabalho em equipe, unidade que, de forma crescente, vem sendo usada para estruturar os processos de trabalho nas organizações. Após estas duas contribuições no domínio das ferramentas para a pesquisa e intervenção em POT, temos quatro contribuições que se debruçam sobre tópicos importantes e atuais no nosso campo.

Marcus Eugênio Oliveira Lima, Sônia Maria Guedes Gondim, Ivña Christine Novaes Santos, Márcio de Oliveira Sá e Mirele Cardoso de Bonfim, relatam uma pesquisa em que investigam as representações construídas acerca de supervisores e empregados, analisando os efeitos de gênero e do status profissional nas imagens sociais reveladas por estudantes a partir de uma cena de interação no trabalho. O estudo explora emoções e atribuições aos papeis de empregados e supervisores, revelando a presença de estereótipos que estão presentes no mundo do trabalho.

A questão do poder e da influência social é o objeto do estudo de Elaine Rabelo Neiva e Maria das Graças Torres da Paz. Após o diagnóstico das configurações de poder em duas organizações, as autoras, confrontam auto e hetero percepções sobre o nível de influência que cada um exerce na sua unidade de trabalho; analisam, também, o tipo de sistema de influência que os trabalhadores utilizam, ampliando a compreensão da dinâmica do poder nas organizações. O quarto estudo, de autoria de Kátia Barbosa Macêdo e Alberto de Oliveira oferece uma revisão sobre outro importante e atual tema na agenda dos estudos organizacionais - a gestão ambiental. Nesta revisão são discutidos a emergência e desenvolvimento do movimento ambientalista, seus impactos nas organizações, as respostas que estas estão dando às questões ambientais. Adicionalmente, os autores apresentam reflexões voltadas para a implantação de um sistema de gestão ambiental nas organizações e o papel que o psicólogo pode desempenhar nesta área. Finalmente, o quinto artigo, de autoria de Rosângela Dutra de Moraes, relata uma pesquisa sobre prazer e sofrimento no trabalho entre professoras do ensino fundamental. A autora explora, qualitativamente, em um grupo de professoras que estão realizando um programa de formação em nível superior, as fontes de prazer e de sofrimento psíquico.

Completa o presente número da rPOT a resenha de autoria de Ana Magnólia Mendes, do livro Valores e Comportamento nas Organizações, organizado por Álvaro Tamayo e Juliana Barreiros Porto, publicado pela Editora Vozes em 2005.

Com essa gama de questões de interesse de todos aqueles que atuam em Psicologia Organizacional e do Trabalho, esperamos que este número da rPOT seja uma leitura importante e forneça material relevante para professores, pesquisadores e profissionais.

Editor Geral
José Carlos Zanelli
Universidade Federal de Santa Catarina

Editores Associados
Jairo Eduardo Borges-Andrade
Universidade de Brasília
Antônio Virgílio Bastos
Universidade Federal da Bahia