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Revista Psicologia Organizações e Trabalho
versão On-line ISSN 1984-6657
Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.21 no.4 Brasília out./dez. 2021
https://doi.org/10.5935/rpot/2021.4.22604
10.5935/rpot/2021.4.22604
Trabalho e cotidiano de mulheres bolsistas PQ/CNPq da psicologia
Work and daily life of female psychology PQ/CNPq fellows
Trabajo y vida cotidiana de mujeres becadas PQ/CNPq en psicología
Rocelly Cunha; Magda Dimenstein; Candida Dantas
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil
Informações sobre o autor principal
RESUMO
Objetiva-se conhecer as repercussões das exigências do trabalho científico no cotidiano de bolsistas PQ/CNPq da Psicologia e as estratégias de conciliação desenvolvidas entre as demandas acadêmicas e as domésticas-familiares. Trabalhou-se com uma amostra não-probabilística de 85 mulheres, das 204 bolsistas PQ cadastradas no CNPq, respondentes ao questionário on-line; e com um subgrupo de 24 pesquisadoras respondentes à entrevista remota. Os resultados indicam que o cotidiano das pesquisadoras é significativamente afetado em diferentes esferas. Na tentativa de conciliação, recorrem ao suporte familiar e/ou contratam trabalhadoras domésticas/babás. Para a maioria, a maternidade não se configura como um obstáculo à excelência científica. Já em relação às relações amorosas-conjugais há conflitos em decorrência das exigências acadêmicas, os quais impactam negativamente nos investimentos profissionais. Concluímos que o cotidiano das bolsistas PQ está atravessado pela estrutural desigualdade de gênero impelindo-as a desenvolver estratégias de conciliação, as quais repercutem no âmbito doméstico-familiar e nos relacionamentos conjugais.
Palavras-chave: excelência científica, desigualdade de gênero, cotidiano.
ABSTRACT
The objective of the present study was to understand the repercussions of the demands of scientific work on the daily life of Psychology PQ/CNPq fellows and the strategies developed to reconcile academic and domestic-family demands. We worked with a non-probabilistic sample of 85 women from the 204 PQ fellows registered at CNPq who answered the online questionnaire, and with a sub-group of 24 women researchers who answered the remote interview. The results indicate that the daily lives of female researchers are strongly affected in different spheres. In an attempt to conciliate, they resort to family support and/or hiring domestic workers/babysitters. For most of them, motherhood is not an obstacle to scientific excellence. On the other hand, in relation to love-marital relationships, there are conflicts due to academic demands, which negatively impact professional investments. We conclude that the daily life of the PQ fellows is crossed by the structural gender inequality, forcing them to develop strategies of conciliation, which have repercussions in the domestic-familial sphere and in the conjugal relationships.
Keywords: scientific excellence, gender inequality, daily life.
RESUMEN
El objetivo es conocer las repercusiones de las exigencias del trabajo científico en la vida cotidiana de becadas PQ/CNPq en Psicología y las estrategias de conciliación desarrolladas entre las exigencias académicas y domésticas-familiares. Se trabajó con una muestra no probabilística de 85 mujeres de las 204 becadas PQ registradas en el CNPq que respondieron al cuestionario online, y con un subgrupo de 24 investigadoras que respondieron a la entrevista remota. Los resultados indican que la vida cotidiana de las investigadoras se ve fuertemente afectada en diferentes ámbitos. En un intento de conciliación, recurren a la ayuda familiar y/o contratan a trabajadoras domésticas/niñeras. Para la mayoría de ellas, la maternidad no es un obstáculo para la excelencia científica. Sin embargo, en lo que respecta a las relaciones amoroso-matrimoniales, existen conflictos debidos a las exigencias académicas, que repercuten negativamente en las inversiones profesionales. Concluimos que la vida cotidiana de las becadas PQ está atravesada por la desigualdad estructural de género, instándolas a desarrollar estrategias de conciliación que repercuten en el ámbito doméstico-familiar y en las relaciones conyugales.
Palabras clave: excelencia científica, desigualdad de género, vida cotidiana.
A atual conjuntura do trabalho acadêmico-científico no âmbito das universidades brasileiras e dos programas de pós-graduação tem impactado no dia a dia da(o) docente/pesquisador(a) e trazido alguns problemas como a ausência de tempo destinado ao descanso e às demandas pessoais, bem como, adoecimento físico e psicológico, dentre outros. A implementação da lógica mercadológica nas instituições de ensino superior públicas (IES) estabelecida pela ofensiva neoliberal desde as décadas de 1990 e 2000 no país, deslocou para esse universo uma lógica de trabalho baseada na competitividade e produtividade (Costa & Silva, 2019). Isso vem provocando a precarização do trabalho docente e impactando na dinâmica do ambiente doméstico e familiar dessa(e) profissional, na medida em que impõe uma indissociabilidade entre o tempo-espaço acadêmico-científico e o doméstico-familiar.
De acordo com J. H. S. Santos e Kind (2016), a atual conjuntura do trabalho acadêmico-científico, sustentada a partir de práticas produtivistas, impõem ao docente/pesquisador(a) uma exigência despropositada de produção acadêmica-científica, de formação de recursos humanos e de atividades de inserção na área com perspectiva de internacionalização, as quais têm impacto direto no dia a dia das(os) docentes. Apesar da Psicologia ser tradicionalmente ocupada pelas mulheres, visto que correspondem a 89% do total de egressos da graduação (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2013), 72% da pós-graduação (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [Capes], 2018) e 62% dos docentes de pós-graduação no país (Capes, 2018), são elas que ao longo da trajetória acadêmica perdem vantagem, principalmente no topo da carreira científica, em razão dos efeitos das desigualdades de gênero nas diversas as áreas do conhecimento e na Psicologia (Barros & Mourão, 2020; Staniscuaski et al., 2020). A exemplo disso, em PQ1A, nível mais alto da Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq, 18 ou 55% das bolsas são ocupadas por mulheres e 15 ou 45% por homens. Em razão dessas desigualdades na vida das mulheres, objetiva-se analisar os efeitos das atuais exigências acadêmicas-científicas no cotidiano doméstico-familiar das bolsistas PQ/CNPq da Psicologia, bem como, entender como conciliam as demandas do trabalho acadêmico e familiar.
Método
Participantes e Instrumentos
Trabalhamos com a amostra não-probabilística de 85 mulheres respondentes a um questionário online, composto de 155 questões abertas e fechadas (com duração aproximada de 30 minutos), dentre o total de 204 bolsistas PQ/CNPq cadastradas no sistema. Na segunda etapa, discutimos o conjunto de atividades realizadas, por meio de entrevistas remotas com 24 pesquisadoras, pertencentes ao conjunto amostral de 85 bolsistas PQ, que demonstraram interesse em participar. As entrevistas foram registradas a partir de vídeogravação e/ou gravação de voz e tiveram uma duração média de 60 a 120 minutos.
Procedimentos de Coleta de Dados e Cuidados Éticos
Utilizamos as seguintes estratégias para a formação da amostra: a) mapeamento das bolsistas ativas no sistema PQ em abril de 2020 (período da coleta); b) envio de e-mail às mulheres bolsistas PQ da Psicologia; e c) compartilhamento do link do formulário eletrônico, cadastrado na plataforma SurveyMonkey, em determinados ambientes virtuais. Esse estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética - CAAE nº 32033620.0.0000.5537 de acordo com o parecer nº 4.072.688.
Procedimentos de Análise de Dados
Em relação aos dados quantitativos foi realizada uma análise estatística descritiva do conjunto de características observadas. Quanto aos dados qualitativos procedemos da seguinte forma: a) transcrição das entrevistas registradas em áudio ou videogravação; b) análise das transcrições, tomando notas e adicionando realces no conjunto de dados; c) busca de padrões de conexões para a formação de categorias de análise; d) e, por fim, confecção de uma matriz analítica a partir das questões norteadoras da pesquisa e que foram analisadas à luz das teorias de gênero vinculadas ao aporte pós-colonial e epistemologias feministas.
Resultados e Discussão
Perfil Sociodemográfico e Acadêmico-Científico das Bolsistas PQ/CNPq da Psicologia
O perfil das 85 bolsistas PQ/CNPq da área Psicologia é constituído majoritariamente por mulheres brancas (n=70, 82,3%), com idades entre 51 e 60 anos (n=25, 29,4%), graduadas (n=72, 94,7%) e pós-graduadas em Psicologia (n=55, 72, 3% mestres e n =52, 68, 4% doutoras), sobretudo, em instituições localizadas nas regiões Sul e Sudeste (n=48, 56,74%), que obtiveram auxílio financeiro na formação pós-graduada (n=51, 67,11% no mestrado e n=46, 50,5% no doutorado) e são docentes de IES públicas (n=26, 30,5% são professoras titulares e n=42, 49,4% são professoras adjuntas I, II, III, IV ou associadas I, II, III e IV).
O ingresso no sistema PQ/CNPq se deu entre os anos de 2011 e 2020 (39; 45,9%) e 2001 e 2010 (17; 20%). Em sua maioria, são pesquisadoras PQ-2 (39, 45,9%), com menos de 10 anos de bolsa e renda entre 12 e 15 salários-mínimos (25, 29,4%), que vivem relações conjugais (63, 74,1% casadas ou uniões estáveis), heterossexuais (20, 83%) e cis (24; 100%), (ambos os dados identificados nas entrevistas), e compartilham as responsabilidades financeiras da casa. A partir da amostra analisada, entende-se que há uma sub-representação de mulheres negras, indígenas, trans, lésbicas, nordestinas e/ou de classes periféricas no topo da carreira científica da Psicologia brasileira. Essa realidade é amparada no histórico da área psi ocupada em maior medida pelas mulheres brancas (Lhullier, 2013) e de classe média (Bock, 1997) e em menor proporção pelas mulheres negras e indígenas, já que essas, por exemplo, representam somente 12% e 1% das alunas de pós-graduação em Psicologia no país (Capes, 2018).
Perfil da Jornada de Trabalho das Bolsistas PQ/CNPq da Psicologia
A rotina de trabalho das bolsistas PQ/CNPq da área abarca um conjunto diverso de atividades. Os resultados indicaram que a maioria delas (45; 53%) ocupa ou ocupou atividade de direção, seja no âmbito da graduação e/ou da pós-graduação. Além disso, nos últimos dez anos, a maioria das bolsistas ministrou ou ministra aulas na graduação (69; 81,18%) e na pós-graduação (71; 83,53%), seja na Psicologia e/ou demais áreas do conhecimento, e orientou estudantes em nível de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
No diz respeito à inserção na área, a maioria participa de redes nacionais e/ou internacionais de pesquisa (69; 81,18%), bem como coordena ou coordenou GT vinculados à ANPEPP (61; 71,76%), coordenam/coordenaram e/ou participam/participaram de grupos de pesquisa e/ou núcleo de excelência vinculados ao Diretório de Bases do CNPq (63; 74,12%). Quanto à produção científica, verificamos que as pesquisadoras publicaram artigos científicos e/ou capítulos de livro (71; 83,53%), elaboraram produtos técnicos na área (60; 70,59%) e atuaram como pareceristas ad hoc para revistas científicas (71; 83,53%), nos últimos dez anos.
Frente a esse conjunto de tarefas que lhes são atribuídas, a maioria das bolsistas PQ da Psicologia (60; 70,59%), necessita trabalhar nas demandas acadêmicas e científicas tanto na universidade quanto em casa, havendo uma certa indissociabilidade entre essas esferas. Para elas, a autonomia na realização das atividades e a flexibilidade na carga horária, bem como, o prazer envolvido continuamente na formação de recursos humanos em pesquisa, estabelecem-se como os aspectos positivos da profissão e função de pesquisadoras. Por outro lado, a obrigatoriedade do exercício administrativo e burocrático, assim como, a precarização do trabalho docente, resultante da atual configuração do trabalho de ensino e pesquisa no Brasil, sobretudo na pós-graduação, em que se observa uma maior exigência pelas políticas de ensino superior de aumento de produção científica e do trabalho docente (Catani, Oliveira & Michelotto, 2007), constituem-se como aspectos negativos.
Dada essa condição de trabalho, algumas bolsistas apontaram sentimentos contraditórios em relação à carreira acadêmica, posto que experimentam sensações de prazer em decorrência do reconhecimento de sua trajetória e da possibilidade constante de contribuição à pesquisa científica brasileira, contudo, o cenário de trabalho produz sofrimento devido às exigências cada vez mais inconciliáveis com aquelas de outras esferas da vida. Estudos como o de Moreira, Tibães e Brito (2018), que abordam o sofrimento de docentes-pesquisadores(a) no contexto atual da universidade e dos programas de pós-graduação, demonstram que as exigências presentes nesse ambiente de trabalho, como a continuada produção intelectual, vêm marcando seus cotidianos com sensações de sobrecarga, desconfiança e descontentamento.
A pesquisa realizada por Vivian, Trindade e Vendruscolo (2020) sintetiza achados de várias investigações na área e evidencia essa face dúbia e ambígua dos sentimentos de satisfação e insatisfação vivenciados pelas pesquisadoras. De um lado, "a oportunidade de agregar conhecimento, fomentar o pensamento crítico e transformar a realidade emergiram como fontes de prazer no trabalho docente [...] a possibilidade de perceber o crescimento, a evolução, a transformação e a autonomia dos discentes" (p. 1070), são aspectos gratificantes do trabalho. Por outro lado, a intensificação da carga de trabalho, a excessiva valorização da quantidade de produção acadêmica, desconsiderando aspectos de qualidade, jornada de trabalho que excede a vida profissional e permeia a vida pessoal; "as pressões sofridas pelas exigências institucionais, de órgãos que fiscalizam e avaliam a pós-graduação" (p. 1068), vêm influenciando negativamente o trabalho, gerando tempo inadequado para pesquisas, prejudicando a profundidade e a densidade teórica para avanço do conhecimento (p. 1070). Os impactos sobre a saúde de pesquisadores(as) são evidentes. Destacam, para além do cansaço, o aumento de peso e da pressão arterial, alteração do sono, ansiedade, dentre outros problemas indicados pelos docentes.
Nesse sentido, a pesquisa sobre a experiência de sofrimento mental de professores universitários realizada por Goulart e Antunes (2021) é bastante esclarecedora, permitindo um olhar mais contextualizado e multidimensional sobre o tema. Destacam a necessidade de situarmos tanto a universidade quanto a ciência e tecnologia como campos de disputas de diferentes projetos de sociedade; que ambas são alvos prioritários das políticas neoliberais que corrompem os ideais de autonomia científica, reflexiva e crítica e que os docentes se vêm confrontados cotidianamente por lógicas diversas e contraditórias, gerando efeitos adoecedores, bem como inúmeros afastamentos por motivos de saúde. Ressaltam o caráter individualista que envolve a vivência dessas questões e para os mecanismos de patologização e estigmatização do sofrimento, quando na verdade é algo de natureza coletiva, produzido na interface política, institucional e subjetiva.
Entretanto, o estudo de Macêdo (2020) alerta que embora as condições atinjam todos os profissionais, as cobranças presentes na atual configuração do trabalho acadêmico rebatem de modo peculiar na vida de mulheres pesquisadoras, visto que além das imposições das referidas exigências acadêmicas, elas também são requeridas em maior escala no ambiente doméstico. Em uma condição ideal, as atividades a ser desempenhadas em uma casa seriam, equitativamente, compartilhadas por todos os(a) moradores(a) do espaço habitacional. Porém, em razão da estrutural desigualdade de gênero que marca predominante as unidades domésticas e familiares no Brasil, grande parte das tarefas de cuidado recai sob a responsabilidade das mulheres.
Os dados publicados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que no ano de 2019 as mulheres dedicaram cerca de 21,4 horas semanais para as tarefas de cuidado com a unidade doméstica e com outras pessoas, ao passo que os homens utilizaram somente 11 horas no desempenho das mesmas atividades (IBGE 2019). Pesquisas como as desenvolvidas por Barros e Mourão (2020; 2019), Gamboa e Pérez (2017) e Sanchez, Sanchez, Barbosa, Guimarães e Porto (2019) mostram que a presença de filhos, conflitos no âmbito das relações amorosas/conjugais, bem como outras responsabilidades que são desempenhadas na unidade doméstica, têm dificultado a inserção e a progressão de mulheres na carreira científica. Para analisar como se caracteriza essas questões na vida das bolsistas PQ/CNPq da Psicologia, apresentaremos algumas características da dinâmica doméstica e familiar dessas profissionais.
Dinâmica Doméstica-Familiar das Bolsistas PQ/CNPq da Psicologia
Na análise das características da dinâmica familiar das pesquisadoras PQ/CNPq da Psicologia constatamos que a maioria das bolsistas tem filhos (62; 72,94%). Predomina a média de um a três filhos. A faixa etária dos filhos é muito variada, mas, em se tratando de mulheres com idades entre 51 e 60 anos, há mais registro entre 20 e 40 anos (56,67%). Além disso, algumas bolsistas já são avós (19; 22,35%) de crianças pequenas, com idade entre 1 e 5 anos (19; 43,18%) e 5 e 10 anos (11; 25%). Dentre as 85 respondentes, quase 30% (23) não são mães.
Em suas residências, a maioria das pesquisadoras compartilha a morada com cônjuge ou companheiro(a) (58; 68,24%) e com filhas(os), noras/ou genros e/ou netas(os) (23; 27,06%). Essa dinâmica familiar com filhas(o), principalmente, quando pequenos, compeliu muitas delas a levá-los para creche/escola (33; 38,82%) ou contratar profissional doméstico e/ou babás (12; 14,12%), para conseguirem cumprir a jornada de trabalho formal na universidade. Porém, nos finais de semana e/ou feriados, a maioria afirmou (43; 50,59%) ser a principal responsável pelo cuidado das(o) filhas(o), quando crianças e/ou adolescentes. Apesar disso, maior parte delas (49; 57,65%) contou/conta com o auxílio de outras(o) familiares. Somente 6 mulheres (7,06%) realizaram/realiza essa função sozinha. Das que obtiveram coparticipação de familiares no cuidado com as(o) filhas(o), grande parte (46; 54,12%) indicou partilhar com atual cônjuge/companheiro(a) ou com ex-cônjuge/companheiro(a), normalmente homens/pais de suas(seus) filhas(o). Dessas, 15 (32,51%) dividiram/dividem a responsabilidade com empregadas(o) domésticas e 13 (28,26%) contaram/contam com a ajuda de outras(o) familiares, normalmente, mães e irmãs das pesquisadoras.
Além da responsabilidade e/ou cuidado com os filhos(a), em fase infanto-juvenil, bem como, em fase adulta, a maioria (71; 83,53%) das participantes administra e/ou executa outras tarefas referentes ao funcionamento da unidade doméstica. Do conjunto de pesquisadoras participantes do estudo, todas afirmaram pagar as contas, administrar o patrimônio e adquirir os bens de consumo necessários para a unidade doméstica. Ademais, grande parte (45; 63,38%) é responsável pelo cuidado das filhas(os) e/ou enteadas(os), netos(as) pequenos, e também pelo auxílio das filhas(o) e/ou enteadas(o) e/ou noras/genros; desempenha funções de cuidado da casa (44; 61,97%) como limpeza, preparação das refeições, lavar, passar e guardar roupas, lavar louças, dentre outras e ainda cuida ou auxilia genitores e/ou responsáveis (família de origem) e/ou outras(os) parentes (24; 33,8%).
Das 45 (63,38%) pesquisadoras responsáveis pelo cuidado de filhos e outros parentes, a maior parte compartilha as responsabilidades com cônjuge/companheiro(a) (34; 57,63%); além disso, 19 (32,20%) divide essas funções com mulheres contratadas como empregadas domésticas e 6 (10,17%) conta somente com auxílio de outras mulheres da família, notadamente, mães e irmãs dessas profissionais. Isso mostra que apesar das transformações nos papéis de gênero, as mulheres ainda são as principais cuidadoras de crianças, idosos e pessoas com doenças e deficiências físicas e mentais, além de serem as responsáveis majoritárias pelas tarefas de cozinhar, limpar, lavar, dentre outras demandas necessárias para o funcionamento do espaço doméstico.
A questão do trabalho de cuidadora tem sido debatida por inúmeros estudos no plano internacional e nacional como uma variável basilar para os estudos de gênero (Abreu, Hirata, & Lombardi, 2016). Esses estudos trouxeram importantes contribuições acerca dos complexos processos que envolvem o trabalho do cuidado no âmbito do desenvolvimento das(o) sujeitos(a) em diferentes esferas e condições da vida, bem como, denunciaram como a invisibilidade desse trabalho no campo das decisões públicas, continuadamente deslegitimam as consequências materiais, emocionais e profissionais daquelas (preponderantemente mulheres) que o desempenham em diferentes países e regiões do mundo.
Sob essa lógica, a discussão acerca do trabalho de cuidado/doméstico e sobre o impacto dele na vida das mulheres, continua a ser mantido às margens das preocupações das políticas públicas no Brasil (Vieira, 2020). Um exemplo pode ser observado no modo como a política de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) do país desconsidera a responsabilidade imposta às mulheres pesquisadoras quanto à maternidade, ao tempo de cuidado destinado aos outros indivíduos em várias fases da vida, ao desempenho repetitivo de tarefas limpeza, à organização da unidade doméstica e quanto ao encargo pela elaboração e/ou supervisão do cardápio alimentar no âmbito da família. De acordo com Prado e Fleith (2012, p. 21), "o sistema brasileiro de ciência e tecnologia não inclui benefícios que auxiliem a cientista a conciliar carreira e a família", o que acaba por penalizar as mulheres pesquisadoras em diferentes etapas da carreira acadêmica-científica.
Recentemente, estudos brasileiros sobre as desigualdades de gênero no campo científico (Barros & Mourão, 2020; 2019) intensificaram os alertas acerca de como as demandas relacionadas ao cuidado, seja das(o) filhos, de outros parentes ou até mesmo da casa, socialmente requisitadas para mulheres, têm prejudicado a inserção, a permanência e a progressão de pesquisadoras no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI). Sobre esse aspecto, a pesquisa de Sanchez et al. (2019), ao avaliar o impacto da parentalidade na produtividade de pesquisadoras e de pesquisadores brasileiros em todas as áreas de conhecimento, demonstra que as mulheres em comparação aos homens pesquisadores, são as principais responsáveis pelo cuidado de seus filhos quando pequenos e são as mais impactadas pela queda de produtividade quando se tornam mães.
Nessa perspectiva, o estudo de Staniscuaski et al. (2020), apresenta como essa situação das pesquisadoras alcançou um estágio ainda mais preocupante com os rebatimentos da pandemia da Covid-19 no âmbito doméstico e familiar, quando a produtividade científica de mulheres acadêmicas, principalmente das que são mães, entrou em declínio. Nesse período pandêmico, a referida pesquisa indicou, por outro lado, que os homens, com e sem filhos, em comparação às mulheres, foram os menos afetados, continuaram produzindo e submetendo artigos em revistas científicas, bem como, permaneceram cumprindo os prazos acadêmicos estabelecidos.
A deslegitimação do trabalho de cuidado no âmbito científico não dissimula apenas as consequências materiais, psicológicas e profissionais dentre a população feminina, mas, principalmente, encobre os rebatimentos no cotidiano das pesquisadoras, quando se considera as diferentes experiências das mulheres. Como explanamos anteriormente, a maioria das pesquisadoras no nível da excelência científica da Psicologia brasileira, é branca, cis, pertencente à classe média, casada em relações heterossexuais e, embora sinta os efeitos da responsabilidade pelo cuidado dos membros da família, bem como, dos custos necessários para a administração da unidade doméstica, pode, de alguma maneira, compartilhar essas tarefas com seus companheiros/cônjuges ou atribuir a babás e/ou empregadas domésticas contratadas, afim de atender as exigências que lhes são conferidas no plano da excelência científica. Conforme a Bolsista PQ (entrevista nº 01):
[...] não presto como dona de casa, eu sou a dona da casa, né? Eu tenho funcionários. Eu organizei a rotina deles (na pandemia da Covid-19). Todos continuam me ajudando e entendendo que eu tenho que trabalhar, que eu preciso que eles me ajudem a trabalhar e eu começo a trabalhar às sete e meia da manhã e só vou parar as sete da noite, todos os dias com atividades acadêmicas e clínicas.
Embora a responsabilização pelo trabalho doméstico de cuidado desempenhado no ambiente privado seja comum às mulheres, incluindo as docentes-pesquisadoras, é de amplo conhecimento que essas atividades estão submetidas a uma hierarquização de raça, gênero e classe e outros marcadores sociais. Na realidade brasileira, por exemplo, 92% das pessoas em serviços como mensalistas, diaristas, babás, cuidadoras são mulheres negras, de baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda (IBGE, 2019). Portanto, ao analisar os impactos das múltiplas tarefas que envolvem o cuidado de membros da família e da unidade doméstica no cotidiano de pesquisadoras, deve-se reconhecer que embora mulheres brancas, majoritárias no campo científico e na Psicologia, sofram os impactos da configuração atual do trabalho acadêmico, caracterizado por uma sobrecarga multifacetada, e sintam cotidianamente as exigências familiares no âmbito doméstico, são as mulheres negras (demais não-brancas) que carregam as responsabilidades da vida privada e possibilitam que essas mulheres brancas alcancem seus objetivos profissionais no espaço público.
Mesmo observando as múltiplas responsabilidades das bolsistas PQ/CNPq da Psicologia no cuidado da unidade doméstica e dos filhos e/ou netos pequenos, a maioria das pesquisadoras (45; 52,94%) acredita que essa realidade não impacta negativamente na excelência científica, possivelmente pelo fato de poderem compartilhar com demais familiares ou com empregadas(o) domésticas(o) e do cuidado. Apesar disso, 30% das profissionais sentem os impactos em pelo menos dois âmbitos da vida. Primeiro, o tempo de dedicação às tarefas realizadas em suas casas, acrescido do volume de atividades exigidas pelo trabalho acadêmico-científico, provoca, no dia a dia, desgastes físicos e psicológicos que acabam interferindo na qualidade da produção bibliográfica e na participação em viagens e intercâmbios, tanto nacionais quanto internacionais, aspectos imprescindíveis para se manter no topo da carreira. Segundo, a responsabilidade quase exclusiva pelo cuidado das(o) filhas(o) em detrimento da maior participação de seus companheiros, impacta em todas as atividades acadêmicas, tendo efeitos na produção científica (artigos, livros e projetos de pesquisa); na participação em eventos científicos locais e/ou fora da cidade; na participação em reuniões acadêmicas-científicas; nas viagens a trabalho (banca e eventos); no cumprimento de prazos junto à universidade e agências de fomento e, por fim, nas atividades de gestão.
Em face das responsabilidades da dinâmica doméstica-familiar, tais como o cuidado dos(a) filhos(a) e de outros parentes, 16 pesquisadoras, precisaram solicitar afastamentos e/ou prorrogação de prazos de entrega de relatórios acadêmico-científicos. Em todas as circunstâncias, elas puderam gozar de licença, de flexibilidade ou negociação de horários nas instituições que estão vinculadas sem se sentiram prejudicadas. Contudo, não podemos esquecer que grande parte dessas mulheres estão vinculadas às IES públicas. Já na experiência da bolsista PQ/CNPq (entrevista nº 24), o afastamento da universidade em decorrência nascimento de sua filha teve efeitos significativos em sua produção intelectual: "Quando (minha filha) nasceu, fiquei um pouco atrapalhada, então se você olhar em 2013 eu acho que eu tenho um artigo publicado esse ano, só um artigo porque vem uma criança e você não tá muito preparada".
O temor dos impactos negativos na produção acadêmica-científica advindos com a maternidade e/ou pela tarefa de cuidado com outros membros da família são sentidos por outras pesquisadoras. Para a entrevistada nº 20, a realidade da universidade e o cotidiano familiar facilitam a progressão de homens pesquisadores na mesma medida em que criam muitos obstáculos e dificuldades para as mulheres na mesma função.
As práticas sociais vão facilitando a trajetória pros homens e, além disso, a gente ainda tem uma carga horária extra, que é a carga horária da família. Mas, você abdicar de uma família, você abdicar do papel de mãe é uma coisa que é, na sociedade não é bem-vista, sabe? Não é bem avaliada.
A respeito dessa questão, cabe ressaltar que a atribuição compulsória do cuidado dos filhos à população feminina tem provocado uma sobreposição de responsabilidades que tem pesado no cotidiano de mulheres em nossa cultura. Isso decorre da construção social de uma imagem ideal de mulher, cuja função principal é a maternidade e o cuidado dos filhos (e com demais componentes da família). Desse modo, quando uma mulher não deseja a maternidade e/ou não desempenha tal função passa a ser rechaçada, estigmatizada e até considerada socialmente inadequada (Xavier & Zanello, 2016). Na experiência da pesquisadora (entrevista nº 13), a maternidade, embora desejada, juntamente à realização das exigências acadêmicas, só foi viável em razão do suporte familiar recebido, bem como, da contratação de babás.
Lembro que eu tive muita ajuda da minha mãe [...]. Nesse período eu ia na faculdade pra dar aula, ia para as reuniões, mas eu não ficava lá. [...] É claro que eu também tinha babás, né? Eu sempre usei meu salário nesse período para poder custear uma babá.
Já para a bolsista (entrevista nº 05), a ajuda de familiares e a contratação de profissionais cuidadores foram imprescindíveis para uma certa conciliação desses polos, mas não aliviaram a imensa culpa sentida quando necessitaram distanciar-se das(o) filhas(o), enquanto realizavam a formação pós-graduada ou progrediam na carreira acadêmica-científica:
[...] vou te dizer que durante muito tempo isso foi muito angustiante na minha vida. Eu vivia sob estresse. Eu vivia com insônia [...] isso abalava a minha saúde [...] Quando eles eram mais novos tinha muita queixa e todos eles tinham algo a dizer do tipo: "no dia das mães você não foi naquela minha festinha, quem foi, foi o meu pai"....A minha ausência de casa é uma questão que eu carreguei durante muito tempo um sentimento de culpa, de me achar uma mãe não tão boa por ter feito isso, eu sofria quando eu ia pra esses lugares (eventos científicos).
Os relatos acima indicam como esse modelo de maternidade que exige renúncias pessoais-profissionais, faz parte do modo de subjetivar-se das mulheres brancas (perfil étnico-racial das respondentes). Conforme Badinter (1985) foi somente com a consolidação do capitalismo nos séculos XVIII e XIX, que as mulheres (brancas) passaram a ser reconhecidas como mães e principais responsáveis pela criação de seus filhos. No século XX, com o advento da racionalidade científica acerca da maternidade, é que ela se torna fonte de culpa para as mulheres (Del Priore, 2009). Isso, sem sobra de dúvidas, atravessa o cotidiano das mulheres pesquisadoras.
Para além da maternidade e do cuidado com os filhos pequenos, as amplas responsabilidades para com a família conferidas às mulheres têm efeitos na vida das pesquisadoras em diferentes estágios da carreira. O relato da bolsista (entrevista nº 06), demonstra como as cobranças tomam novos formatos a depender das diferentes etapas da vida dos membros da família.
Olhando pra minha situação pessoal, meu marido aposentou, então, quando ele estava num ritmo de trabalho também, a cobrança era menor, existia a cobrança, mas a cobrança era menor. [...] Eu acho que na medida em que as pessoas começam a entrar em uma fase de aposentadoria e quando você ainda não tá nessa etapa há um descompasso, [...] os tempos de vida são diferentes e aí a coisa fica um pouco mais complexa.
O apanhado das características da dinâmica doméstica-familiar das pesquisadoras PQ/CNPq da Psicologia brasileira realizada até aqui permite-nos discorrer sobre duas direções analíticas. Os elementos discursivos que emergiram nos relatos das entrevistadas resgatam, em alguma medida, o modo indivíduo mulher-mãe, subjetivado a partir do modelo de família nuclear burguesa, que posiciona o papel social das mulheres primordialmente constituído pelas funções de esposa e mãe e cobram dessas o desempenho de qualidades morais 'naturais' no cuidado dos filhos e demais membros da família. Esse modelo implica em certas práticas de poder desiguais entre mulheres e homens e entre as diferentes mulheres, perpetradas em diferentes instituições e instâncias sociais como é o caso da ciência (Lugones, 2008).
Sem estarem completamente descoladas dessa norma, as bolsistas PQ da área enxergam e julgam o exercício de suas funções no ambiente familiar. Com vistas a cumprir de modo eficaz as intensas demandas da esfera doméstica-familiar, ao mesmo tempo em que, continua a realizar as atividades exigidas para o grau de excelência científica, a maioria das pesquisadoras da área necessita de um suporte, o qual, em maior escala, concretizou-se pela contratação de trabalhadora doméstica e/ou babá. Essas últimas são profissionais tradicionalmente presentes na dinâmica de famílias brasileiras brancas e de classe média, tal como o perfil das nossas respondentes. Sendo assim, diante das cobranças do âmbito privado, a inclusão do trabalho desempenhado pela 'secretaria' da casa, outra mulher, passa a compor o cotidiano da pesquisadora. Sobre isso, é de amplo conhecimento que o perfil das profissionais domésticas e do cuidado no Brasil compõe-se, em sua maioria, de mulheres negras, pobres e periféricas que, sem acesso à escolaridade requisitada para o exercício de funções mais bem remuneradas, acabam servindo de retaguarda para outras mulheres, geralmente brancas, com escolaridade e renda mais altas, como é o caso das pesquisadoras da psicologia.
O segundo encaminhamento analítico que objetivamos abordar diz respeito ao discurso neoliberal destinado às mulheres, diferente de períodos históricos anteriores, estimula-as a assumir posições de sujeitos livres e autônomos. Assim sendo, tem sido comum entre as mulheres pesquisadoras o desejo de não perder de vista nenhuma das atividades que lhes são conferidas, seja no âmbito acadêmico ou doméstico. Os relatos dessas profissionais demonstram que, embora elas reconheçam as dificuldades impostas na sobreposição de tarefas científicas e familiares, pouco questionam essa condição enquanto um fenômeno contemporâneo que atravessa a vida de todas as mulheres, que deve ser questionado em âmbito institucional. Ao contrário, resiste uma certa captura na ideia de que podem atender incansavelmente às multitarefas demandadas pela universidade, pela ciência e pela família. No entanto, é necessário atentar-se que essa realidade está associada à razão liberal, capitalista e individualista que fomenta o discurso do empoderamento e poder feminino.
Apesar disso, o sistema brasileiro de ciência e tecnologia não dispõe de política estruturada de benefícios que ampare a cientista a conciliar carreira e família, agravando um percurso que já é tortuoso para as pesquisadoras, visto que, as mulheres são submetidas a "valores exigidos para ser uma "boa cientista" e [...] para ser uma "boa mulher" (Lima, 2013, p. 891), tal como apontam algumas respondentes:
A queixa de pouco tempo de dedicação à família é constante. [...] Essa é uma constante queixa, produz sofrimento na gente, óbvio, porque você não quer isso, mas ao mesmo tempo você cede, né? Então assim, eu tenho tentado, mas na verdade, nem sempre consigo cumprir pelo menos um domingo em que eu não trabalhe, né? (Bolsista PQ, entrevista nº 06).
De acordo com Lima (2013, p. 892), os conflitos ocorrem porque eles são discursos dispostos em contradição, ou seja, "o que é considerado apropriado e útil na esfera científica e profissional é inútil e inadequado na esfera do ser feminino". Apesar disso, na tentativa de cumprir tanto as cobranças acadêmicas quanto domésticas, muitas mulheres pesquisadoras têm enfrentado constantes estados de adoecimento físico e psicológico. A respeito dessa questão, a bolsista PQ (entrevista nº 19) tem-se questionado como mulheres pesquisadoras sem acesso à contratação de profissionais domésticas e/ ou do cuidado remunerado fazem para conciliar essas duas extremidades, assumindo-as completamente.
[...] durante essa fase eu tenho me perguntado muito de como fazem as outras mulheres que não tiveram as chances de ter sempre uma assistência para dividir os trabalhos domésticos ou uma assistência para assumir completamente, porque de fato, você se dá conta do que significa ter uma mulher trabalhando para você o tempo todo enquanto você faz o seu trabalho também [...]eu tenho assistido colegas que não estão aposentadas, que têm trabalhado muito, muito, muito. Um pesadelo contínuo.
Relacionamentos Afetivos e a Excelência Científica
Atualmente, os arranjos familiares e as relações conjugais estão permanentemente em movimento e recomposições. A tradicional família econômica burguesa organizada em torno da liderança do homem, da subordinação das mulheres e dependência dos filhos já não se apresenta como único modelo no universo de possibilidades que caracteriza a contemporaneidade. Da mesma maneira, o casamento perdeu sua força e não já é o destino final para as mulheres. Isso, em parte, tem relação com a entrada da mulher no mundo do trabalho, com a independência financeira em relação aos homens, com as mudanças nas relações de poder dentro e fora da família. No entanto, essa é uma realidade permeada de conflitos, disputas e sofrimento. Isso, por sua vez, têm exigido por parte das mulheres a invenção de inúmeras estratégias de conciliação trabalho-família, tal como apontado por Silveira e Bendassolli (2018). Esse é o caso das pesquisadoras PQ da Psicologia.
Porém, é importante evidenciar que quando nos referimos sobre a entrada das mulheres no mundo trabalho, partimos da experiência social de mulheres brancas, maioria dentre as bolsistas PQ da Psicologia brasileira. Ressaltamos que a experiência das mulheres negras e demais não-brancas com o trabalho e a família é distinta a das mulheres brancas (Collins, 2019). As diferentes dimensões de suas vidas são historicamente perpetradas por sequelas do sistema de gênero moderno/colonial, e por isso foram submetidas à exploração do trabalho, desde antes do ingresso do grande contingente de mulheres brancas. Além disso, funcionou como instrumento de conversão de mulheres brancas em reprodutoras da raça (branca) e da classe (burguesa) (Lugones, 2008), que reduzidas em determinados períodos a um destino marcado pelo casamento e pela geração de filhos, foram as principais protagonistas desse fenômeno que abordamos como 'entrada das mulheres no mundo do trabalho'.
Como apontado anteriormente, o alcance do topo da carreira como pesquisadoras PQ é um processo complexo que requer o enfrentamento de inúmeros obstáculos, principalmente no âmbito dos relacionamentos. Não à toa, essas mulheres realizam uma variedade de atividades no seu cotidiano, tanto acadêmicas quanto domésticas. Contribuem significativamente do ponto de vista financeiro para a manutenção da família, assumindo muitas vezes o papel central. Apesar disso, as desigualdades de gênero são evidentes e nem todas têm suporte do companheiro no cuidado dos filhos, no compartilhamento das tarefas e de responsabilidades domésticas. Nesse sentido, ao serem questionadas sobre possíveis impactos dos relacionamentos afetivos/conjugais no rendimento acadêmico, a maioria das respondentes afirma ter sido afetada de alguma maneira, seja raramente, algumas vezes, seja frequentemente, tal como foi relatado por duas 2 mulheres. Embora, grande parte dessas profissionais nunca (35; 41,1%) ou raramente (21; 24,7%) tenha renunciado a oportunidades profissionais/acadêmicas por causa dos relacionamentos, algumas abdicaram algumas vezes (15; 17,5%) ou frequentemente (1; 1,1%), de oportunidades de trabalho em razão dessa questão.
A pesquisadora (entrevista, nº 01) afirma que nunca necessitou renunciar ou perder oportunidades profissionais por causa de seu relacionamento conjugal, posto que planejou sua vida e carreira incluindo as responsabilidades com o companheiro:
Eu planejei a minha vida privilegiando essa função na qual ninguém poderia me substituir. Porque eu precisava conciliar a vida familiar, enfim, quer dizer, isso inclui o marido e tempo para o marido, né? Marido é uma coisa que ocupa o horário na agenda, no mínimo para jantar com ele no lugar, sair com os amigos [...]. Para progredir eu teria que me envolver em atividades de cunho político e institucional.... e eu não tenho um perfil de política institucional, eu não me candidato a nada, eu não quero ser convidada para coisa nenhuma.
A situação se modifica quando questionadas sobre conflitos em seus relacionamentos em razão do trabalho. A maioria das respondentes (27; 31,76%) afirma ter experimentado algumas vezes embates com a(o) cônjuge/companheira(o) por causa da demanda acadêmica; 7 (8,2%) indicam confrontos frequentes e 4 (4,7%) afirmam que sempre há tensões em função disso. Nesses conflitos, algumas particularidades que envolvem o trabalho acadêmico-científico impulsionam as tensões. Segundo respostas registradas pelas pesquisadoras, observou-se que a disponibilidade e a atenção são fatores constantemente cobrados pelos(a) cônjuges/companheiros(a), especialmente, durante as noites, finais de semana e feriados. Em razão das multitarefas que necessitam ser desempenhadas por essas pesquisadoras, dada a conjuntura do trabalho acadêmico na atualidade, é comum que a maioria delas estenda sua carga horária para o ambiente doméstico, trabalhando em horários não convencionais e finais de semana. Essa particularidade da vida acadêmica é com frequência foco de conflito nas relações conjugais.
A maior parte das bolsistas é frequentemente rechaçada pelo investimento na obtenção de títulos e na projeção na carreira acadêmica-científica, envolvendo a participação em eventos, em órgãos e setores de gestão acadêmica-científica. Sobre esse aspecto, a bolsista PQ (formulário nº 46), denuncia como essa questão materializa-se no seu cotidiano atual: "meu companheiro não aceita meu afastamento constante para participação em eventos e nem aceita minha saída para pós-doutorado". Em uma condição semelhante, a pesquisadora PQ (formulário nº 77), afirma que a ida ao exterior para a realização do pós-doutorado foi alcançada, porém, precisou diminuir sua estadia por constantes tensões com o companheiro. Por motivo dessas experiências, muitas delas lançam mão de estratégias, como aceitar convites de eventos acadêmicos somente em suas cidades/regiões, bem como, trabalhar nas demandas acadêmicas enquanto o companheiro está dormindo/descansando.
Os resultados de Prado e Fleith (2012) revelam que o impacto do sucesso profissional para pesquisadoras de excelência foi positivo em relação aos filhos, mas negativo no âmbito das relações conjugais. Embora as transformações dos papéis familiares na contemporaneidade sejam efeitos da participação de mulheres em diferentes domínios do trabalho no âmbito público, algumas mulheres, principalmente aquelas envolvidas em relações heterossexuais, têm dificuldades em progredir em suas carreiras, realidade que estende a algumas cientistas. Como argumenta V. M. Santos (2016), enquanto a relação conjugal pode significar um obstáculo a mais a ser superado pelas mulheres cientistas, o casamento se estabelece como uma estrutura que promoverá o suporte necessário à consolidação de uma carreira de alta performance para pesquisadores homens. A pesquisadora (entrevista nº 05), relata as dificuldades enfrentadas quando casada em função das cobranças do companheiro que a faziam se sentir culpada, bem como as estratégias para realizar as diversas atividades acadêmicas sem que fosse censurada:
[...] na época eu era casada, tinha uma cobrança e um julgamento muito grande quanto a isso [trabalho]. Eu viajava demais. No primeiro momento me sentia culpada de tá viajando demais e de colocar em risco meu casamento [...] Mas, porque as cobranças começaram a aumentar mesmo e eu às vezes falava: "bom, eu preciso sacrificar mais da minha carreira para não sacrificar meu casamento. E depois eu fui ver que é uma grande injustiça, que eu não precisava estar em um casamento no qual não coubesse a minha felicidade, que era a minha realização profissional. Olha, eu tenho uma história muito triste. [...] Mas, é interessante porque são mecanismos que a gente vai desenvolvendo, por exemplo na minha relação conjugal não podia ter livros na minha cama, assim, adoro ler na cama, porque o livro automaticamente remetia ao trabalho. Então, para poder continuar trabalhando, muitas vezes eu trabalhava no banheiro. Eu entrava no banheiro para trabalhar e enfim, me escondia. Porque eu não podia fazer [...]. Como se fosse feio sabe? Como se eu tivesse traindo a pessoa com meu trabalho (Bolsista PQ, entrevista nº 05).
Para outra bolsista (entrevista nº 20), os desafios em relação aos relacionamentos amorosos/conjugais por ser professora e pesquisadora são constantes. Sente-se, continuadamente discriminada em relação aos homens por trabalhar no âmbito acadêmico. Em tentativas de relacionamentos, percebia constantemente que "título, esforço e projeção eram mal avaliados''. Isso é corroborado na narrativa dessa outra pesquisadora (Bolsista PQ, nº 15, formulário eletrônico):
Tinha uma época em que para paquerar eu nunca dizia que era professora da universidade [...] sempre dizia "ah qual é a sua profissão?" Eu sou psicóloga! Eu nunca dizia que eu era professora doutora da universidade [...] nunca! [risos] Se eu dissesse isso era caixão, né? o cidadão sumia em menos de meia hora [...] Então, teve uma vez que eu conheci uma pessoa, ele também era doutor só que ele era funcionário da universidade, ele cuidava de um laboratório, ele não era professor, embora ele tivesse doutorado. Quando ele descobriu que eu era professora ele sumiu, acabou o papo [...] teve uma época em que eu me sentia muito discriminada por isso, bastante discriminada mesmo [...] Já ouvi coisas assim de homens tipo "eu não te vejo como minha mulher" espera aí, qual é o seu padrão de mulher? Era bem complicado, assim, aquela história de quanto maior a sua escolaridade, mais difícil você encontrar é pessoas que sejam compatíveis com você de verdade.
Sobre esse aspecto, em seu estudo, Lima (2013) constatou que a qualificação de mulheres pesquisadoras era sinônimo de mulher encrenqueira e complicada. Em função disso, a participante (Bolsista PQ, entrevista nº 03) menciona que para pesquisadoras de alta performance, manter relacionamentos não-tradicionais, tem sido benéfico em suas experiências cotidianas:
Eu tenho um companheiro. Eu tenho uma relação diferente. Eu tenho um companheiro, que eu tenho a minha casa e ele tem a casa dele. E, ele não mora na mesma cidade que eu, mas quando ele está aqui, ele vem pra cá. Ele vem de 15 em 15 dias, ele fica na minha casa. Ele me ajuda, ele favorece as coisas pra mim. Eu estou com ele faz 30 anos. Ele não tem nada a ver com vida acadêmica [...]
Nota-se, assim, que na dinâmica doméstica-familiar das bolsistas PQ/CNPq da Psicologia, os relacionamentos afetivos-conjugais impactam na excelência científica e na vida das mulheres de diferentes formas. Esse impacto está relacionado às relações de poder e à dominação masculina sobre as mulheres, construídas a partir do emaranhamento de normas, leis, discursos científicos, dentre eles, médicos, psicológicos, jurídicos e educacionais que se autorizaram/autorizam dizer 'a verdade' sobre o que é masculino e feminino, bem como, legitimaram/legitimam o privilegiamento dos homens e a desqualificação das mulheres em todas as instâncias das sociedades modernas, inclusive na ciência (Butler, 2010). Nesse esteio, tem sido comum os constrangimentos perpetrados às mulheres por serem bem-sucedidas ou para não serem bem-sucedidas, como o caso de algumas das pesquisadoras PQ.
Embora, as relações de gênero, assim como a condição social das mulheres tenha se modificado na atualidade, de modo que as mulheres passaram a ocupar espaços inimagináveis em outros momentos, é imprescindível destacar que a condição de subalternidade das mulheres em relação aos homens não desapareceu. Em concordância com Segato (2012) estamos diante de uma transformação contemporânea da violência de gênero e experienciando, um momento de "tenebrosas e cruéis inovações na forma de vitimar os corpos femininos e feminizados", seja sob as formas de violência física, psicológica, sexual, moral, dentre outras variações, ou sob as manifestações "de destruição corporal sem precedentes, como [...] as formas de tráfico e comercialização de tudo o que estes corpos podem oferecer, até ao seu limite" (p. 108).
A partir desses relatos podemos concluir que as cobranças domésticas-familiares articuladas às acadêmicas-científicas produzem impactos desgastantes no dia a dia das bolsistas PQ da Psicologia, na medida em que impõe uma rotina de multitarefas que se tornam um pesadelo contínuo, como afirmou a participante (entrevista nº 19). Dentre esses impactos, os efeitos das relações amorosas-conjugais na excelência científica e em outras esferas da vida pessoal dessas profissionais se sobressaem. O impacto desse âmbito para as mulheres tem base no modo como as relações sociais entre mulheres e homens, incluindo a noção de amor e a concepção de conjugalidade, têm sido subjetivados no tempo contemporâneo. Para as mulheres, segundo Zanello (2018), as relações amorosas-conjugais é um lugar de profunda vulnerabilidade psíquica, são cheias de ambiguidades, uma vez que os modos de subjetivação feminina são também forjados por um conjunto de expectativas sexistas em termos do amor, do casamento e da família. Não à toa, as mulheres, com frequência, se posicionam como as principais responsáveis pelo sucesso da relação estabelecida ou pelo fracasso da relação encerrada ou não iniciada. Para autora, essa condição é um dos fatores que sustenta a permanência de muitas mulheres em experiências amorosas conflitantes e/ou violentas, mesmo que tenham independência financeira e reconhecimento profissional, como as bolsistas PQ/CNPq.
Além disso, cabe destacar que o modo de subjetivação das mulheres em relação aos aspectos de sua vida íntima e amorosa não pode ser desconectada da racionalidade individualista que produz o desejo e a busca por autossuficiência em todas as esferas de sua vida. Segundo Rago (2019, p. 6), isso acontece porque "as mulheres têm sido chamadas a subjetivarem-se em modos neoliberais, constituindo-se como autônomas, senhoras de si". No entanto, essa condição traz enormes desafios, já que ser "dona do próprio corpo" ou "dona de si", enquanto exigências de um novo regime de verdade, comporta uma série de renúncias, embates e escolhas que se impõem para todas as mulheres.
Considerações Finais
O objetivo desse estudo foi realizar uma análise acerca do impacto do trabalho acadêmico-científico na vida doméstica-familiar das pesquisadoras PQ CNPq da Psicologia, com vistas a compreender como enfrentam essas exigências que parecem cada vez mais difíceis de conciliar. Os resultados apontam que as mulheres sentem os efeitos da sobrecarga do trabalho de excelência científica no cotidiano, principalmente em relação às demandas da casa, dos filhos (normalmente compartilhadas com outras mulheres da família, babás ou empregadas domésticas) e do casamento. Avaliam que apesar do trabalho de excelência científica exigir um suporte familiar e/ou profissional, arranjos e conciliações entre o mundo do trabalho e a casa são possíveis, apesar de atravessados por conflitos e culpa. No entanto, a configuração tradicional das relações conjugais afeta de modo ainda mais negativo as possibilidades de progressão profissional no contexto extremamente competitivo da pós-graduação no país. As desigualdades de gênero na ciência são evidentes e são acirradas por outras assimetrias presentes no espaço doméstico, as quais representam desafios importantes para a permanência das pesquisadoras no sistema PQ/CNPq.
A mobilização de uma rede de apoio familiar é tática fundamental para que as mães solo possam se dedicar à rotina intensa dos carrinhos de pipoca. O casamento, no cotidiano dessas sujeitas, também foi ressignificado, deixando de ser, para essas mulheres, uma finalidade última da sua existência, mas algo a ser evitado, devido ao potencial intrínseco de comprometimento da autonomia social que duramente conquistaram. Possibilidades de pesquisas futuras envolvendo essa temática são diversas, e, em especial, ressaltamos a fundamental importância em ouvir em maior profundidade as narrativas dessas mulheres visando compreender a interseccionalidade entre raça, gênero, sexualidade, classe social e territorialidade em pesquisas participativas, cuja produção do conhecimento vai além das fronteiras estabelecidas pelo campo acadêmico hegemônico.
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Informações sobre as autoras:
Rocelly Cunha
Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Natal, RN, Brasil
E-mail: rocellycunha@gmail.com
Magda Dimenstein
E-mail: mgdimenstein@gmail.com
Candida Dantas
E-mail: candida.dantas@gmail.com
Submissão: 22/05/2021
Primeira Decisão Editorial: 10/09/2021
Versão Final: 13/09/2021
Aceite: 27/09/2021