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Revista do NUFEN
versão On-line ISSN 2175-2591
Rev. NUFEN vol.10 no.3 Belém set./dez. 2018
https://doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol10.n03resenha38
Resenha
DOI: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol10.n03resenha38
Braga, Antonelli De Alvim (2018). Alma e Psicologia Pré-Científica. Uma Reflexão Histórico- Epistemológica. Curitiba: Editora Appris.
João Lucas Santos de Oliveira
Universidade Federal de Uberlândia
Nesta importante publicação temos uma excelente apresentação da problemática vivida na Psicologia, denunciada por tantos filósofos e psicólogos: a "psicologia sem alma". O que é psicologia e o que faz o psicólogo são perguntas que causam muito desconforto, sendo até questionável "a psicologia". As inúmeras especializações e áreas de atuação dessa ciência colocam em dúvida a sua própria existência.
A psicologia que, na essência do seu surgimento na Grécia antiga, em tradução livre seria o "estudo da alma", acabou se tornando a "ciência sem alma" na idade moderna. Braga afirma que a psicologia acadêmica científica desde a sua origem nunca foi uma ciência da alma. Dois grandes marcos na filosofia grega para tal discussão são, Platão e Aristóteles, o primeiro que concebeu ideia dualista em que alma e corpo são substancias diferentes e o segundo a ideia monista de que ambos corpo e alma são partes de uma mesma coisa.
Essas duas grandes vertentes vão dar origem as diversas escolas teóricas dentro da psicologia científica do final do século XIX e XX, principalmente a psicanálise e o behaviorismo, que travaram debates fervorosos. Sendo a Psicanálise de S. Freud atribuindo à psique as forças do inconsciente, e o Behaviorismo de J. Watsom posteriormente de Skinner aos comportamentos públicos observáveis.
Bem, o autor explicita que o problema da alma é tão antigo quanto a história da humanidade, assim para o proposto estudo epistemológico e histórico da alma a sua análise deve começar desde sua origem nos povos primitivos. É necessário saber que a ideia de alma remete a vários conceitos e termos e, portanto, deve se tomar cuidado sabendo diferenciálos.
Esses diferentes significados perpassam varias culturas, cada qual tem uma maneira peculiar de entendê-la, sendo chamada de seele em alemão, soul em inglês, aiolos e também psyché em grego. É bem sabido que ora ela é mortal ora ela é imortal. As relações da palavra alma nas diferentes línguas e culturas levam a elucidar o significado original de uma força vital, força movente, como um sopro. Ao longo da história humana, a alma foi tratada como sinônimo de duplo corpo, espírito, consciência, psyché entre outros. Entretanto os povos primitivos não tinham um conceito bem definido ainda sobre a alma, o que eles tinham era uma ideia/sentido, o que se sabe é que situações como a morte (ou uma sobrevivência após a morte) e os sonhos foram decisivos para a consagração do conceito.
Durante um longo período os mitos foram a maneira utilizadas pela civilização grega, e outras, para explicar os fenômenos que ocorriam no mundo em que habitamos. Dessa forma, a alma para os gregos foi um conceito complexo e que se transformou em outros significados conforme os períodos vão passando. A alma no período homérico, por exemplo, é entendida de forma bem diferente tanto para os outros períodos gregos quanto para os povos primitivos. Os poemas homéricos tratam a psyché não como espírito ou duplo corpóreo, mas sim como a imagem do morto. A psyché seria a substancia que é levada a Hades, aquilo que rompe com o corpo. É importante salientar a estrita ligação com a morte, da mesma forma quanto ao conceito de soma (corpo) que aqui tem outro significado.
O período pré-socrático foi marcado principalmente por Tales de Mileto e Heráclito na escola Jônica que procuravam a substancia que seria a essência de todas outras, e na Pitagórica com ideias menos naturalistas e mais abstratas Pitágoras de Samos. Heráclito de Éfeso se torna um marco por ser o primeiro a compreender a relação entre psyché e logos. O filosofo relacionou o principio cósmico que seria a substancia primordial de todas as coisas ao logos e a inteligibilidade que seria onde tudo ocorre por meio de todas as coisas, como a psyché faz parte da substancia primordial, pode-se dizer que a alma participa ativamente no logos.
As ideias desenvolvidas no período socrático terão como principais pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo Sócrates um marco para o pensamento dividindo corpo e alma enquanto substancias diferentes, para o filósofo a alma era uma substancia moral e intelectual e mais pura que o corpo. Platão terá uma compreensão de alma bastante complexa, mas a dividira em alma do mundo (a qual todas as coisas advêm) e alma humana. E, Aristóteles que diferentemente de Platão, pensou na alma enquanto uma substancia material, postulando três grandes categorias para ela (1) nutritiva; (2) animal; (3) racional; sendo a racional especifica dos humanos.
Na idade média irá ocorrer uma relação entre a filosofia e a teologia, porém as relações entre as duas são mantidas por intermédio principalmente de dois grandes pensadores de fases distintas no período medieval, sendo eles Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino.
Agostinho, da escola patrística influenciado por Platão, mas ainda sobre o ponto de vista do cristianismo, defende que a alma é uma substância pura e divina e que o corpo seja a substância contrária, sendo que ao lembrarmos estamos em reminiscência ao divino. Tomás de Aquino por sua vez, vindo da escolástica e influenciado por Aristóteles, tomara a alma não como substância oposta ao corpo, defendendo que corpo e alma não existem um sem o outro. Para Santo Tomás, fé e razão são coisas conciliáveis, mas que a fé estaria acima da razão, e desta forma admitindo que todas as coisas, possuem uma finalidade e uma ordenação.
A filosofia Descartes se consolidara, inaugurando a fase moderna, separando mente e corpo enquanto substâncias distintas, além de diferenciar alma e mente. Rivalizando com Descartes, David Hume levará o empirismo de Locke ao extremo, adotando a noção de que não existe conhecimento inato, e que tudo deriva da experiência sensível.
No século XIX houve a predominância das ciências do positivismo frente a filosofia, fazendo com que o modelo empirista experimental predominasse nos moldes científicos. Como resultado disso houve uma nova concepção de psicologia, ou seja, uma "psicologia sem alma", pois como defende o autor passaram a figurar os processos fisiológicos e psicofísicos. Vários foram os cientistas e filósofos responsáveis pela criação da ciência psicológica, como Fechner, Weber e Helmholtz, mas aquele que irá fundar definitivamente essa ciência será Wilhelm Wundt, o primeiro responsável pela instalação de um laboratório de psicologia experimental. Concebendo que o objeto de estudo da psicologia moderna seria a experiência imediata dos sujeitos.
Wundt defendia que a psicologia era uma ciência que se configurava entre as ciências naturais e as sociais, desde um principio então a configurando como uma ciência fragmentada. Alguns discípulos de Wundt que discordavam de seu ponto fundam nos Estados Unidos outra corrente teórica, o Estruturalismo de Titchener, e assim sucessivamente foram aparecendo outras como: o Funcionalismo de W. James, e mais tarde o Behaviorismo de J. Watson.
Outras teorias importantes que se encontram fora da psicologia, mas que estão no mesmo campo de investigação cientifico são a Psicanálise e a Fenomenologia. A primeira terá como fundador Freud, e será definido como um método de investigação e análise das psicopatologias tendo como objeto de estudo o inconsciente. E a Fenomenologia, uma filosofia concebida por Edmund Husserl e se tratará de um método de investigação científicofilosófico da consciência sobre a consciência, que servira de fundamento para a psicologia e outras ciências. A partir da Fenomenologia surgem novas abordagens teóricas na psicologia como a Gestalt e a Humanista, no intuito de resgatar a autêntica "Psicologia da Alma".
Recebido em: 02/05/2016
Aprovado em: 17/08/2016
Nota sobre a autora:
João Lucas Santos de Oliveira. Graduando em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).